Bairro onde mora: Praia do Canto
Bairro onde trabalha: São Lucas e Jardim Camburi
Profissão: médica – cirurgiã geral e proctologista
Naturalidade: Vitória
Idade: 39
Tempo de residência em Vitória: 39
Tempo que trabalha em Vitória: 13
Estado civil: solteira
Filhos: não
O que você acha da cidade de Vitória como ambiente para se viver?
– É uma cidade que tem uma boa qualidade de vida, eu considero que tem uma boa qualidade de vida, ainda. Não sei no futuro, mas ainda tem. É uma cidade pequena, mas tem, ao mesmo tempo, coisas de cidade grande. Tipo: shopping, cinema bom, bons restaurantes. Não tem muita opção de lazer, do ponto de vista noite, assim; cultural até que tem, tem cinema, mas falta teatro, e essa questão de uma boa casa noturna, porque tem, mas tem casa noturna que só dá garotada, e pras pessoas da minha faixa etária, por exemplo, não tem lugares muito legais. Mas de uma maneira geral, eu acho uma cidade boa, e eu gosto muito de viver aqui.
Aspecto físico
– Eu acho Vitória uma cidade muito bonita.
Qual parte da cidade você mais gosta?
– Não sei. Eu acho muito bonita aquela parte da enseada, que tem a cruz do Papa, toda aquela região ali. Me lembra o aterro do Flamengo. Eu costumava caminhar ali, mas acho meio perigoso. O Iate Clube eu acho muito bonito. A Terceira Ponte, a vista dela à noite é muito bonita também. A Ilha do Boi é muito bonita. Você vindo de Vila Velha, pela Terceira Ponte, quando você vê Vitória é muito bonita. Como um todo. É realmente uma cidade presépio, como é considerada. A baía de Vitória é linda.
Qual é o melhor bairro em sua opinião?
– Eu gosto muito da Praia do Canto, tanto que vivo na Praia do Canto. Gosto da Ilha do Frade, da Ilha do Boi. Acho Jardim da Penha um bairro bom também, Jardim Camburi, em alguns pontos eu acho legal. Morada de Camburi, Mata da Praia, ali aquela região, eu também acho legal. Praia do Canto eu acho legal pela facilidade que você tem do acesso a padaria, farmácia, supermercado, você tem tudo à mão, e é tudo perto. Pra mim, a grande vantagem de morar em Vitória é que é tudo muito perto, você fala em 15 minutos eu estou aí, e você está lá em 15 minutos, se você combinar com alguém, a não ser que aconteça algum intercorrência, tipo um acidente ou alguma coisa que um trânsito dê uma parada, mas, tirando isso, se tudo correr normal, Vitória é uma cidade onde tudo é muito perto. Os bairros são muito próximos.
Como você se relaciona em Vitória? É fácil fazer amigos, namorar…? Qual é o perfil do capixaba?
– Eu acho que tem muita mulher pra pouco homem. E tem muita mulher bonita. A concorrência é pesada. Agora muita mulher não quer dizer qualidade; tem muita mulher falcatrua e muito gay. Tem muito gay em Vitória. E muito gay enrustido, o que é pior. Eu posso dizer, porque conheço alguns. Enrustidos mesmo, que vão pro Wall Street, dão beijo na boca de menina, e depois catam mesmo é homem. E quando querem aprontar mesmo vão pro Rio, porque aqui, se aprontar, todo mundo fica sabendo. – Amigos, eu nunca tive problemas, porque eu sou daqui. Mas Vitória, eu tenho um amigo que sempre fala isso, ele é do Rio. E ele diz que foi graças a mim que ele conseguiu criar um ciclo de amizades aqui. Não que os capixabas sejam antipáticos, só que eles são meio desconfiados, é meio panelinha, então pra você entrar no círculo, você tem que ser introduzido por alguém que já está no círculo. Não é uma coisa assim tipo Bahia, que conheceu um dia já é amigo. Aqui as pessoas que vêm de fora, e não foi uma nem duas, me falaram que têm uma certa dificuldade porque rola uma certa panelinha. – O capixaba é bairrista e tem uma coisa de interiorano, porque é uma cidade pequena, e tem essa coisa de um saber da vida do outro, um falar da vida do outro, isso tem. Por mais que esteja se expandindo, continua uma cidade pequena, nesse sentido. Eu não estou falando da Grande Vitória, de Vitória mesmo. Eu mesmo me achava bairrista, um pouco interiorana, e sem contar que muitas pessoas que moram em Vitória não nasceram em Vitória, vieram do interior, então tem essa coisa do interior que eles trazem.
