Voltar às postagens

A colonização alemã no Espírito Santo – Primeira parte: a terra e a gente (III)

Venda de Karl Bullerjahn, em Santa Maria de Jetibá [In WERNECKE, Hugo. Viagem pelas colônias Alemãs do Espírito Santo. (tradução Erlon José Paschoal) Vitória: Arquivo Público do Espírito Santo, 2013, p.107]

(para visualizar o sumário completo do texto clique aqui)

Capítulo III – Número de colonos; crescimento demográfico

1. Número dos colonos alemães

Até agora, no Espírito Santo, não se realizou um levantamento estatístico geral do número dos colonos teutos. Em algumas comunidades isoladas, verificou-se, ocasionalmente, o número de pessoas; em 1913, em Santa Maria, contaram-se 703 confirmados e 650 não confirmados, ao todo 1.353 pessoas, distribuídas em 221 famílias. Cabem, por conseguinte, a cada família, 6,01 cabeças. (Essa contagem não incluiu as comunidades filiais).

Das outras paróquias protestantes só possuímos o número exato dos membros, ou seja, o dos chefes de família e, portanto, o das famílias. Não erraremos muito, se multiplicarmos esse número por seis e considerarmos o produto o número total de indivíduos da comunidade. Nas comunidades novas, das quais fazem parte muitos casais jovens, parece conveniente supor um menor número de membros de família; ai é aconselhável tomar 5 como fator. Nessa situação se enquadram Santa Joana e as comunidades filiais de Santa Cruz e Vinte e Cinco; por outro lado, será maior a quantidade de famílias numerosas nesta ou naquela das comunidades principais, mais velhas.

Não são raras as famílias que têm, 10, 12 ou mais filhos; mas estes, cedo, desprendem-se da casa paterna e fundam o próprio lar,[ 1 ] de modo que o número médio de pessoas por família permanece relativamente pequeno.

Nº de membros Nº de cabeças
Jequitibá 450 x 6 = 2.700
Santa Maria 370 x 6 = 2.200
Campinho 319 x 6= 1.914
Califórnia 318 x 6 = 1.908
Santa Joana 263 x 5 = 1.315
Santa Leopoldina 150 x 6 = 900
Santa Cruz 60 x 5 = 300
Vinte e Cinco de Julho 60 x 5 = 300
1.990 11.537

Acrescentem-se, ainda, 500 senão de 600 a 700 sabatistas (a maioria deles habita à margem do Guandu) e 5.000 católicos.[ 2 ] Os suíços e holandeses, em número de algumas centenas, computados na tabela acima, não devem ser excluídos, porque se uniram estreitamente ao elemento alemão, fundindo-se parcialmente com ele.

Inferimos, assim, que existem, atualmente, no Espírito Santo, de 17 a 18 mil alemães. Usando toda a prudência, e com receio da estimativa dos católicos de língua alemã ter sido alta demais, podemos dizer que há, no Espírito Santo, pelo menos, 16.000 alemães e que seu número dificilmente sobrepassa de 13.000. A grosso modo, o número de protestantes seria de 12.500 e o de católicos, 5.000.

Vive, no Espírito Santo, uma população de origem alemã tão grande quanto a que habita todas as possessões teutas.

2. Nascimentos e óbitos; números absolutos

Desperta mais interesse que os próprios números, a sua origem. Com efeito, não me foi possível conseguir quaisquer informações sobre o total de imigrantes. Mas, encontrei nos assentamentos das igrejas evangélicas, material precioso referente ao número de nascimentos e mortes; os registros vêm sendo escriturados, com esmero quase ininterrupto, constituindo, por isso, inestimável achado para nossos desígnios.

Vejamos, primeiro, o número absoluto de nascimentos (mais exatamente, de batizados, pois só estes se assentam).

