Capítulo III – Número de colonos; crescimento demográfico
1. Número dos colonos alemães
Até agora, no Espírito Santo, não se realizou um levantamento estatístico geral do número dos colonos teutos. Em algumas comunidades isoladas, verificou-se, ocasionalmente, o número de pessoas; em 1913, em Santa Maria, contaram-se 703 confirmados e 650 não confirmados, ao todo 1.353 pessoas, distribuídas em 221 famílias. Cabem, por conseguinte, a cada família, 6,01 cabeças. (Essa contagem não incluiu as comunidades filiais).
Das outras paróquias protestantes só possuímos o número exato dos membros, ou seja, o dos chefes de família e, portanto, o das famílias. Não erraremos muito, se multiplicarmos esse número por seis e considerarmos o produto o número total de indivíduos da comunidade. Nas comunidades novas, das quais fazem parte muitos casais jovens, parece conveniente supor um menor número de membros de família; ai é aconselhável tomar 5 como fator. Nessa situação se enquadram Santa Joana e as comunidades filiais de Santa Cruz e Vinte e Cinco; por outro lado, será maior a quantidade de famílias numerosas nesta ou naquela das comunidades principais, mais velhas.
Não são raras as famílias que têm, 10, 12 ou mais filhos; mas estes, cedo, desprendem-se da casa paterna e fundam o próprio lar,[ 1 ] de modo que o número médio de pessoas por família permanece relativamente pequeno.
Nº de membros | Nº de cabeças | |
Jequitibá | 450 x 6 = | 2.700 |
Santa Maria | 370 x 6 = | 2.200 |
Campinho | 319 x 6= | 1.914 |
Califórnia | 318 x 6 = | 1.908 |
Santa Joana | 263 x 5 = | 1.315 |
Santa Leopoldina | 150 x 6 = | 900 |
Santa Cruz | 60 x 5 = | 300 |
Vinte e Cinco de Julho | 60 x 5 = | 300 |
1.990 | 11.537 |
Acrescentem-se, ainda, 500 senão de 600 a 700 sabatistas (a maioria deles habita à margem do Guandu) e 5.000 católicos.[ 2 ] Os suíços e holandeses, em número de algumas centenas, computados na tabela acima, não devem ser excluídos, porque se uniram estreitamente ao elemento alemão, fundindo-se parcialmente com ele.
Inferimos, assim, que existem, atualmente, no Espírito Santo, de 17 a 18 mil alemães. Usando toda a prudência, e com receio da estimativa dos católicos de língua alemã ter sido alta demais, podemos dizer que há, no Espírito Santo, pelo menos, 16.000 alemães e que seu número dificilmente sobrepassa de 13.000. A grosso modo, o número de protestantes seria de 12.500 e o de católicos, 5.000.
Vive, no Espírito Santo, uma população de origem alemã tão grande quanto a que habita todas as possessões teutas.
2. Nascimentos e óbitos; números absolutos
Desperta mais interesse que os próprios números, a sua origem. Com efeito, não me foi possível conseguir quaisquer informações sobre o total de imigrantes. Mas, encontrei nos assentamentos das igrejas evangélicas, material precioso referente ao número de nascimentos e mortes; os registros vêm sendo escriturados, com esmero quase ininterrupto, constituindo, por isso, inestimável achado para nossos desígnios.
Vejamos, primeiro, o número absoluto de nascimentos (mais exatamente, de batizados, pois só estes se assentam).
