Vitória, 4 de outubro de 1945
Exmo. Sr.
Presidente Getúlio Vargas
Ouvi ontem, preso de profunda emoção, as palavras serenas e apoteóticas com que V. Excia. respondeu ao apelo comovente e consagrador do povo dessa Capital, em cuja voz falava a própria alma da Pátria. Bem compreendo e avalio o cruciante momento que está V. Excia. atualmente vivendo, porque nele se reflete também todo o imenso drama político do Brasil atual. Emissário de sua confiança na Interventoria Federal do Espírito Santo, creio ser supérfluo reafirmar a minha absoluta e irrestrita solidariedade às supremas determinações de V. Excia. Essas serão por mim cumpridas, sem vacilações nem tibiezas, com a indefectível fidelidade com que as defendi pelo voto em 30 e pelas armas em 32 contra as mesmas forças reacionárias que se antepõem hoje entre V. Excia. e os sagrados anseios da nossa Pátria.
Fiel às diretrizes expostas em nossa entrevista de Petrópolis, mantenho os mesmos propósitos de deixar o governo com V. Excia., encerrando a minha carreira política, para conservar sempre na memória, como o mais alto galardão da minha vida, a lembrança do supremo privilégio que desfrutei de servir ao Brasil sob as ordens diretas de V. Excia. E o Espírito Santo, que ainda recentemente, quando ferido em sua pequenez territorial pela prepotência de um vizinho poderoso, apenas encontrou a voz de V. Excia. para resguardar-lhe a soberania e reconhecer-lhe o direito, o Espírito Santo, Sr. Presidente, se declara solidário com V. Excia., para propugnar nesta hora suprema pelas mais altas aspirações do povo brasileiro.
Respeitosas Saudações
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A ALBINA DA SILVA NEVES
Rio, 15 de janeiro de 1949.
Querida Mãezinha:
O meu regresso aí para uma rápida viagem ao interior de Domingos Martins, como programara, ficou no tinteiro. Já agora vai ser difícil porque estamos convocados para nos reunirmos, em Congresso, ainda hoje, dando início às nossas tarefas parlamentares. Mas vai em meu lugar o Joninho, que, estou certo, passará aí umas boas férias, alegrando um pouco o coraçãozinho da querida mãezinha e, de certa forma, matando as saudades do filho ausente, e cada vez mais saudoso.
Ainda revejo, com os olhos do espírito, os dias agradabilíssimos que passei em sua afetuosa companhia, quando de minha rápida visita última. Sobretudo, comove-me ainda a lembrança dos últimos momentos de nossa despedida pela ternura com que nos abraçamos e pelo régio presente que a sua bondade me cumulou, confiando-me o privilégio gratíssimo de ser o detentor do lindo cronômetro do nosso inesquecível Pai. Digo assim, porque também eu, um dia, o confiarei a outras mãos que o conservarão com o mesmo carinho, transformando aquele objeto insensível e valioso numa prenda de família que se transmite de mão em mão, até o final dos séculos, como preito de saudade e carinho dos nossos entes queridos. Comigo ficará, enquanto Deus me der alento, marcando as horas atribuladas da minha vida ao mesmo compasso de nobreza e dignidade que constituíram a diretriz superior de toda a existência do nosso inesquecível ausente. Que Deus a abençoe sempre, querida mãezinha, por esse presente régio que tão fundo tocou a minha sensibilidade.
Não tenho tempo hoje de escrever à querida Inês. A ela quero, no entanto, agradecer, de coração, outra lembrança caríssima que me confiou aí. Refiro-me ao seu esplêndido retrato que já emoldurei e coloquei em lugar de honra, frente a mim, sobre a minha secretária, e que me olha com ternura maternal, alentando-me nos momentos difíceis e encorajando-me sempre na vida, como um talismã de bondade e gratas recordações.
O nosso apartamento vai ficar ermo e vazio por várias semanas. E vamos sentir uma falta enorme do querido netinho que, em compensação, estará confortando, com a sua alegria e momices, a querida bisavozinha que já reconhece no retrato e aprende conosco a idolatrar.
Muito grato pelo gentil telegrama de felicitações pelo meu aniversário e todos os nossos votos, mais profundos e ardentes, pela sua felicidade e saúde no decorrer do Ano Novo, em companhia da querida Inês e do estimado Henrique.
Lembranças afetuosas para ambos e para a querida mãezinha toda a ternura do meu coração saudoso.
[In Cartas selecionadas – Jones dos Santos Neves. Vitória: Cultural-ES, 1988.]
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Jones dos Santos Neves graduou-se em Farmácia no Rio de Janeiro e, de volta a Vitória, casou-se, em 1925, com Alda Hithchings Magalhães, tornando-se sócio da firma G. Roubach & Cia, juntamente com Arnaldo Magalhães, seu sogro, e Gastão Roubach. A convite de interventor João Punaro Bley, em 1938 funda e dirige, juntamente com Mário Aristides Freire, o Banco de Crédito Agrícola (depois Banestes), tendo depois disso seu nome indicado juntamente com o de outros dois, para a sucessão na interventoria. Foi então escolhido por Getúlio Vargas como novo interventor, cargo em que permaneceu de 1943 a 1945. Em 1954 retomou seu trabalho no banco, chegando à presidência, sendo, em 1950, eleito governador do estado. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)