Voltar às postagens

Cronologia – Vitória

Foto produzida pela equipe de visita do Imperador D. Pedro II, tirada da Casa de Misericórdia. 1867.
Foto produzida pela equipe de visita do Imperador D. Pedro II, tirada da Casa de Misericórdia. 1867.

Século VI

1534 – D. João III, em Évora, por uma carta de doação, torna Vasco Fernandes Coutinho proprietário de cinqüenta léguas de terra sobre a costa do Brasil, que começariam “na parte onde acabarem as cinqüenta léguas de que tenho feito mercê a Pedro do Campo Tourinho, e correrão para banda do sul tanto quanto couber nas ditas cinqüenta léguas, entrando nesta capitania quaisquer ilhas que houver até dez léguas ao mar, na frontaria e demarcação destas cinqüenta léguas […] as quais […] se entrarão e serão de largo ao longo da costa e entrarão na mesma largura pelo sertão e terra firme a dentro tanto quanto puderem entrar, e for de minha conquista.”

1535 – Vasco Fernandes Coutinho aporta à sua Capitania, junto ao morro do Moreno, no atual município de Vila Velha. Os índios, agrupados ao longo da praia, pareciam hostis ao desembarque, atemorizando-se, no entanto, aos primeiros disparos das peças de bordo. Inspirado no calendário católico, Vasco Fernandes dá o nome de Espírito Santo à vila e ao “rio” [julgavam que a baía fosse um rio]. Das primeiras distribuições de terras não se tem registro, mas sabe-se que a atual Ilha do Boi foi doada a D. Jorge Menezes, enquanto a do Frade, a Valentim Nunes.

1537 – Vasco Coutinho, em retribuição à ajuda recebida no combate aos índios da região, doa, por meio de um alvará redigido em termos gerais, a ilha de Santo Antônio — a maior ilha da donataria, e que mais tarde se chamaria Vitória —, a Duarte de Lemos, que depois distribui sesmarias para povoamento.

1540 – Em Lisboa, Vasco Fernandes Coutinho e Duarte de Lemos concordam em que se passe escritura de doação da ilha de Santo Antônio diante do notário geral da Corte. Nesse segundo documento, mais restritivo, algumas limitações são estabelecidas por Vasco Fernandes, dentre as quais a de que o novo proprietário não poderia fazer dela uma vila.

1549 – Duarte de Lemos, desejoso de ver garantido o seu direito à ilha, solicita do monarca uma carta de confirmação da escritura de doação da ilha antes de retornar ao Brasil juntamente com Tomé de Souza, como seu delegado na capitania de Porto Seguro, o que ocorre em 1550.

1550 – Transfere-se a sede da capitania para a ilha de Santo Antônio, que passaria a denominar-se vila da Vitória, como cita provisão passada por Antônio Cardoso de Barros em 3 de março daquele ano. Segundo alguns autores, a fundação da povoação que originaria a cidade de Vitória data de 1550.
Nesse mesmo ano Tomé de Souza envia Antônio Cardoso de Barros como seu representante à capitania, que faz nomeações para provimento de cargos com intuito de estabelecer uma organização administrativa. Instalada a Alfândega, inaugura-se o comércio direto com Portugal e Angola. Ainda nesse ano Vasco Fernandes Coutinho teria viajado para Portugal, de lá retornando em 1555.

1551 – Data tradicionalmente associada à fundação da vila da Vitória, após grande batalha contra os índios. Chegam a Vitória o padre Afonso Brás e o irmão leigo Simão Gonçalves.
Construção da Capela de Santa Luzia, ao lado da residência de Duarte de Lemos.

1552 – Em dezembro desse ano Tomé de Souza, em viagem ao longo da costa que se estendeu até São Vicente, passa pela capitania do Espírito Santo. Essa viagem visava a algumas medidas para oferecer segurança à costa brasileira. Em carta de 1553, Tomé de Souza relata que em todas as vilas e povoações fez cercar baluartes e que forneceu a artilharia necessária, dando ordem de se fazerem casas de audiência e cadeias e de se endireitarem ruas. Juntamente com Tomé de Souza veio, naquele ano (1552), o padre Nóbrega, que aqui encontrou o colégio e a igreja de São Tiago, provavelmente localizados em lugar diferente do que sabemos hoje. Já nesse ano a escola dirigida por Afonso Brás cuidava da instrução de crianças índias e mamelucas.

