Nascido a 20 de agosto de 1791 no Rio de Janeiro, onde cursou as aulas do seminário de S. Joaquim com o intuito de ser padre, faleceu a 16 de agosto de 1873 na província do Espírito Santo, onde foi membro e secretário da junta provisória, antes de serem as províncias administradas por presidentes nomeados pelo governo geral. Foi professor de latim, inspetor da tesouraria, deputado provincial e ocupou ainda cargos, quer de eleição popular, quer de confiança do governo, desde 1811. Prestou importantes serviços à causa da independência, já correspondendo-se com os mais decididos patriotas do Rio de Janeiro, já se esforçando para que com toda calma se prestasse o juramento à mesma constituição, quando os ânimos se achavam na província exaltados e a tropa insubordinada. Obteve provisão para exercer a advocacia, em que representou brilhante papel, aplicando-se ao estudo da jurisprudência pátria, assim como à lingüística e às letras amenas, e escreveu várias obras, tanto originais como traduzidas do latim, do francês, do espanhol e do italiano, umas já publicadas e outras inéditas, mas conservadas por sua família. Era oficial da ordem da Rosa e cavaleiro da de Cristo. Suas obras são:
– Memória sobre o restabelecimento da província do Espírito Santo, oferecida ao dr. João Fortunato Ramos, deputado às cortes de Portugal, Bahia, 1821.
– Regulamento e código do processo criminal e policial. Rio de Janeiro, 1843.
– Exemplário de libelos, extraído do de Caminha. Rio de Janeiro, 1843 — Foi publicado junto à Doutrina das ações de Correia Teles, em apêndice.
– Digesto brasileiro ou extrato e comentário das ordenações e leis extravagantes, etc. Rio de Janeiro, 1845, 3 tomos 196, 197 e 174 pags. in-4o — Houve segunda edição, correta e acrescentada, em 1854; terceira com as ordenações e leis posteriores até o presente em 1866, todas em três tomos e no Rio de Janeiro. Na primeira o autor ocultou seu nome, declarando ser obra póstuma de um antigo desembargador do Porto, emigrado no Brasil, e por isso julgou-se o livro da lavra do desembargador Venâncio Bernardo de Uchoa, que depois de ter sido deputado às cortes emigrou para o Brasil e aqui morreu. Nas edições que se seguiram foi que declarou-se o autor.
– Código das leis e regulamentos orfanológicos ou extrato e comentários das ordenações, leis, decretos, alvarás, avisos, regulamentos que dirigem o juízo dos órfãos e ausentes sobre sucessões, heranças, doações, inventários, tutorias, etc.; tudo em conformidade das reformas que se acabam de legislar. Obra necessária a todas as famílias e a todos aqueles que têm de pedir a juízo os seus direitos hereditários. Rio de Janeiro, 1847, 168 págs. in-4o — Houve outras edições: a terceira é de 1870, 274 págs. in-8o; a Quarta, melhorada, aumentada e de acordo com a legislação vigente pelo Dr. Manoel Godofredo de Alencastro Autran, é de 1884.
– Repertório das leis, regulamentos e ordens da fazenda para servir de guia a todos os administradores, tesoureiros, coletores, juízes, empregados e oficiais de fazenda e a todas as pessoas que têm de receber ou contribuir ou agenciar negócios pelas repartições da fazenda nacional. Rio de Janeiro, 1853, 333 págs. in-4o.
– Complemento do Repertório das leis de fazenda, seus regulamentos e ordens, relativos aos ministérios da fazenda, guerra e marinha pelos anos de 1852 a 1860. Obra necessária a todos os empregados em repartições públicas, etc. Rio de Janeiro, 1861, 188 págs. in-4o.
– Guia do processo policial e criminal, novamente organizado pelo código, regulamento e reformas com todos os decretos, instruções e avisos que se têm publicado até o presente, etc. Rio de Janeiro, 1859, 376 págs. in-8o.
– Compêndio de ortografia, extraído de vários autores para facilitar à mocidade o estudo desta parte da gramática. Rio de Janeiro, 1826, 57 págs. in-8o.
– Compêndio ou arte de agricultura. Rio de Janeiro, 1834, in-8o. — Foi em parte publicado no Auxiliador da Indústria Nacional.
– Selecta latini sermonis exemplaria et scriptoribus probatissimis ad christiane juventutis usum olim collecta. Tradução portuguesa. Rio de Janeiro, 1843, 328 págs. in-8o.
– Silabário para ensinar a ler a língua portuguesa. Rio de Janeiro, 1848, 24 págs. in-8o.
– Compêndio de gramática portuguesa para uso das escolas primárias, escrito em 1848 por ordem do Ilm. e Exm. sr. dr. Luís Pedreira do Couto Ferraz, presidente da província do Espírito Santo. Rio de Janeiro, 1851, 54 págs. in-8o.
– Princípios de aritmética mercantil para se ensinarem nas escolas primárias. Rio de Janeiro, 1860, 93 págs. in-8o.
– Regulamento interno das escolas primárias — Foi publicado no Correio da Vitória, 1849.
– Orlando furioso: poema heróico de Ariosto, em que se continua o Orlando amoroso e a história do príncipe Rogério; traduzido do italiano. Rio de Janeiro, 1833, 4 vols. in-8o — a tradução é em prosa.
– Um roubo na Pavuna: romance histórico. Rio de Janeiro, 1843, in-8o.
– O capitão Silvestre e frei Veloso ou a plantação do café no Rio de Janeiro: romance brasileiro. Rio de Janeiro, 1847, 58 págs. in-16o — Saiu também na folhinha de Laemmert, 1848.
– A baixa de Matias, ordenança do Conde dos Arcos, vice-rei do Rio de Janeiro: romance histórico-jurídico. Rio de Janeiro, 1858, 63 págs. in 16o — Saiu também na mesma folhinha.
– Compêndio da história de Portugal; traduzido de Stella e Santeuil — Inédito. Estava pronto a entrar no prelo quando faleceu o tradutor.
– Odes de Anacreonte, vertidas em português, seguidas da tradução francesa de Lafosse — Inédito.
– Apologético de Tertuliano, traduzido — Idem.
– Episódios da Ilíada, vertidos conforme a tradução italiana de Cesarotti — Idem.
[Transcrito do Dicionário bibliográfico brasileiro, de Augusto Vitorino Alves Sacramento Blake, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1899, quinto volume, p. 465-7. Consultada a edição fac-similada do Conselho Federal de Cultura, Rio de Janeiro, 1970.]