Puxado a ferros
dei meu berro de nascido
sob o azul
de uma certa nação
do hemisfério
que está ao sul
embora
vezes e vezes
tenha a visão de que não.
Nasci assim
sem erro senão
o de um quase eterno
e sempre interno
desterro.
Sem ser por certo
cem
por cento brasileiro
nem poder ter
a mais leve noção
de estar chegando
entre várias finezas
ao 57 preciso
das tais Cem Flores
chinesas [ * ]
(que então colhidas
nunca
embelezaram
as suas mesas)
nasci num berço
do mês de março.
Cresci,
porém
(e bem não sei
se isso foi mau),
mais um Lino
apolíneo
do que propriamente
um Machado
marcial.
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Puxado portanto
(ou melhor
de
caído)
de um bom ventre
silente
até o berço
onde cada vez mais
bateram
ruídos
dei meu berro de nascente
como quem
já começa
percebendo o mundo
feito
uma grande peça
de ponta-cabeça:
in
(não
exata
mente
di)
ver
tido.
[ * ] Cem Flores: movimento de — digamos, com certa liberdade — liberdade de expressão deflagrado por Mao Tse Tung em 1957. Na ocasião, ele proclamou: “Que desabrochem cem flores e rivalizem cem escolas de pensamento” (O livro vermelho). E algo assim aconteceu. Questionou-se, a partir daí, o próprio Partido Comunista Chinês, por algum tempo. Mao e a cúpula do PCC, então, “amarelaram”, frente às dimensões do evento. Resultado: vários intelectuais que exerceram a crítica “viram a coisa preta”, de um modo ou de outro.
[publicado originalmente no site em 2004]
Lino Machado é poeta e professor universitário. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)