1. Dados históricos sobre Acióli — 2. Barra do Triunfo
1. Dados históricos sobre Acióli
Acióli comemora seu primeiro centenário. O núcleo colonial foi fundado em 1887 pelo engenheiro Antônio Francisco de Ataíde (1860-1945). O nome Acióli foi uma homenagem ao coronel Francisco de Barros e Acióli Vasconcelos então Inspetor Geral de Terras e Colonização do Império, com sede na cidade do Rio de Janeiro.
As medições dos lotes coloniais no rio Pau Gigante foram iniciadas em janeiro pelo engenheiro bacharel Artur Napoleão de Barros que pretendia chamar de “Cecília” a sede do núcleo. Lê-se no memorial dos seus trabalhos que:
Ficando nesta região (do rio Pau Gigante) em uma grande volta que faz o rio à margem esquerda uma área de 790.325 metros quadrados completamente devoluta e a qual pretendo subdividi-la em lotes urbanos, pois escolhi-a para o estabelecimento de um novo núcleo a que denominei “Núcleo Cecília”. |
O lugar a que se refere ficava próximo à lagoa do Café e o nome, por sua vez, ficou só no papel porque no mês de abril daquele ano foi nomeado em seu lugar o engenheiro Antônio Francisco de Ataíde que continuou as medições e reservou os lotes de números 46 e 48 para local da futura sede do núcleo Acióli Vasconcelos. É onde, hoje, está Acióli. Não se pode esquecer que houve uma tentativa de se fundar a sede do núcleo um pouco mais acima onde confluem os rios Ubás e Pau Gigante. Os lotes coloniais mediam 275 metros de frente, com aguadas para o rio, e 1.100 metros de profundidade, de modo que a área total era de 302.500 metros quadrados. Aí, durante os seis primeiros meses, o colono devia derrubar um pedaço de mata, construir sua casa e fazer as primeiras plantações. Em uma das modalidades de pagamento o colono podia começar a quitar as prestações dois anos após o seu estabelecimento. O colono não podia também, de início, ir morar nas vilas e cidades. Por isso, os responsáveis pela fundação dos núcleos reservavam sempre uma área para sede da futura povoação onde, necessariamente, além das casas de comércio, deveria haver uma igreja e o cemitério. Um fato curioso a respeito de Acióli é que os primeiros a terem lotes no Pau Gigante foram alemães, em 1887. Por motivos da febre amarela quase todos abandonaram aquelas terras baixas e paludosas. Consta que em junho de 1887 Henrique RATS ocupava os lotes 22 e 24. Augusto SCHULTZ tinha os lotes 56 e 58 e seus filhos ocupavam os lotes 28 e 30. Henrique BRAUN estava no 34 e 36 e seu filho Ricardo no 32. Em outubro, Joaquim WERNECK aparece como dono do lote 6 e Carl BINOW do 64 e 66. Além desses podem ser citados Hermann LOFFLER, Edevin NICKEL, Hermann GOLDNER, George BIRCLER, Augusto TEICHMAN, Frederico FUCHS, Emil SEIDEL, Carios Othon SCHWARZ, Rodolfo ENGELHARDT e outros. Provavelmente muitos deles nem chegaram a tomar posse das colônias e suas figuras sumiram da história.
Os italianos que se estabeleceram no Pau Gigante vieram no navio Adria que chegou a Vitória no dia 27 de dezembro de 1888 com 1.510 passageiros e em outra viagem que fez aos 27 de fevereiro de 1889. Já não se fundavam os núcleos coloniais com levas unitárias como aconteceu com a fundação de Santa Teresa e Ibiraçu. Apenas chegados a Vitória, depois de um breve repouso na hospedaria dos imigrantes, eram disperses por São Mateus cujo núcleo Santa Leocádia fora também fundado em 1887, por Santa Leopoldina, por Benevente, por Itapemirim e por Santa Cruz. Os que se destinavam ao Pau Gigante depois de chegados a Santa Cruz subiam o rio Piraqueaçu até o Córrego Fundo. Daí chegavam ao Conde D’Eu (Ibiraçu). Seguiam por Mundo Novo, passavam pelo local onde mais tarde iria ser Demétrio Ribeiro e chegam às seções do interior. Consta que havia um barracão na Barra do Triunfo e era, inicialmente, a pousada para se chegar a Acióli.
