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O sobressimbolismo: linhas sobre a superfície

Qual música ecoa de linhas sobre a superfície? Não de linhas complexas: — linhas simples, como as das letras.

Que quadro compõem estas linhas desunidas, que apenas se tocam nos seus vértices? Pontos em que se interseccionam, mas não se penetram.

Toda escrita é formada de linhas sobre a superfície. As linhas podem ser cordas suspensas, como a língua inca. Ou gravadas na areia da praia.

Quem se dedica a descobrir o ritmo e a musicalidade dessas linhas sobre a superfície é. Música sem harmonia nem arranjos além da escansão greco-latina ocidental.

Quem se dedica a transformar letras em tintas espalhadas na tela branca da página e a compor cenas em quadros sem perspectiva, mas dotadas de plasticidade é.

É sobressimbolista.

Características do Sobressimbolismo



Carlos Nejar é o autor clássico, no sentido de ser estudado em classes de aula. O único 100% sobressimbolista.

Leitmotiv: Toda escrita envolve linhas sobre uma superfície.

Presente em artistas contemporâneos em que o hibridismo dos gêneros fez com que se tornassem posteriores a fronteiras.

Insatisfação com o cientificismo, com o neoliberalismo e com a destruição dos valores humanos e culturais pela globalização.

Emprego do Método do Raciocínio Obsessivo, que leva a técnica a explorar os mínimos detalhes dos caminhos estéticos que se bifurcam até o exagero inumerável de cada possibilidade. Melhor dizendo: leva tudo ao exagero dos mínimos detalhes de cada caminho estético possível.

Interesse pelo aspecto plástico, visual e musical da literatura. Sem abandonar a letra e a palavra.

Criação da literatura abstrata, não figurativa, sem compromisso com a mensagem, em que o ritmo e as imagens falam por si sós, com uma musicalidade que não chega à música e uma plasticidade que não chega às artes plásticas.

Psicologismo: foco na visão do indivíduo, no mundo interior do artista ou no dos seus personagens.

Interesse por símbolos, em que o sentido deve ser descoberto, não revelado de pronto.

Metáforas, aliterações, assonâncias, paronomásias, comparações, rimas internas, coliterações, antíteses — não barrocas, mas sobressimbolistas.

Culto da forma, chegando ao hermetismo.

Hibridismo dos gêneros e das artes. As fronteiras entre gêneros e artes são anuladas: qualquer coisa é a mesma coisa. Romance = poema = conto = novela = teatro = música = artes plásticas.

Paixão pelo mistério, pela noite, pela morte e por entretons como o pôr do sol.

A liberdade só é possível no sonho, na imaginação e na fantasia.

Temperamento pessimista e crítico.

Misticismo agnóstico: volta ao espiritualismo cristão medieval.

Preocupação com o cultural, não com o natural.

Subjetividade contra a sociedade objetiva.

Preocupação com o inconsciente e com o psicológico.

Nefelibatas reclusos, andam nas nuvens e vivem em torres de cristal.

Na narrativa, o enredo e ação ficam em segundo plano. Contar uma história é importante, mas a forma é muito mais: formalismo.

Afastamento e crítica da sociedade burguesa.

Idealismo — arte pura — crença nos espíritos da razão e da narrativa — platonismo.

Tom literário, mesmo na prosa, não o coloquial.

Temas elevados ou elevação de temas vulgares até a altura em que se acha o estético.

Arte pela arte, sem interesse comercial.

Técnica típica do sobressimbolismo: a obra desmontável.

Clique aqui para ler a matéria publicada no Caderno Pensar, de A Gazeta.

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Oscar Gama Filho é psicólogo, poeta e crítico literário com diversas obras publicadas.(Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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