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J.P.S., aposentado

60 anos, aposentado, natural de Cachoeiro de Itapemirim, reside há 40 anos em Vitória, na Praia de Santa  Helena.

– Gosto daqui, do clima, do povo e da paisagem. Está sendo bom morar aqui porque ainda encontramos pessoas conhecidas pelas ruas. Pode-se ir a vários locais a pé, temos praias por perto e bons botequins. Mas é ruim o trânsito: engenharia de trânsito é precária ou inexiste; as poucas ciclovias existentes não são interligadas e há a carência de transporte urbano adequado somando-se à falta de educação dos motoristas. Ruim é a falta de espaços culturais (cinema, teatro, museus, bibliotecas); e ruins são as edificações desordenadas, principalmente na região norte, porque há constantes modificações no  PDU e cobrança da taxa de marinha. Deveríamos retornar com o aquaviário; já existiu e agora está abandonado. Seria uma alternativa inteligente pra desafogar o trânsito. Acho que não há interesse político. Este negócio de fazer túnel é pra quem tem muito dinheiro. Vamos fazer as coisas com calma, antes deste investimento existem muitas outras prioridades pra população. A infra é péssima, o trânsito caótico, o transporte urbano deficiente, o aeroporto pior do que uma rodoviária, muito embora a nossa rodoviária seja muito boa.

– Quanto à limpeza urbana o povo é mal-educado, principalmente nos pontos de ônibus. Os locais ficam em péssimas condições – muito lixo.

– Quanto ao ensino público, vê-se muita propaganda na TV, tenho esperança de algum dia ver este quadro atual melhorar. Melhorar a qualidade do ensino não é só construir escolas, tem-se que aprimorar os professores, remunerá-los decentemente. Se o futuro está na educação, os governantes não estão preocupados com isso.  Estamos acostumados a copiar de outras cidades, sem nos preocuparmos com a nossa realidade. É muita improvisação. Se não forem adotadas medidas sérias, com investimentos agressivos em segurança, saúde, saneamento básico, educação e infra, isto aqui ficará um caos. Não vamos esperar que a coisa fique mais feia, pois o tempo esta passando e só ficamos no projeto. Como se dizia, “muita iniciativa e pouca acabativa”.

– O capixaba em geral é um povo aberto, possui influência com a proximidade do Rio de Janeiro e da Bahia. Adoram criticar o que é comum hoje em dia, principalmente nas grandes cidades, onde os problemas são muito parecidos, guardadas as devidas proporções. São bairristas sim, como nas demais regiões do Brasil. No meu convívio, o capixaba conhece bem sua história. No entanto, precisamos divulgá-la mais através de livros, palestras e utilização mais intensa dos meios de comunicação. O ato de Maria Ortiz, ajudando a expulsar os holandeses, jogando água fervente sobre eles, é um fato histórico popular por aqui.

– A mesa do capixaba médio é um misto da comida de várias regiões do Brasil. No dia-a-dia, arroz, feijão, carne e alguma verdura. A preferência é por pescado, afinal nosso litoral é bastante piscoso, mas os preços estão salgados. Onde já se viu o quilo do cação equivaler ao quilo do bacalhau?! Acho que pelo menos uma vez por semana o ilhéu deve comer peixe.

– O custo de vida local é comparado ao dos grandes centros. Restaurantes poderiam ser mais acessíveis, alguns preços são exagerados e os serviços deixam a desejar. Vestuário na Zona Norte é muito caro, algumas vezes proibitivo pela qualidade dos produtos ofertados. Lazer, se optar pela praia fica barato (só banho). Saúde e transporte igual aos grandes centros, caótico.

– Não tenho notado participação alguma do ilhéu na vida política, principalmente dos “nossos” representantes nas esferas municipal, estadual e federal, não há espaço e tudo é resolvido por baixo dos panos. O capixaba em geral não é conservador, mas encontramos pessoas que ainda preservam alguns costumes conservadores, principalmente os de idade avançada. Os estudantes, coitados, só vão às ruas reclamar do preço da passagem de ônibus. Caras pintadas nunca mais. Não vejo o ilhéu como exemplo de cidadania, também pudera, estamos anestesiados e perplexos. Existem atitudes, mas muito pontuais.

– Após a década de 70 observamos que a população se misturou com a originária das cidades do interior, devido à carência de ensino de qualidade naquelas cidades. O sotaque aqui é meio mineiro, meio baiano. Expressões típicas: enxovar, pocar, iá e ué.

– Meus espaços preferidos são: o Teatro Carlos Gomes, o Parque Moscoso, a Curva da Jurema, a orla de Camburi e o Triângulo das Bermudas. Prefiro a orla de Camburi, apesar de inacabada, e o Triângulo das Bermudas. O prato moqueca é a cara da cidade.

– Quase não vejo turistas na cidade. Somente no verão, assim mesmo quando solicitam alguma informação. O capixaba é gente boa e acolhedora. Turista por aqui vai à praia, visita o Convento da Penha e a fábrica da Garoto, acho que é só.

– Recado pra Vitória: seja madura nas decisões, não improvise tanto, seja sincera, respeite a opinião dos outros, discuta os problemas de forma democrática, não seja demagoga.

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