Os livros assinalam os seguintes italianos ocupantes de colônias no Pau Gigante: 18 Marco REDOLFI, 20 Domenico Tassan MAZZOCO, 22 Angelo Tassan MAZZOCO, 24 Giuseppe B. MASSARIOL, 26 Frederico MASSARIOL, 28 Francisco BERGAMINI, 30 Cleto LOMBARDI, 38 Luigi ZANINI, 40 Luigi ROSA, 42 Antônio MANDATO, 44 Eugênio PATUZZO, 50 Giovanni MASIERO, 52 Daniel ORSINGHER, 60 Brunone BENEZOLE, Adolfo FERRETI, 68 Luigi ZAMATIO, 70 Antônio ZAGHET e 72 Pietro ROSSETI. Nas colônias de números ímpares, estavam: 23 Luigi MAZZEGA, 27 Luigi CIPOLATI, 29 Giacomo TREVELIN, 31 Francesco BASSO, 33 Giuseppe MAZZEGA, 35 Domenico DE PIANTI, 43 Domenico VIVIANI, 45 Amadeo ZAMBON, 47 Francisco Moreira de Sousa (brasileiro, estabelecido em dezembro de 1887), 51 Silvio GIRELLI, 53 Giovani BISSI, 55 Giuseppe BISSI, 57 Antônio BORGHI, 59 Eurico PALASSI, 61 Francisco Lassance Mitre, 63 Giuseppe MASIERO.
O início de Acióli é marcado por uma epidemia de febre amarela e por pequenas desavenças. Em abril de 1890 o engenheiro Antônio Francisco de Ataíde confirma que de janeiro até aquela data haviam morrido treze pessoas e que mais de cinqüenta estavam doentes. O Dr. Custódio Moreira de Sousa contratou Giuseppe Battisti para fornecer os gêneros de subsistência aos doentes. Transformou o barracão em hospital para 16 a 18 leitos e pediu remédios já que quatro garrafas de vinho quinado tinham-se quebrado. O cidadão Lassance Mitre, por sua vez, dentro das suas atribuições, chamou o imigrante Antônio Borghi para ajudar no barracão, pagando-lhe 1.700 réis a diária.
Quando Gabriel Emílio assumiu a direção da colônia quis transferir sua sede para Linhares e concentrar os imigrantes à margem do rio Doce. Antônio Ataíde foi demitido porque discordou da solução. Ele achava que as febres iriam impedir o sucesso da colonização. Até 1895 os dois travaram uma polêmica que ficou registrada nos jornais. O tempo veio dar razão ao Ataíde. O núcleo MUNIZ FREIRE não só fracassou por causa das febres e do mal atendimento do Governo como também encerrou o movimento imigratório dos italianos no Espírito Santo.
Quanto a dissensões entre colonos registra-se o incidente entre Francisco Cardoso Lassance Mitre e João Schimitberg que botaram fogo na casa de Giovanni Batista Sagrillo que teve de ir para o barracão. Em dezembro de 1890 este imigrante vai ocupar a colônia 63 nas cabeceiras do rio Ubás.
O núcleo colonial Acióli Vasconcelos tinha oito seções: Pau Gigante (atual Acióli) Ubás, Triunfo, Esperança, Treviso, Café, Otelo e Alto Bérgamo. Ele é simplesmente a continuação do ex-núcleo Santa Cruz fundado dez anos antes e cuja sede era o Conde D’Eu, atual Ibiraçu. O núcleo Pau Gigante todo tinha uma população de 2.250 pessoas no final de 1887, ocupando 450 lotes e tendo em média 5 pessoas por família. O Conde D’Eu era uma povoação de 13 casas. Em fevereiro de 1890 Acióli tinha uma população de 355 habitantes, sem médico que lhe pudesse dar assistência. Não havia igreja. As funções religiosas se realizavam no barracão mesmo. O engenheiro Ataíde, preocupado com a frente pioneira, pensava numa estrada que ligasse o Pau Gigante ao Cavalinho, muito mais vantajosa economicamente e sem ter que dar uma grande volta, uma estrada que “partindo da futura sede colonial vá pela encosta do morro Cavalinho até a seção Clotário e aí bifurcando-se em um ramo para este povoado que já está feito e outro para o Córrego Fundo.”
