Há que considerar com cautela o padre Domingos Caldas Barbosa como autor do Poema mariano (ver, na Fortuna Crítica, o artigo de Oscar Gama Filho a respeito da controvérsia em torno da autoria do Poema). Se o Domingos Caldas a quem é tradicionalmente atribuída a autoria desse poema é o mesmo padre Domingos Caldas Barbosa, poeta arcádico, eis as informações biográficas a ele relativas constantes no Dicionário Bibliográfico Brasileiro, de Sacramento Blake:
“Filho de um português e de uma africana, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, segundo informam parentes seus e o cônego J. da Cunha Barbosa, ou a bordo de um navio em viagem para o Rio de Janeiro, onde foi solenemente batizado em 1738, segundo o Visconde de Porto-Seguro e outros; ou na Bahia, como diz o autor dos Varões Ilustres do Brasil e o padre Inácio Félix de Alvarenga Sales por ‘lhe afirmarem pessoas de grande crédito’, e faleceu em Lisboa a 9 de novembro de 1800. Estudava no colégio dos jesuítas daquela cidade, primando entre os primeiros por sua bela inteligência; mas, de gênio excessivamente satírico, a ninguém poupando como o célebre Gregório de Matos, criou por isso poderosos inimigos que alcançaram do Conde de Bobadela ser ele preso, alistado no exército e enviado para a colônia do Sacramento, onde militou até ser tomada a praça pelos espanhóis em 1762. De volta então do Rio de Janeiro, obtendo sua baixa, foi para Portugal e, merecendo por suas maneiras sempre afáveis e atraentes a amizade e proteção do doutor José de Vasconcelos e Souza, regedor das justiças e mais tarde Conde de Pombeiro e Marquês de Belas, obteve deste, não só os meios de continuar seus estudos até ser presbítero secular, mas também um benefício e um lugar na casa da suplicação. Nem se limitaram a isso os favores do Conde; apresentou-o e relacionou-o com toda a nobreza; deu-lhe cama e mesa, quer nos seus aposentos de Bemposta, onde com sua esposa o tratava como pessoa da família, quer no palácio de seu irmão, o Marquês de Castelo-Melhor. No palácio de tão leal e desinteressado amigo morava e faleceu Caldas Barbosa, que foi sempre grato a tão generoso benfeitor. Esta posição lisonjeira, porém, atraíra-lhe a inveja e as iras de Bocage, antes disso seu amigo e cuja vida é por demais conhecida, e do célebre cantor dos burros, mais tarde seu elogiador, José Agostinho de Macedo, o ‘frade renegado que era completamente incapaz de qualquer sentimento nobre’ como disse Pinheiro Chagas, e que foi declarado ‘incorrigível, mandando-se-lhe cuspir no hábito em presença da comunidade’ por sentença do definitório provincial dos eremitas calçados de Santo Agostinho — de cuja ordem era a vergonha, o opróbrio — datada de 4 de fevereiro de 1792, impressa no Constitucional número do mesmo ano, e reproduzida no Dicionário de Inocêncio da Silva, tomo 7o, pag. 239. E esses dous homens o cobriam de insultos e apodos, prevalecendo-se para isto até da cor parda do conspícuo brasileiro, de quem entretanto com merecidos elogios se ocuparam vultos os mais elevados por sua ilustração e probidade. O padre Caldas Barbosa foi da Arcádia de Roma com o nome de Lereno Selinuntino; fundador e presidente da academia de belas-artes de Lisboa, mais tarde denominada Nova arcádia; poeta e notabilíssimo repentista.” [Sacramento Blake, Dicionário Bibliográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1893, reeditado em fac-simile em 1970 pelo Conselho Federal de Cultura, 2o. volume, p. 198-203.]
Sacramento Blake relaciona dentre as obras de Domingos Caldas Barbosa o “Poema mariano ou narração dos mais espantosos e extraordinários milagres de N. Senhora da Penha, venerada na província do Espírito Santo e em todas as partes do Brasil, por Domingos Caldas, natural da Bahia, dada à luz por Inácio Félix de Alvarenga Sales, padre-mestre jubilado, etc. Vitória, 1854 — Teve segunda edição no livro As maravilhas da Penha ou lendas e histórias da Santa e do virtuoso frei Pedro de Palácios pelo major J. J. Gomes da Silva Neto, de pags. 184 a 221. Compõe-se de 76 oitavas [na verdade 126] em verso heróico e foi escrito em 1770.”
A obra mais conhecida de Domingos Caldas Barbosa é A viola de Lereno, uma coleção de suas cantigas. Segundo Sacramento Blake, o primeiro tomo foi editado em Lisboa em 1798, com segunda edição em 1806, também em Lisboa, terceira em 1813, na Bahia, e quarta de novo em Lisboa em 1819. O segundo tomo foi publicado em Lisboa em 1826.
O Poema mariano teve outra edição em 1934, prefaciada e anotada pelo padre Ponciano dos Santos Stenzel, com o título Poema mariano sobre a Penha do Espírito Santo.