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Síntese das atividades administrativas do segundo ano de governo (26/01/1945)

(Exposição feita ao Conselho Administrativo, a 26 de janeiro de 1945)



Constitui uma praxe, espontaneamente adotada pelo meu governo, comparecer eu, nesta data, a este recinto augusto, para expor, em rápida síntese, ao nobre e colendo Conselho Administrativo e a todo o povo espírito-santense, as realizações mais expressivas levadas a termo durante o período anual da gestão administrativa dos negócios públicos estaduais.

Esta obrigação que a mim mesmo impus, desde o primeiro aniversário de governo, não é apenas atitude formalista, cortesia convencional, ou processo de ostentação injustificável. É antes a comprovação eloquente do sentido de responsabilidade que preside os nossos atos. É ainda a ressonância natural de um sentimento imperioso do dever. É, além disso, o testemunho fiel do grande e sincero empenho que fazemos em tornar públicos os nossos cometimentos e sujeitá-los ao livre exame e aprovação de todos os conterrâneos. É, assim e sobretudo, um gesto que patenteia e demonstra a irreprimível tendência da nossa mais pura vocação democrática.

Foi o ano de 1944, sob múltiplos aspectos, ano decisivo para o soerguimento econômico e financeiro do Espírito Santo. Deu-nos a segurança de que podemos confiar serenamente na progressiva realização de suas energias adormecidas. E confirmaram-se nele todos os nossos vaticínios de fé inquebrantável na exuberância prodigiosa de suas reservas construtivas.

Sabemos agora que a excepcional arrecadação de 1943, ao contrário do que muitos pensavam, não foi fato esporádico, nem conseqüência eventual do acúmulo das safras de café. Foi antes o despertar de energias novas, a resultante lógica de um maior estímulo das forças produtoras, e o reflexo natural das medidas administrativas postas em prática.

“A administração pública”, ensina Rafael Bielsa, “é, antes de tudo, organização”. Sem esta não poderá jamais aquela manifestar-se em toda a sua plenitude. E o pouco que conseguimos realizar sob esse aspecto já se reflete exuberantemente na crescente expansão do nosso progresso.

Devo, no entanto, ressaltar de início que a soma dos serviços prestados, na modéstia das realizações alcançadas, resulta primordialmente das supremas diretrizes inspiradas pelo grande Presidente Vargas e da infatigável operosidade, espírito de ordem e sentido de disciplina que constituem o apanágio do povo espírito-santense. Sem as primeiras não nos seria lícito estruturar, em tão curto espaço de tempo, um programa definido de ação que enquadrasse o Estado no mesmo ritmo renovador de progresso que alenta e vitaliza todos os quadrantes da Pátria como pujante afirmação de Unidade Nacional; e sem a cooperação decisiva e leal de todos os meus conterrâneos, unidos e confraternizados pelo mesmo ideal de trabalho silencioso e construtivo, e vivendo agora um instante excepcional de paz e tranqüilidade, nada de útil e proveitoso poderia o governo empreender em benefício da prosperidade e grandeza do Espírito Santo.

Plano de Obras e Equipamentos

Há uma página de Gaston Jeze em que esse grande mestre das Finanças, analisando a organização estatal, ensina que “para a satisfação das necessidades e interesses comuns” dois elementos se tornam imprescindíveis: As pessoas que dirigem os negócios comuns e as coisas por meio das quais os agentes públicos cumprem a sua missão. E dentre estas últimas menciona os recursos financeiros necessários.

Compreendendo em tempo não nos ser possível enquadrar, na modéstia dos nossos orçamentos normais, a multiplicidade de realizações indispensáveis ao nosso progresso, instituímos, no Estado, pelo Decreto-lei n. 15.518, de 6 de maio do ano passado, o Plano de Obras e Equipamentos.

Destinamos, para a primeira etapa desse plano quinquenal de administração, a importância de Cr$ 15.000.000,00 coberta pela operação realizada com o Banco do Brasil e pelo superavit de Cr$ 5.000.000,00 obtido no exercício de 1943.

Para o corrente exercício de 1945 já reservamos, na segunda etapa do plano, outra parcela igual, de Cr$ 15.000.000,00, esta, porém, correspondendo integralmente ao superavit real do orçamento.