Os primeiros núcleos coloniais foram fundados nas proximidades dos centros de comercialização. Já os núcleos SENADOR PRADO às margens do rio Santa Maria do Rio Doce, SANTA LEOCADIA às margens do rio Bamburral em São Mateus e Acióli VASCONCELOS às margens do rio Pau Gigante, todos de 1887, resultavam da necessidade de interiorização e ocupação das terras devolutas. A interiorização era provocada não só porque se anunciava a chegada de novas levas de imigrantes, mas também porque os filhos maiores de 18 anos dos imigrantes já estabelecidos tinham direito à escolha de lotes nas mesmas condições dos pais conforme determinava o artigo 7º do Regulamento de 1867 para as Colônias do Estado. Desta forma se entende porque filhos e filhas dos Pissinati, Costa, Sagrillo, Soneghetti, Vazzoler, Pellizzari, Polesi e tantos outros moradores no Conde D’Eu casavam-se e vinham morar no Pau Gigante. Oficialmente, porém, os primeiros imigrantes italianos do Pau Gigante chegaram no navio Adria em 27 de dezembro de 1888. Eram umas doze famílias aproximadamente. Um outro tanto de famílias chegou também no Adria aos 27 de fevereiro de 1889 e foram destinados ao núcleo Acióli Vasconcelos. Os chefes destas famílias e seus respectivos lotes coloniais são aqueles enumerados anteriormente.
Pouca notícia resta das seções do núcleo. Elas nunca se distinguiram com um aglomerado de casas. Sabe-se que aos 10 de dezembro de 1891 o navio Birmânia descarregou todos os 1.423 passageiros em Vitória e que foram eles os ocupantes destas seções do núcleo em suas ramificações por rios e córregos secundários. Os imigrantes do Birmânia, depois de cumprirem a “quarentena” na Hospedaria da Pedra d’Água, já então reconstruída, espalharam-se pelo estado inteiro. Para Santa Cruz seguiram três grupos de 202, 199 e 237 pessoas. No dia 19 de dezembro seguiram no vapor São João as famílias de CHIESSO Francesco e Angelo, ROSSANI G. Batta, GHIDOTTI Valentino, AMBROSINI Bernardo, CARRARA Tomaso, Giovanni e Luigi, FACHETTI Batista e Abele, SIGNORELLI Maximino, GUALANDRI Rosa, PANDOLFI Anibale, Bartolomeo, Andrea, Giuseppe e Gioachino, ZANI Catterina, SIMONELLI Giacomo e Angelo, SIRTOLI Luigi, PROVENZI Giovanni, CERRUTI Angelo, CAVARELI Luigi, PRIVA Giacomo, CONTI Giovanni, RADAELLI Luigi, TERZI Giovanni, UBIALI Samuele, CENATI Giovanni, AGOSTI Angelo, PESENTI Luigi, DELCARRO Giovanni, GATTI Andrea, MAI Macario, PROVENZI Angelo, BONA Santa, DELCARRO Luigi, TESTA Luigi e Giuseppe, BLANCHESSI Andrea, DANELLI Giovanni, ARESI Pietro, CERRUTI Giovanni e Giuseppe, CARMINATI Lúcia, PESENTI Inácio, MILARI Gio Batta, MELERI Giuseppe, ANZIOLI Federico, FRIGERI Agostino, ALLIEVI Francesco e MARCHETTI Angelo. Este grupo era constituído em sua maioria de bergamascos e a isto induz a informação de Dona Judite Favalessa, nascida em 1901 e ainda moradora de Alto Bérgamo em 1981. Filha de Martim Favalessa e de Giovanna Buffon ela indicou como principais famílias do lugar os AREZZI, BIANCHESSI, CAPPELARO, CARRARA, CERRUTTI, DANELI, FACHETTI, FAVALESSA, FAVARO, GATTI, GASPARINI, INHERTI, MAI, MILIMI, PANDOLFI, SIGNORELLI, SIMONELLI, SIRTOLI, TESTA e outros. Alto Bérgamo estava situada nas cabeceiras do rio Pau Gigante, isolada por uma sesmaria particular pertencente a um Coelho Rodrigues. Quando os imigrantes queriam vir a Demétrio Ribeiro ou à Barra do Triunfo deviam atravessar uma estrada que era um verdadeiro túnel na floresta. Quando chovia, levavam três horas a cavalo para chegarem à vila do Pau Gigante (lbiraçu). Alto Bérgamo tinha um só comerciante que monopolizava os gêneros de consumo. Quando no início do século o preço do café baixou muitas famílias se retiram indo algumas para a Argentina, porque todas as dificuldades juntas não compensavam.
