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J.P.J., porteiro

57 anos, porteiro de edifício comercial do centro de Vitória, onde trabalha há 38 anos, morando em Cariacica. (11.2007)

– Carro eu tenho, mas ando de ônibus. Complicado é, mas aquele negócio… Vitória cresceu. Essa ponte é que é o problema, todo dia. Entope lá na rodoviária. Todo dia. E antes era pior, quando não tinha essa segunda ponte. Sempre foi ruim, então. Solução ali acho tão difícil. Só tem aquela via ali, não tem como desviar ali, e tem aquelas carretas do porto. De manhã é uma trapalhada, como é que vai tirar aquelas carretas ali do porto? Complicado. Tem gente que vai pra São Torquato, Capuaba, mas quem tem que vir pra cá, fazer o quê? E é preferível vir de ônibus do que de carro. Aquilo é muito usado. Existem as Kombis que eu acho válido, que sempre ajudam mais.

– Trabalho neste emprego que foi o meu primeiro, até hoje. Mudou muito. Tanto trabalhar aqui como morar aqui. O movimento era menor, mas era melhor. Neste prédio tem muito advogado, então o povo procura muito eles, é sempre igual aqui, lá fora mudou. Por exemplo, há quase 40 anos atrás o comércio chave de Vitória era a Vila Rubim. Agora é shopping, em tudo que é lugar, quebrou o comércio de Vitória.

– Violência tem, mas não é como os jornais e a televisão falam. É porque Vitória é muito pequena e aparece mais, mas não é negócio todo não. E a gente não vê polícia na rua. Eu trabalho domingo e é difícil ver uma viatura passando por aqui. O que cresce mesmo é gente dormindo na rua e muita droga. Agora tem muita droga. As mulheres ficam pedindo cinco reais à gente pra ir pro hotel tomar banho. Mulher da vida, né, aqui tem. Dá dó. E a polícia hoje é mais mole, prende menos. Dia de domingo aqui é deserto, você não vê nada. Só dá idoso. Não dá ninguém na rua. Deserto, deserto. Tudo é morto aqui. Tem gari, ah isso tem. Vitória é uma cidade muita limpinha e você vê muito gari, até no domingo. E tem gente que vai à missa de noitinha. Mas a reforma que fizeram no Parque Moscoso está uma beleza, muito bom, todo mundo frequenta, tem sempre uma festinha, uma seresta. Ótimo. Adoro Vitória. Pra passear, tirando o Parque Moscoso, tem o Horto, que ficou uma beleza com a reforma. É bom levar a família lá, passear ali é muito bom, tem aquela praça. Porque praia em Vitória tem não. Só Praia da Costa.

– Esse custo de vida é um negócio engraçado. A gente vê nas pesquisas, no rádio, a cesta básica eles dizem que tá cento e sessenta e pouco… Tá isso não. As coisas tão caras. A cesta é mais cara do que eles falam nas pesquisas. E eu prefiro comprar lá em Campo Grande. Em Vitória é mais caro.

– Quanto a precisar de hospital já precisei. Dei sorte. Fiz um tratamento no Hospital das Clínicas e fui bem atendido. Parecia até particular, o atendimento era bom. E tem gente que reclama, é fila, é mal atendido. Dei sorte mesmo. Mas o povo gosta também de inventar. O povo tá muito nervoso, aumenta muito, a imprensa não inventa, o povo que reclama.

– Estamos com muita gente desempregada por aqui, impressionante. É sempre fila, fila. Aí sim, emprego tá difícil, hospital não. O primeiro emprego tá difícil. Fico vendo esses jovens por aí suando pra conseguir um primeiro emprego. E segundo grau não tá valendo mais nada, tem que estudar mais. Ué, até pra varrer rua já estão exigindo segundo grau. Agora, o setor que os jovens mais procuram que acham que vão se dar bem é o estado, pra funcionário público, é o tal do concurso. Só pensam em concurso pro estado. Ninguém pensa nessas empresas. Os jovens do meu bairro falam muito em concurso pra polícia ou pro meio ambiente.

– A política é aquele negócio, todos falam sempre a mesma coisa. Aqui no prédio eles circulam muito, os políticos. Falando sinceramente, eu não acredito nesses caras não. Não faço fé neles. Quando estão lá, não fazem nada. Na época de eleição eles conversam com a gente, depois é uma dificuldade chegar neles, viram a cara.

– Tem racismo aqui em Vitória sim e não é só preconceito de raça, não. Contra os gays também. Sou negro e sei que isso não vai acabar. E eu acho que em Vitória tem mais branco do que negro, tenho certeza. Mas o capixaba de um modo geral é muito brincalhão, aberto, tem certa alegria.

– Pessoal aqui gosta mesmo de um arroz, feijão, farinha, também um peixe. O peixe de uns tempos pra cá tá caindo o preço. Eu gosto de peixe como todo mundo em Vitória.

– O esporte de Vitória é o futebol, não tanto quanto antigamente, mas ainda é o futebol, e em questão de festa, até, por incrível que pareça, em Vitória reina o carnaval. Pode até não ser como antigamente, como o futebol, mas o carnaval reina. Na década de 70 fizeram um tablado aqui no Parque Moscoso que se pulava sem parar todo dia. Hoje o pessoal fica mais passeando, as famílias ficam pra cima e pra baixo, parece que procurando, mas o carnaval ainda atrai. E vem gente de fora pra ver nosso carnaval, pessoal do interior. E outra festa grande é religiosa que é do Convento, a Festa da Penha, o pessoal de Vitória vai todo. Mas a igreja evangélica está crescendo. Eu mesmo sou evangélico, mas parece ter ainda mais católico.

– Quando eu penso em Vitória só penso no Centro da cidade, uma beleza. É o melhor lugar pra se viver. Foi um lugar que me acolheu muito bem. Sabe que me emociono quando tocam hino daqui?

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