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Prefácio

No presente trabalho relatamos os resultados de uma viagem de estudos ao estado oriental brasileiro do Espírito Santo, empreendida por incumbência do Instituto Tropical de Hamburgo e custeada pela Fundação Científica de Hamburgo. Tinha por objetivo o estudo da adaptação a novo ambiente, de uma população européia transplantada para os trópicos, para o que nos pareceu sobremodo adequado um povoamento de origem alemã, existente no Espírito Santo, há várias gerações.

Circunstâncias diversas protelaram a impressão de nosso relatório, que, só agora, vem à publicidade. No espaço de tempo que medeia entre nossa viagem e o aparecimento do livro, nada que nos pareça importante se modificou nas condições demo-biológicas. A situação política e as possibilidades futuras de desenvolvimento que por ela podem ser influenciadas, alteraram-se no correr dos últimos anos, e foram levadas em conta na medida em que interessavam nossas pesquisas.

Nossas pesquisas no Espírito Santo são, de certo modo, uma continuação ou complemento das de Ernst Wagemann, que percorreu a região, em 1912 e, mais tarde, relatou-nos num livro magnífico, as condições de vida dessa população camponesa, tão interessante sob muitos aspectos.

Apesar do curto espaço de 2 meses que nos fora determinado, conseguimos preencher a parte mais importante de nossa tarefa, graças a diversas circunstâncias favoráveis. Assim é que pesou a nosso favor o tempo, em geral, bom, seco, que lá encontramos. Fosse nossa penetração num período de chuvas, quando os caminhos através das matas, por sua natureza, cheios de obstáculos, se transformam em verdadeiros pântanos intransitáveis, só nos teria sido possível percorrer pequena parte do território das colônias que visitamos. Favoreceu, ainda, nosso trabalho a compreensão e gentileza da parte de nossos patrícios que lá vivem, e dos amigos e autoridades brasileiros. Auxiliaram-nos, extraordinariamente,, proporcionando-nos sugestões e apoio, durante nossos trabalhos preparatórios em São Paulo o diretor do Instituto Biológico de lá, nosso velho amigo professor H. da Rocha Lima, que, durante muitos anos, foi membro do Instituto Tropical de Hamburgo; o dirigente do Partido Nacional Socialista Alemão, no Brasil, von Kossel; o cônsul geral alemão, senhor Speiser; o pastor Freyer, que, anteriormente, exercera seu mister no Espírito Santo, e o representante da Química Bayer.

Em Vitória, capital e porto do Espírito Santo, ponto de partida de nossa viagem para o interior, deram-nos as melhores orientações o médico alemão, doutor Schröder, lá estabelecido, e o cônsul alemão Langen. Tivemos a felicidade, antes de prosseguir a viagem e na volta, de passar benfazejos dias de descanso no lar acolhedor do cônsul. Durante nossa permanência no interior do país, contamos, sobretudo, com a eficiente ajuda do médico alemão doutor Saettele, residente em Santa Teresa, e dos párocos, em atividade nas zonas das colônias de alemães. Grandes conhecedores da região e dos seus habitantes, puseram, espontaneamente, à nossa disposição não só os abundantes conhecimentos que possuem, mas também auxiliaram o nosso trabalho com todos os meios imagináveis, e, às vezes, só graças a eles, se tornava possível a execução de nossa tarefa. A recepção amável e acolhedora que o doutor Saettele e os pastores nos proporcionaram, a permanência nessas moradias simples, bem cuidadas, cheias da índole alemã e, em geral, aformoseadas com a presença de um bando de garotos bem educados e alegres fazendo-nos, muitas vezes, esquecer de que estávamos num país estrangeiro, — tudo isto continuará vivendo em nós como uma das mais belas recordações do Espírito Santo. Por fim, lembramos, agradecidos, a nossa companheira de trabalho, dona Eugenie Giemsa, que custeando as próprias despesas, se associou à nossa viagem e participou, bravamente, conosco, de todos os contratempos e dificuldades que enfrentamos. Poupou-nos de muitos trabalhos que representariam perda de tempo, com seu zelo infatigável, coletando e examinando o amplo material estatístico, e com seu talento de obter todas as informações de valor científico, das senhoras dos colonos, com razão pouco comunicativas, a esse respeito, em relação a nós homens.

Consideramos agradável de ver reiterar, aqui nosso agradecimento cordial a todos os que nos ajudaram, inclusive às muitas pessoas cujos nomes não citamos, entre elas, nossos irmãos do Espírito Santo, honrados e sempre prestimosos.

Nossa gratidão sincera é devida, por fim, à Fundação Científica de Hamburgo, que possibilitou a realização da viagem, e à universidade Hanseática, que, espontaneamente, incluiu nosso relatório na série de sua publicações.

[GIEMSA, Gustav, NAUCK, Ernst G. Uma viagem de estudos ao Espírito Santo: pesquisa demo-biológica, realizada, com o fim de contribuir para o estudo do problema da aclimação, numa população de origem alemã, estabelecida no Brasil Oriental. Trabalho publicado pela Universidade de Hanseática, Anais Geográficos (continuação dos Anais do Instituto Colonial de Hamburgo, vol. 48), série D, Medicina e Veterinária, vol. IV, Hamburgo, Friederichsen, De Gruyter & Co., 1939, traduzido para o português por Reginaldo Sant’Ana e publicado no Boletim Geográfico do Conselho Nacional de Geografia, n. 88, 89 e 90, 1950].

[GIEMSA, Gustav, NAUCK, Ernst G. Uma viagem de estudos ao Espírito Santo: pesquisa demo-biológica, realizada, com o fim de contribuir para o estudo do problema da aclimação, numa população de origem alemã, estabelecida no Brasil Oriental. Trabalho publicado pela Universidade de Hanseática, Anais Geográficos (continuação dos Anais do Instituto Colonial de Hamburgo, vol. 48), série D, Medicina e Veterinária, vol. IV, Hamburgo, Friederichsen, De Gruyter & Co., 1939, traduzido para o português por Reginaldo Sant’Ana e publicado no Boletim Geográfico do Conselho Nacional de Geografia, n. 88, 89 e 90, 1950].

Gustav Giemsa nasceu na Alemanha a 20 de novembro de 1867 e faleceu a 10 de junho de 1948. Foi químico e bacteriologista e alcançou notoriedade pela criação uma solução de corante conhecida como “Giemsa”, empregada para o diagnóstico histopatológico da malária e outros parasitas, tais como Plasmodium, Trypanosoma e Chlamydia. Estudou Farmácia e mineralogia na Universidade de Leipzig, e Química e Bacteriologia na Universidade de Berlim. Entre 1895 e 1898 Giemsa atuou como farmacêutico na África Oriental Alemã. Em 1900 tornou-se chefe do Departamento de Química Institut für Tropenmedizin em Hamburgo.
Ernst G. Nauck nasceu em São Petersburgo, Alemanha, em 1867, e faleceu em Benidorm, Espanha, em 1967. Especialista em doenças tropicais. 

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