Dois dias depois de seguir o primeiro grupo, o vapor São João levou para Santa Cruz as famílias de GASPARINI Luigi, FAVALESSA Augusto, FAVORO Giuseppe e Antonio, PELLIZZON Giuseppe, ZERGI Girolamo e Isidoro, MASTEGHIN Ferdinando, CAPELLARO Giacomo, MANERA Pietro, RICATO Agostino, MARIM Giacinto, CAON Sebastiano, CALEGARIN Faustino, MORON Angelo, BOTOLOZZO Giuseppe, FAVALESSA Petro e Martino, GARDINON Luigi, SCOPELLO Giovanni, FASSINA Nicoló, Binotto Domenico, ZANCHETTA Donienico, CASTAGUTA Giuseppe e Vittorio, FAVARATO Domenico, CESTARO Antonio, VECHIATO Antonio, BORSATTO Luigi, BUSATTO Ferdinando, SCHIAVON Giuseppe, VEZZOLER Antonio, MASSARIOL Costante, MORA Mariana, SCOLARO Agostino, ZACCHIA Antonio, MENEGAZZO Luigi, FASSINA Antonio, TONIN Pietro, CECON Giovanni. Neste grupo predominam os trevisanos.
O terceiro grupo seguiu para Santa Cruz no dia 8 de janeiro de 1892 e se constituía das seguintes famílias: ZERBINI Nilo, DENTI Giuseppe, VEZZALI Rinaldo, GAINI Giuseppe, POGGIOLI Pietro, ARTOSI Arturo, MARANGONI Giovanni, BIANCUSSI Antonio, MAZZINI Angelo, LUCIANI Albino, SAMARITANI Giuseppe, FUGAGNOLI Pietro, BALDASSIN Sigismondo, MARCHIORI Giovanni, NARDI Luigi, FURLAN Giovanni, MAGGIORI Giacinto, DEMARCHI Amedeo, CECCATO Giuseppe, FAVERO Stefano, Baraldo Fedele, TRENTO Amedeo, VEDOVATO Antonio, FERRANDI Andrea, MANDELLI Carlos, Moro Giovitta, PESENTI Giovanni, FERRANDI Natale, FORNAZZARI Pachoale, MAURI Giuseppe, ROSSONI Gio Batta, CASATI Andrea, BOTAN Luigi e Pietro, RAGAZZO Giacomo, TONANI Giovanni, MARCHI Luigi, DEBIASI Antonia, RAMPINELLI Albino, LOCATELLI Sante e Ferdinando, MAGRI Giuseppe, GUSSO Virginio, BARBARIOL Catterina, PULCINI Giacomo e DEMARCHI Fortunato.
A seção Ubás compreendia as margens deste rio que deságua no rio Pau Gigante. As colônias desta seção foram ocupadas em sua maioria por retirantes cearenses fugidos da seca no Nordeste. Contam-se pelo menos umas trinta famílias. O Governo central teve sempre a preocupação da miscigenação, o cuidado de misturar brasileiros com os italianos como já o fizera em Ibiraçu. Luigi ZUCCOLOTTO que chegou a Vitória no dia 23 de abril de 1889 somente em setembro do mesmo ano foi estabelecido no lote 28 de rio Ubás. Com ele chegou Giovanna Colli sua mulher e os filhos Modesto com 17 anos, Giovanni de 15, Antonio com 12, Emma com 9, Maria de 6 e Domenica de 10 meses. Sabe-se apenas que um filho pequeno morreu e foi jogado ao mar. O lote 2 do Ubás pertencia a Giacomo CECCATO de 43 anos e sua mulher Maria de 45 com os filhos Giovanna de 22, Giovanni de 11 e Paulo de 9. Eles haviam chegado ao Brasil em março de 1890. Somente na década de 30 é que Giovanni, então casado, constrói o pequeno santuário de Nossa Senhora de Caravaggio na sua fazenda. O lote 17 era de Giacomo DA RÉ, o 19 era do filho Pietro. Giovanni POLESI, filho de um fundador de Ibiraçu ocupava o lote 20. Giovanni MARINOT morava no 21, Pietro GIMOLAI no 22.