Isso importa em dizer que estamos canalizando para as novas realizações administrativas o fruto das economias orçamentárias. aplicando-as em obras de caráter reprodutivo ou no enriquecimento dos nossos bens patrimoniais.

Durante o exercício passado, por termos iniciado o Plano de Obras e Equipamentos apenas no segundo semestre, despendemos somente a importância de Cr$ 8.867.199,00 distribuídos pelas várias Secretarias. O saldo restante, de Cr$ 6.132.801,00, será aplicado no ano corrente, juntamente com os recursos votados para este exercício, no prosseguimento das obras iniciadas e no início de várias outras.

Devemos ressaltar, aqui, mais uma vez, que é esse plano a primeira tentativa que se faz no Estado para organizar um programa de ação, dotando-o dos recursos necessários à sua realização paulatina em períodos sucessivos de administração.

“A transitoriedade do atual regime de Interventorias” — salientamos na exposição que acompanhou o primeiro projeto — “certo não oferece as. condições propícias para um planejamento dessa ordem. Nem permite, portanto, um compromisso solene de sua execução integral. Julgamos, porém, de nosso dever esquematizar um programa de ação, tão completo quanto possível, certos e seguros de que o levaremos avante, sem vacilações nem desânimos, por todo o tempo em que nos for concedido o supremo privilégio de dirigir os destinos da nossa terra natal.”

Aspectos Econômicos

Prosseguindo nos mesmos propósitos de fomentar e estimular sempre a nossa economia agrária, mantivemos, no ano findo, em ritmo acelerado, a maior cooperação com a chefia dos serviços articulados de fomento da produção vegetal do Ministério da Agricultura.

Em cumprimento às obrigações assumidas por esse acordo despendeu o governo, em 1944, a importância de Cr$ 1.060.440,00. Servida por uma organização rigorosamente técnica, inteligente e dedicada, a Seção do Fomento vem prestando agora, aos lavradores do Estado, os mais relevantes e inestimáveis serviços. Estenderam-se, assim, a quase todos os municípios, os trabalhos de assistência técnica aos agricultores, por meio de residências agrícolas instaladas em Mimoso do Sul, Guaçuí, Alegre, Muqui, Castelo, Cachoeiro de Itapemirim, Itapemirim, Anchieta, Iconha, Itabapoana, Alfredo Chaves, Guarapari, Domingos Martins, Serra, Aracruz, Fundão, Cariacica, Santa Leopoldina, Itaguaçu, Santa Teresa, Afonso Cláudio, Colatina, Baixo Guandu, São Mateus e Barra de São Francisco. Os demais municípios foram atendidos sempre pelas residências e serviços mais próximos.

Iniciaram-se os trabalhos de experimentação agrícola coordenando-se a rede experimental constituída pelo campo de multiplicação de sementes de Jucuruaba, Estação Experimental de Goitacases, Campo de Café de Marilândia e trabalhos em cooperação com agricultores e com a Escola Prática de Agricultura.

Executaram-se também as primeiras experiências intensivas para a seleção de variedades de algodão, arroz, milho, leguminosas, café, cacau, batata doce, mandioca e têxteis liberianas. O laboratório de química procedeu a 36 análises de solos colhidos em municípios. Foram contratados 174 campos de cooperação anual com a área de 1.064 hectares e firmados mais 227 contratos de cooperação rápida para empréstimos de máquinas. O número de agricultores atendidos elevou-se a 2.389 e o total de sementes distribuídas a, aproximadamente, 220 toneladas, além de 50.000 mudas e enxertos diversos.

No setor da produção animal também foi intenso e pertinaz o trabalho desenvolvido. Reconhecendo que o meio mais prático e eficiente para fomentar aquela produção têm sido, em toda a parte, as exposições pecuárias e a importação de reprodutores, a Secretaria da Agricultura vem orientando suas atividades dentro daqueles métodos. Assim, fez realizar em junho de 1944 a segunda exposição pecuária de Cachoeiro de Itapemirim e já, em 8 do corrente mês, podia ver inaugurada a Exposição Regional de São Mateus, a primeira a ser realizada no norte do Estado.

