Embarques sucessivos. Quadro estatístico da população
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O segundo embarque se efetuou a 12 de abril de 1875, partindo de Trento, via porto do Havre, na França, pelo vapor Rivadávia, com destino ao Rio de Janeiro. Eram sessenta famílias, vênetas e trentinas, cerca de 150 indivíduos, entre adultos, velhos e crianças.[ 20 ]
Deixa a cidade do Havre a 17 de abril, chegando ao Rio de Janeiro a 9 de maio. Vinte e dois dias de mar, pessimamente acomodados. O porto do Rio estava interditado pela febre amarela. Embarcados em trem de carga como gado vacum, foram transportados para Barra do Piraí, na serra do Mar, onde aguardaram a quarentena em barracões ultramiseráveis. Permaneceram oito dias sofrendo os maiores vexames. Finalmente a 31 de maio desembarcaram na Pedra d’Água, na Hospedaria dos Imigrantes. Dois dias depois, partiram para Santa Leopoldina, acompanhados pelo brasileiro Juca Quintais, que a eles se afeiçoou. Dois dias rio acima!
Em Santa Leopoldina, depois de breve repouso, no barracão destinado para esse fim, receberam machados, foices, facões, pás e enxadas, um cargueiro de mantimentos, guia, e se puseram em marcha, através de mata virgem, subindo e descendo serras por muitos dias, dormindo em ranchos improvisados, até alcançar a sede do núcleo colonial do Timbuí, Santa Teresa hoje, fração do grande território da colônia Antônio Prado.
Aí acamparam. Derrubaram uma quadra de mata e construíram as primeiras instalações: abrigo para outros imigrantes, escritório da administração, armazém (que foi entregue ao agregado Juca Quintais) e suas próprias moradas, simples barracas.
Franz von Lipp, alemão, veio como vice-diretor da colônia nascente. Juca Quintais teve o privilégio de ser o primeiro negociante e pai do primeiro teresense.[ 21 ]
Em 26 de junho se comemora a festa de São Virgílio, nome que os italianos pretendiam dar à colônia, porque nesse dia se procedeu ao sorteio dos lotes agrícolas, lotes só conhecidos em planta. Mas von Lipp tivera certo desentendimento com Virgílio Lambert e, por essa razão, a colônia não teve o nome do santo do dia. O diretor não queria que, indiretamente, o imigrante letrado fosse perpetuado.
Mas aconteceu que as mulheres, aquelas heroínas companheiras, que foram os esteios dos colonos aventureiros, eram muito devotas. No dia 15 de outubro, à sombra de um frondoso pau febo, onde costumavam rezar o terço, D. Teresa Roatti dependurou a estampa de Santa Teresa, trazida da pátria distante, e, como nessa data se comemora a festa dessa carmelita canonizada, a colônia passou a ser chamada de Santa Teresa.
Casal Mateo Corteletti. Santa Teresa. Fotógrafo não identificado.
Nesse local se construiu o belo templo, projeto do engenheiro italiano Guilherme Oatis, e construção dirigida pelo agrimensor José Ruschi.
Assim começou o núcleo de Timbuí, simples distrito de Santa Leopoldina, que veio a se tornar a cidade das Violetas, a pérola da colônia italiana no Espírito Santo.
É lamentável a lacuna de Daemon no registro da chegada dos vapores com imigrantes até 1879, data em que publicou sua celebrada Província do Espírito Santo. Omite muitos barcos e o número de viagens dos que ele assinala. Teixeira de Oliveira, autor de nossa melhor e mais documentada história do Espírito Santo, é praticamente omisso sobre a imigração. Em Biografia de uma ilha, o assunto não se enquadra no plano da obra que escrevemos.
Eis os nomes dos barcos que transportaram imigrantes para a província do Espírito Santo entre 1874 e 1894.
A primeira viagem foi feita pelo Sofia e a segunda pelo Rivadávia, ambos de bandeira francesa. O primeiro chegou em fevereiro de 1874, com 386 famílias que foram para Santa Cruz, para as terras de Pietro Tabacchi.
O Rivadávia aportou em 31 de maio de 1875 e os passageiros foram encaminhados para Santa Leopoldiria, de onde caminharam para Timbuí, fundando Santa Teresa. Foram 150 famílias.
Seguem-se vários desembarques em Vitória e Benevente, dessa data em diante, sendo que a de janeiro de 1877 trouxe os 1.600 que foram recambiados para o Rio Grande do Sul, fundando Caxias do Sul.
De 1875 a 1894, os desembarques são mais ou menos alternados entre Vitória e Benevente. E os navios lembrados foram: Mobely, Itália, Werneck, Oeste, Isabel, Berlino, Clementina, Adria, Colombo, Maria Pia, Regina Margherita, Solferino, Andréia Dória, Savona, Città di Genova, Roma, Baltimore, Savóia, Pulcevere, Las Palmas, La Valleja e Matteo Bruzzo, que fez a última viagem com 528 famílias, chegando em outubro de 1894 e marca a última viagem, porque foi interditada a imigração para o Espírito Santo.
Desses barcos muitos fizeram várias viagens.
Os dos primeiros quinquênios eram mistos, a vela e a motor, movendo rodas laterais como as antigas barcas Rio-Niterói. Depois de 1880, os navios já avançados, movidos a hélice, encurtaram de 10 a 15 dias o percurso, e as viagens passaram a ter mais conforto e a ser feitas em média em 24 dias.
Os navios Fenelon e Rivadávia aportaram antes de 1876, ambos com mais de 300 famílias cada um. Navios houve que vieram direto para Benevente, alguns foram obrigados a isso por encontrar o porto de Vitória interditado por causa de epidemias.
Os passageiros dessas viagens foram os povoadores de Alfredo Chaves, Rio Novo e Castelo. Depois de 1880 os navios que mais viagens fizeram foram o Adria, Pulcevere e Berlino. O Matteo Bruzzo, chegado em outubro de 1894, trouxe 528 italianos e foi essa a sua única viagem. Espetáculo interessante para os capixabas a chegada, no mesmo dia 24 de dezembro de 1876, de quase um milheiro de imigrantes italianos. Festejaram o Natal na Hospedaria da Imigração.
Municípios
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População em 1878
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Vitória
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25.598
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almas
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Espírito Santo (Vila Velha)
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1.755
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almas
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Viana
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6.485
|
almas
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Serra
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4.299
|
almas
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Nova Almeida
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2.196
|
almas
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Santa Cruz
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6.490
|
almas
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Linhares
|
1.863
|
almas
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São Mateus
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4.734
|
almas
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Barra
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3.436
|
almas
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Itapemirim
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11.743
|
almas
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São Pedro de Cachoeiro
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17.496
|
almas
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Benevente
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7.192
|
almas
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Guarapari
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3.188
|
almas
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Total
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96.475
|
almas
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Nota: Em 1870, a população da província era de 52.931 habitantes. Este acréscimo de 43.544 diz bem da influência imigratória.
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NOTAS
[In DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]
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Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)