O progresso, no final do século passado dependia dos meios de comunicação e transportes e estes dependiam muito das vias navegáveis. Pensava-se na colonização e no escoamento dos produtos agrícolas através do transporte fluvial. Santa Leopoldina ligava-se a Vitória por um serviço de canoas e chegou a ser, naquela época, o lugar de maior volume de comercialização agrícola do Espírito Santo. Pensava-se também em ligar as demais colônias através do caudaloso rio Doce. Colatina não passou, inicialmente, de uma seção do núcleo ANTONIO PRADO, fundado em 1887, que ficava intermediária entre este rio e o rio Santa Maria do Rio Doce. Acreditava-se também que o rio Pau Gigante manteria sempre o seu volume de água que o tornaria permanentemente navegável. Os sucessivos desmatamentos mostraram logo seus efeitos na navegação fluvial. As estradas abertas a enxadão deixavam passar as tropas de burros e as tropas é que mantinham atuante a vida nas colônias. Somente em 27 de julho de 1906 era inaugurada oficialmente a estrada de ferro em Acióli. o lugar conheceu então grande prosperidade. Aos 27 de janeiro de 1915 Acióli passou a distrito e a vila em 11 de novembro de 1938. Sua história mais recente pede para ser contada.
2. Barra do Triunfo
Primeiramente o lugar com este nome pertenceu a Aurélio de Alvarenga Rosa que o requereu em compra aos 11 de março de 1882. Depois foi comprado por Giuseppe Battisti em 1887, ano do seu casamento e em que aí se estabeleceu. Não se pode fazer história da Barra do Triunfo sem falar da família Battisti.
No dia 5 de novembro de 1876 registrava-se em Vitória a chegada dos imigrantes tiroleses vindos do Rio de janeiro a bordo do paquete Bahia com destino à colônia de Santa Leopoldina. A família de nacionalidade austríaca era composta de oito membros: Glo Batta Battisti 38 anos, Anna Rossi, esposa, com 35 e os filhos Giuseppe de 12, Gio Batta de 9, Giovanni de 7, Anna de 4, Guglielmo (Guilherme) de dois e Enricheta de um mês. Depois de passarem pela hospedaria dos imigrantes, rotina obrigatória, foram encaminhados para o núcleo Timbuí fundado no ano anterior. Este núcleo é a atual Santa Teresa. O pai era cavouqueiro e tinha prática no trabalho em pedreiras, pelo que, tendo se empregado na abertura da estrada que ia do núcleo Timbuí ao Barracão de Petrópolis, acabou se acidentando, vindo a morrer em conseqüência da explosão de um último cartucho de dinamite que tentou desarmar. Foi enterrado no “25 de Julho”. Durante muitos anos o local foi assinalado com uma placa de metal que dizia o seguinte: “Alla memoria di Giovanni Batista Battisti morto da na mina li 2 maggio 1877 danni 39. Req ia in Pace”. A viúva foi morar no “25 de julho” onde recebeu indenização. Giuseppe além de trabalhar na agricultura começou a receber apoio do Antônio Ataíde de quem se tornou ajudante. Com isto pôde adquirir animais de carga e se dedicar ao transporte de mercadorias. Quando se casou, em 1887, Antônio Ataíde foi seu padrinho de casamento. Giuseppe prosperou no ramo de comercialização, vindo e indo ao Conde D’Eu e ao Córrego Fundo onde chegou a possuir casa. Ter um burro de carga, é bom que se lembre, naquele tempo, era como possuir um caminhão. Tudo se fazia a pé ou em lombo de burro pelas estradas estreitas e muitas vezes lamacentas. Giuseppe se casou no dia 12 de novembro de 1887 com Teresa Pissinatti, ele nascido e batizado na paróquia de Caliano, Diocese de Trento, Província do Tirol D’Áustria e morador no Timbuí de Santa Teresa, pertencente ao Porto de Cachoeiro; ela era filha de Giuseppe Pissinatti e Lucia Florot, nascida e batizada na paróquia de Santo Stefano, Província de Treviso, Itália e moradora do Conde D’Eu, da freguesia de Santa Cruz. O casamento foi realizado pelo vigário João André Cascila e teve corno testemunho João Schimitberger. No final do século Giuseppe Battisti deixou a fazenda da Barra do Triunfo ao encargo do seu irmão mais novo Guilherme. Guilherme havia se casado em 1894 com Maria Casotti. A partir de então todas as atividades e promoções do lugar correram por conta de Guilherme Battisti. (O nome foi abrasileirado passando a “Batista”). Em Ibiraçu Giuseppe foi prefeito municipal diversas vezes. Em Barra do Triunfo tudo corria por conta de Guilherme que foi até nomeado juiz distrital em 1908. Em 1907 fundou a “Lira Triunfense”, banda de música, onde também tocava. Em 1915 fundou o time de futebol “O Camponês”. Em 1917 Guilherme construiu a estrada de rodagem que liga Barra do Triunfo a Acióli! Guilherme faleceu a 27 de setembro de 1941.