1555 – De volta da Europa, Vasco Fernandes, que de lá trouxera outros portugueses, tenta reunir os habitantes que se encontravam dispersos pelos sertões devido aos ataques dos índios.

1557 – Sem condições de conter por mais tempo o ataque dos índios, Vasco Fernandes Coutinho pede ajuda ao governo da Bahia. O governador envia seu filho, Fernão de Sá, juntamente com Diogo Álvares e Gaspar Barbosa. Nessa luta morre Fernão de Sá dentre tantos outros brancos e índios, estes últimos mortos em maior número.

1558 – O donatário do Espírito Santo comunica a Mem de Sá sua viagem a Portugal. Já velho e cansado, tencionava vender a terra ou estabelecer sociedade com algum interessado.
Ainda nesse ano a capitania foi atacada por uma epidemia que em Vitória matava, em média, treze pessoas por dia, sendo os índios as únicas vítimas. As mortes atingiram um total aproximado de 600 pessoas. Franceses surgem no porto de Vitória sem, no entanto, chegarem a desembarcar, graças à intervenção de Simão Azeredo e de um francês aqui residente: mestre Náo. Os franceses acabaram por dirigir-se ao sul numa tentativa frustrada de invadir Itapemirim para obter um carregamento de pau-brasil.

1560 – Com a renúncia de Vasco Fernandes Coutinho, Belchior de Azeredo é feito capitão-mor por Mem de Sá.

1561 – Morre Vasco Fernandes Coutinho e seu sepultamento é feito na vila do Espírito Santo (Vila Velha). Os franceses atacam a costa e Belchior de Azeredo comanda um exército formado de brancos e índios. Em quatro horas de combate muitos tiros foram trocados, mas ao final os franceses retiraram-se frustrados.

1563 – Ano em que, provavelmente, Vasco Fernandes Coutinho Filho teria assumido a donataria do Espírito Santo. Ao que tudo indica, sua administração foi marcada pela estabilidade, oferecendo melhores condições de produtividade na capitania. Durante esse período os habitantes fixaram-se definitivamente à terra, sendo construídos engenhos e levantadas igrejas jesuíticas.

1573 – Iniciada, em Vitória, a construção da imponente igreja de São Tiago pelos jesuítas.

1581 – Novo ataque de franceses. Os moradores foram defendidos pelos índios das aldeias jesuíticas, que mataram e feriram muitos dos assaltantes.

1582 – Navios ingleses fazem disparos contra Vitória sem, no entanto, ocasionarem grandes danos.

1583 – É a vez dos ingleses fazerem sua tentativa de invasão. Desorganizados, acabaram por retirar-se.

1584 – Cardim, em visita à capitania, descreve a vila de Vitória como “mal situada”, tendo “mais de cento e cinqüenta vizinhos, com o seu vigário”.

1589 – Morre o segundo donatário, que é sucedido pela sua viúva Luíza Grimaldi. Pouco depois da morte de Vasco Fernandes Coutinho Filho, chegaram à capitania Antônio dos Mártires e Antônio das Chagas, frades franciscanos que iniciaram a construção do Convento de São Francisco, em Vitória. Luíza Grimaldi doou-lhes a área que cobre o contraforte da Fonte Grande (local antes conhecido como Fonte do Conselho), descendo para os mangues orientais, onde hoje temos o Parque Moscoso.

1591 – Início da construção do Convento de São Francisco.

1592 – O pirata inglês, Thomas Cavendish, ataca a baía de Vitória, sendo expulso por colonos e índios.

1593 – Luíza Grimaldi retira-se para Portugal após o reconhecimento dos direitos de Francisco de Aguiar Coutinho, parente de Vasco Fernandes Coutinho Filho. Aguiar Coutinho assumiria a capitania somente depois de 1605.

1597 – Morre José de Anchieta, em Reritiba, sendo seu corpo trasladado para a vila da Vitória, para sepultamento na Igreja de São Tiago.

Século XVII

1625 – Naus holandesas tentam uma invasão em Vitória. Em oito dias de luta os holandeses foram combatidos nas ruas e com a ajuda de Salvador Correia de Sá e Benevides, que aportara no Espírito Santo quando se dirigia do Rio de Janeiro à Bahia, acabaram por desistir do intento, retirando-se. Segundo a tradição, Maria Ortiz teria organizado uma defesa na ladeira do Pelourinho (hoje ladeira Maria Ortiz).

