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Escola de Arte Fafi

Antigo Grupo Escolar Gomes Cardim, atual Escola de Arte FAFI. Acervo Arquivo Geral da Prefeitura de Vitória. Anos 1940.
Antigo Grupo Escolar Gomes Cardim, atual Escola de Arte FAFI.
Acervo Arquivo Geral da Prefeitura de Vitória. Anos 1940.

A construção do prédio, ocorrida entre 1925 e 1926, durante o governo de Florentino Avidos, coincide com a abertura da antiga avenida Capixaba, hoje Jerônimo Monteiro, tendo como finalidade abrigar o Grupo Escolar Gome Cardim, criado em 1908 e instalado precariamente na época.

Inaugurado a 25 de novembro de 1926, juntamente com os jardins do palácio e da praça Costa Pereira, Arquivo Público e Mercado, durante o VIII Congresso Brasileiro de Geografia e VIII Congresso Brasileiro de Esperanto, o prédio teve seu espaço ocupado por exposições de produtos agrícolas capixabas e de trabalhos de artistas plásticos, entre os quais Levino Fânzeres. A solenidade contou com a presença de Florentino Avidos, que abriu oficialmente as exposições, bem como de outras autoridades, de participantes do congressos e do público em geral.

Abrigando o Grupo Escolar entre 1927 e 1948, acolheu também o Ginásio Estadual de 1933 até a segunda metade da década de 50, quando deu lugar à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a Fafi, que no início da década de 70 foi transferida para o campus universitário. Sendo então de propriedade do governo federal, instalou-se no prédio, ainda na mesma década, órgão da Universidade Federal e serviço de identificação responsável pela expedição de cédulas de identidade.

Do final da década de 70 ao final da de 80 ficou abandonado, sofrendo uma lenta deterioração. No entanto, ainda em 1983 seu tombamento foi aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura, considerando sua vinculação à história e à cultura do Estado e suas características estilísticas.

Em meados dessa mesma década, quis o governo federal vender o prédio oferecendo-o ao seu antigo proprietário, o Estado. Contudo, a Prefeitura de Vitória acabou por efetivar a compra em 1987.

Passados dois anos, em janeiro de 1989, a Secretaria Municipal de Cultura e Esporte sugere a formação de uma comissão composta de elementos do setor cultural do município para elaboração de propostas relativas à preservação do prédio da Fafi, assim como ao perfil de sua nova função. A comissão foi formada e, em reuniões realizadas naquele mesmo mês, posicionou-se favoravelmente à restauração, definindo a nova instituição como uma escola livre de artes para a formação do público e de produtores nas diversas áreas culturais.

As propostas vieram a concretizar-se em 1991, quando da restauração do prédio, e em janeiro de 1992, com a inauguração da Escola de Arte Fafi.

Arquitetura

O prédio da Fafi, como podemos observar ainda em nossos dias, faz parte de um conjunto arquitetônico da segunda metade da década de 20. Nesse conjunto encontramos o prédio do almoxarifado dos extintos Serviços de Melhoramentos de Vitória, também situado à avenida Jerônimo Monteiro, atualmente em processo de restauração; prédios comerciais vizinhos e teatro Carlos Gomes.

Projetado por Joseph Pitlik, arquiteto tcheco estabelecido em Vitória, caracteriza-se como uma construção neoclássica típica do século XIX, localizada no encontro da avenida com a rua Barão de Monjardim, compreendendo dois pavimentos e porão, numa planta em “V” que acompanha o terreno triangular.

Na fachada principal, à avenida Jerônimo Monteiro, são evidentes os elementos neoclássicos: janelas de vergas em arco pleno e retas alternadas no pavimento térreo e no segundo pavimento, respectivamente, como nas outras fachadas; janelas e porta com bandeiras e de abrir à francesa (em duas folhas); corpo central destacado por quatro pilares adossados com capitéis jônicos, e por frontão triangular; nas laterais dois outros frontões também triangulares de menores dimensões; entablamento com arquitrave, friso denteado e cornija; telhado oculto por balaustrada (platibanda); revestimento em massa imitando cantaria.

