Entrevistado: Fernando Achiamé
Entrevistador: Vanessa Brasiliense
Vitória, 03/01/2012.
Local e data de nascimento: Colatina, ES, 22 de fevereiro de 1950.
Profissão: Historiador.
Profº Achiamé, a nossa entrevista será em torno de Olympio Brasiliense.
VB: O senhor conheceu Olympio Brasiliense?
FA: Não, Vanessa. Pessoalmente eu não o conheci. Mas em 1982 eu fiz um concurso público para professor da UFES na área de Teoria e História da Arquitetura. Como o curso de arquitetura estava novo, fui logo nomeado e passei a lecionar disciplinas ligadas à Teoria e História da Arquitetura, e Estética, ficando lá de 82 a 97. E neste contato eu era o único com formação em História, tinha alguns engenheiros e professores e a maioria arquitetos e nessa época eu ouvi falar nessa figura, nesse profissional, que marcou, sem dúvida, a paisagem arquitetônica construtiva e até mesmo urbanística de Vitória durante um período. Cheguei a ter notícias de trabalhos que hoje em dia se chama de TCC Trabalho de Conclusão de Curso. Na época, era monografia final, projeto final de alunos que se interessaram por estudar a obra de Olympio Brasiliense, como também de um outro chamado Joel da Escócia, que morava na Praia do Canto. Com a obra de Olympio Brasiliense tive contatos esparsos, nessa época. Tempos depois esse contato foi ampliando quando você, Vanessa, organizou uma belíssima exposição, na Aliança Francesa, juntamente com Maria Clara Medeiros Santos Neves.
O importante é que valorizemos esse profissional. Na época eram poucos os arquitetos e a maioria formada no Rio e em Belo Horizonte. Após formados vinham para cá trabalhar na formação de profissionais em arquitetura.
Eu, enquanto professor na época, notava que os alunos do curso de arquitetura da UFES não esqueceram aqueles antigos profissionais, que mesmo não sendo arquitetos de formação, valorizaram os projetos da arquitetura. Isso é que me chamou atenção: de valorizar aquele antigo profissional, no caso Olympio Brasiliense. Se não me engano, ele era formado em engenharia, não é verdade? Com a criação do CRA, Conselho Regional de Arquitetura, em 2011, houve a separação do CREA, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, uma vez que antes era tudo junto. Mas agora a arquitetura separou. Mas desde os 30 e poucos, que eram juntos e a gente vê um entrosamento, apesar de que havia uma certa rivalidade, isso é até normal. Aqui no Espírito Santo, pode-se citar o engenheiro Gracelli, que apesar de não ter formação acadêmica em arquitetura, fez belíssimos prédios e casas. Como Gracelli, tivemos outros arquitetos nessa mesma situação, porém, renomados na criação de projetos e obras estruturais. No entanto, mais importante que isso é valorizar o profissional, que é feito dele mesmo e de suas circunstâncias. A exemplo disso, cita-se Olympio Brasiliense, que, para o Estado, foi um profissional requisitado pela sua competência. Veio para trabalhar e projetou o Quartel da Polícia Militar. Na época, esse trabalho era encomendado pelo serviço público estadual, apesar das limitações. Acredito que coube, também, a Olympio Brasiliense o projeto do Hospital de Maruípe e Getúlio Vargas, que antes era um patronato e hoje é o Hospital Universitário.
Enfim, Olympio Brasiliense foi pioneiro na arquitetura do Espírito Santo, não só no projeto, mas também na questão estrutural da obra. Na época ele já projetava construções mais arrojadas, fugindo das construções coloniais de pedra e cal, de madeira antiga, dos sobrados, enfim. E, dominando a nova técnica, Olympio Brasiliense, em sua engenharia, vai adequá-la a uma linguagem mais eclética, visando não só o projeto como também à obra pronta, funcionando bem e em pé.
E com uma linguagem da época esse arquiteto lidera projetos. Com construção no estilo art déco, bem dos anos 20, 30… deu-se início ao Quartel da Polícia Militar, com aquele estilo despojado e revestido em pó de pedra. Era no período da II Guerra Mundial a construção desse quartel, que logo depois de pronto o Exército o requisitou para ser ali a sede do Comando da Artilharia de Costa. Isso contrariou a Polícia Militar, que teve que voltar para o seu antigo quartel no Parque Moscoso, onde ficou por um tempo até o término da guerra. Após a desocupação voltaram ao seu local devido.
VB: O senhor falou de trabalhos na UFES que mencionaram Olympio Brasiliense. O senhor lembra que trabalhos foram esses?
FA: Olha, eu não tenho uma lembrança precisa. Mas um desses trabalhos eu tenho certeza de que foi um projeto de graduação. Muitas vezes os alunos os faziam em dupla ou em grupo de três, alguns individuais. São trabalhos que, obrigatoriamente, Vanessa, estão depositados na Biblioteca do Centro de Artes ou, melhor ainda, no NAU, que é o Núcleo de Arquitetura e Urbanismo. Os alunos foram à Prefeitura, fizeram levantamento dos projetos e assim conheceram a obra, que não se restringiu apenas a prédios públicos. Também, Olympio Brasiliense atuou na área particular, fazendo muitos projetos de casas na época: Praia Comprida, Praia do Canto, no Centro da cidade. Enfim, era uma pessoa dotada de muita sensibilidade. A noção que tenho é que Olympio Brasiliense fez projetos tanto na área governamental, como na particular. Penso que ele trabalhou até fora de Vitória.
Ele era uma pessoa requisitada, um profissional reconhecido. Havia também outros profissionais, como Moacyr Fraga, um arquiteto bem velhinho, formado no Rio. Eu me lembro das páginas semanais, aos domingos, num encarte de A Gazeta, um caderno ligado a coisas de cultura. Isso nos anos 60 mais ou menos, eu garoto ainda, já começava a ler jornal […] e esse Moacyr Fraga, se não me engano, era um arquiteto, mas era teórico que divagava, fazia elucubrações, tendo seu mérito, sem dúvida, porém, como projetista. Olympio Brasiliense, não, ele era notável, pois “botava a mão na massa”, que ele fazia e o cliente ficava satisfeito com isso, porque ele o atendia bem, fosse esse cliente um particular, fazendo sua casinha de veraneio aqui na Praia do Canto, ou a sua casa maior, no centro da cidade, ou o Estado, construindo diversos tipos de programas. E Olympio Brasiliense, enfrentava, de fato ele era um arquiteto, sem dúvida nenhuma.
VB: O senhor gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
FA: Não. Gostaria, sim, de parabenizá-la e a Maria Clara Medeiros Santos Neves, por essa iniciativa, ressaltando a minha alegria de resgatar a memória desse brasileiro, mineiro, depois capixaba, que aqui constituiu família. A arquitetura capixaba se engrandece com esse profissional que tantas construções fez aqui no Estado. Tem sua obra valorizada, reconhecida e divulgada.