1627 – Manuel d’Escobar Cabral é nomeado governador da capitania, uma vez que Francisco de Aguiar Coutinho estaria morto.

1640 – Invasores holandeses tomam, no porto de Vitória, dois navios carregados de açúcar e, desembarcando na ilha principal, atacam a vila. João Dias Guedes, então capitão-mor, consegue expulsá-los auxiliado por fuzileiros e índios, utilizando também seus cinco canhões, numa luta que durou três horas e meia.

1643 – Por meio de provisão passada a 6 de março desse ano, Ambrósio de Aguiar Coutinho, filho de Francisco de Aguiar Coutinho, toma posse da capitania. O Convento de São Francisco foi o primeiro prédio a contar com água encanada. A instalação, que foi feita nesse ano, veio da Fonte Grande, sendo que dessa ligação tirou-se mais tarde um ramal para o chafariz que ficava em frente à Maçonaria.

1674 – Francisco Gil de Araújo adquire a capitania de Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho. Francisco Gil de Araújo permanece aqui de 1678 a 1682, e durante sua administração concluiu-se a construção do forte de Nossa Senhora do Carmo, reedificou-se o de São João e edificou-se o de São Francisco Xavier, na vila do Espírito Santo (Vila Velha), para proteger a entrada da barra de Vitória. Sua administração foi marcada por um reerguimento da capitania.

1687 – Falecido Francisco Gil Araújo, Manuel Garcia Pimentel, seu filho, sucede-o na donataria após confirmação da herança por carta datada de dezembro de 1687. Ele no entanto nunca chegou a visitar as terras capixabas.

1690 – Década que marca o início do ciclo do ouro.

1699 – A capitania é varrida por epidemia de febre amarela.

Século XVIII

1704 – São expedidas ordens de Portugal para que toda a gente que se encontrasse nas lavras se recolhesse à vila da Vitória, e que se evitassem, a todo custo, excursões à região das minas. Foi também proibida a construção de estradas ligando a capitania às minas.

1710 – O governador geral observa que em Vitória falta todo o tipo de defesa e meios de conservação, atribuindo isso à má administração daqueles que governaram a capitania. No entanto, o isolamento advindo da descoberta das minas em muito contribuiu para esse estado.

1711 – Segundo Daemon, nesse ano morre Manuel Garcia Pimentel, que não deixou filhos. O governador geral ordenou ao capitão-mor e oficiais que tomassem posse da capitania para a coroa, mas a Cosme Rolim de Moura é reconhecido direito de herança em relação à donataria, uma vez que era primo e cunhado do antigo donatário.

1715 – O Conselho Ultramarino sugere ao rei a compra da donataria, considerando a necessidade de um melhor controle dela por parte da coroa. A aquisição é efetivada e Cosme Rolim de Moura recebe a mesma quantia pela qual o seu antecessor comprara o senhorio.

1728-1730 – A população da vila da Vitória tinha uma vida bastante precária, contando 5.000 pessoas “entre brancos, pardos, pretos forros e cativos”.

1755 – Construção da Capela Nossa Senhora da Conceição, onde hoje temos a praça Costa Pereira.

1759 – D. José, rei de Portugal, emite alvará ordenando a expulsão de todos os jesuítas de Portugal e domínios.

1760 – Expulsão dos jesuítas do Brasil, de acordo com o alvará de D. José. Em Vitória, a 22 de janeiro embarcaram 17 jesuítas da capitania na nau Libúrnia. A saída dos jesuítas resultou em desorganização, principalmente entre os indígenas, que abandonaram as aldeias e voltaram para as matas.

1767 – José Antônio Caldas, engenheiro encarregado das obras de construção da fortaleza da Ilha do Boi e reforma das existentes, deixa relato sobre a capitania em ofício dirigido ao conde governador. Segundo ele, a capitania contava cerca de 8.000 pessoas, exportava mantimentos, madeiras, panos de algodão e açúcar para a Bahia, Rio de Janeiro e portos do sul, sendo o transporte feito em embarcações pertencentes aos comerciantes de Vitória.

1768 – Providências para construção da fortaleza da Ilha do Boi e reforma das existentes.

1779 – Inauguração do serviço de correios entre Campos e Vitória.