Na pequena fachada que se forma na ponta, há sacada com guarda-corpo de balaústres e terminação com frontão curvo.

Na fachada da rua Barão de Monjardim, percebe-se uma simplificação em relação à principal, compreendendo dois frontões triangulares de dimensões idênticas entremeando uma platibanda cega.

Foto Leonardo Bicalho, 1994.
Foto Leonardo Bicalho, 1994. 

O interior também é marcado pela presença de elementos neoclássicos: vestíbulo com nichos; a escada de mármore que dá acesso ao segundo pavimento possui um corrimão livre, sendo dividida em dois lances por um patamar com guarda-corpos em ferro, assim como o corrimão, constituindo importante elemento decorativo; o piso de tábua corrida, presente em quase todas as dependências; pé-direito alto; presença de alpendres, decoração composta de frisos pintados e de estuque (massa com gesso) com motivos geométricos e fitomorfos estilizados e repetidos, sendo diferenciada apenas no auditório, onde aparece também a talha de madeira.

Em linhas gerais, constata-se a predominância da simetria, solidez e ausência de excessos decorativos, traduzindo sobriedade e racionalidade, especialmente no que se refere ao exterior.

Ao longo de sua história, o prédio da Fafi sofreu modificações. Além dos danos provocados pela ação do tempo, ocorridos principalmente durante o abandono, outros se deram pelo uso e pelas necessidades de adaptação do espaço às sucessivas ocupações. Como exemplo temos as repinturas, que nem sempre respeitaram as cores originais, e a construção de anexos.

A restauração realizada em 1991 buscou resgatar as características originais do prédio, sem, contudo, abdicar de algumas adaptações. Os anexos foram derrubados, deixando-se a área do pátio livre para o novo projeto, incluindo um anfiteatro e uma cantina.

Pintura restaurada. Foto Leonardo Bicalho, 1994.
Pintura restaurada. Foto Leonardo Bicalho, 1994. 

Nas pinturas externa e interna foram adotadas as cores de época. Feitos trabalhos de prospecção nas paredes internas, foram descobertas pinturas sob a forma de frisos decorativos. No vão da escada foram abertas janelas que tornaram visíveis as partes conservadas do friso, sendo reconstituídas as perdidas. Outras janelas desse tipo expõem parcialmente frisos localizados em outras dependências.

As madeiras que se achavam em bom estado foram tratadas e mantidas, sendo substituídas aquelas cuja recuperação não foi possível. A talha do auditório exigiu longo trabalho de restauração para remoção de pintura e reconstituição de partes perdidas.

Muitos dos ladrilhos hidráulicos que revestiam as áreas de circulação e banheiros não puderam ser recuperados, recorrendo-se à reprodução com base nos originais (fábrica em Cachoeiro de Itapemirim).

As adaptações incluíram: instalação de sistema de ar refrigerado e de iluminação que levaram ao rebaixamento do teto; reforma dos banheiros, conservando-se apenas o piso hidráulico original; e instalação de pias em algumas salas.

Mesmo restaurado o prédio exige atenção constante, com serviços de manutenção que garantam uma adequada conservação de suas instalações. No entanto, compreende-se hoje que a preservação de bens culturais não deve restringir-se à restauração e conservação física. A trajetória histórica, que justifica a conservação física do bem, é da mesma forma passível de desaparecimento e exige do poder público igual preocupação.

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Localização: Avenida Jerônimo Monteiro, 656, Centro, Vitória.
Tombamento: Conselho Estadual de Cultura, 12/3/1983, processo n. 08/82, inscrição no Livro Histórico n. 31, fl.04.

[SANTOS NEVES, Maria Clara Medeiros. Retrato da Fafi. In Revista Você, ano III, n. 25, agosto de 1994.]

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Maria Clara Medeiros Santos Neves, coordenadora do site ESTAÇÃO CAPIXABA, é museóloga formada pela Universidade do Rio de Janeiro e pós-graduada em Biblioteconomia pela UFMG, autora do projeto do Museu Vale e de diversas publicações. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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