Adquiriu-se para o Posto Zootécnico de São Mateus um excelente plantel de gado Indubrasil, composto de vinte vacas e um touro, sendo que alguns desses animais já inscritos no registro genealógico nacional.

Também para suprir falta inadiável na Fazenda Experimental de Monte Líbano, comprou-se, na última Exposição de Pecuária Nacional realizada em Belo Horizonte, um padreador Gir, já campeão na Exposição de Curvelo.

O aumento de importação entre os anos de 1943 para 1944 dos reprodutores de boa linhagem foi, no Estado, de mais de 500 animais.

Adquiriu-se, também, há pouco, grande quantidade de perusmanute e galinhas de diversas raças — Leghorn, Rhodes, Ligh-Sussex, para fomento, por intermédio da Fazenda Santana e das granjas associadas do Município de Domingos Martins, onde estão sendo construídos novos aviários e pocilgas.

Como resultados práticos dessa orientação consciente e estimuladora, podemos afirmar que a produção dos campos no ano corrente atingirá proporções fora do comum. Pelo menos o imenso estendal de terras trabalhadas, de lavouras verdejantes e de plantações viçosas que recobrem extensas áreas, por vales e montanhas do exuberante solo capixaba, prenuncia, desde já, um ano singular de fartura e prosperidade que servirá para alentar, ainda mais, a expansão econômica do Espírito Santo.

Enquanto isso, por intermédio do Departamento Nacional de Obras e Saneamento, sob a competente direção do emérito engenheiro Dr. Hildebrando de Araújo Góis, continuam ativas as providências e trabalhos para a recuperação definitiva das infindáveis planícies alagadas do Estado. No município de Jabaeté, como no de Mimoso do Sul, já se notam os primeiros benefícios do saneamento obtidos com a simples desobstrução de rios feita em larga escala. As verbas para o corrente ano foram aumentadas, sendo de prever a intensificação dos trabalhos em todas as zonas do Estado, nos anos sucessivos, até que se confirme, em todo o seu esplendor, a incalculável benemerência dos serviços a cargo do setor regional da Baixada Espírito-santense.

Incrementada fortemente a produção rural, ampliados os trabalhos de saneamento das terras e revalorização do elemento humano, impunha-se uma política racional de coordenação e expansão das nossas atividades rodoviárias. Tornava-se preciso que o Espírito Santo aproveitasse o “compasso de espera” da síncope de suas relações comerciais com o estrangeiro, provocada pelo conflito internacional, para que se aparelhassem melhor as nossas estradas e se cuidasse, mais intensamente, do seu sistema de transportes.

A instituição do Plano de Obras e Equipamentos permitiu-nos acelerar, grandemente, o ritmo de novas construções rodoviárias e do prosseguimento de várias outras. E mais ainda, proporcionou ensejo à Divisão de Viação de estruturar o arcabouço geral da rede rodoviária espírito-santense, articulando-a com o sistema nacional de comunicações.

Destinando também verbas especiais para cada caso, em particular, regularizou o processo de execução, e ofereceu aos empreiteiros a necessária confiança e tranqüilidade no cumprimento de seus contratos.

O esforço maior do ano se orientou no sentido de concluir as obras da rodovia Vitória-Campos que, em uma das minhas eventuais ausências no Rio de Janeiro, por espontânea e generosa resolução do digno Secretariado que me honra com a sua boa e eficiente colaboração, foi denominada, à minha revelia, rodovia Jones dos Santos Neves. Os trabalhos da referida estrada foram acelerados, e em maio, Jabaquara ficou ligada a Iconha; em setembro, estava terminada a ligação Iguape-Jabaquara; em outubro, Iconha a Itabapoana; em novembro, Safra a Itabapoana, e finalmente, já em dezembro, concluía-se uma passagem de emergência entre Itapoama e Safra. Paralelamente marchavam os serviços de obras de arte. As pontes de Iconha e Safra, sem dúvida de grande importância para o tráfego imediato, tinham os seus serviços incentivados de tal modo que, já em dezembro, se fundiam o piso da primeira e os últimos vãos da última.

Desse modo tudo leva a crer que, dentro de 60 dias, estarão os serviços concluídos e se poderá viajar, em dez horas, de Vitória à Capital Federal, pela grande rodovia cuja terraplanagem se acha em fase final de acabamento.

