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A.V.V., jornalista aposentado

58 anos, é jornalista aposentado da Eletrobás, do Rio de Janeiro, onde se casou com uma capixaba, teve dois filhos, anos depois se separou; sua ex-esposa voltou para o Espírito Santo, exatamente para Vila Velha, ocasião em que ele passou a visitar o estado. Há cinco anos reside em Vitória, onde está casado de novo. Nasceu em Cataguases, MG. (13.07.2004)

– Me aposentei, tenho filhos em Vila Velha, estão se formando, nasceram no Rio, ela é capixaba, um tá com 24 e a menina 23. O menino se forma pela UFES, engenharia elétrica, e a menina, em Relações Internacionais, pela UVV. Como me aposentei pela Eletrobrás, eles forçaram a barra: “Ô pai, você não tem mais patrão, vem pra cá…” Antes mesmo deles nascerem, sempre vinha pra Vila Velha, e o meu projeto era pra vir pra cá mesmo… depois, conheci a Rita, com quem estou casado.

– Vitória, eu acho um pouco provinciana, mas naquela época, antes da ponte, era bem mais. A ponte não resolveu o problema, mas minimizou e a qualidade de vida melhorou consideravelmente. Agora, melhorou mais em Vitória do que em Vila Velha. Politicamente, em termos de gestores, aqui tá duzentos anos na frente.

– Eu sempre achei a ilha muito interessante. Antes de ir pro Rio, eu fui pro Rio com 18 anos, eu morava em Minas, eu frequentava também as praias, porque mineiro sempre frequenta as praias do Espírito Santo, e já que Vitória não tinha praia, comparada com as outras praias capixabas, Vitória era um lugar en passant, e eu sempre achei muito bonita.

– No Rio morava no Humaitá; aqui passei a morar na Praia do Canto. Acho que Vitória oferece tudo, a qualidade de vida é muito melhor do que a do Rio, que é um lugar que sempre morei, sempre amei; mas o Rio já tá…como diz Drummond, é um retrato na parede. O Rio dos anos 80 pra cá acabou, tá inviável. Criar família no Rio não dá, nem com muito romantismo, nem pra passear eu tenho interesse, tô aqui há cinco anos e devo ter ido ao Rio umas quatro vezes. Vivi no Rio quase 40 anos, minha vida.

– Me sinto seguro em Vitória. Aqui onde vivo, na Praia do Canto, é um lugar privilegiado. A topografia, apesar dela se assemelhar com a do Rio, entre o mar e favelas, como a qualidade de vida é superior à do Rio, os problemas estão minimizados, pelo menos a partir das três últimas gestões, sem contar o fatídico governo passado, o estadual, mas o município deu pra segurar a onda. Nunca fui assaltado, nunca vi absolutamente nada. Costumo dizer que tenho dois problemas com Vitória. Em Vitória, pra mim, faltam duas coisas, botequim e as calçadas, que são lastimáveis. Velho, criança e gestante não têm condição de andar na calçada, e às vezes os carros estão em cima das calçadas.

– Ando muito. Tenho carro, mas detesto andar de carro. Ando muito pouco de carro. De dia o sistema de ônibus é satisfatório. À noite não sei, porque nunca andei à noite, mas parece que é problemático, ainda mais depois de 10 da noite.

– O povo com o turismo é receptivo, tem consciência, o problema são os gestores. Aqui tá tudo arrumado, pois o Homem lá em cima deixou tudo direitinho. O povo é receptivo, a comida da melhor qualidade… Bem, o capixaba gosta de comer o famoso trivial variado. Como sou mineiro, e continuo comendo do jeito mineiro, vejo muita pouca diferença entre a comida mineira e a comida capixaba… Tem a moqueca, de um lado, e incorporado o feijão tropeiro, então a comida é arroz, feijão, bife, verdura. Agora, acho que o capixaba come muito pouco peixe porque o preço ainda é muito caro. Eu vou a supermercado, feira, e aqui é o mesmo que qualquer capital, tem de tudo. Vitória não deve nada, em termos de oferta, a nenhuma capital e em relação a Rio e São Paulo, a cidade não é cara não, é mais barata, as coisas são compatíveis com a renda per capita.

– Eu infelizmente fui internado por duas vezes, uma vez bati com o carro, um acidente feio, eu tive um atendimento sensacional, que eu não teria em nenhum lugar do mundo, tava sozinho, primeiro fui atendido pelo Corpo de Bombeiros que me levou pro Hospital Santa Rita, tudo que eu tinha no carro, carteira, dinheiro, talão de cheques, nada foi tocado, nenhum centavo, foi uma cirurgia seriíssima, fiquei bom em dois meses. Outra vez tive uma arritmia, fui atendido na Unimed, tudo de primeira. Me sinto muito seguro em Vitória, em termos de família, segurança, saúde.

– Eu tinha antes uma visão de fim de semana, equivocada, e o capixaba não é fechado, não como o carioca, que chega a ser exarcebado. Eu, meus filhos, somos todos integrados à terra. Voltar daqui, só saio daqui morto e cremado aqui e como diz minha mulher, as cinzas serem jogadas nos botequins.

– Eu não sei se o capixaba tem sotaque. Eu não sei, eu não consigo distinguir o sotaque no capixaba. Eu dou a maior nota possível pra cidade.

– O capixaba, o município, avançou muito na cena política, principalmente depois do governo Buaiz. O coronelismo que existia antes, que vinha mais do interior pra aqui na capital… hoje os formadores de opinião estão na capital, reverteu, a mídia ajudou… agora estamos passando um momento crítico de mídia, não é? A mídia, como no Brasil inteiro, tá falida. Apostou errado no real o que não devia, se era mídia, devia estar mais bem informada. Afinal os analistas econômicos, cadê, casa de ferreiro espeto de pau? Que contradição. Eles estão endividados. Como a empresa falou mais alto que a imprensa, deu no que está dando… tem dois jornais bons, a TV tem nível, mas falta regionalismo na TV, que no meu ver não existe. Regionalismo não existe na TV. Tem outra coisa que discordo. As elites capixabas são pouco instruídas, sem cultura. Você não vê aí um milionário bancar nenhum projeto cultural. Já conversei com muito rico aqui que tem péssimo gosto em tudo. As secretarias, municipal e estadual, de cultura, não têm importância maior. O capixaba não conhece sua própria história, e não é culpa dele, é problema da elite, que eu já falei…

– Espero que Vitória desabroche e se ame, como eu a amo, que ame seus filhos, como eu amo. Vitória é muito maior que sua elite. Ela precisa desabrochar.

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