Nascimentos:[ 3 ]
Ano | Campinho | Santa Leopoldina | Jequitibá | Califórnia | Santa Cruz | Santa Joana | Santa Maria | Vinte e Cinco de Julho |
Até 1860 | 73 | – | – | – | – | – | – | – |
1861 a 1870 | 218 | 309 | – | – | – | – | – | – |
1871 a 1880 | 292 | 1.376 | 32 | – | – | – | – | – |
1881 a 1890 | 392 | 852 | 1.041 | 121 | – | – | – | – |
1891 a 1900 | 459 | 758 | 1.497 | 489 | 116 | – | – | – |
1901 a 1910 | 731 | 498 | 1.343 | 734 | 211 | 312 | 450 | – |
1911 | 82 | 42 | 115 | 81 | 19 | 87 | 95 | – |
1912 | 67 | 48 | 113 | 102 | 18 | 103 | 94 | – |
Total | 2.314 | 3.897 | 4.141 | 1.527 | 364 | 502 | 639 | 250 |
Confrontemos esses dados com o número de óbitos (mais exatamente enterros registrados nas igrejas protestantes):
Mortes:[ 4 ]
Ano | Campinho | Santa Leopoldina | Jequitibá | Califórnia | Santa Cruz | Santa Joana | Santa Maria | Vinte e Cinco de Julho |
Até 1860 | 34 | – | – | – | – | – | – | – |
1861 a 1870 | 90 | 74 | – | – | – | – | – | – |
1871 a 1880 | 72 | 206 | 2 | – | – | – | – | – |
1881 a 1890 | 94 | 145 | 208 | 15 | – | – | – | – |
1891 a 1900 | 102 | 191 | 251 | 74 | – | – | – | – |
1901 a 1910 | 127 | 83 | 308 | 137 | 49 | 64 | 63 | – |
1911 | 9 | 5 | 25 | 6 | 4 | 23 | 16 | – |
1912 | 16 | 4 | 18 | 19 | 3 | 14 | 14 | – |
Total | 544 | 708 | 812 | 251 | 56 | 101 | 93 | 50 |
Essas tabelas nos permitem supervisionar a formação e o desenvolvimento de cada comunidade.
A de Campinho cresceu de decênio em decênio.
Em Santa Leopoldina, vem minguando os nascimentos, a partir da década de 1871 a 1880, em virtude de desmembramento e de emigração. O aumento de óbito, durante os 90 do século passado, está ligado à epidemia de febre amarela que, então, grassara.
Os números de Jequitibá só começaram a diminuir na primeira década deste século.
Aumentam os números de Califórnia, o mesmo sucedendo com as comunidades novas, excetuada a de Santa Cruz, onde, nos últimos anos, se verificou uma retração.
Vejamos, agora, os números totais, ordenados segundo a grandeza:
Nascimentos | Óbitos | % de óbitos sobre nascimentos |
|
Jequitibá | 4.141 | 812 | 20 |
Santa Leopoldina | 3.897 | 708 | 18 |
Campinho | 2.314 | 544 | 24 |
Califórnia | 1.527 | 251 | 16 |
Santa Maria | 639 | 93 | 15 |
Santa Joana | 502 | 101 | 20 |
Santa Cruz | 364 | 56 | 16 |
Vinte e Cinco de Julho | 250 | 50 | 20 |
13.634 | 2.615 | 19 |
É perfeitamente admissível que esses assentamentos aqui utilizados, relativos ao número de nascimentos, correspondam à realidade, com forte aproximação. Contudo, far-se-á bem em elevar um pouco o total achado, pois é provável, que, na primeira fase de existência das colônias, nem todos os nascimentos tenham sido registrados. Em todo caso, é seguramente aceitável que tenha havido cerca de 14.000 nascimentos entre os alemães evangélicos, desde que estes chegaram ao Espírito Santo.
No princípio, os casos de morte foram, provavelmente, registrados com menos cuidado, de modo que parece mais próximo da verdade o número 3.000. Talvez que ainda deva ser elevado.
Desde que vive na nova pátria, a população protestante aumentou de 10.000 a 11.500 cabeças. Presumindo-se que a população atual seja de 12 a 13 mil indivíduos, a imigração, donde proveio, teria sido de 1.500 a 2.000 pessoas.
Aceitando-se as mesmas proporções numéricas para os 5.000 católicos, deduziremos que houve entre eles, mais ou menos, 5.500 nascimentos e 1.200 óbitos, e teriam imigrado 600 a 1.000.
Relativamente a todos os alemães do Espírito Santo parecem razoáveis os seguintes números:
Nascimentos | 19.000 |
Óbitos | 4.000 |
Aumento da população | 15.000 |
Imigração | 2.500 |
Soma | 17.500 |
Considerando que parte desses números repousa em conjeturas, é desaconselhável extrair deles conclusões amplas. Talvez que estejam mais próximos da verdade, os números seguintes:
Nascimentos | 18.000 |
Falecimentos | 4.500 |
Crescimento demográfico | 13.500 |
Imigração | 3.000 |
Soma | 16.500 |
Assim, a população, em 30 a 65 anos, ter-se-ia, por crescimento natural, mais do que quintuplicado. Como quer que seja, a configuração quantitativa de nascimentos e óbitos é extremamente favorável.