O que você acha do custo de vida?
– Comida barata, roupa cara, roupa e sapato, vestuário. Em Vitória você come bem, ao nível de restaurante, supermercado. Você come em bons restaurantes, come bem, barato assim, entre aspas porque hoje em dia nada é barato, mas é bem mais acessível que Rio, São Paulo, outras capitais, Salvador. Culinárias consideradas caras, tipo japonesa, portuguesa, aqui a gente consegue um preço mais acessível.
Tem algo a dizer sobre o trânsito? Como você se locomove?
– Tá piorando cada vez mais. Antes era muito bem melhor. Eu ando de carro pra cima e pra baixo, considero carro um instrumento de trabalho. Camburi eu passo de manhã, e sempre pego trânsito ali. E volto do trabalho lá da Beira-Mar, tipo 7 horas, e sempre pego trânsito. Entre 6:30 e 7:30 tem trânsito em Vitória. É o horário mais pesado. De um ano pra cá piorou muito, mas também de um ano e meio pra cá veio muita gente pra Vitória. Com o negócio do petróleo, a cidade encheu. A Vale do Rio Doce trouxe muita gente de fora, também.
Você assiste ou participa das tradições que ainda restam? (procissão dos navegantes, festa da Penha, festa de São Benedito…)
– Não.
E as tradições mais recentes, como o Vital, o carnaval do Centro…?
– Vital eu frequentei. Eu fui a sete Vitais. Eu acho muito legal, mas acho que já deu meu tempo, agora não tem mais nada a ver comigo. Mas quando eu ia, eu gostava muito. As pessoas falam muito de violência, e tal, etc., etc., mas eu, particularmente, nunca vi nenhuma violência, nem sofri nenhuma violência no Vital. Não sei se é porque eu sou muito cuidadosa. Conheço pessoas que sofreram violência no Vital, sim. Amigas que foram assaltadas. Tem gente que vai pra zoar mesmo, pra estragar a brincadeira dos que estão lá pra se divertir. O último que eu fui, em 2004, eu senti isso, porque fiquei tanto no camarote quanto no bloco. E eu vi, num determinado momento lá, não sei como que aconteceu, eu estava no meio de uma briga e eu acho que meu anjo protetor é muito bom, que na mesma hora eu vi uma ambulância, e entrei na ambulância e passei pela briga dentro da ambulância. A técnica de enfermagem me conhecia. Eu não sei até hoje como foi que eu entrei, eu tava bem. Tudo é muito rápido. E eu vi que eram pessoas que estavam lá pra querer estragar o prazer dos outros. Estavam lá pra brigar mesmo. Às vezes até nem é gente daqui. Vem muito carioca, vem gente de tudo que é lugar, mas principalmente do Rio. Os cariocas baixam aqui com força. – O carnaval do sambódromo é tudo de bom, já desfilei, esse ano de 2006 seria meu sexto ano de avenida, eu não fui porque meu grupo desanimou porque a gente não conseguiu camarote, e a gente ficou meio ninguém queria ir. Mas eu adoro, acho que as escolas de samba daqui são muito legais, estão crescendo, estão investindo. É animado, são dois dias de alegria. Desfilar é tudo de bom. Eu desfilei pra Pega no Samba dois anos e depois, três anos, na Unidos de Jucutuquara. Tem camarote, mesa de pista e arquibancada, eu já fui em mesa de pista, também e é ótimo, excelente, muito bom.
Como você se diverte? Quais lugares que frequenta?
– No momento, bem, eu sempre fui rueira. Adorava boate, ia muito no Wall Street, Blow Up, na época de Blow Up, Swingers na época que era boa, porque agora ninguém merece. No momento, minha maneira de me divertir é ir pra barzinho, uma vez ou outra na semana, e festinha em casa de amigos, reunião em casa de amigos, isso a gente faz muito, porque a gente tem um grupo grande de umas 15 pessoas, e sempre a gente está se reunindo. Um churrasquinho aqui, outro lá. Eu gosto de cinema, mas ultimamente tenho ido pouco. Praia eu gosto de ir, mas o problema é que eu sou muito branquinha, aí fica complicado de ir pra praia. Quando eu vou, eu gosto de ir pra Manguinhos, Ilha do Boi ou Guarapari.
O que acha do movimento cultural de Vitória?
