45 anos, bibliotecária, nasceu em Alegre, mora há 30 anos em Jardim da Penha, trabalha na Praia do Suá. (01.12.2008)
– Gosto de Vitória, de onde moro, mas a cidade está ficando muito barulhenta e o trânsito está um inferno. O barulho de avião de madrugada em cima da casa da gente é muito ruim. Tudo de uma vez. Não fosse isso, seria uma beleza. Vendi meu carro e achei que com a curta distância entre meu trabalho e onde eu moro iria resolver meu problema de transporte. Se os ônibus passassem no horário e não existissem tantos congestionamentos o carro seria só pra uso de passeio, pra compras ou ficar mesmo na garagem. A coisa está da seguinte forma: se você sai de carro fica preso, se anda de ônibus, se atrasa. E já não está existindo horário de pico. Toda hora é horário de pico. Hoje eu levei 50 minutos de Jardim da Penha pra Praia do Suá. Não entendi. Não havia chuva, não havia nada. E os ônibus estão sempre atrasando, fiquei meia hora esperando, depois uns 20 minutos pra chegar. As pessoas reclamam muito sobre isso. É um bairro grande, populoso. Me lembro eu mesma na época em que vendi o carro já não se achava mais vaga com facilidade. Esse trânsito está incomodando todo mundo. Hoje você não pode mais programar uma reunião como antes e ainda mais se você tiver que se locomover de última hora. Não consegue chegar na hora marcada.
– O bairro é violento porque em toda parte está violento. É um dos melhores bairros de Vitória. Tudo é perto. Tem área de lazer, restaurantes, shoppings, cinema, teatro, barzinhos, pracinhas, tem a orla para caminhar. Tem muita gente de fora, talvez pela proximidade com a universidade, tem muitas repúblicas. Mas hoje em dia tem muita gente de fora, toda Vitória está cheia de gente que vem trabalhar e estudar, a maioria. Hoje tem muito turista de negócios. Mas é um bairro muito organizado, politicamente organizado, já deu prefeito, muitos vereadores.
– Vitória melhorou, mas na área cultural deixa muito a desejar, falta uma programação legal, festas. Agora, o custo de vida em Vitória está muito alto. Lembrei agora de uma amiga, professora da UFES, que casou, teve filho e foi morar na região de Santo Antônio, por ter encontrado uma casa que lhe convinha. Ela diz que as coisas lá são muito, mas muito mais baratas do que aqui em Jardim da Penha. Pão, café, feijão etc. Você mesmo vai no Centro da cidade e vê que as coisas são mais baratas. Em Jardim da Penha, Praia do Canto, tudo é mais caro.
– Muita gente vai à praia, toma banho, mas antigamente a frequência era maior. Eu sinto muito a poluição no ar. Sinto muita diferença quando viajo e retorno. Por mais que as autoridades digam que está sob controle, não acredito. E hoje também tem muito carro na rua, muito dióxido de carbono, que misturado ao pó das siderúrgicas é muito ruim. Hoje as pessoas estão preocupadas com outros afazeres, a praia está sendo um pouco esquecida. Antigamente ir à praia era um lazer dos mais imediatos.
– Eu acho que o capixaba na hora da tragédia, como o brasileiro de um modo geral, é muito solidário. Agora, como pessoa, é muito fechado, desconfiado. Pra gente de fora é complicado. Eu ouço muitas queixas. Ele tem até fama. Nos prédios, os vizinhos são fechados, desconfiados. O mineiro é desconfiado, mas é muito hospitaleiro. O capixaba, não. Acho que é muita gente de fora. Até se familiarizar, gente de fora sofre.
– A gente sente falta de um pouco de festas locais que mobilizem a gente. Houve aquele Vital, que foi expulso, irritava todo mundo. Acho que a população acabou com o Vital. A gente precisa de uma festa nossa. Conheço mais o folclore no interior, vejo pouco aqui. Quanto à prática esportiva, noto um pouco os aquáticos, muita vela no mar.
– Vou pouco à cidade, mas gosto da arquitetura de lá, mas está muito abandonado. Eles falam muito de revitalização do Centro, mas isso não existe. Gente, a cidade de Vitória é linda. Aonde você acha um lugar assim com o contraste dos morros e o mar? A arquitetura também, tanto a moderna como a antiga, é muito bonita, nossos prédios são muito bonitos. O que eu acho mais bonito em Vitória é a parte do mar, a baía, a orla, o aterro, as ilhas, a praia de Camburi está ficando bonita. Eu só sairia daqui pra um lugar mais calmo – espero que Vitória mantenha um pouco a calma que resta, afinal, nós temos qualidade de vida em Vitória. Vitória tem que ser mais humana e deixar de ter tanta pressa.
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