Os Santos Neves vieram da Bahia para o vale do rio São Mateus, no Espírito Santo, em meados do século XIX. Há referências, por exemplo, a um João dos Santos Neves, diretor da Instrução Pública da Província, autor de alentado relatório, datado de 16 de maio de 1859, sobre a situação do ensino provincial. E Graciano dos Santos Neves, o autor da Doutrina do engrossamento (1901), foi membro da Junta Governativa, no período de 1891 a 1892, e presidente do Estado, de 1896 a 16 de setembro de 1897, data em que renunciou surpreendentemente.
São Mateus, em virtude de esmerada produção de farinha de mandioca nas fazendas em torno da cidade, exportada, por via marítima, para a Bahia e para a Corte, através de florescente porto fluvial, hoje com seu casario em ruínas, era o mais importante núcleo populacional do norte do Estado. Ali nasceu João dos Santos Neves (1870-1945), que se formaria em Medicina no Rio de Janeiro, na última década do século XIX, e se casaria, alguns anos depois, já conhecido como Dr. Jones, com a portuguesa Albina Gonçalves Morgado da Silva (1864-1952), emigrada para São Mateus adolescente.
Dos filhos que sobreviveram Jones era o terceiro, tendo nascido em 29 de dezembro de 1901, na localidade de Palmito, à beira da lagoa do mesmo nome, no município de São Mateus. O casal teve outros cinco filhos: Dulce, Beatriz, Inês, Guilherme e Jayme.
Jones formou-se em Farmácia no Rio e, de volta a Vitória, casou-se, em 1925, com Alda Hithchings Magalhães, tornando-se sócio da firma G. Roubach & Cia, juntamente com Arnaldo Magalhães, seu sogro, e Gastão Roubach. A firma mantinha a Farmácia e Drogaria Popular, instalada primeiramente na rua do Comércio, ao lado da Casa Verde, dando fundo para o mar e frente para o Palácio do Governo. No mesmo prédio, Dr. Jones, o pai, mantinha seu consultório aberto a ricos e pobres, gregos e troianos, sendo reputado um dos melhores clínicos de Vitória.
Nada parecia indicar, apesar de uma impulsiva mobilização, em 1932, ao lado das tropas getulistas enviadas contra os constitucionalistas de São Paulo, que a vida de Jones pudesse desviar-se dos padrões convencionais seguidos inicialmente como farmacêutico e pai de família. Essa mudança teve início em 1938, quando o interventor João Punaro Bley convidou-o para, juntamente com Mário Aristides Freire, fundar e dirigir o Banco de Crédito Agrícola do Espírito Santo, hoje Banestes. Tão bem se houve nessas funções que seu nome foi mais tarde encaminhado, junto com os de Mário Freire e Américo Monjardim (então prefeito de Vitória), à apreciação de Getúlio Vargas para escolha do sucessor do próprio Bley, que deixaria a interventoria, a fim de ocupar uma das diretorias da recém-criada Companhia Vale do Rio Doce. Getúlio, que não os conhecia a nenhum dos três, escolheu Jones, segundo teria explicado, por ser o mais jovem. Consta, porém, que a impetuosa participação de Jones na resistência contra a Revolução Constitucionalista é que teria inclinado a balança a seu favor.
De janeiro de 1943 a outubro de 1945 Jones desempenhou as funções de interventor federal no Espírito Santo, datando desse período a sólida amizade política e pessoal que cultivou com Getúlio Vargas, só interrompida com a morte trágica do presidente, em 24 de agosto de 1954.
Com a redemocratização do país, em 1945, Jones retomou seu trabalho no banco, onde chegou a ocupar a presidência, e filiou-se ao Partido Social Democrático do general Eurico Gaspar Dutra, representando, com Carlos Lindenberg, a mais forte liderança do partido no Estado. Sustentou acirrada luta política contra os interventores federais que governaram o Espírito Santo em 1946, Aristides Alexandre Campos e Moacir Ubirajara Moreira da Silva, e se entregou de corpo e alma às eleições gerais daquele ano, quando foi eleito senador, e Carlos Lindenberg governador do Estado.
Seu mandato no Senado Federal foi cumprido com muita seriedade e dedicação, tendo participado da Comissão de Finanças do órgão e trabalhado incansavelmente pelos interesses do Espírito Santo.
Nas eleições de 1950 foi eleito governador do Estado, realizando, em quatro anos, uma das mais produtivas administrações que o Espírito Santo já experimentou. De tudo cuidou, e pessoalmente o fez. Ficaram famosas suas cansativas visitas semanais ao canteiro de obras da represa de Rio Bonito. Criou outra Vitória, com os aterros da Esplanada e de Bento Ferreira. Construiu estradas (introduzindo o sistema de pavimentação asfáltica superficial) e pontes (de que as de Linhares – última obra inaugurada por Getúlio Vargas – e de São Mateus foram as mais importantes), abrindo acesso ao nordeste do país por via litorânea. Abriu escolas de todos os graus, inclusive sua sonhada Universidade do Espírito Santo.
A morte trágica de Getúlio Vargas (cujo monumento na praça do mesmo nome, na Esplanada da Capixaba, Jones inaugurou ainda em seu governo), a situação econômica difícil, a falta crônica de energia elétrica, que Jones buscava solucionar com a construção da Hidrelétrica de Rio Bonito, o desejo de mudança fizeram com que o candidato do PSD, Eurico de Aguiar Salles, perdesse a eleição para o ex-prefeito de Guaçuí, Francisco Lacerda de Aguiar, eleito, sob a égide de uma bandeira populista, por uma Coligação Democrática reunindo a maioria dos partidos de oposição.
Jones pretendeu retirar-se da vida pública e, mudando-se para o Rio de Janeiro, ali passou a dirigir o Banco Operador. Em 1962, porém, os apelos dos correligionários foram mais fortes, compelindo-o a candidatar-se ao governo do Estado contra o mesmo Lacerda de Aguiar que lhe sucedera em 1955.
Derrotado no pleito, desencantado com a política, exaurido pelos anos de árduo trabalho no Rio, Jones cumpriu a promessa feita em campanha e regressou a Vitória em 1963 para o que seriam seus últimos dez anos de vida. Passou a trabalhar, como diretor financeiro, na CIEC – Comércio e Indústria Engenharia Capichaba S/A, a firma dos filhos, e a residir na Praia da Costa, dedicando seu tempo livre à leitura (era leitor inveterado) e à pintura de quadros a óleo. Instado por um amigo a escrever suas memórias, respondeu, repetindo Érico Veríssimo: “Perdi o interesse pelo personagem.”
Morreu em 20 de dezembro de 1973, dias antes de completar 72 anos. Deixa uma obra imorredoura, tanto material quanto espiritual, de que esta correspondência selecionada dá a legítima dimensão humana.
Dentre suas diversas obras destacam-se discursos datados de 1943 a 1955 além de cartas e reminiscências.
Renato Pacheco, autor deste esboço biográfico, foi importante pesquisador da história e folclore capixabas, além de escritor, com vários livros publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)