Dos prazeres aos lamentos
O que Vitória tem de positivo ou de atraente? Primeiro, é uma ilha, dizem, de apenas 81 quilômetros quadrados de extensão. Portanto, tudo é muito próximo. Até uns anos atrás, de rápido acesso de um ponto a outro da cidade. Da Praia do Canto ao Centro gastava-se em média de 10 a 15 minutos. Agora, mais do que o dobro. Mesmo assim é adorável seguir pela Beira-Mar em direção ao Porto de Vitória e “sentir” a baía como uma segunda “avenida” exclusiva de navios. Sem falar no Penedo que marca sua imponente presença.
Na Praia do Canto, o melhor é caminhar em direção à Ilha do Frade, deixando o vento bater à vontade. Com sol, aproveita-se para tomar um banho de mar. Ou descansar à sombra que margeia os dois laguinhos habitados por patos, marrecos, galos e algumas elegantes e belas garças.
Porém, o bom mesmo é descobrir outros cantos pouco explorados. Destaque para os costões da margem esquerda, após a descida da ponte (da Ilha do Frade). Exige coragem em se tratando de urbanoide, porque há trilhas (na matinha) para se chegar aos rochedos e ao mar. Mas ao explorar as primeiras formações rochosas, descobrem-se até “poltronas” naturais, algumas com espaldar mais alto. Sensacionais, confortáveis e esculpidas pela natureza. Faz bem para a alma estar num local quase primitivo, mas tão próximo do centro urbano.
Observa-se a Praia do Canto e seus paredões de edifícios, a Curva da Jurema e, na outra extremidade, o Iate Clube, num outro ângulo. Mirando o mar, acompanha-se o movimento silencioso das tartarugas. Saindo do primeiro rochedo, à direita, encontra-se uma escada que leva a uma simpática enseadinha. Vale fazer essa travessia (com direito a refrescos de mar nos pés) para desbravar outro rochedo, que também leva à outra prainha.
O Parque da Fonte Grande é outro atrativo para grupos, com trilhas nas matinhas, com certa infraestrutura. O visual é dos mais belos lá de cima. Para os mais urbanos, o centro histórico – na Cidade Alta – vale uma caminhada. O que não vale é esquecer que lá está a Capela de Santa Luzia.
Vida noturna? Basicamente, bares, restaurantes e boates para quem gosta. Vida cultural? Tem melhorado, mas ainda não o suficiente. Os concertos de música erudita chamam a atenção não só pela recorrência como pela plateia numerosa. Muitas vezes os ingressos se esgotam rapidamente.
Pontos negativos? O trânsito e a (in)segurança pública têm emperrado a vida de muitos. A cidade não comporta a quantidade de carros e o transporte coletivo tem sido alvo de reclamações. A sensação de insegurança faz com que muita gente evite sair, principalmente à noite.
Outro ponto negativo: a poluição do ar, do mar e sonoro. Um lamento. No verão, “o som” desestimula os mergulhos nas praias. Ainda há pessoas que equipam seus carros com altos decibéis para concorrer com “colegas” que também marcam presença com trilhas sonoras de baixíssima qualidade.
A atenção aos idosos pode até ter melhorado um pouco (maquiada com equipamentos de exercícios físicos em espaços públicos), mas é preciso humanizar mais o trânsito, incluindo o prolongamento do tempo dos sinais para pedestres.
Do ponto de vista urbano, Vitória não escapou da chamada verticalização e da explosão e exploração imobiliária. Os paredões de edifícios estão por todos os lados. Foi-se o tempo em que o mar batia na calçada das casas.
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