Foto Guilherme Santos Neves. |
No dia 25 de outubro deste ano, realizou-se em Pitanga, pequena localidade encastoada no Município da Serra, a festa da puxada do mastro, em louvor de São Benedito.
Lá estivemos, de manhã e à tarde, colhendo fotos e dados para o arquivo da Comissão Espírito-santense de Folclore.
A festa da Pitanga assemelha-se, em quase tudo, à que se realiza em dezembro na cidade da Serra, guardadas, é claro, as devidas proporções. Um barco enfeitado de bandeirolas de papel de seda, armado sobre um pequeno carro de bois. Dentro dele, o mastro, pintado de branco.
De manhã há missa, com sermão e batizados. À tardinha, concentra-se o povo no extremo da localidade, onde se encontra o navio. Prepara-se a “canga”, amarra-se-lhe a longa corda, e começa a curiosa “procissão”, agarrados os fiéis, em larga fila dupla, à estirada corda, pés descalços e vela acesa na mão. Junto ao barco, outros devotos lhe põem a mão, durante todo o trajeto, feito através das ruazinhas do vilarejo.
Na “esteira” da barca, rufa e batuca o “congo” da localidade — a Banda de Congo Nossa Senhora do Rosário, a cantar, interminavelmente, velhas toadas:
São Binidito
De Santa Teresaaaa
Lá vem o Minino ei… aaaaa
Jesúis é nascido ei … aaaaaaa
Ô viva a Penha
ô viva a Penha
ô viva a Penha
Nossa Mãe tão Poderosaaaaa
Percorre o barco toda a povoação, pequenina e pobre, passando uma vez pela Igrejinha, diante da qual pára um momento. Depois, na volta, em frente dela outra vez, retira-se de “bordo” o mastro. Dez ou doze fiéis dançam demoradamente com ele suspenso nos braços e mãos, acima das cabeças, à cadencia frenética do congo, que entoa, em ritmo ligeirinho:
Quemamará
Quemá
Quemamará
Quemáaaaaa
Estalam foguetes e palmas, gritam-se “vivas” a São Benedito, e o mastro é fincado, rodopiando ainda e muitas vezes no buraco feito, tal o crescido número dos que o agarram, fanáticos, dançando-lhe em torno.
Finalmente, socam pedras e terra na fossa, e o mastro — em cuja “grimpa” foi posta, pouco antes, a bandeira do Santo — fica fincado no chão, esguio e branco, frente à Igrejinha pobre, caiada de novo.
Está finda a festa da puxada do mastro, mas, durante o resto do dia e pela noite a dentro, rebumba no lugarejo pitoresco o batecum dos congos e a infindável cantoria do seu rico e colorido repertório.
[Artigo publicado em Folclore, Vitória-ES, n. 27-29, de novembro de 1953 a abril de 1954]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)