Nascimentos:[ 3 ]

TABELA

Ano Campinho Santa Leopoldina Jequitibá Califórnia Santa Cruz Santa Joana Santa Maria Vinte e Cinco de Julho
Até 1860 73
1861 a 1870 218 309
1871 a 1880 292 1.376 32
1881 a 1890 392 852 1.041 121
1891 a 1900 459 758 1.497 489 116
1901 a 1910 731 498 1.343 734 211 312 450
1911 82 42 115 81 19 87 95
1912 67 48 113 102 18 103 94
Total 2.314 3.897 4.141 1.527 364 502 639 250

Confrontemos esses dados com o número de óbitos (mais exatamente enterros registrados nas igrejas protestantes):

Mortes:[ 4 ]

TABELA

Ano Campinho Santa Leopoldina Jequitibá Califórnia Santa Cruz Santa Joana Santa Maria Vinte e Cinco de Julho
Até 1860 34
1861 a 1870 90 74
1871 a 1880 72 206 2
1881 a 1890 94 145 208 15
1891 a 1900 102 191 251 74
1901 a 1910 127 83 308 137 49 64 63
1911 9 5 25 6 4 23 16
1912 16 4 18 19 3 14 14
Total 544 708 812 251 56 101 93 50

Essas tabelas nos permitem supervisionar a formação e o desenvolvimento de cada comunidade.

A de Campinho cresceu de decênio em decênio.

Em Santa Leopoldina, vem minguando os nascimentos, a partir da década de 1871 a 1880, em virtude de desmembramento e de emigração. O aumento de óbito, durante os 90 do século passado, está ligado à epidemia de febre amarela que, então, grassara.

Os números de Jequitibá só começaram a diminuir na primeira década deste século.

Aumentam os números de Califórnia, o mesmo sucedendo com as comunidades novas, excetuada a de Santa Cruz, onde, nos últimos anos, se verificou uma retração.

Vejamos, agora, os números totais, ordenados segundo a grandeza:

Nascimentos Óbitos % de óbitos
sobre nascimentos
Jequitibá 4.141 812 20
Santa Leopoldina 3.897 708 18
Campinho 2.314 544 24
Califórnia 1.527 251 16
Santa Maria 639 93 15
Santa Joana 502 101 20
Santa Cruz 364 56 16
Vinte e Cinco de Julho 250 50 20
13.634 2.615 19

É perfeitamente admissível que esses assentamentos aqui utilizados, relativos ao número de nascimentos, correspondam à realidade, com forte aproximação. Contudo, far-se-á bem em elevar um pouco o total achado, pois é provável, que, na primeira fase de existência das colônias, nem todos os nascimentos tenham sido registrados. Em todo caso, é seguramente aceitável que tenha havido cerca de 14.000 nascimentos entre os alemães evangélicos, desde que estes chegaram ao Espírito Santo.

No princípio, os casos de morte foram, provavelmente, registrados com menos cuidado, de modo que parece mais próximo da verdade o número 3.000. Talvez que ainda deva ser elevado.

Desde que vive na nova pátria, a população protestante aumentou de 10.000 a 11.500 cabeças. Presumindo-se que a população atual seja de 12 a 13 mil indivíduos, a imigração, donde proveio, teria sido de 1.500 a 2.000 pessoas.

Aceitando-se as mesmas proporções numéricas para os 5.000 católicos, deduziremos que houve entre eles, mais ou menos, 5.500 nascimentos e 1.200 óbitos, e teriam imigrado 600 a 1.000.

Relativamente a todos os alemães do Espírito Santo parecem razoáveis os seguintes números:

Nascimentos 19.000
Óbitos 4.000
Aumento da população 15.000
Imigração 2.500
Soma 17.500

Considerando que parte desses números repousa em conjeturas, é desaconselhável extrair deles conclusões amplas. Talvez que estejam mais próximos da verdade, os números seguintes:

Nascimentos 18.000
Falecimentos 4.500
Crescimento demográfico 13.500
Imigração 3.000
Soma 16.500

Assim, a população, em 30 a 65 anos, ter-se-ia, por crescimento natural, mais do que quintuplicado. Como quer que seja, a configuração quantitativa de nascimentos e óbitos é extremamente favorável.

