ORELHA DO LIVRO RAZÃO DO BRASIL
Afrânio Coutinho
Oscar Gama Filho, escritor do Espírito Santo, poeta, contista, crítico, teatrólogo, historiador literário, autor de várias peças de teatro e livros de poesia, dedica-se também a estudar a literatura capixaba. É autor de uma História do teatro capixaba: 395 anos (1981) e de outros trabalhos.
Este livro, Razão do Brasil: em uma sociopsicanálise da literatura capixaba, constitui um trabalho original. É uma tentativa de unir os saberes literário, psicanalítico, sociológico, histórico e filosófico para analisar um dos dados do processo cultural brasileiro: a história da literatura capixaba. O objetivo principal da obra não é a história da literatura regional, que é estudada apenas entre os séculos XVI e XIX, e sim a sociopsicanálise da cultura brasileira. É um quadro originário das condições de formação da nacionalidade. É um estudo do processo de construção da estrutura psíquica, dos aparelhos de Estado e da ideologia da cultura brasileira. É um exame da primeira infância do país, a fim de compreender o desenvolvimento cultural do Espírito Santo (e do Brasil, do século XVI aos dias atuais).
Para alcançar seu objetivo, traçou um capítulo inicial, intitulado “Brasilogia”, de que faz parte o “Tratado da Razão do Brasil”, dedicado a introduzir o saber das bases ou condições sociais determinantes da produção cultural brasileira.
Estabeleceu uma fenomenologia do Brasil, que, segundo ele, fornece a chave elucidadora dos diversos e contrastantes brasis. Que é o Brasil? É a pergunta inicial.
Em seguida estuda o barroquismo como fenômeno inicial da cultura brasileira. Aponta as razões do colonialismo português e a sua fusão com o aparelho ideológico religioso dominado pela Companhia de Jesus. Os padres tiveram que lançar mão de uma estética — o barroco — para desenvolver uma arte que atuaria na aculturação e na europeização do Brasil e do gentio.
Analisa, então, magistralmente, a obra de Anchieta, através da observação de dois movimentos distintos na evolução — o pré-barroco e o barroco. A obra de Anchieta é analisada com a maior penetração, como jamais fora feito antes.
Depois passa ao estudo do romantismo. Toda a ideologia romântica é elaborada com eficiência.
Passa, em seguida, a analisar a obra dos escritores capixabas, desde o romance, de Azambuja Susano, Um roubo na Pavuna (1843). Mas foi em 1856 que surgiu o movimento romântico, com a publicação do Jardim poético, de José Marcelino Pereira de Vasconcelos. É o primeiro momento do aparelho cultural romântico capixaba.
Daí por diante, a literatura capixaba continua a sua rota. Muito embora o ambiente no estado não fosse muito propício à produção artística, a literatura capixaba prosseguiu. Somente com o advento do capitalismo, nos meados do século XX, é que houve condições para um surto desenvolvimentista, com o aparecimento de um verdadeiro aparelho cultural, dinâmico e definitivo, e a criação de sociedades de cultura, da universidade e de editoras. Desde então, o movimento cultural do estado se tornou ininterrupto em qualidade e número de manifestações.
Livro original e destinado a ser um marco na historiografia brasileira e capixaba.
[Rio de Janeiro: José Olympio; Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1991.]
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Afrânio Coutinho, professor, crítico literário e ensaísta, nasceu em Salvador, BA, em 15 de março de 1911 e faleceu no dia 05 de agosto de 2000 no Rio de Janeiro, RJ. Membro da Academia Brasileira de Letras, professor catedrático de Literatura Brasileira na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje UFRJ.