3. Nascimentos e óbitos; números relativos
Confrontemos a população com o número de óbitos e nacimentos:[ 5 ]
Nascimentos:
Comunidades | Famílias | Pessoas | 1912 | Média anual de nascimentos | ||||
De 1911 a 1912 | De 1908 a 1912 | De 1901 a 1910 | De 1891 a 1900 | De 1881 a 1890 | ||||
Campinho | 319 | 1.914 | 67 | 75 | 78 | 73 | 46 | 39 |
Santa Leopoldina | 150 | 900 | 48 | 45 | 43 | 50 | 76 | 85 |
Jequitibá | 450 | 2.700 | 113 | 114 | 110 | 134 | 150 | 104 |
Califórnia | 318 | 1.908 | 102 | 92 | 83 | 73 | 49 | 15 |
Santa Maria | 370 | 2.200 | 94 | 94 | 78 | 64 | – | – |
Santa Cruz | 60 | 300 | 18 | 18 | 18[ 6 ] | 21 | 19 | – |
Santa Joana | 263 | 1.315 | 103 | 95 | 70 | 35 | – | – |
Total | 1.930 | 11.237 | 545 | 553 | 480 | 450 | 340 | 243 |
Óbitos:
Comunidades | Famílias | Pessoas | 1912 | Média anual de óbitos | ||||
De 1911 a 1912 | De 1908 a 1912 | De 1901 a 1910 | De 1891 a 1900 | De 1881 a 1890 | ||||
Campinho | 319 | 1.914 | 16 | 13 | 12 | 13 | 10 | 9 |
Santa Leopoldina | 150 | 900 | 4 | 4 | 7 | 9 | 19 | 15 |
Jequitibá | 450 | 2.700 | 18 | 22 | 26 | 31 | 25 | 21 |
Califórnia | 318 | 1.908 | 19 | 13 | 15 | 14 | 7 | 2 |
Santa Maria | 370 | 2.200 | 14 | 15 | 14 | 11 | – | – |
Santa Cruz | 60 | 300 | 3 | 3: | 3[ 7 ] | 5 | – | – |
Santa Joana | 263 | 1.315 | 14 | 18 | 15 | 7 | – | – |
Total | 1.930 | 11.237 | 88 | 88 | 92 | 90 | 61 | 47 |
Embora se trate de pequenos números absolutos, revelam eles bastante regularidade, mesmo quando se referem a, apenas, uma comunidade ou a determinados anos. Por isso, acreditamos que os totais de nascimentos e óbitos de 1912 prestam-se para nossos cálculos, sem recearmos operar com quantidades puramente casuais. O número de habitantes, nesse ano, é conhecido mais exatamente e, por isso, somos constrangidos a limitar-nos a ele, a fim de obtermos a porcentagem de nascimentos sobre a população.
Fato importante: em 1912, no Espírito Santo, entre mil alemães evangélicos, nasceram 48,5 e morreram 7,8. Em cada 3ª ou 4ª família ocorreu um nascimento e em cada 22ª, um óbito. A proporção de nascimentos para mortes é de 6:1 e a taxa de crescimento anual é de 4%.
São números inauditos! A gente tende a duvidar de sua exatidão; mas achamo-los confirmados, quando confrontamos o número de imigrantes, estimável em 2.500 a 3.000 almas, com, a população teuta que ascende a 17 ou 18 mil cabeças. Uma demonstração mais precisa, com uma operação aritmética: No meado da década dos oitenta, o número de colonos foi avaliado em 5 a 6 mil.[ 8 ] Com uma taxa de crescimento de 4%, em 30 anos, a população teria de se elevar a 16.217 e 19.460 almas, o que concorda com a minha avaliação.[ 9 ] Não creio seja suscetível de acontecer, em muitos outros lugares da terra, cousa similar; pretendo, até, admitir ser esse o único caso autêntico de tão favoráveis cifras demográficas.
