Bairro onde mora: Jardim da Penha
Bairro onde trabalha: Praia do Canto
Profissão: vendedora / estudante de Artes plásticas
Naturalidade: Nanuque
Idade: 23
Tempo de residência em Vitória: 6 anos
Tempo que trabalha em Vitória: 4 anos
Estado civil: solteira
Filhos: não
O que você acha da cidade de Vitória como ambiente para se viver?
– Eu acho a qualidade de vida boa em todos os sentidos. É bom morar aqui, é fácil de encontrar as coisas. Tem essa qualidade interiorana, tudo perto, fácil de andar. Mas o povo é diferente, o capixaba é individualista, não se entrosa com muita gente. E o pessoal do interior é completamente diferente, mais aberto.
Aspecto físico.
– Eu acho bem planejada e organizada, bem estruturada. Mas, talvez, eu acho que tinha como aproveitar mais o espaço que a cidade tem. No sentido do turismo, por exemplo. Tem certos lugares que não são aproveitados, que são meio esquecidos, poderiam ser explorados e organizados para atrair mais os turistas. Por exemplo, os monumentos históricos deveriam ser mais preservados. Os prédios antigos do Centro, alguns estão até sendo revitalizados agora, mas ficam meio confusos entre letreiros de propaganda. A Barra do Jucu, por exemplo, tem uma força, uma identidade cultural, que a população ajuda a preservar e se orgulha disso. Em Vitória, os monumentos antigos vão ficando velhos e caindo aos pedaços, até desaparecer e todo mundo esquece.
Você conhece a cidade como um todo? Qual parte da cidade que você mais gosta?
– Eu conheço muito pouco da cidade. Acho que gosto mais dos locais que eu passo a maior parte do meu tempo, que são Jardim da Penha e Praia do Canto, por ser mais fácil mesmo. São os bairros que eu fico e ando sempre e conheço mais.
Como você se relaciona em Vitória? É fácil fazer amigos e namorar…? Qual é o perfil do capixaba?
– Eu acho difícil. As pessoas que eu saio são da minha cidade. É difícil conhecer alguém assim do nada, chegar e perguntar o nome, mulher então, não rola. Eu conheço algumas na UFES, mas umas são casadas ou têm namorado ou são muito doidas. O pessoal do curso de Artes, tem uns muito doidos, não dá nem pra sintonizar. Não existe um contato fora da faculdade. O capixaba é individualista, fechado, não se entrosa fácil. E vive muito de aparência, gosta de mostrar o que tem e dá muito valor a essas coisas. Mesmo na faculdade, a maior parte dos amigos que fiz é de outras cidades do interior.
O que você acha do custo de vida?
– Eu acho barato num aspecto geral. Por ser uma capital poderia ser mais alto.
Tem algo a dizer sobre o trânsito? Como você se locomove?
– Eu ando de ônibus. E comparando com Vila Velha eu acho que o trânsito é bem sinalizado e estruturado. Não tenho nada a reclamar do sistema de ônibus.
Você participa de tradições recentes como o Vital, o carnaval do Centro…?
– Eu já fui duas vezes no Vital. Eu vou porque é febre, todo mundo vai, já é referência como diversão. Eu mesma não acho a melhor coisa do mundo. Tem outras opções na mesma época, Itaúnas é uma opção, mas, financeiramente, não dá pra mim. E Vital, você vai com receio de tudo que falam que acontece, mas eu nunca vi nada assim de violento lá não.
Como você se diverte? Quais lugares que frequenta?
– Eu vou pra bares, boates; mais pra bares. Rua da Lama em Jardim da Penha. Eu gosto porque vou com os amigos e a gente se diverte. Não gosto de cinema. Praia, eu vou bem pouco, quase nunca, não gosto muito. Eu costumava frequentar a pracinha de Jardim da Penha, na época que eu estava namorando, meu namorado gostava de ir então eu ia. Eu curto mesmo é ficar em casa. Quando eu morava em república, a gente juntava uma turma e se reunia em casa, eu preferia. Era um apartamento grande, eu morava com mais seis meninas de Nanuque que faziam cursinho no [colégio] UP, uma namorava um garotinho de Vitória, então, nessa época, nas festas vinha um pessoal de Vitória também, mas a maioria era homem. A gente fazia churrasco e às vezes os vizinhos reclamavam, o síndico descia. Mas isso aconteceu poucas vezes, geralmente a gente ficava sentadinha bebendo, sem muito barulho, pouca gente. Hoje eu moro com a minha irmã.
O que acha do movimento cultural de Vitória?
– Muito fraco, não tem uma essência muito forte. Tem identidade mas não tem representatividade, não é forte, acho que a população não se envolve muito, não incentiva.
Com qual manifestação artística você mais se identifica?
– Eu gosto muito de pintura de óleo sobre tela. Eu gosto de todos, cada estilo artístico tem sua essência, seu brilho. Mas, particularmente, meu eu se identifica mais com a pintura. Em Vitória, os representantes desse estilo, hoje, são Solé, Lincoln, Atílio Colnago.
Como está a UFES hoje, no que diz respeito aos eventos culturais?
– Fraco. Eu costumo frequentar as exposições nas galerias da UFES, mas a organização não é sistemática. A arte está banalizada. Estão expondo muita coisa que não tem nada a ver, assim acaba banalizando o conceito de arte. Acho que poderia ser uma coisa mais estudada, mais planejada.
Qual é o perfil do aluno de Artes?
– Sei lá. Eles costumam ser largados, mas bem autênticos. Parece que não ligam pro mundo ao redor, tipo: foda-se todo mundo.
Tem algo a dizer sobre a educação?
– Olha, colocando como referência o Centro de Artes, eu acho muito largado. Não tem uma preocupação da Coordenação, é uma zona. O nível de professores é variado. Tem professores maravilhosos e tem outros péssimos, então a gente fica nessa corda bamba. Os alunos não têm um acompanhamento fixo. O curso depende muito do aluno. A gente está meio sozinha ali.
Quais são os grandes problemas de Vitória?
– Violência. A diferença social de bairro pra bairro. Já trabalhei em um bairro que era muito perto do outro, e tão diferente. Até a questão do policiamento. Aqui na Praia do Canto você vê um policial em cada esquina, enquanto nesses bairros mais pobres, não existe policiamento.
E as grandes vantagens de morar aqui?
– As praias. Eu sei que sou privilegiada, mas não aproveito muito. Tem também a facilidade de encontrar as coisas, de andar, a proximidade também.
Como você definiria a sua vida em Vitória?
– Acho que eu vivo bem. Sinto muita falta de algumas coisas que eu tinha no interior e aqui não tenho. Por exemplo, tranqüilidade, conhecer todo mundo, quando preciso de alguma coisa, me sinto um pouco sozinha, não tenho pra quem recorrer.
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