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Poemas do livro Interiores

Inascença

Escorrega sempre seu sumo
entre os dedos de carícias
tímidas que ruborizam delícias
na aridez do frustrar que consumo.
Esmaece razão, vinga pudor
quando galhos de utopias
invadem de sombra a ideia macia
das manhãs e ocasos do plenamor.
Escorrega sempre seu resumo
entre os instantes de malícias
frágeis que se abortam fictícias
em fumaça de esmos que presumo.



Desapontamento

Noite imbrilhante chegou tarde
ponto bateu no relógio do instante
e trabalhou o expediente de breu.

Dormiram as vozes de luz e cor
passa a hora vestida de segundo-cetins
e talhou-se na espera seu você e você.

Nuvem inchuvante algodaneou espaços
brisa varreu o silêncio na janela
e não telefoneou sua voz de qualquer lá.

Doravanteou a manhã em sereno a ares
passa o sol entre o ir dos minutos
e não momenteou no meu seu lábio-gostar.

Minutos

a Oscar Gama Filho

Não há encontro, encanto,
em que na insistência em seu rosto
meu olho não queira deitar.

Momento não há, acalanto,
quando em sua mão solta esguia
meu desejo não queira acarinhar.

Não há segundo, segundo não há, quebranto,
que em pensamento na sua boca
meu sonho infante não queira repousar.

Sinação

Palavreio o olhar
o tocar do lábio
num sábio enlace
impasse de emoções.
O sentir palavreio
enleio de carentes
repentes de rendas
sendas de confusões.
Palavreio o nada
cada uma sentença
presença de tudo
num mudo de sensações
O esperar palavreio
cheio de reminiscências
demências do eterno
caderno de emanações.

Menino

Desmanche sua pele pecado
no instante pensamenteado e calmo
desfazendo meu receio-anseio de querer.
Retire seu hálito lilás de meu beijo
no momento sementeado e salvo
destilando meu recalque-decalque de desmorrer.
Descanse sua partida ocaso
no instante sempreado e alto
desmantendo meu medo-segredo de dizer.

[Reprodução autorizada pelo autor.]

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© 2001 Textos com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
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Paulo Roberto Sodré, nascido em Vitória em 1962, é poeta, escritor, pesquisador e professor universitário de Literatura na Ufes, com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui.)

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