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Caçar com gato: escassez de recursos e relações sociais no Espírito Santo


Prefácio

Este livro é um estudo antropológico que resulta de pesquisa de campo desenvolvida no estado do Espírito Santo. O trabalho de campo propriamente dito realizou-se em duas etapas: de abril a dezembro de 1970 e de abril a outubro de 1971. Os três meses de intervalo foram usados na análise dos dados obtidos durante a primeira etapa, o que foi feito em Porto Rico sob a estimulante orientação do Dr. Harry Hoetink, então professor titular da Universidade de Porto Rico. A pesquisa tornou-se possível graças à licença outorgada pelo Centro de Estudos e Documentação Latino-Americanos (CEDLA) de Amsterdam e à bolsa de estudos obtida junto à Fundação para a Pesquisa dos Trópicos (WOTRO) do Conselho Nacional de Pesquisas dos Países Baixos.

Foi o acaso imprevisível que me conduziu ao Espírito Santo. Minha ideia inicial era fazer a pesquisa em Salvador, Bahia. Felizmente, porém, um colega inglês, Colin Henfrey, alertou-me a tempo para o perigo de encontrar ali uma multidão de outros antropólogos que tinham feito a mesma escolha nada original. E aconselhou-me: “Vá para uma cidade menor; quanto menos conhecida, melhor.” A sorte bafejou-me ainda sob a forma de um número da revista O Cruzeiro em que li uma reportagem sobre Vitória: nunca me arrependi, nem por um momento, dessa mudança geográfica de planos, razão por que faço questão, desde logo, de registrar aqui o meu agradecimento a Colin Henfrey, autor dessa feliz sugestão.

Chegados, minha família e eu, ao nosso destino, somente após três semanas de intensa procura pudemos encontrar e alugar uma casa em Vila Velha. Dessa maneira tornamo-nos vizinhos das pessoas de que trata parte deste livro. É difícil expressar em palavras o que elas significaram para nós. Nossa mais grata recordação, porém, se prende à extrema simplicidade com que nos aceitaram em sua vida, participando conosco suas preocupações cotidianas, suas alegrias e suas fofocas. A mesma gratidão se estenda às famílias de Venda Nova (distrito do município de Conceição de Castelo) e de Alto Corumbá (município de Castelo), onde fiz uma pequena pesquisa no final da estada no Brasil, e cuja hospitalidade nos deixou profundamente sensibilizados. Dentre as pessoas do nosso bairro de Vila Velha quero agradecer especialmente aos membros do terreiro de umbanda Guia Estrela, por sua colaboração. Fora do bairro sinto-me grato à Universidade Federal do Espírito Santo, pela ampla e eficiente colaboração que dela recebi. Os membros da Comissão de Planejamento, Prof. Fernando de Castro Moraes, Prof. Ivantir Borgo e, especialmente, Reinaldo Santos Neves e Vania da Costa Aguiar, me ajudaram muitíssimo. Valiosas informações sobre a estrutura social e a cultura capixabas recebi dos exímios especialistas no assunto, os professores Renato Pacheco e Guilherme Santos Neves. É impossível, na verdade, relacionar aqui o grande número de bons amigos capixabas que, cada qual à sua maneira, nos ajudaram em nosso trabalho no Espírito Santo.

Chegando da Holanda, nosso ingresso na vida brasileira deu-se pela cidade do Rio de Janeiro. Aí o Dr. Manuel Diégues Jr., então diretor do Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais, orientou, em termos científicos, os meus primeiros passos. Mas foram sobretudo os nosso padrinhos brasileiros Hélio e Irma Gonçalves que nos ensinaram, com plena cordialidade brasileira, as maneiras e costumes do país.

Quanto à Holanda, meu primeiro agradecimento deve ser para o meu orientador, Jeremy Boissevain. Suas ideias teóricas, bem como sua sensibilidade no trato das questões antropológicas, influenciaram sobremaneira meu modo de pensar. Durante a elaboração do texto, seus conselhos, sempre acertados, sobre estilo e composição, me ajudaram muito, embora tenha plena consciência de que o resultado poderia ter sido melhor. Agradeço também ao Rudolf van Zantwijk pelos comentários que fez ao manuscrito e por algumas importantes sugestões quanto à composição do livro. Uma participação toda especial na realização desta tese coube a Harry Hoetink. Já em meu tempo como aluno de mestrado me encantava a maneira como ele, em suas aulas, conseguia dar vida à sociologia latino-americana. Em Porto Rico exerceu influência definitiva sobre a formulação das minhas ideias, então um tanto vagas, sobre as ligações entre a escassez de recursos e as relações sociais. De volta à Holanda, deu-me apoio constante e sempre necessário. Agradeço também a ele e à sua querida esposa Ligia Hoetink de Espinal pela maneira tão cordial e amiga com que nos receberam em Porto Rico.

Uma palavra especial de agradecimento deve ser dirigida à Fundação WOTRO, que de modo eficiente e correto cuidou da parte material do projeto. Como centro interdiciplinar de estudos sobre a América Latina, o CEDLA foi para mim, de muitas maneiras, de inestimável valor. Devo, porém, em especial, profunda gratidão aos meus colegas. Foi através deles que entrei em contato com outras disciplinas, cuja compreensão é indispensável para um estudo como este.

Gonne Kruyer e Wine Wiesenhagen transformaram neste livro o manuscrito original. Particularmente na reta final tiveram de dar conta de um volume muito grande de trabalho, e me ajudaram tanto com a sua experiência nesse terreno que qualquer agradecimento é insuficiente.

Regularmente, neste prefácio, referi-me a Koosje (Cosima), Hanneke e Helio, que comigo integram o pronome nós de certas passagens. A aventura em comum que então vivemos no Espírito Santo tomou corpo, de certa forma, nesse livro que, por isso, a eles dedico.

Geert Banck



Para ler  o texto completo, clique aqui Tese de Geert Banck

Geert Banck é antropólogo holandês nascido em Zwolle, em 1937. Professor emérito de Antropologia do Brasil da Universidade de Utrecht e pesquisador do Centro de Estudos e Documentação Latino-americanos (Cedla), Amsterdam. Desde 1970-1 desenvolveu diversas pesquisas de campo no Brasil, em especial no Espírito Santo. (Para obter mais informações sobre o autor clique aqui)

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