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Quebra, quebra, Gabiroba

Quebra, quebra, Gabiroba,
Eu quero ver quebrar;
Quebra lá, que eu quebro cá,
Eu quero ver quebrar.

É o “Quebra, quebra, Gabiroba” uma das rodas mais alegres e rumorosas do nosso folclore infantil. Muito querida pelas crianças capixabas, não falta ela, em regra, nos folguedos de ronda. Cantam-na muito.

Não encontramos a menor alusão ao “Quebra, quebra, Gabiroba” nos cancioneiros aqui referidos, o que não significa seja desconhecida a cantiga nos outros Estados, tanto que, segundo informação que recebemos do folclorista Théo Brandão, da Subcomissão Alagoana de Folclore, por lá se conhece como marchinha o “Quebra, quebra Gabiraba”:

Quebra, quebra Gabiraba
Quero ver quebrar;
Quebra lá, que eu quebro cá,
Quero ver quebrar.

Mamãe não quer,
Papai fica com raiva,
Por ver sua filha moça
Dançando a Gabiraba.

Existe em Campo Grande, município de Cariacica, neste Estado, uma variante que talvez seja a forma primitiva da cantiga. Nela se encontra a Segunda quadra da marchinha de Alagoas, com ligeiras alterações e melodia própria, completamente diversa da que registramos:

Papai não qué,
Mamãe fica zangada,
De vê a sua filha
Requebrando a Gabiroba…

Essa Segunda quadra não é apreciada na localidade, preferindo-se cantar a roda sem ela, como se faz em toda a parte. Se, porém, forem cantadas as duas partes, o modo de brincar será diferente, como adiante indicamos.

Também no Rio Grande do Norte, conforme nos escreveu o folclorista Veríssimo de Melo, da Subcomissão Norte-rio-grandense de folclore, se conhece um “Quebra, quebra, Guabiraba” como modinha e não como roda infantil.

Localizamos o nosso “Quebra, quebra, Gabiroba”, como ronda, em Vitória, Porto de Cariacica, Vila de Itapemirim, Santa Teresa, Alfredo Chaves, Ibiraçu, Linhares, São Mateus e Domingos Martins. Não a ouvimos, porém nos velhos tempos, o que talvez indique sua recente intromissão entre nós.

Em 1929, Plínio de Brito que, na ocasião, pertencia à Rádio Roquette Pinto, escreveu para o Carnaval daquele ano a marcha “Quebra, quebra, Gabiroba, inspirada em tema popular.

Essa composição obteve logo grande sucesso, tendo conseguido manter prestígio nos últimos vinte anos, pois até hoje ainda é ouvida, principalmente no último dia de Carnaval, talvez por associação de idéias com o “quebra-quebra” final que precede o amanhecer da Quarta-feira de cinzas…

Foi gravada pela Colúmbia, com o concurso de Januário de Oliveira e Gaó, sendo possível que esse disco, devido ao título e à letra, tenha contribuído para a fixação relativamente recente dessa roda no Espírito Santo. É preciso notar, entretanto, que os motivos musicais da música da cantiga e da versão de Campo Grande não derivam da famosa marcha.

Modo de brincar: Roda de estribilho. Canta-se este e, depois, cada criança tira, em sua vez, uma trovinha, enquanto o coro entoa, no final de cada verso, “Eu quero ver quebrar…” Assim:

Solo:
Atrás de tua passada
Meus olhos seguindo vão
Como soldado na praça,
Atrás do seu capitão.
Coro:
Eu quero ver quebrar
Eu quero ver quebrar
Eu quero ver quebrar
Eu quero ver quebrar

Em seguida, todas as crianças: “Quebra, quebra , Gabiroba / Eu quero …”

Na versão de Campo Grande, quando são cantadas as duas partes, a maneira de brincar é a seguinte: faz-se a roda; no centro, uma menina. Todas cantam a primeira quadra e, ao terminá-la, a do meio tira um “par” e com ele dança, ao som de palmas e do “Papai não qué…”. Terminado, o par fica no centro e a menina que o havia tirado substitui-o na roda, prosseguindo o brinquedo assim por diante.

[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]

Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.

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