1787 – Vitória tinha uma população de 2.327 livres e 4.898 escravos. Exportava pano de algodão, fio de algodão, algodão aberto, açúcar, arroz, milho e madeiras. A capitania contava então com as seguintes vilas: Vitória, Espírito Santo (Vila Velha), Guarapari, Nova Almeida e Benevente (Anchieta). A vila da Vitória tinha os seguintes distritos: Maruípe, Capoeira Grande, Iucu, Campo Grande, Murundu, Santana, Carapina, Serra, Praia, Caraípe, Boapaba, Curipe, Una, Taiabaia, Itaonga, Jacariacica, Cangaíba e Maricará.

Século XIX

1800 – Embora nomeado em 1797, Silva Pontes atua como governador da capitania somente a partir de 1800, subordinado ao governo da Bahia e com a incumbência de iniciar a navegação pelo rio Doce.

1809 – É criada, na capitania do Espírito Santo, a Junta da Administração e Arrecadação da Real Fazenda, extinguindo-se a Provedoria que estava subordinada à Junta de Salvador.

1810 – A capitania do Espírito Santo desliga-se também da Bahia em termos militares.

1811 – Manuel Vieira de Albuquerque e Tovar, que substituiu Silva Pontes, deixa o governo nesse ano. De acordo com Francisco Manuel da Cunha em depoimento datado desse ano, a vila da Vitória tinha um pequena atividade comercial, negociando somente produtos da terra, tais como açúcar, aguardente, café, milho, feijão, arroz e algodão, restringindo-se, em geral, a negócios com Rio de Janeiro e Bahia. A vida urbana refletia pobreza, com casas em ruínas, falta de divertimentos, escassos mercados e serviços.

1812 – Francisco Alberto Rubim assume o governo da capitania.

1814 – Inicia-se a construção da estrada ligando Vitória a Vila Rica. Na verdade, essa estrada, conhecida como “estrada nova do Rubim”, partia do porto de Itacibá, na baía de Vitória. Mais tarde ela seria chamada estrada “São Pedro de Alcântara”.

1815 – Implantação da cultura do café no rio Doce e nos arredores da capital.

1816 – O príncipe Maximiliano Wied Neuwied visita o Espírito Santo. Sobre Vitória deixa registrada a impressão de um “lugar limpo e bonito, com bons edifícios construídos no velho estilo português.”

1817 – Decreto mandando construir hospital em Vitória sob a inspeção da Santa Casa de Misericórdia. Domingos José Martins, capixaba residente em Recife, participa da Revolução Pernambucana de 1817. Com o fracasso da Revolução é enviado para Salvador e fuzilado nesse mesmo ano. Aires do Casal diz que “A Capital é […] grande abastada, bem provida de água, com bons edifícios, ruas calçadas, ornada com uma igreja matriz…” Relata ele também que Vitória possuía a Santa Casa de Misericórdia, o convento dos franciscanos, outro dos carmelitas calçados, a capela de Santa Luzia e mais três outras: Nossa Senhora da Boa Morte, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Rosário. Quanto ao Colégio dos Jesuítas, servia de sede do governo.

1818 – Auguste de Saint-Hilaire, em sua Segunda viagem, relata que Vitória exportava, para Rio de Janeiro e Bahia, os produtos da terra e tecido de algodão rústico, e importava ferro em barra e instrumentos de agricultura. Diz também que o custo de vida era mais alto em relação ao do Rio de Janeiro. A indumentária de homens e mulheres se restringia ao algodão, sendo que as mulheres trajavam um tipo de “saia indígena”. No que se refere ao aspecto urbano, diz que as ruas são estreitas, irregulares e mal calçadas, com casas de um e dois andares, algumas delas com janelas de vidro e varandas confeccionadas na Europa. Fala da inexistência de praças públicas, e se refere àquela defronte ao Palácio como “muito pequena”, e à outra, situada entre a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e a praia, como sendo uma “encruzilhada enlameada”.

1819 – Francisco Alberto Rubim, nomeado governador do Ceará, deixa o Espírito Santo.

1820 – Pela “estrada nova do Rubim” passa a primeira boiada trazida de Minas Gerais. Esse caminho, no entanto, apresentava dificuldades de segurança e manutenção, e sua pouca utilização, já em 1830, acabou por provocar o seu total abandono por parte do governo. Assume Baltasar de Sousa Botelho de Vasconcelos como novo governador da capitania, coincidindo seu governo com o movimento da independência. Instala-se a Alfândega de Vitória, situada inicialmente no fortim do Carmo, ou São Diogo. Logo depois ela é transferida para o Convento do Carmo, que já havia sido transformado em quartel da tropa de linha. Os anos de 1820 e 1821 são marcados por manifestações militares e populares motivadas pelas idéias de independência.