3. Nascimentos e óbitos; números relativos

Confrontemos a população com o número de óbitos e nacimentos:[ 5 ]

Nascimentos:

TABELA

Comunidades Famílias Pessoas 1912 Média anual de nascimentos
De 1911 a 1912 De 1908 a 1912 De 1901 a 1910 De 1891 a 1900 De 1881 a 1890
Campinho 319 1.914 67 75 78 73 46 39
Santa Leopoldina 150 900 48 45 43 50 76 85
Jequitibá 450 2.700 113 114 110 134 150 104
Califórnia 318 1.908 102 92 83 73 49 15
Santa Maria 370 2.200 94 94 78 64
Santa Cruz 60 300 18 18 18[ 6 ] 21 19
Santa Joana 263 1.315 103 95 70 35
Total 1.930 11.237 545 553 480 450 340 243

Óbitos:

TABELA

Comunidades Famílias Pessoas 1912 Média anual de óbitos
De 1911 a 1912 De 1908 a 1912 De 1901 a 1910 De 1891 a 1900 De 1881 a 1890
Campinho 319 1.914 16 13 12 13 10 9
Santa Leopoldina 150 900 4 4 7 9 19 15
Jequitibá 450 2.700 18 22 26 31 25 21
Califórnia 318 1.908 19 13 15 14 7 2
Santa Maria 370 2.200 14 15 14 11
Santa Cruz 60 300 3 3: 3[ 7 ] 5
Santa Joana 263 1.315 14 18 15 7
Total 1.930 11.237 88 88 92 90 61 47

Embora se trate de pequenos números absolutos, revelam eles bastante regularidade, mesmo quando se referem a, apenas, uma comunidade ou a determinados anos. Por isso, acreditamos que os totais de nascimentos e óbitos de 1912 prestam-se para nossos cálculos, sem recearmos operar com quantidades puramente casuais. O número de habitantes, nesse ano, é conhecido mais exatamente e, por isso, somos constrangidos a limitar-nos a ele, a fim de obtermos a porcentagem de nascimentos sobre a população.

Fato importante: em 1912, no Espírito Santo, entre mil alemães evangélicos, nasceram 48,5 e morreram 7,8. Em cada 3ª ou 4ª família ocorreu um nascimento e em cada 22ª, um óbito. A proporção de nascimentos para mortes é de 6:1 e a taxa de crescimento anual é de 4%.

São números inauditos! A gente tende a duvidar de sua exatidão; mas achamo-los confirmados, quando confrontamos o número de imigrantes, estimável em 2.500 a 3.000 almas, com, a população teuta que ascende a 17 ou 18 mil cabeças. Uma demonstração mais precisa, com uma operação aritmética: No meado da década dos oitenta, o número de colonos foi avaliado em 5 a 6 mil.[ 8 ] Com uma taxa de crescimento de 4%, em 30 anos, a população teria de se elevar a 16.217 e 19.460 almas, o que concorda com a minha avaliação.[ 9 ] Não creio seja suscetível de acontecer, em muitos outros lugares da terra, cousa similar; pretendo, até, admitir ser esse o único caso autêntico de tão favoráveis cifras demográficas.

Uma taxa de nascimentos de 50 por mil e mesmo superiores não constituem raridade nenhuma. Encontram-se, por exemplo, em Java, em muitas partes da Rússia e da Índia; mas, em regra, são acompanhadas de alta mortalidade. O obituário reduz-se, normalmente, nos países de higiene pública e privada muito desenvolvida, como nos europeus ocidentais. Segundo as estatísticas mais recentes, a mortalidade é, presentemente, mais baixa, na Holanda. Aí, em 1912, importou, ainda, em 12,3 por mil; na Alemanha, em 15,6 por mil. Nesses países, o número de nascimentos costuma fixar-se em 25 e 30 por mil. Em 1912, na Alemanha, ascendeu a 28,3 por mil, de modo que se verificou um crescimento demográfico de 1,3 por mil. Uma taxa de crescimento de 2% já é para se considerar algo extraordinário. A gente tende a banir para o mundo das lendas uma taxa de 4%. E, no entanto, está fora de dúvida, repito, a exatidão do número.

