(Discurso proferido ao assumir as funções de Interventor Federal do Estado do Espírito Santo, a 26 de janeiro de 1943)
As forças imponderáveis do Destino que regem os episódios esparsos da nossa vida e os articulam entre eles, tecendo, desse modo, toda a trama. sutil dá nossa existência, influíram, certamente, para que a escolha do novo Interventor do Espírito Santo, feita pessoalmente pelo eminente Presidente da República, recaísse sobre alguém que nunca aspirara às tentadoras posições de mando, que jamais tivera a veleidade de influir nas altas decisões administrativas do Governo do Estado, nem, tampouco, pensara concorrer sequer nas agitadas competições personalistas de suas lutas políticas.
Cooperador desinteressado do Exmo. Sr. Major Punaro Bley, honrado sempre pela sua inalterável confiança e preciosa amizade, acompanhei, no entanto, de perto toda a trajetória brilhante do seu governo patriótico e sereno.
Testemunhei os seus esforços e vi nascer e crescer a série interminável de suas realizações administrativas. Percebi os anseios de seu entusiasmo e admirei as diretrizes ponderadas de seus cometimentos progressistas. Partilhei de seus desânimos e o aplaudi também em suas consagrações. Presenciei a abertura de estradas que, galgando morros, vadeando rios e rasgando escarpas, traçaram de Norte a Sul do Estado, o roteiro inconfundível do progresso, facilitando os transportes e suprimindo as distâncias.
Observei, de perto, todo o desvelo que empregou em fomentar as atividades produtoras do solo espírito-santense. Colaborei mesmo direta e pessoalmente, na criação do Banco de Crédito Agrícola, e recordo ainda, com emoção, os aplausos vibrantes e espontâneos dos lavradores do Estado, quando, no fertilíssimo Vale do Canaã, surgiu a realidade promissora da Escola Prática de Agricultura, como verdadeira expressão simbólica de uma nova era, para comandar a metamorfose futura das nossas explorações rurais.
Apreciei, também, o surto prodigioso de elevação cultural que proporcionou ao Espírito Santo, com a criação sistemática de novas Escolas e modernos Grupos Escolares, espalhados por todos os recantos do interior, e, por toda a parte, espargindo, sobre a mocidade da nossa terra, as sementes abençoadas da educação e do saber.
Ressoam ainda em nossos corações os eflúvios misteriosos de gratidão com que a infância abandonada, a velhice inválida e sem teto, os infelizes garroteados pelas mutilações aviltantes da Hansenose, os filhos depauperados de tuberculoses e os doentes de toda a classe, murmuraram preces e sussurraram bênçãos aos desvelados cuidados de seu Governo em todos os aspectos da obra profundamente humana de Assistência Social.
Ultimadas as imponentes instalações portuárias desta Capital, anseio de várias gerações —contemplamos agora, fronteira à nossa Ilha, e cravada na rocha viva da montanha, a realização mais nova do seu fecundo Governo: o moderno Cais de Minério, que ficará na História do Espírito Santo como marco solitário a delimitar uma época e a assinalar, para sempre, o raiar fulgurante de um capítulo diferente de seu destino e a profunda transfiguração de seu panorama econômico e financeiro.
Eis, senhores, em traços rápidos e sem nexo, marcados pela constante omissão de tantos outros benefícios esparsos, a síntese de uma Administração que foi também escola exemplar de tolerância e serenidade, de concórdia e de alta compreensão de todos os deveres cívicos e morais.
Por ela procurarei pautar as diretrizes mestras do futuro plano administrativo, e nela me inspirarei para copiar-lhe os sadios e proveitosos ensinamentos.
Conforta-me a certeza antecipada de que poderei contar, incondicionalmente, com a cooperação sincera, patriótica e imprescindível de todos os conterrâneos.
A hora trágica que atravessa o mundo, convulsionado pela guerra e ferido pelos golpes traiçoeiros do despotismo totalitário — que a insânia de um só homem levantou contra a consciência internacional — esta hora, de “lágrimas, de suor e de sangue”, acarreta para todos nós um quinhão mais forte de pesadas responsabilidades.
O Brasil, fiel às suas tradições de solidariedade continental e ao espírito heróico do seu povo, levantou-se também ante a agressão revoltante e covarde, e perfila-se, hoje, com todas as forças espirituais e todas as energias crescentes de seu equipamento militar, na mesma sacrossanta cruzada de pelejar o bom combate pela vitória total dos Povos Livres, disposto a empregar também a plenitude de seus esforços e o máximo de sacrifícios para cooperar, igualmente, no próximo e final esmagamento das odiosas tiranias totalitárias. De pé, como um só homem, formamos todos um único exército, coeso e consciente de sua força, escudado nas prerrogativas intangíveis da nossa soberania e guiado pela figura ciclópica e providencial do grande e benemérito Presidente Dr. Getúlio Vargas.
Sob a alta inspiração desse condutor genial dos destinos da nossa Pátria, que a Providencia Divina situou nas culminâncias do Poder, nesta hora de apreensões e de lutas, marcharemos confiantes para a certeza iniludível da vitória completa.
O Espírito Santo, integrado pela compreensão cívica de sua gente, herdeiro das tradições mais límpidas de patriotismo e de Fé, ouvindo ainda as ressonâncias maravilhosas que se evolam e transparecem das páginas rutilantes de sua História, sentindo o palpitar de seus heróis que ofertaram a vida em holocausto à Liberdade, o Espírito Santo, Senhores, marcha também, sereno e resoluto, para buscar o seu lugar no triunfo final da batalha e concorrer assim para a glória maior do Brasil.
Sr. Interventor Major Punaro Bley:
Ao receber das mãos de V. Excia. o bastão de comando desse povo acolhedor e bom, pertinaz e laborioso, disciplinado e consciente, pacífico e tolerante, mas profundamente cioso de suas próprias virtudes ou de seus insignificantes senões, eu o faço certo de saber corresponder sempre à honrosa confiança do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, de poder suportar as penosas responsabilidades do novo e elevado cargo, e de jamais desmentir a linha de conduta que erigi na vida: da constante exação no cumprimento dos meus Deveres.
Com a acuidade de sentir e observar as vibrações mais íntimas da alma generosa do povo espírito-santense, é que posso, neste instante, render a V. Excia. as homenagens mais sinceras de profunda gratidão pela obra magistral de Governo que realizou em nosso Estado, e pelos relevantes benefícios que ficamos todos devendo a V. Excia.
Durante doze anos dirigiu V. Excia. os destinos do povo capixaba, sob o olhar piedoso da Virgem da Penha, padroeira do Espírito Santo.
Que as bênçãos celestiais da nossa Protetora acompanhem sempre V. Excia. e toda a sua estremecida Família, pelos anos em fora, como o acompanharão sempre a gratidão e o respeito do povo do Espírito Santo.
[Transcrito do livro Discursos, de Jones dos Santos Neves, Imprensa Nacional, 1945.]
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