As despesas no exercício montaram em Cr$ 5.260.093,70 inclusive as obras das pontes. Somente a construção dessa estrada, cujo custo total calculamos em Cr$ 18.000.000,00, justificaria os trabalhos da Divisão de Viação e consagraria um programa administrativo. Não obstante, não ficaram esquecidos outros troncos rodoviários. Tiveram ainda seu andamento acelerado as estradas Colatina-Nova Venécia, São Domingos-São Francisco, Nova Venécia-Braço Norte do São Mateus, Variante de Nova Almeida, Vitória-Manhuaçu, Safra-Cachoeiro, Jabaquara-Alfredo Chaves, Jabaquara-Anchieta, Santa Teresa-Venda Nova, e Mimoso do Sul-Inhuma, sem contar outras de menor porte.

O Estado conservou ainda, em 1944, cerca de 2.000 quilômetros de estradas de rodagem, nas quatro regiões em que se acha dividido, com a despesa aproximada de Cr$ 1.600.000,00.

Com a segunda etapa de Plano de Obras e Equipamentos e as verbas acrescidas do orçamento normal deste ano, prosseguiremos na mesma e sadia política de abrir estradas, conquistando um novo “espaço social” para o Estado, rasgando novos caminhos para o escoamento da produção, e revitalizando assim a nossa economia.

Finanças

Foi certamente neste setor onde mais se evidenciaram os esforços da administração e a pujante capacidade de reação das energias construtivas do Espírito Santo.

Desmentindo integralmente os tímidos pruridos pessimistas de alguns, descorçoando uns poucos, e surpreendendo a muitos, o Espírito Santo atingiu, em 1944, uma receita aproximada de Cr$ 81.000.000,00. Alcançou assim a plenitude do seu progresso financeiro, subindo a um nível magnífico onde nunca estivera antes. Em dois anos apenas de governo conseguimos um aumento percentual de 238%, índice verdadeiramente notável de crescimento e de vigor, que bem atesta a intensidade do nosso ressurgimento econômico.

E no entanto, Senhores, isso foi conseguido em meio às maiores dificuldades e restrições geradas pela espantosa conjuntura da guerra, e sem qualquer aumento da nossa legislação tributária.

Comparando-se a receita arrecadada com a receita orçada, verifica-se um excesso de cerca de 33 milhões de cruzeiros, ou seja quase a importância total alcançada no orçamento anual de 1942.

Com a abertura, porém, de vultosos créditos especiais e suplementares, aplicados, em grande parte, na liquidação de velhos compromissos, a despesa autorizada se elevou a, aproximadamente, Cr$ 66.000.000,00, reduzindo o superavit real do exercício a cerca de 15 milhões de cruzeiros.

Isso importa em dizer que, nos dois anos da nossa administração, em que pesem todas as dificuldades da hora presente, realizamos uma economia orçamentária de mais de vinte milhões de cruzeiros, fato nunca verificado antes nas passadas administrações.

A dívida interna que era, em 1943, de Cr$ 82.260.557,40 sofreu acentuado declínio, passando em dezembro de 1944 a Cr$ 74.796.664,00. O título de Restos a Pagar baixou de doze milhões para três e meio milhões de cruzeiros e o de Credores Diversos foi reduzido de cerca de 6 milhões de cruzeiros.

Estamos, porém, ainda no início de uma administração. A complexidade atual dos negócios públicos demanda acurado estudo, longa experiência e demorada reflexão. Não nos seria lícito fazer mais, em tão curto espaço de tempo. Mas guardamos a convicção de que esse período de governo foi salutar para aprimorar os nossos conhecimentos e adestrar a nossa capacidade de ação.

Pensamos mesmo que foram parcos os resultados conseguidos em relação à potencialidade inesgotável das energias espírito-santenses e ao nosso desvelado propósito e firme determinação de promover o progresso e a prosperidade da nossa querida terra.

Interior e Justiça

A cooperação dos Poderes Judiciário e Executivo manteve-se, em 1944, como sempre ocorreu no Espírito Santo, a mais completa, a mais leal, a mais digna. Cada vez mais se acentuou, no ano transato, o respeito, o acatamento devidos às decisões daquele colendo Poder, e o cuidado com que o Executivo procurou sempre prestigiá-las e cumpri-las.

