EPITÁFIO DARK N° 1
Existem coisas conhecidas e coisas desconhecidas, entre elas estão as portas. [Jim Morrison, The Doors] Se as portas da percepção fossem abertas, |
me sinto
fora de foco
in loco
foto pose finale
no hotel del leito louco
outra lacraia sem apoio
mas me sinto
o sentido nato de escroto
leite de porco & corvo
aborto nesta ilustração de tinteiro absorto
absurdo espanto & destôo
gota e gota
ÉTER E FEBRE
bem devagar
devagar com a dor
que o santo é de barro e oco
e deus não soprou o eco
não se arvore
os galhos genealógicos não se quebram
pois raiz não passa por hera de ira
de leve o arfar divino na nuca
a notícia da morte nas folhas
que o vento manso espalha
espalha…
BARROCO NO BAR
sentado a bordo desta basílica alcoólica
faço baralho com todos à vista
ás a rei ao boreal ou ao sul
bebo a todos sem as hierarquias
se sou barão e ele é mais pois é visconde
ou o tal ali possa ser arquiduque
vão todos à merda e duque foi nome de cachorro
barbitúrico à mão de cor tão bordô
faça-me instrumento de sua paz
que a noite é feto e esperança é a última que falece
BEGE & CINZA UM FILME EM PRETO E BRANCO
a câmara se distancia
e o fim próximo toma toda a tela
o cinema imita e delimita a platéia
o mito pleiteia um colóquio harmonioso
entre o real fato com o ilusório fruto
este que apodrece com a emoção
esta foto fatídica que é o acender de luzes
a fadiga de saber o que é óbvio espera-nos à rua
o enredo fraco desta tragédia dia e noite e dia
de trajes incolores e gastos
os gritos após cada olhar nunca correspondido
a cruz: arrotar rotina
o corpo do espírito do porco
o porco espinho desta alma
o pouco
o prego
na marra fura a goela e o hurt
estrangeiro de dialetos irreconhecíveis
INVICTO IN VICTORIA
in articule mortis/in anima vili
soube do tema num só tomo
uma espécie de sutra ou bestiário
volume um e único e último:
o amar entre/em branco & preto.
fórmula de como sair inane
réu conscrito da persuasão dia/a/dia
convicto ao capítulo “Discordâncias”
ódio-paixão/noite-day/solidão-par
doses de duas vezes entre seis horas ao dia
orar frente ao poente de costas à ponte:
“um clic de cloro ao clero
as piscinas em close para os altos
as hóstias e o hostil craque no campo
cópula da cúpula que reza o riso em palmas
copas com troféus ou sacras esculturas
o declínio do clorofórmio transferido a cultos eruditos”
funciona sem alhos nem trailers com mostarda e bacon
facilita este cântico de um refrão
in anima vili/in articule mortis
[In Um, Vitória: Cultural-ES, 1988.]
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Sérgio [Luiz] Blank é poeta natural de Vitória, ES, e nasceu em 1964. Publicou diversos livros de poesia, alguns reeditados recentemente. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)