1822 – A Junta do Governo Provisório assume a direção da província, respondendo por sua administração civil e política. Ao governo central cabia a nomeação do comandante militar. A denúncia da organização de um movimento, com apoio de alguns militares contra tais medidas é denunciado à Junta, resultando em muitas prisões. Aceitando o título de “Defensor perpétuo do Brasil”, D. Pedro proclama a independência.

1823 – A 17 de março a vila de Vitória foi elevada à categoria de cidade, o que no entanto não trouxe melhorias para a sua economia. 1824 – A 19 de abril realizou-se cerimônia na igreja matriz que contou com a participação de muitos populares, dos membros da Câmara Municipal e de corporações civis, eclesiásticas e militares, em comemoração ao juramento da Carta Magna outorgada por D. Pedro, a 25 de março desse ano. Inácio Acióli de Vasconcelos, um intelectual, foi indicado como primeiro presidente provincial. Em seu governo a província encontrava-se em precárias condições. Vitória tinha um comércio reduzido, compreendendo trinta e cinco lojas, as ruas eram esburacadas e mal iluminadas, sendo que muitos lampiões eram mantidos pelos próprios moradores, e o transporte era feito por cavalos e carros de bois.

1830 – No final dessa década foi inaugurada a iluminação pública em Vitória, com quarenta lampiões de azeite de peixe nas esquinas e edifícios públicos.

1832 – Desentendimentos por ocasião da festa de São Benedito deram origem à divisão da Confraria de São Benedito, com uma facção sediada no Convento de São Francisco e outra, a dissidente, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário. O acontecimento religioso chegou a afetar a vida política, dando origem a partidários entre o povo. Assim surgiram “caramurus” (conformados) e “peroás” (dissidentes). A cada ano as procissões geravam intensas brigas em ruas da cidade entre os grupos rivais. Essa dissenção durou quase um século e pertence hoje ao folclore capixaba.

1833 – Manuel da Silva Pontes fala da precariedade de Vitória, sem acomodações para receber ou reunir pessoas, contando apenas com casa de açougue, banca de peixe e dois chafarizes.

1839-1840 – A província do Espírito Santo embarca seu produtos para Montevidéu e Porto.

1840 – É impresso o primeiro jornal no Espírito Santo — O Estafeta —, que não passa desse primeiro número.

1849 – Inicia-se a publicação do jornal Correio da Vitória, importante marco da imprensa capixaba. Esse jornal circulou durante vinte e quatro anos.

1852 – O presidente Nascentes Azambuja informava sobre a inexistência, na província do Espírito Santo, de associações literárias, periódicos literários e científicos e quaisquer outras publicações.

1855 – Inauguração da Biblioteca Pública.

1856 – O barão de Itapemirim diz o seguinte da província: “Não há jardins botânicos, nem teatros, nem museus. Existe, porém, uma biblioteca pública, criada em julho do ano findo, que por ora não merece grande menção.” Ano da instalação da Capitania dos Portos.

1860 – Visita de D. Pedro II a Vitória. Ele ficou hospedado no Palácio do Governo e visitou os principais edifícios da cidade.

1865 – A iluminação pública, até então feita com óleo de peixe, é substituída por lampiões a querosene.

1870 – Inauguração do farol da barra de Vitória.

1871 – Instalação do Mercado Municipal.

1872 – Fundação da loja maçônica União e Progresso, em Vitória.

1874 – Inauguração da estação telegráfica de Vitória, ligando-a a Itapemirim, Campos e Rio de Janeiro.

1879 – Instalação da Casa da Instrução Pública, mais tarde Escola Normal Pedro II. Substituição da iluminação pública, feita então por lampiões de querosene, por outra constituída de bicos de gás.