Barra do Triunfo era uma fazenda com status de povoação. Aos 5 de dezembro de 1896 uma comissão encabeçada por Luigi Varnier, Giuseppe Mazzega, Modesto Zuccolotto, João Paulo Bezerra e José Francisco de Barros promoveu uma subscrição para a compra do terreno e construção de uma capela e cemitério naquela localidade. Os fabriqueiros compraram 2.500 metros quadrados para a igreja e 5.000 metros quadrados para o cemitério, pagando a quantia de 60 réis o metro. A primeira pessoa a ser enterrada foi Maria Marim, uma jovem de 16 anos, filha de Jacintho e Fiorenza Marim, chegados no navio Birmânia em dezembro de 1891. Maria morreu apenas chegada ao local. A comissão dos fabriqueiros se obrigava à construção da capela e a dá-la por acabada com o auxílio do povo até o mês de julho de 1897. Neste ano Giuseppe Battisti trouxera de uma viagem à Itália uma estampa de São José. Luigi Varnier a emoldurou e o quadro entronizado tomou-se o padroeiro do lugar.
Quando Dom João Néry, primeiro Bispo do Espírito Santo fez a primeira visita pastoral nos meados de 1900, ao lugar, assim descreveu Barra do Triunfo: “Geralmente se dá este nome às terras que formam e circundam a propriedade do Sr. Baptiste José. A residência deste senhor se acha pouco acima da confluência dos rios Triunfo e Ubás, sendo o segundo um dos principais afluentes do rio Pau Gigante que corre entre os rios Santa Maria e o Santo Antônio. Por enquanto só existem três ou quatro casas, modestas e um engenho de cana tocado a água com aparelhos também para beneficiar café. É esta uma das situações que mais se prestam a uma localidade, pela bondade de seu clima e considerável extensão de seu horizonte. Pouco adiante da casa de residência do Sr. Baptiste se acha a capelinha, consagrada a São José, com pequenas mas decentes acomodações. Tem a capela-mor 4,50m de comprimento sobre 5m de largura, o corpo da igreja 9,75m de comprido sobre 6,10m de largura, a sacristia 1,30, de comprido sobre 5m de largura. Tem de altura 7,50m. Ainda é nova só tendo por isso a capela-mor assoalhada. O altar ainda é provisório (de panos). Não tem sinos. No mesmo valão hora e meia abaixo se acha outra capela do antigo barracão de Pau Gigante que não visitamos. A colonização nesta região já não é puramente italiana, é mista, havendo muitos cearenses, alguns sergipanos e polacos. Calcularam a população em 2.000 habitantes.
É aqui um dos pontos de litígio sobre os limites entre Linhares e Pau Gigante; mas os povos parecem querer pertencera Pau Gigante”. Foi Luigi Varnier quem mais tarde construiu o altar da igreja, bem como os bancos. Quanto ao litígio entre os municípios de Pau Gigante e Linhares, Acióli endereçou um abaixo assinado ao presidente do estado, Muniz Freire, com 287 assinaturas, ponderando os motivos de querer continuar pertencendo ao Pau Gigante. A listagem dos 287 nomes dá conhecimento dos moradores do lugar em 1901. Ela foi publicada no jornal Trabalho nº 6 de Ibiraçu, mês de dezembro de 1959.
[BUSATTO, Luiz. Estudos sobre imigração italiana no Espírito Santo. Vitória, 2002. Reunião de artigos relacionados com imigração italiana, publicados em diversos periódicos. Reprodução autorizada pelo autor.]
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Luiz Busatto nasceu em Ibiraçu-ES, em 1937. Graduado em Letras, com cursos de especialização em Portugal (Teoria da Literatura e História da Literatura Portuguesa), na Itália (Filosofia), mestrado em Letras pela PUC/RJ e doutorado na mesma área pela UFRJ. Professor da Ufes e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Colatina (1969-1983). É membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e da Academia Espírito-santense de Letras. Foi presidente do Conselho Estadual de Cultura (1993/4) e vice-presidente (1986/7). Tem várias obras publicadas, sendo um estudioso da imigração italiana. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)