Uma taxa de nascimentos de 50 por mil e mesmo superiores não constituem raridade nenhuma. Encontram-se, por exemplo, em Java, em muitas partes da Rússia e da Índia; mas, em regra, são acompanhadas de alta mortalidade. O obituário reduz-se, normalmente, nos países de higiene pública e privada muito desenvolvida, como nos europeus ocidentais. Segundo as estatísticas mais recentes, a mortalidade é, presentemente, mais baixa, na Holanda. Aí, em 1912, importou, ainda, em 12,3 por mil; na Alemanha, em 15,6 por mil. Nesses países, o número de nascimentos costuma fixar-se em 25 e 30 por mil. Em 1912, na Alemanha, ascendeu a 28,3 por mil, de modo que se verificou um crescimento demográfico de 1,3 por mil. Uma taxa de crescimento de 2% já é para se considerar algo extraordinário. A gente tende a banir para o mundo das lendas uma taxa de 4%. E, no entanto, está fora de dúvida, repito, a exatidão do número.
A primeira vista parece razoável perguntar se esse forte crescimento não é apenas conseqüência de uma peculiar composição de idades, se não decorre, simplesmente, de faltarem grupos de idade mais avançada entre os imigrantes. É o que absolutamente não ocorre; há bem mais razão para supor que a estruturação por idades, 30 a 70 anos após a chegada dos colonos, não se distingue substancialmente daquela das populações secularmente radicadas. Se fosse atribuída àquele fator a configuração favorável dos números demográficos, a mortalidade deveria tornar-se maior no decurso dos anos. Sucede, porém, o contrário. A estatística, pelo menos, mostra-nos que, enquanto o número de nascimentos, desde os oitenta, ascendeu a mais do dobro, o de falecimentos, no mesmo período, não chegou a duplicar, embora as anotações no registro de óbitos provavelmente não fossem rigorosamente completas. Verifica-se, também, que a mortalidade nas comunidades antigas, em Campinho e Santa Leopoldina, é proporcionalmente pequena.
No decênio 1901/10, para cem nascimentos houve em:
Campinho | 17 óbitos |
Santa Leopoldina | 17 óbitos |
Jequitibá | 23 óbitos |
Califórnia | 19 óbitos |
Santa Maria | 14 óbitos |
Santa Cruz | 23 óbitos |
Santa Joana | 21 óbitos |
Média | 20 óbitos |
O número de nascimentos e o de óbitos por mil pessoas, tomando-se por base a população de 1912 e a média anual de nascimentos e mortes nos anos 1911 e 1912, são os seguintes:
Por mil | ||
Nascimentos | Óbitos | |
Campinho | 39 | 7 |
Santa Leopoldina | 50 | 4,5 |
Jequitibá | 42 | 8 |
Califórnia | 48 | 7 |
Santa Maria | 43 | 7 |
Santa Cruz | 60 (50) | 10 (8) |
Santa Joana | 72 (60) | 14 (11) |
Parece-me demasiadamente audacioso utilizar esses números sem reservas. Uma conclusão, porém, se evidencia: as comunidades da região baixa, Santa Joana e Santa Cruz, ostentam os números mais altos, mesmo quando consideramos a população o produto da multiplicação do número de famílias por 6 (nesse caso, a taxa de natalidade e a de mortalidade estão acrescentadas, acima, entre parênteses) em lugar de por 5. O número excessivo de nascimentos se explica, em ambos os casos, por se tratar de comunidades novas, cujos membros, só há pouco tempo, estão casados. A mais elevada taxa de mortalidade decorre, principalmente, de o clima ser mais desfavorável e de haver menor probabilidade de vida no primeiro período da existência. Adiante voltaremos ao assunto.
TABELA I: | Temperatura em 1912, em ºC, Santa Leopoldina; |
TABELA II: | Idem (conclusão); |
TABELA III: | Temperatura em 1913, em ºC, Santa Leopoldina; |
TABELA IV: | Idem (conclusão); |
TABELA V: | Nascimentos; |
TABELA VI: | Nascimentos (conclusão); |
TABELA VII: | Óbitos; |
TABELA VIII: | Óbitos (conclusão). |
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NOTAS
Ernst Wagemann (autor) nasceu em 18 de Fevereiro de 1884, em Chañarcillo, Chile, faleceu em 20 de Março de 1956, em Bad Godesberg, Alemanha. Foi economista político e estatístico muito atuante na Alemanha a partir dos anos de 1920. Para mais informações sobre o autor clique aqui.