51 anos, funcionária púbica, natural de Vitória, mora em Santa Lúcia, trabalha na Praia do Suá. (01.12.2008)
– Gosto de Vitória. Estou prestes a me aposentar, mas não sairia daqui, eu acho a qualidade de vida aqui boa, pelo menos onde eu moro, é perto de tudo, mas o que atrapalha é a poluição. Eu nunca vi um negócio desses. Eu limpo a casa três vezes ao dia com o pano e sai aquele pano preto. E olha que está aumentando, sempre está aumentando. Os políticos falam que estão controlando, mas será que esses filtros estão funcionando? O termômetro está dentro de casa, você vê que está aumentando. Meu menino tem bronquite alérgica e eu atribuo à poluição, ao pó preto. Não fosse isso tudo estaria maravilhoso. E agora tem a Petrobras que está vindo. Assusta porque o trânsito de Vitória já está meio confuso. É uma ameaça. Agora em qualquer horário o trânsito está difícil; antigamente era só nos horários de pico. Agora os congestionamentos são constantes. O número de carros em Vitória aumentou bastante. Meu filho está com 17 anos e já estamos até pensando em comprar um carro pra ele. Aí aumenta tudo, né?
– Trabalhei um tempo no Centro da cidade e usei muito ônibus. Eu acho que tem condições de pegar o transporte coletivo, sim. Funciona bem. Eu não achei ruim não. Não é muito confortável e nos horários de pico está sempre cheio, mas é tudo normal. Eles falam muito de metrô de superfície, mas isso deve demorar muito. Que façam uma faixa de ônibus, elevados, túneis, mas demora muito. E aí não vejo muita perspectiva pra Vitória não. Eu gostaria quando aposentasse de ir pra Guarapari. Mas lá tá ruim também. Já virou uma cidade e agora é Grande Vitória, né? Fica difícil. Manguinhos, que era um lugar tranquilo, e até já tive casa lá, mas depois que fizeram aqueles acessos de bairros da Serra, ficou muito estranho. Tá impraticável lá em Manguinhos, a violência lá aumentou muito. Aqui em Vitória também tem muita violência. Eu já fui assaltada, no calçadão de Camburi, às seis da tarde, no verão. Fiz um escândalo e o homem fugiu. Mas a gente está sabendo que todo dia tem assalto por aqui.
– Eu vejo pouco turista por aqui, mas quando estava trabalhando na cidade via até alguns, mais em função dos navios que atracavam por lá. Não há uma estrutura de recepção pra esse pessoal. Há pouca indicação nas ruas, não vejo guias levando o pessoal pro museu, pro Carlos Gomes, pra conhecerem nossos bens culturais; eles sempre estão sozinhos nas ruas. Também não noto muita ação de revitalização no Centro. Pintam às vezes algumas casas, mas nada demais. Eu acho Vitória muito bonita. A vista da Terceira Ponte, tanto pra Praia do Canto como pra entrada do porto, é maravilhosa. A baía com o Penedo é um espetáculo. E a orla também, na Praia do Canto, as praças. Mas as praias estão sujas. Quem tem coragem de tomar banho em Camburi, na Curva da Jurema? Eu não tomo. Mesmo assim vejo um pessoal sempre indo pra praia, mas não confio muito não, mas a frequência não é lá grande coisa, apesar de não me considerar melhor do que ninguém. Mas já não há tanta tranquilidade assim pra você ficar na praia relaxada.
– Muita gente reclama que o capixaba é muito fechado. O novato sempre fica meio isolado, até tomarem confiança. Ele é desconfiado. Mas depois que conhece melhor, aí se abre mais. O visitante sempre fica deslocado. Capixaba hoje fica mais em casa, está mais doméstico. Ele sai muito pra barzinho, pra comer caranguejo, peixe, bater papo. Só isso. Já ficou mais na rua, nas praças. A violência está prendendo o pessoal mais em casa.
– O que tenho notado que não está funcionando muito aqui é o esquema de escola básica e creche. Fico impressionada como as filas têm aumentado pra que as mães inscrevam seus filhos nas escolas ou mesmo pra achar uma vaga nas creches. Estamos deficientes nesse aspecto. Quanto à saúde no município tenho notado que o atendimento melhorou muito, muito mesmo. É o que a gente observa em relação às filas. Se tiver fila é porque não está funcionando. Você vê movimento nos postos de saúde, mas não vê fila, já nas escolas e creches é o contrário.
– A cidade é bonita, limpa, e as calçadas têm melhorado com esse projeto Calçada Cidadã. Há uma mudança de aspecto. Mas o custo de vida está assustando. De uns três anos pra cá tudo está mais caro. E o nosso salário em média não e essas coisas, comparando com outros centros. A comida é que está salgada, o item que mais subiu. Você tem de comer todo dia. Já se vestir não, compra se estiver precisando mesmo. Mas comer está ficando caro. E o que está preocupando hoje é a falta de estrutura pra aguentar esse crescimento que estamos vendo, está tudo muito rápido. Deveria haver mais planejamento. A cidade hoje está merecendo nota 6.
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