1889 – Com a proclamação da República, Afonso Cláudio é indicado pela Junta Provisória para a administração do Estado. Nessa época todos os órgãos e serviços públicos estavam sediados em Vitória. O ensino primário era ministrado no Ateneu Provincial (rapazes) e no Colégio Nossa Senhora da Penha (moças). A biblioteca, fundada em 1855, é substituída, durante o governo do presidente Eliseu de Souza Martins, pela Biblioteca Pública Provincial, contando com um amanuense-bibliotecário e um porteiro. Na época, quatro jornais circulavam em Vitória: A Província do Espírito Santo, O Espírito-santense, A Gazeta de Vitória e A Folha de Vitória. O Grêmio Literário Vitoriense era a única sociedade literária existente na capital à época. O comércio da capital oferecia mercadorias mais diversificadas: objetos para luto e presentes, roupas, chapéus para senhoras, enxovais, máquinas de costura, vinhos importados, calçados, móveis importados, entre outras. A capital já contava com firmas importadoras e exportadoras, agentes de companhias de navegação e representações consulares (França, Alemanha, Holanda e Portugal).

1890 – Realiza-se, em Vitória, reunião do Partido Republicano. A ala dissidente desse partido uniu-se ao barão de Monjardim e a Aristides Freire, chefes dos dois antigos partidos monárquicos, formando a União Republicana Espírito-santense. Aqueles fiéis à situação e parte dos conservadores formaram o Partido Republicano Construtor.

1891 – É eleito o barão de Monjardim para a presidência do Estado. Nesse mesmo ano, porém, em virtude do desenrolar do golpe de 3 de novembro e à elevação de Floriano Peixoto ao poder, já prevendo os resultados, o barão entrega o cargo ao vice Antônio Aguirre. A oposição (Partido Republicano Construtor) forma a Junta Governativa composta pelo coronel Inácio Henrique de Gouveia, Graciano dos Santos Neves e Galdino Texeira Lins de Barros Loreto, que depõe Antônio Aguirre e assume o governo.

1892 – Promulgação da nova Constituição e eleição de José de Melo Carvalho Muniz Freire para a presidência do Estado. Ele contrata Saturnino de Brito para o seu saneamento da cidade e construção do Novo Arrabalde. Sebastião da Costa Madeira é o primeiro comerciante a obter licença para estabelecer-se com seu quiosque, cuja localização era no Éden Parque. Mais tarde os quiosques, de forma hexagonal ou circular, em madeira e com cobertura de zinco, se proliferam rapidamente. O último exemplar desse tipo de ponto comercial, situado no prolongamento da rua General Osório, desapareceu em 1925.

1893-1895 – O Conselho Municipal de Vitória, que na época administrava a cidade, votou Código de Posturas determinando, para o licenciamento de obras, que as plantas seguissem certas especificações. Determinou também a coleta domiciliária do lixo e o saneamento de valas e banhados, a fiscalização de construções civis, a proteção de matas, a criação de novos bairros (Campinho, hoje Parque Moscoso, e Vila Rubim), disciplinando também o abastecimento de carne.

1895 – Inauguração do primeiro trecho da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, entre Argolas e Viana (Jabaeté). Criação da diocese do Espírito Santo, com sede em Vitória, pelo papa Leão XIII.

1896 – Graciano dos Santos Neves sucede Muniz Freire no governo do Estado, renunciando pouco tempo depois, em 1897. Inauguração do Teatro Melpômene.

1897 – José Marcelino Pessoa de Vasconcelos ganha a eleição para a presidência do Estado.

Século XX

1900 – Reassume Muniz Freire como presidente do Estado. Dois jornais circulavam na época: o Estado do Espírito Santo e o Comércio do Espírito Santo, o primeiro ligado ao Partido Construtor-autonomista, e o segundo ao Partido Republicano Federal. A população da capital, assim como a do interior, apresenta melhor nível de formação intelectual.

1903 – É iniciada a construção da Estrada de Ferro Vitória a Minas.

1904 – Henrique da Silva Coutinho é eleito presidente do Estado.

1906 – Início da ocupação da Praia do Suá. Criação do Ginásio Espírito-santense que funcionaria somente a partir de 1908.

1907 – Inaugura-se em Vitória o trecho da linha de bonde de tração animal compreendido entre a rua do Comércio e o Forte de São João.