A primeira vista parece razoável perguntar se esse forte crescimento não é apenas conseqüência de uma peculiar composição de idades, se não decorre, simplesmente, de faltarem grupos de idade mais avançada entre os imigrantes. É o que absolutamente não ocorre; há bem mais razão para supor que a estruturação por idades, 30 a 70 anos após a chegada dos colonos, não se distingue substancialmente daquela das populações secularmente radicadas. Se fosse atribuída àquele fator a configuração favorável dos números demográficos, a mortalidade deveria tornar-se maior no decurso dos anos. Sucede, porém, o contrário. A estatística, pelo menos, mostra-nos que, enquanto o número de nascimentos, desde os oitenta, ascendeu a mais do dobro, o de falecimentos, no mesmo período, não chegou a duplicar, embora as anotações no registro de óbitos provavelmente não fossem rigorosamente completas. Verifica-se, também, que a mortalidade nas comunidades antigas, em Campinho e Santa Leopoldina, é proporcionalmente pequena.

No decênio 1901/10, para cem nascimentos houve em:

Campinho 17 óbitos
Santa Leopoldina 17 óbitos
Jequitibá 23 óbitos
Califórnia 19 óbitos
Santa Maria 14 óbitos
Santa Cruz 23 óbitos
Santa Joana 21 óbitos
Média 20 óbitos

O número de nascimentos e o de óbitos por mil pessoas, tomando-se por base a população de 1912 e a média anual de nascimentos e mortes nos anos 1911 e 1912, são os seguintes:

Por mil
Nascimentos Óbitos
Campinho 39 7
Santa Leopoldina 50 4,5
Jequitibá 42 8
Califórnia 48 7
Santa Maria 43 7
Santa Cruz 60 (50) 10 (8)
Santa Joana 72 (60) 14 (11)

Parece-me demasiadamente audacioso utilizar esses números sem reservas. Uma conclusão, porém, se evidencia: as comunidades da região baixa, Santa Joana e Santa Cruz, ostentam os números mais altos, mesmo quando consideramos a população o produto da multiplicação do número de famílias por 6 (nesse caso, a taxa de natalidade e a de mortalidade estão acrescentadas, acima, entre parênteses) em lugar de por 5. O número excessivo de nascimentos se explica, em ambos os casos, por se tratar de comunidades novas, cujos membros, só há pouco tempo, estão casados. A mais elevada taxa de mortalidade decorre, principalmente, de o clima ser mais desfavorável e de haver menor probabilidade de vida no primeiro período da existência. Adiante voltaremos ao assunto.

TABELA I:            Temperatura em 1912, em ºC, Santa Leopoldina;
TABELA II: Idem (conclusão);
TABELA III: Temperatura em 1913, em ºC, Santa Leopoldina;
TABELA IV: Idem (conclusão);
TABELA V: Nascimentos;
TABELA VI: Nascimentos (conclusão);
TABELA VII: Óbitos;
TABELA VIII: Óbitos (conclusão).

____________________________________

NOTAS

[ 1 ] Quanto à idade em que se casam, vide Cap. VIII, 6.
[ 2 ] Segundo informações dos sacerdotes católicos de Santa Isabel e Tirol.
[ 3 ] Vide pormenores na Tabela V do Apêndice.
[ 4 ] Vide pormenores na Tabela VI do Apêndice.
[ 5 ] Não estão incluídos nos quadros abaixo, dados da comunidade filial de Vinte e Cinco, os quais por sua natureza conjetural, não seriam de utilidade.
[ 6 ] Não estando mais em meu poder os números correspondentes, substitui-os com os relativos ao biênio 1911-1912.
[ 7 ] Idem.
[ 8 ] Bolle Kolonialzeitung, 3.º vol., pág. 626.
[ 9 ] Aos que acharem pequena a média de pessoas por família, basta lembrar que os casamentos se realizam muito cedo e, por isso, o número de casais jovens é bem grande.

Ernst Wagemann (autor) nasceu em 18 de Fevereiro de 1884, em Chañarcillo, Chile, faleceu em 20 de Março de 1956, em Bad Godesberg, Alemanha. Foi economista político e estatístico muito atuante na Alemanha a partir dos anos de 1920. Para mais informações sobre o autor clique aqui.

(para visualizar o sumário completo do texto clique aqui)

Deixe um Comentário