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Agressão ao patrimônio do convento da Penha

Quando fazia mais uma costumeira visita aos meus velhos pais na nossa querida Vila Velha, pude constatar do que é capaz o homem insensível e zarolho para com as coisas do riquíssimo patrimônio histórico e cultural da nossa terra.

Diante do que vi em pleno sítio histórico da Prainha, lancei mão imediata do único meio de que dispunha para dar meu grito diante da verdadeira agressão e, contra a qual, não havia ainda a menor reação dos políticos nem da sociedade local. Estávamos no mês de setembro de 1975.

Mais que depressa, usei o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro onde falei assim:

“Na semana em que o Projeto Aquarius fazia a abertura da grande festa do nosso Exército, na cidade de Vila Velha, no Estado do Espírito Santo, divulgando a cultura pela música, um quadro profundamente entristecedor sensibilizava a todos aqueles que foram assistir tão belo espetáculo. Viram todos que, mais um golpe cruel está sendo dado na verdadeira história do povo capixaba que, ao que parece, está há anos assistindo passivamente a destruição de todo o cenário natural que foi o berço de sua civilização. Ontem, o que era a enseada de Vila Velha, onde aportou o primeiro donatário da capitania e mais tarde outros colonizadores e missões religiosas, está transformado em imenso aterro sem qualquer objetivo técnico ou interesse estético. Nem mesmo a praia de Inhoá e a ilha da Forca que completavam o cenário histórico do primitivo porto, formando um conjunto de grande beleza natural e que contavam episódios de muitas lutas e sacrifícios, escaparam do soterramento. Ali está agora, tão grande quanto triste, tão abandonado quanto inútil, tão cruel quanto inculto, o grandioso sepultamento das tradições de um povo que parece esquecer-se que tem as suas raízes profundamente ligadas ao belo e ao ameno da natureza, à bravura e à altivez do gentio nativo da terra. Se o acontecimento de 24 último foi todo de culminância musical, serviu também para mostrar que a obra predatória dos iconoclastas prossegue impiedosamente.

Agora chegou a vez do morro do Convento, coberto pela sua mata densa virgem e original. Ainda é esta colina que modela no cenário histórico, o santuário da fé cristã de um grande povo. Cedo não o será mais, porque uma obra comum, autorizada pela municipalidade, se inicia bem no sopé, ao lado do portão da ladeira de pedras, construída por índios e escravos. Com a mesma facilidade desta, outras obras virão já, sem dúvida, e com elas, o comprometimento do pouco que resta de toda uma história já destruída. O povo espírito-santense deve orgulhar-se de saber que nesse local, nada deve lhe pertencer porque ali, a própria natureza agasalhou os importantes episódios que são de todos os brasileiros que cultuam o fortalecimento do povo através das grandes lições do seu passado e das suas mais remotas tradições.”

[Reprodução autorizada pelo autor.]

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Jair Santos é arquiteto e professor aposentado, natural de Alegre, ES, autor dos livros Vila Velha, onde começou o Estado do Espírito Santo e A igrejinha do Rosário.

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