1908 – Antenor Guimarães organizou tílburis (ferro-carril) que iam até a Praia do Suá, levando passageiros para banhos de mar. Inicia-se o governo estadual de Jerônimo de Souza Monteiro. Ele promove a aproximação entre os partidos Construtor e Republicano Federal, dos quais alguns elementos sairão para formar um terceiro partido: o Partido Republicano Espírito-santense, dirigido pelo presidente do Estado. Durante esse governo Vitória recebe melhoramentos como serviços de água, esgotos, luz e transporte por bondes elétricos, abertura de novas ruas, construções etc. Outras contribuições desse governo foram: difusão do ensino primário, reabertura da Biblioteca Pública e a fundação da Escola de Belas Artes. Ceciliano Abel de Almeida assume como primeiro prefeito da cidade de Vitória, cargo criado pela Lei n° 582. Criação do Arquivo Público, instalado em 1910 em um dos salões do Palácio do Governo, sendo transferido para a atual sede em 23/05/1926.

1909 – Inauguração do serviço de abastecimento de água, no grande reservatório do morro Santa Clara.

1910 – Reforma do prédio da Santa Casa de Misericórdia, com projeto do arquiteto Ramos Azevedo.

1911 – Inauguração do primeiro trecho da linha de bonde elétrico, que ia da rua do Comércio até a rua Sete. Nesse mesmo ano seria inaugurada também uma linha direta partindo de Santo Antônio à Praia do Suá. Ainda nesse período (durante o governo de Jerônimo Monteiro) foi criada a linha circular, que contornava a cidade alta ligando-a à cidade baixa. Início da construção da primeira seção do porto de Vitória, que seria finalizada somente em 1939 e inaugurada em 1940. Incluiu três armazéns e o atraso deveu-se às dificuldades financeiras do Estado e aos distúrbios ocasionados pela Primeira Guerra Mundial. Construção do prédio da Assembléia Legislativa, do Parque Moscoso e reforma do Palácio do Governo (antiga Igreja de São Tiago).

1912 – Início do governo estadual de Marcondes Alves de Souza. Fundação do Clube Vitória. Inauguração do Parque Moscoso.

1915 – Construção da primeira estrada para veículos automotores do Estado, ligando Vitória a Vila Velha, com piso de barro e 8 quilômetros de extensão.

1916 – Eleição de Bernardino Monteiro para a presidência do Estado. Fundação, a 12 de junho, do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, que funcionou provisoriamente no prédio da Assembléia Legislativa.

1920 – Iniciam-se revolta e luta armada na capital envolvendo elementos da força policial, dividida em duas facções: uma partidária de Nestor Gomes, outra, de Francisco Etienne Dessaune. É decretada a intervenção federal no Estado interrompendo o movimento armado. Logo a seguir é reconhecida, pelo governo federal, a eleição de Nestor Gomes.

1921 – Fundação da Academia Espírito-santense de Letras.

1923 – Publicação do primeiro número de Vida Capichaba, revista que circulou até 1957.

1924 – Florentino Avidos assume o governo do Estado. Esse governo foi marcado por um grande número de obras públicas em Vitória, transformando completamente o aspecto do centro da cidade, com alargamento e reforma de logradouros que, de tortuosos e estreitos, passaram a apresentar melhores condições de tráfego (avenida Capixaba, hoje Jerônimo Monteiro, praça Costa Pereira, rua Sete de Setembro, etc.); construção de vários prédios, inclusive o do Grupo Escolar Gomes Cardim (hoje conhecido como FAFI), do almoxarifado dos Serviços de Melhoramentos de Vitória (atualmente sede do Museu de Arte), do Teatro Carlos Gomes, etc. Estruturou-se o bairro Jucutuquara.

1926 – Visitas dos presidentes Artur Bernardes e Washington Luís à capital.

1928 – Construção da ponte Florentino Avidos, conhecida como “Cinco Pontes”, ligando Vitória a Vila Velha. Posse de Aristeu Borges de Aguiar no governo do Estado.

1929 – Inauguração, no Teatro Carlos Gomes, do cinema falado.

1930 – A revolução de 30 fez-se presente no Estado do Espírito Santo e em sua capital. Movimentos revolucionários provocaram grande confusão e determinaram, além do abandono do cargo por Aristeu Borges de Aguiar, a sucessão de vários presidentes no governo do Estado até a nomeação, por decreto do Governo Provisório, em 15 de novembro, de João Punaro Bley , que permaneceu no cargo até 1943, primeiro como interventor federal, depois como governador constitucional e, novamente, como interventor federal.

1931 – Instalação da Faculdade de Direito, em Vitória. 1932 – Inauguração do cine-teatro Glória, à avenida Jerônimo Monteiro, chamada à época de Capixaba.

