Não estamos em condições de dizer se as colônias de alemães, no Espírito Santo, têm seu futuro assegurado e se, nas gerações seguintes, permanecerão adaptadas às condições da vida tropical. O desenvolvimento posterior dependerá de que permaneçam constantes as condições climáticas, do grau de aclimação, e, ainda, das constelações políticas e econômicas, em contínua transformação, as quais não deixarão de influir no Espírito Santo. A população de origem teuta, no Espírito Santo, representa um contingente substancial para a germanidade ultramarina. Ensina-nos que, para um povoamento bem sucedido nas regiões tropicais, certos pressupostos são necessários e certas condições imprescindíveis. Desejamos acentuar que não é nosso intuito defender a emigração de alemães, como colonos, ou a fundação de novas colônias nos trópicos, mesmo porque outra leva de teutos para o Espírito Santo é matéria que está fora de qualquer cogitação. A nosso ver, conforme já dissemos repetidas vezes, os erros e os danos da antiga política de colonização e migração, que redundaram na perda de precioso patrimônio humano, não devem ser repetidos, e damos razão a Rodenwaldt quando considera perigoso expor homens dotados do valioso sangue europeu a experiências de povoamento nos trópicos.
Além de proteger os europeus que vivem nos trópicos, combatendo e procurando evitar as doenças, e de ajudar a aclimação pessoal, pondo em prática adequados preceitos de higiene, teremos, no futuro, de nos ocupar sobretudo se se considera a recuperação de território colonial próprio com o problema da colonização e da permanente aclimação, tendo em mira conhecer perigos e desvantagens, pressupostos e possibilidades de uma colonização nos trópicos, e apreciar cada região em particular com a exatidão necessária a evitar malogros, embora, recentemente, se tenha lembrado que nossas pretensões no tocante a colônias não se fundamenta no desejo de obter áreas para povoadores alemães, mas na necessidade premente de matérias primas. Por motivos fundamentais, de política étnica e de natureza ideológica, é inadmissível uma colonização em massa em regiões coloniais próprias.
As experiências, até hoje empreendidas, ainda não proporcionaram uma visão clara das possibilidades de uma colonização branca nos trópicos. Entretanto, acreditamos, com base nas nossas observações no Espírito Santo, que uma colonização tropical está no reino das coisas possíveis todavia, com a escolha adequada das áreas de povoamento e dos colonos e sob determinadas condições, cuja consideração teria de preceder o planejamento de qualquer colonização. A investigação de todos os espaços de povoamento, tropicais e subtropicais, inclusive das regiões marítimas e das regiões altas, aplicando-se métodos congruentes de pesquisa e com a avaliação crítica dos resultados, continuará sendo, em futuro próximo, um domínio fundamental de atividades, para a medicina tropical.
[GIEMSA, Gustav, NAUCK, Ernst G. Uma viagem de estudos ao Espírito Santo: pesquisa demo-biológica, realizada, com o fim de contribuir para o estudo do problema da aclimação, numa população de origem alemã, estabelecida no Brasil Oriental. Trabalho publicado pela Universidade de Hanseática, Anais Geográficos (continuação dos Anais do Instituto Colonial de Hamburgo, vol. 48), série D, Medicina e Veterinária, vol. IV, Hamburgo, Friederichsen, De Gruyter & Co., 1939, traduzido para o português por Reginaldo Sant’Ana e publicado no Boletim Geográfico do Conselho Nacional de Geografia, n. 88, 89 e 90, 1950].
Gustav Giemsa nasceu na Alemanha a 20 de novembro de 1867 e faleceu a 10 de junho de 1948. Foi químico e bacteriologista e alcançou notoriedade pela criação uma solução de corante conhecida como “Giemsa”, empregada para o diagnóstico histopatológico da malária e outros parasitas, tais como Plasmodium, Trypanosoma e Chlamydia. Estudou Farmácia e mineralogia na Universidade de Leipzig, e Química e Bacteriologia na Universidade de Berlim. Entre 1895 e 1898 Giemsa atuou como farmacêutico na África Oriental Alemã. Em 1900 tornou-se chefe do Departamento de Química Institut für Tropenmedizin em Hamburgo.
Ernst G. Nauck nasceu em São Petersburgo, Alemanha, em 1867, e faleceu em Benidorm, Espanha, em 1967. Especialista em doenças tropicais.