O acervo de plantas arquitetônicas de Olympio Brasiliense divulgadas pela ESTAÇÃO CAPIXABA é mina documental franqueada à exploração dos estudiosos e pesquisadores da evolução arquitetônica, social e urbana da cidade de Vitória, entre as décadas de 20 e 60 do século passado.
O acervo impressiona pela quantidade de trabalhos produzidos desde que seu autor veio de Belo Horizonte para o Espírito Santo, no governo Florentino Avidos. Impressiona ainda pela variedade de projetos que vão de prédios residenciais e comerciais a hospitais e colégios – além de outros.
O mais impressionante, porém, é que, no conjunto dessas realizações voltadas principalmente para a construção de residências, salta aos olhos o quanto Olympio Brasiliense pontuou, com sua contribuição expressiva e personalíssima, o semblante arquitetônico de Vitória, numa época em que a cidade moldava o seu crescimento predial entre os bairros de Santo Antônio e Praia do Canto (antiga Praia Comprida).
A cada passo que se desse por Vitória – e a divulgação do acervo mostra isso – era quase inevitável se deparar com uma edificação nascida do crayon de Brasiliense.
Quem viveu essa época, como é o meu caso, pode avaliar à vontade o quanto este fato é verdadeiro, reforçado pelas muitas construções que remanescem desse tempo, apesar das modificações sofridas pela maioria delas, em relação aos originais projetados.
Naquilo que me toca posso dar o depoimento de quem teve parte de sua vida ligada à cartografia das plantas que levaram a assinatura do engenheiro-projetista, o que somente descobri perpassando os seus projetos.
Parto da casa que meu pai construiu na rua Afonso Brás, número 73, no Parque Moscoso, correspondente à planta n° 325, cuja edificação ainda se encontra felizmente preservada na sua forma original, graças à sensibilidade do seu atual proprietário.
Durante cerca de quinze anos, subi e desci na minha juventude os degraus da escada que internamente se amolda ao torreão (uma das marcas de alguns projetos de Olympio Brasiliense), no lado direito da residência. Na rua em frente – a Vasco Coutinho –, conheci por dentro as casas, projetadas por Brasiliense para Eurípides Queirós do Valle (262), Cícero de Moraes (260) e Mario Monteiro (261), em frente das quais joguei peladas de rua quando menino. Também a casa de meu tio Jayme Santos Neves, na rua Padre Nóbrega, no morro do São Francisco, que frequentei com assiduidade, foi projeto com sua marca (349), como o foram em sua vizinhança as casas de Napoleão Fontenele da Silveira (322), Paulo Fundão (362), Ewerton Guimarães Pereira da Silva (353), Mario Pretti (364) e Manoel Luiz Mazzi (352).
No aconchegante auditório do Centro de Saúde (planta 365), no Parque Moscoso, assisti a conferências que ali se realizavam, inesquecíveis algumas como as proferidas por Luís da Câmara Cascudo a convite da Comissão Espírito-santense de Folclore.
No posto Moscoso (268), que o povo chamava Quilo talvez devido ao seu gordo proprietário, situado na avenida Marcos de Azevedo, abasteci-me de combustível e não foi uma, nem duas vezes porque era parada praticamente obrigatória de quem saía de carro pela rua Afonso Brás.
No Banco de Crédito Agrícola do Espírito Santo (planta 304) fui bancário por dois anos, no exercício do primeiro emprego que me coube. Finalmente, para não me estender na ciranda de lembranças que em mim desperta o portfólio cartográfico de Olympio Brasiliense, também foi criação do seu traço inconfundível a primeira casa que eu adquiri por venda do meu cunhado Napoleão Freitas, na Rua Uruguai, 81, no morro de São Francisco (planta 322), na qual introduzi, do que peço desculpa a Brasiliense, uma primeira modificação antes das que vieram depois que dela me desfiz.
Não conheci pessoalmente o projetista. Tive, sim, a satisfação de ser professor de sua filha, a historiadora Wanessa Brasiliense, responsável, junto com sua mãe, pela preservação do arquivo de plantas elaboradas por seu pai, ora publicados com apreciação e dados informativos que o enriquecem e qualificam como documentário fundamental para o conhecimento da expansão urbana de Vitória, além de inúmeros outros estudos a que se preta.
Mas é gratificante saber que, pelas urdiduras do destino, fui, em várias ocasiões e por diferentes formas, beneficiário de uma obra que deixou marcas relevantes na arquitetura da cidade onde nasci e que, ao rever na multiplicidade das plantas publicadas, reaviva em mim lembranças peregrinas e saudosas.
Luiz Guilherme Santos Neves (autor) nasceu em Vitória, ES, em 24 de setembro de 1933, é filho de Guilherme Santos Neves e Marília de Almeida Neves. Professor, historiador, escritor, folclorista, membro do Instituto Histórico e da Cultural Espírito Santo, é também autor de várias obras de ficção, além de obras didáticas e paradidáticas sobre a História do Espírito Santo. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)