Um dos problemas fundamentais do tráfego urbano da cidade é o da localização da estação rodoviária, já velho, de vinte e cinco anos.
Talvez, o signatário deste tópico tenha sido o primeiro a pensar em solvê-lo quando diretor do DER.
As gerações de 1950/55 devem se lembrar que de São Torquato para Vitória o cruzamento com a Estrada Vitória a Minas era de nível, em rampa e curva, três óbices condenados pela Engenharia de Tráfego.
Eram freqüentes os sustos e desastres nas horas de manobra dos trens de minérios.
Certo dia aconteceu que um trem de vagões vazios, com mais de quinhentos metros de comprimento, vindo de recuo, colheu um caminhão, arrastando-o e matando o motorista. A obstrução da passagem durou umas dez horas, e o engarrafamento teve mais de um quilômetro de extensão!
Buzinadas e palavrões se atropelaram pelo espaço.
A imprensa brindou o governo com todos os argumentos dos que tem barriga vazia.
O dirigente do DER foi o mais atingido. Estimulado pelo governador Santos Neves expus o problema. Só havia uma solução. Prolongar-se o alinhamento da Ponte Florentino Avidos (Cinco pontes), com passagem superior à Estrada de Ferro, desapropriar os mangues até o Rio Marinho e abrir nova pista.
Em dois meses os estudos e orçamentos estavam terminados.
Mas o problema não interessava somente ao DER. A Companhia Vale do Rio Doce participava da temática prioritariamente.
Graças à alta compreensão do general Juraci Magalhães, então presidente daquela empresa, dividimos o valor dos viadutos em concreto — Cr$5.000, dos velhíssimos — meio a meio e partimos para a solução.
Em dez meses solucionei o problema, só não pavimentei a pista. Era prematuro. O aterro se abateria fatalmente.
O incidente me fez pensar nos destinos a curto prazo, da evolução do tráfego em Vitória.
O DER construía a estrada Carlos Lindenberg e, por delegação do DNER, a Rio-Bahia e a Vitória-Belo Horizonte — trechos espírito-santenses.
Em poucos anos, o tráfego dentro de Vitória se tornaria caótico.
Como o DER tinha a precária verba de pouco mais de Cr$ 100.000.00, por ano, sobrava tempo para planejar. E planejei com realismo sem fantasia de governo rico. As estatísticas me forneceram elemento cruéis. Uma média diária de 40 caminhões de bois de madeira. A construção da ponte de Linhares progredia razoavelmente. O transporte de madeira e gado vindo do Norte, sem contar com os demais produtos iriam sacrificar o tráfego urbano.
Problema insolúvel. Então projetei a variante de contorno à ilha, de Campo Grande a Carapina, que aliviaria o tráfego imprevisível Norte-Sul. O DER não pôde construir esse ramal e não obteve verba específica da União, mas o projeto foi aprovado como indispensável, e quinze anos depois realizado.
Concomitantemente, a saída de Vitória para o Sul se fazia por Vila Velha, Jucu-Amarela.
Era um absurdo. O óbice único residia na desapropriação da faixa Jardim América ao trevo de Viana, já em franca valorização.
Em entendimento com o proprietário do loteamento da Fazenda Itacibá, falecido Expedito Garcia, homem inteligente e sagaz, fiz-lhe compreender que com a construção da BR-101 e 266 — Vitória/Rio/Belo Horizonte, o maior beneficiado seria ele mesmo. E fizemos um acordo de cavalheiros. A desapropriação, tanto da faixa para o Rio, como de ltaparica-Cariacica foi feito a preço simbólico.
O Governo assumia o compromisso de levar água e luz e asfaltar até os primeiros quilômetros apenas concluídos e nessas combinações o DER adquiriu uns duzentos metros de frente, beirando os vinte mil metros quadrados (atual área da Viação Itapemirim) com o fim de instalar os departamentos técnicos e possível Estação Rodoviária.
Depois do Governo Santos Neves, nuvens e furacões assolaram o Espírito Santo.
Hoje a Estação Rodoviária atingiu o máximo de intensidade de prejuízo ao tráfego interestadual e municipal.
É uma verdadeira calamidade pública subestimada pelos últimos governos, e, que engasga os ilustres executivos do Estado e da Capital. Querem solucionar o impasse. Pelo amor de Deus afastem Bento Ferreira como solução. O tráfego da Ilha está saturado. Como judiciosamente declarou o economista Arlindo Villascki Filho, construam-se três ou quatro pontes, só servirão para agravar o engarrafamento do tráfego urbano pelo aumento do número de veículos por minuto nas estreitas ruas de Vitória.
Só há dois pontos dignos da Estação Rodoviária: Campo Grande ou Carapina.
Eu prefiro este último já que foi escolhido como cidade industrial, tornando-se em breve ponto de concentração humana.
Dinheiro não é obstáculo: Vendam os boxes às empresas de viação.
[DERENZI, Luiz Serafim. Estação rodoviária. In A Gazeta, 18/02/1976. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]
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Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)