1933 – Fundação da Associação Espírito-santense de Imprensa (AEI).

1934 – Construção do prédio dos Correios e Telégrafos, hoje sede da agência central de Vitória.

1935 – Criação da primeira orquestra sinfônica de Vitória, com trinta integrantes e tendo como regentes Álvaro Coutinho, Arnulfo de Matos e Emílio Trinxet.

1937 – Fundação do Banco Hipotecário e Agrícola.

1938 – Construção da segunda seção do cais do porto de Vitória, cuja inauguração ocorreu em abril de 1942. Inauguração do Museu Capixaba, que funcionava em uma das salas do Quartel da Polícia, no Parque Moscoso, sendo mais tarde transferido para o Solar Monjardim, em Jucutuquara. Criação do Parque Municipal Horto de Maruípe.

1939 – Inauguração da Pro-matre, em Vitória, que funcionou, inicialmente, na rua Sete de Setembro.

1940 – Inicia-se a exportação do minério de ferro através do porto de Vitória.

1942 – Criação da Companhia Vale do Rio Doce, que passou a responder pela Estrada de Ferro Vitória a Minas. Inauguração da nova sede da Escola Técnica, em Jucutuquara.

1943 – Fundação do Colégio Salesiano Nossa Senhora da Vitória, localizado inicialmente à rua Presidente Pedreira, no Parque Moscoso.

1944 – Circulavam na capital seis periódicos (jornais e revistas), e esta contava com dez bibliotecas.

1945 – Realização do Congresso Eucarístico Diocesano em comemoração ao cinquentenário da Diocese do Espírito Santo.

1950 – Instalação da Faculdade de Odontologia do Espírito Santo.

1951 – Jones dos Santos Neves assume o governo do Estado e desenvolve o Plano de Valorização Econômica do Estado. Comemoração do quarto centenário de Vitória (de 1° a 30 de setembro).
Construção de enrocamento com extremidades próximas ao Suá e ao antigo porto de Vitória, para aterro dos mangues. Desaparecem assim a área de mangues que havia entre o Forte de São João e o bairro Bento Ferreira.

1952 – Jones dos Santos Neves propõe à Assembléia Legislativa Estadual o aterro de outra área destinada à abertura de ruas e edificações na área da esplanada da Capixaba.

1953 – Início da construção do Hospital Santa Rita de Cássia e do Hospital das Clínicas, em Maruípe.

1954 – Criação da Universidade do Espírito Santo, instalada nesse mesmo ano, provisoriamente, no salão nobre da Escola Normal Pedro II. Seu primeiro reitor foi Ceciliano Abel de Almeida. Ao final do governo Jones, funcionavam as faculdades de Direito, Odontologia, Filosofia, Ciências e Letras.

1957 – Criação da Escola de Medicina do Espírito Santo, que foi incorporada à Universidade Federal do Espírito Santo em 1961.

1959 – Elevação da Diocese à categoria de Arquidiocese.

1959-1961 – Entre esses anos realizou-se o aterro ligando as ilhas de Vitória e do Príncipe. A obra foi executada pela Comdusa.

1960 – Visita do presidente Juscelino Kubtschek ao Espírito Santo.

1966 – Início das atividades do porto de Tubarão.

1968 – Criação do CODES (Companhia de Desenvolvimento do Espírito Santo) que no ano seguinte transforma-se no BANDES.

1970 – Nessa década a Comdusa realiza o aterro da Enseada do Suá para a criação de áreas de ocupação residencial e comercial.

1976 – Assinatura do “Acordo Geral do Projeto Tubarão” decidindo-se pela constituição da Companhia Siderúrgica de Tubarão.

1992 – Privatização da Companhia Siderúrgica de Tubarão.

1997 – Privatização da Companhia Vale do Rio Doce.

Pesquisa e texto: Maria Clara Medeiros Santos Neves, museóloga formada pela Universidade do Rio de Janeiro, responsável pelo site Estação Capixaba.

Obs.: Texto elaborado originalmente para o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e disponível em seu site a partir do ano de 1999.

———
© 2000 Estação Capixaba. Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
———

Maria Clara Medeiros Santos Neves, coordenadora do site ESTAÇÃO CAPIXABA, é museóloga formada pela Universidade do Rio de Janeiro e pós-graduada em Biblioteconomia pela UFMG, autora do projeto do Museu Vale e de diversas publicações. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Deixe um Comentário