Eu tinha lançado, em 10 de fevereiro de 2014, na Prainha de Vila Velha, o meu terceiro livro de poesia, Minério.
Os dois eventos – o lançamento do livro e a viagem ciclística – não tinham, previamente, nenhum vínculo de planejamento. Mas – pensei enquanto programava o pedal, já desobrigado do lançamento daquele Minério tardio – se vou viajar passando por várias e importantes cidades do meu estado e se estou com o livro, ainda quentinho, na mão, por que não aproveitar a oportunidade e – matando, assim, dois coelhos com uma só pedalada – levar para a viagem alguns exemplares do livro?
Assim, pensava, estarei ainda contribuindo para resolver – com as próprias pernas, diga-se – um dos grandes problemas do mercado editorial brasileiro: a distribuição.
Ainda que isso fosse acrescentar um dificultador a uma das encrencas que mais atormentam o ciclista nos preparativos pra uma viagem longa: a acomodação da bagagem no espaço exíguo que a bicicleta oferece para o seu condutor e para as coisinhas que ele precisa levar na viagem.
Mas, pergunto, o que não se há de fazer pela Literatura, mesmo que seja – como nesse caso – uma literatura grafada toda em minúsculas?
Bom, como qualquer ciclista sabe, as mountain bikes não são, originalmente, dotadas de bagageiro. Por isso é importante esclarecer que quando comprei a minha, acresci a ela uma pequena garupa, dessas que se apresentam agarradas ao canote, um pouco abaixo do selim. Esse apêndice, em vão livre, visava atender às minhas necessidades rotineiras – a bicicleta, informo, é o meu veículo de locomoção urbana – nas idas e vindas do trabalho e nas costumeiras incursões a supermercados, feiras e botequins.
Quer dizer, a magrela, com a adição dessa prótese, ficou preparada para o transporte, por breves percursos, de pequenos e leves volumes.
O que não é o caso da bagagem que se leva para uma longa viagem, quando aparece a necessidade de se acrescentar às roupas e utensílios de uso pessoal, ferramentas e peças de reposição, indispensáveis numa incursão ciclística por estradas variadas. E avariadas.
E se além de tudo isso, o viajante, metido a poeta, resolve levar consigo cinquenta exemplares de um livro de quase cem páginas, isso, claro, vai aumentar sobremodo o volume e o peso da bagagem.
Não me envergonho, portanto, de confessar que naquela manhã de sexta-feira, fui meio que, vamos dizer assim, cambaleando desde Vila Velha até Jacaraípe, onde, depois de muito arruma aqui, arruma ali, consegui encontrar o equilíbrio, vá lá, ciclístico-literário, para que a viagem prosseguisse sem novas e maiores dificuldades.
———
© 2016 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
———
Gilson Soares é poeta e nasceu em Ecoporanga, no extremo noroeste do Estado do Espírito Santo, em 10 de fevereiro de 1955. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
Difícil imaginar como conseguir equilíbrio com tantos apetrechos anexos à magrela.
(Marcos Luiz Machado)