A minha prima tem um diário cor-de-rosa, enfeitado de florzinhas. Eu sei porque a ouvi dizendo à outra prima. E lá devem existir muitos segredos, porque elas cochichavam e riam. Eu vou até a janela que dá no seu quarto. Está aberta. Será que ela vai gritar se eu olhar lá dentro? Resolvo, me aproximo da janela e não vejo ninguém. Seria até bom se ela estivesse nuazinha, deitadinha de bruços na cama, a bundinha arrebitadinha de cabelinhos pardos… Pulo a janela e começo a bisbilhotar e numa das gavetas, debaixo das roupas, bem escondido acho o diário! Abro-o afoito e onde batem os olhos já vou lendo “quando o Paulinho me põe as mãos debaixo da saia e me afaga, ai, eu não sei o que fazer, ele pede eu digo não, só um pouquinho eu digo não, ai, que vontade de dizer sim, a vista escura de tanta vontade”. Assusto-me com minha prima entrando quarto adentro, no princípio assustada, depois correndo em minha direção, nervosa.
— Dá isso aqui, Edu! Se você não der eu grito!
— Grite, grite que eu dou o diário pra titia! Você quer que ela saiba dos seus sarrinhos com seu namorado, hein?
Ela cora de vergonha, mas eu sei bem que vergonha, eu sei que já a vi, louco de desejo, se esfregando no banheiro.
— Depois que eu ler, resolvo o que fazer…
— Ah, não, Edu… Eu…
Ai meu coração!
— O que é que você…? — balbucio.
— Dá isso, dá…
— Só se você me der um beijo bem molhado…
— Só um beijo? — a voz macia de gata.
— Só estamos nós aqui… Feche a porta… A gente bem que podia…
Ela vem se aproximando de mim, de repente pula, só que eu já pulei a janela e me embrenhei no pomar. Agora tenho um trunfo pra usar contra ela. De hoje não passa. A mim pouco importa que eu seja bem mais novo que ela, moça já feita. Deve ter os peitinhos durinhos, gostosos de lamber… Ponho-me a ler o diário e nossa! Como minha prima é safadinha. “Hoje Paulinho pediu insistentemente que eu botasse a mão, como eu não me decidisse, ele abriu a calça e ficou esfregando aquilo em mim, duro… Ai, eu não quero, mas é tão bom, ou melhor, quero, já não sei até quando vou aguentar.” Mais à frente “Hoje aconteceu uma coisa que eu não devia escrever, mas é que me agrada tanto escrever essas coisas. Eu sei do perigo de mamãe pegar isso e descobrir tudo, mas é que é tão gostoso ficar lembrando… Quando é que eu vou ter coragem de deixar? Hoje eu e Paulinho estávamos debaixo das árvores, estava escuro, ele pediu que eu virasse de costas para ele, aí me levantou a saia e ficou esfregando a mão, que foi tirando devagarinho a minha calcinha, deixando-me seminua e zonza. Depois eu senti aquela carne dura fazendo cosquinhas nas nádegas, deixando na minha pele um molhadinho bom”.
Neste ponto eu sinto alguém agarrar-me fortemente pelos ombros e dou um pulo, diário na mão. É minha prima, tem cara de choro.
— Dá o diário, Edu… Isso não lhe interessa… — pede com a voz quase chorando.
— Eu não — digo, com um nó na garganta. — Estou até gostando…
Eu me lembro dela passando o sabonete na bundinha quando tomava banho, eu atrás da porta. Ela gostava de enfiá-lo entre as nádegas… Ai, priminha, que vontade de alisá-la também…
— Eu dou, mas com uma condição…
— Qual? Qual?
— Se você deixar um pouquinho… — digo hesitante. — Ninguém vai ver, e além disso, é uma vez só…
— Não…
— Então eu mostro pra titia e pros meninos…
— Não…
— Deixa, vai…
— Não…
— Ah, priminha…
— Ah, está bem, eu deixo…
— Então tira a calcinha…
— Você me promete que vai dar o diário…
— Pro… prometo…
Ela se deitou no chão, puxou a saia, ai, o resto não conto…
[O conto “Sereia” foi publicado na antologia da Editora Brasiliense Jovens contos eróticos, em 1987. O concurso literário que deu origem ao livro contou com quase 2000 escritores inscritos em todo o país. Destes, vinte foram selecionados para participar da antologia, entre eles Pedro Nunes. Embora o autor reconheça a baixa qualidade do texto, escrito em uma manhã em suas pobres duas versões, o rascunho e o texto definitivo, ele o projetou como virtual escritor. Com esse maior e talvez único mérito, aqui vai para matar a curiosidade de um e de outro que se aventure no desejo de conhecê-lo.]
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Pedro José Nunes, escritor, nasceu em Ibitirama, ES, em 1962. Nesse mesmo ano, sua família retornou a São José do Calçado, e lá ele residiu até os 19 anos, quando se mudou definitivamente para Vitória. Formou-se em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo. Criador e responsável pela manutenção do site Terlúlia, dedicado à literatura produzida no Espírito Santo. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui.)