– Eu não acompanho muito, mas acho fraco. Eu gosto de teatro, mas quando chega uma peça em Vitória eles anunciam dois dias antes, então quando você vai comprar ingresso não tem mais. Ontem mesmo eu queria ir ao cinema, no Norte-Sul que é mais próximo, não tem que atravessar a ponte. Não tinha nenhum filme que me interessava. Filme entra em cartaz aqui e sai muito rápido. Eu acho que tinha que ficar mais, ter mais salas de cinema. Agora os cinemas são bons, tanto o Kinoplex, em Vila Velha, quanto o Norte-Sul são muito bons.
E da vida noturna? O que se vê na noite de Vitória?
– Eu acho fraca. Não tem nenhuma badalação. Se você quiser estender não tem jeito. Tudo fecha muito cedo, dá três, quatro horas da manhã acabou tudo.
Como é o turismo em Vitória hoje?
– Eu acho que deveria ser mais explorado, não só Vitória, a capital, mas o Espírito Santo todo. Precisava dar mais informação ao turista, mais divulgação das coisas que acontecem aqui. O carnaval capixaba, como evento, em relação ao verão mesmo. Mas eu acho que está começando a melhorar. Outro dia mesmo eu li uma reportagem que tinha chegado um navio, e que tinha gente que falava três línguas para receber o pessoal do navio. Achei isso um avanço. O problema também é que é muita gente querendo roubar e roubando pra um lugar tão pequeno. Então tem essa questão de desvio de verba, que o dinheiro que era pra turismo, educação, saúde vai sempre pro bolso de alguém. Aí, realmente é difícil melhorar qualquer coisa.
Tem algo a dizer sobre a educação? A saúde? O petróleo?
– A saúde precisa melhorar com força. O hospital São Lucas, que é onde eu trabalho, é um hospital de trauma, não só pra Vitória, mas pro Espírito Santo todo, e pra região da Grande Vitória inteira, é o São Lucas. Até pra muita gente do sul da Bahia, que é muito mais perto do que Salvador. E está sempre superlotado, atendimento tem, ninguém chega lá e não é atendido, desde que o caso seja para lá, que lá é um hospital de trauma. Às vezes algumas doenças não relacionadas com trauma são atendidas também. Mas é atendido, deita no chão, se tiver que ser operado vai ser operado. Mas as condições são essas, e isso não é bom, mas a gente faz o que tem que fazer, do jeito que dá pra fazer. Tinha que ter, no mínimo, três São Lucas em Vitória. E tem dinheiro, a gente sabe que tem dinheiro, mas não vai pra saúde, nem pra educação. O hospital Dório Silva absorve alguma coisa ali na Serra. Mas Cariacica, Viana, até mesmo Vila Velha, tem que ir pra Vitória. E no São Lucas é igual coração de mãe, chegou entrou, não tem esse negócio de portão fechado. E o paciente é atendido, de qualquer jeito. A grande vantagem do São Lucas é que lá você tem todas as especialidades de plantão, dentro do hospital. Três cirurgiões gerais, três ortopedistas, três cirurgiões vasculares, quatro anestesistas de dia e dois à noite, dois neurocirurgiões, quatro ou cinco clínico-gerais por plantão. Então, médico não falta. E são pessoas capacitadas. O CTI é muito bom. Só morre quem tem que morrer mesmo. Não é por falta de medicação. Se não tiver no hospital, o diretor manda comprar, porque a gente pressiona também, tem que dar um jeito. Só que precisava de mais espaço. – Quanto ao petróleo eu tenho medo de sobrecarregar a cidade, de não ter pra onde expandir mais. É claro que gera emprego. É bom.
Quais são os grandes problemas de Vitória?
– A meu ver, hoje, é o problema da saúde pública. É o maior problema. E a segurança, apesar do que eu não me exponho. Mas a gente vê e ouve. E da roubalheira. Educação: deveria ter mais escolas municipais, mais cursos profissionalizantes pra atender à população.
E as grandes vantagens de morar aqui?
– É aquela questão de que é uma cidade que tem bastante coisa, você encontra muita coisa de cidade grande, e ao mesmo tempo é uma cidade pequena, onde todo mundo se conhece, tudo é relativamente perto. Você sai na rua, você não é mais um número, você é uma pessoa, eu sou Ana Maria, você é Inês, a gente se sente em casa em Vitória. A grande vantagem de se morar aqui é isso: você se sentir em casa e não ser mais um número.
Como você definiria a sua vida em Vitória?
– Eu gosto da minha vida em Vitória, não tenho nada a reclamar. Eu consegui fazer o curso de Medicina numa boa. Eu trabalho, se quisesse trabalhar mais eu trabalharia.
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