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Filofonia*

A palavra
“tara”
deveria ser tida
como mercadoria
rara, fina,
moeda e tanto
doada
pelos astros
para empregos
bem
mântricos:
não vocábulo
encabulado,
meio
tétrico, sinistro,
que nossa garganta
mal usa
enquanto barganha
entre suas
semicolcheias
e fusas.
“Tarado”
— quem sabe —
seria feito algo
em que ressoasse
o sagrado
não desafinado:
coisa
se não sânscrita,
perfeita,
talvez ainda greco
latina
ou
silen
ciosa
melodia
de pedra negra
de Meca
ouvida
em velhas e jovens
Medinas.
(Evidente
que ao terno
fêmeo-termo
“tarada”
aqui
se equipara
uma mesmíssima
toada
entre os dentes.)
Porém — meu bem —
que fazer
se a palavra
do prazer
não é curtida
deveras
com o prazer
da palavra?
Resta
com sacro fervor
confoder —
quer dizer, deixar
correr a festa,
es
correr.

*  Tara: mercadoria (árabe); estrela; moeda (sânscrito). Mantra: tara, estrela; fórmula encantatória (sânscrito). Sânscrito: língua perfeita (sânscrito). Medina = parte antiga das cidades (árabe).

Lino Machado é poeta e professor universitário. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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