O projeto A cidade pontual: Retrato de Vitória, ES, no início do terceiro milênio tem por objetivo a realização de uma pesquisa por meio de entrevistas com cerca de 100 pessoas ligadas à cidade de Vitória, ES, por Domicílio e/ou por atividade profissional. Dessas entrevistas pretende-se extrair um depoimento coletivo sobre a relação das pessoas com a cidade de Vitória, elaborar um estudo sociológico desse depoimento e, a partir desse material, publicar, com recursos de outras fontes, o livro com o mesmo título do projeto.
A memória (tanto de indivíduos como de grupos sociais como de comunidades) representa um bem cultural. Um bem em princípio imaterial, passível de se perder para sempre com a morte de seus, por assim dizer, depositários.
Diferentemente, porém, dos projetos usuais de preservação da memória, este projeto não lida com a memória do passado (recuperável mediante o registro de depoimentos pessoais a respeito de acontecimentos, situações e costumes de décadas atrás) mas sim com o que poderíamos chamar de “memória do presente”. Isso porque o que se pretende é ouvir o que têm as pessoas que estão na cidade (como moradores e/ou profissionais) a dizer sobre sua relação com a cidade hoje, entendida essa relação no sentido de vivência na cidade e de convivência com os demais usuários desse espaço urbano bem como no sentido de experiência estética, cultural e profissional possibilitada pela cidade.
Assim, em outras palavras, não é o olhar para trás, muitas vezes romantizado, que queremos acionar, mas sim o olhar em volta, o olhar aberto e pontual, o olhar que vê as coisas como elas são hoje e não como foram ou eram anos atrás. É o olhar para fora que nos interessa, para a cidade viva e sólida como um todo, e não para dentro, para a cidade mítica e (para usar o termo de Italo Calvino) invisível que se guarda na memória. É, enfim, o olhar em ponto, o olhar em vigor, o olhar em curso, que se pretende sirva de fundamento ao presente projeto.
Em ainda outras palavras, mais diretas, pretende-se fazer com Vitória o que Fausto Wolff fez com o Rio de Janeiro há quase quinze anos atrás, com a experiência que resultou na publicação do livro “Rio de Janeiro: um retrato (a cidade contada por seus habitantes)”, lançado em parceria entre a Rioarte e a Fundação Rio em 1990. E, como não há nada de novo sob o sol, diga-se de passagem, como de passagem o disse o próprio Fausto Wolff, que ele mesmo se inspirou na estratégia usada pelo jornalista Studs Terkel para produzir o livro “Division Street: America”, o qual andou durante dois anos pelas ruas de Chicago colhendo, com um gravador, depoimentos dos transeuntes sobre a cidade.
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