Preso em Trancoso blues,
Trancado, não pelo repouso contínuo no pus,
Mas sim pelo descanso eterno no supercílio:
— No soco direto da aranha venenosa na trilha do rio
fui a nocaute por medo da cegueira de Borges e Homero.
Porém não quero ser cego assum negro Otelo
para assim cantar melhor o que quero:
— Cantando a meio vapor pelo rio
já sou mais rápido do que a visão fugidia que a mira
líquida da crítica divisa em meu exílio.
Morrendo de saudade por bolhas de varíola
trazidas pelas picadas da aranha em lugar de olhos,
Prefiro não ficar cego por enquanto
e por enquanto se torna bastando,
Bastante, o bastante.
Basta antes.
Ando tão ocupado vendo,
Que não tenho tido tempo para envelhecer.
Como você, Renato Pacheco,
Por isso não lhe escrevi antes.
Antes foi o bastante.
A arte da guerra
é a da espera.
Temos de sobreviver por eras
à espera que o inimigo pereça
pelo mal que reside em seu destino e que o envenena,
Não por nossas mãos, pois em peçonhência a ele nos igualaríamos.
Tal como a cura psicanalítica,
Garantida em um prazo de duzentos anos,
Temos de sobreviver a ele
lutando a “guerra sem travá” do Ticumbi,
Pois na “guerra travada” com as armas do mal ele seria vencido no segundo
tornando-nos os herdeiros reais do reino decaído,
Paraíso perdido contra o qual nos voltamos
em revolta que lançamos contra ele tudo em volta.
Tudo volta.
Tudo volta em outros
miltons, renatos, vicos:
— Em nós, seus filhos, em eterno retorno do viço.
Em você, Renato, renasço o re-nato renascido
por mandinga trazida do berço Pendragon
étimo, étnico, genético, agônico,
A eles sobrevivendo se transformando em sabedoria
que vai além da livraria
com que te sepultariam
— se você coubesse dentro de uma poesia —
e de que você se livraria
com seu sorriso largo sábio aberto
que, anterior ao pensamento, o entenderia.
Renato renascido pela Palavra
do belo não é o que se mata,
É o que ressurge da assassina faca
da fênix que vem refazê-lo menino
para que possa cumprir o seu destino:
— Renascer por autoconcepção
do saber
em moto-perpétuo partenogênese.
A arte da guerra é a da espera.
Temos de saber sobreviver por eras.
Estar no inferno sem desesperar
é o mesmo que estar no céu em espera.
Sabê-lo, eis o segredo
para se manter atualizado no degredo
do lar perpétuo.
A arte da guerra é a da espera.
Você continua ganhando o jogo.
Espere e verá.
Por eras, seguindo seu exemplo, não terei tempo para envelhecer,
Por eras, a arte da guerra foi e era a espera.
E a esperança não se desespera.
Espera, neném — ah, veja, olhe lá!
Abre-se a esfera da Terra:
— A arte da guerra é a da espera!
Não tenho tempo para envelhecer.
A arte da guerra é a da espera.
Espera em paz.
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Oscar Gama Filho é psicólogo, poeta e crítico literário com diversas obras publicadas.(Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)