Desejando oferecer ao augusto Tribunal de Apelação do Estado um edifício condigno à majestade sem par da justiça, incluímos no Plano de Obras e Equipamentos verba suficiente para o início da construção. Fizemos mesmo projetar, por competente arquiteto, a obra inadiável. Circunstâncias, porém, alheias à nossa vontade, impediram o início dos trabalhos, que estão, contudo, previstos para o ano corrente com o necessário reforço das verbas.

Aguardamos também a próxima visita de nomeado técnico da Polícia Civil do Rio de janeiro, para dar início ao reaparelhamento da nossa Chefatura. Enquanto isso cuidamos de vários melhoramentos de vulto na Polícia Militar destacando para tal as verbas previstas no Plano de Obras e Equipamentos.

No Instituto Agrícola de Maruípe foram despendidos, extra-orçamento, por aquele plano, durante o exercício findo, cerca de Cr$ 120. 000,00.

A Imprensa Oficial, antes instalada em precárias condições, vai, aos poucos, adquirindo feição mais modernizada. Encomendou-se mais uma linotipo nova e repararam-se vários maquinismos, permitindo, assim, que a renda industrial atingisse cifras bastante auspiciosas.

Também a Penitenciária do Estado tem sido beneficiada com melhoramentos e novas instalações que a modernizam e aparelham para as suas funções repressoras.

No ano em curso, com o reforço de várias verbas do Plano de Obras e Equipamentos, pretendemos completar o programa estabelecido, iniciando uma série de obras e serviços que imprimam, a esse setor da administração, ritmo mais acentuado de rejuvenescimento e atualização.

Educação

Preocupação instante do meu governo, pelo profundo reflexo que dela se irradia para as gerações futuras, é a Educação tema predileto das especulações modernizadoras da atual administração. Elo espiritual do presente ao futuro, responsável pela própria continuidade dos melhores destinos da Pátria, a ela nos devotamos inteiramente, porfiando em adotar sempre os métodos mais modernos para a sua maior eficiência técnica.

A qualquer observação mais atenta do problema em nosso Estado, não escapariam, entretanto, dois aspectos fundamentais da insuficiência orgânica do nosso sistema pedagógico: os parcos vencimentos do professorado primário e a defeituosa e inestética construção dos edifícios escolares.

Enfrentando, decididamente, um e outro, temos agora a satisfação de proclamar a integral resolução de um deles. Antes de assumirmos o governo, os professores normalistas no Espírito Santo tinham, como vencimento mínimo, 200 cruzeiros e, como remuneração máxima, 420 cruzeiros mensais. No corrente ano, perceberão um mínimo de 400 cruzeiros e um máximo de 700. Com esses níveis de remuneração razoáveis e humanos, evitou-se o contristador espetáculo da fuga dos melhores elementos do nosso magistério, e conseguiu-se o afluxo constante de novos e entusiásticos valores. A carreira do magistério, antes tão desprezada e até escarnecida, é olhada agora com interesse, admiração e respeito.

O outro aspecto vai também obtendo solução definitiva e racional. Se a educação é incontestavelmente uma arte, como aprecia John Dewey, façamos dela uma bela arte. E instalemo-la em prédios apropriados, condignos e artísticos para que acolham a juventude risonha e festivamente, como se fossem lares, em lugar da severidade agressiva de alguns dos antigos prédios de escolas que mais pareciam cárceres.

Dentro dessas recomendações, vários projetos foram levantados por técnicos escolhidos e já possuímos os elementos básicos que orientarão as futuras construções escolares em nosso Estado. Ainda este ano, daremos início a diversas unidades, de acordo com o programa preestabelecido.

Outra inovação introduzida em nosso sistema escolar, no ano findo, foi a prática, pela primeira vez no Espírito Santo, e dentre as primeiras no Brasil, do método de controle do ensino primário através de provas objetivas e impressas. Em todos os grupos escolares do Estado, num mesmo dia e à mesma hora, se iniciaram os exames finais de 1944, com provas impressas organizadas pelo serviço técnico da Secretaria de Educação articulado com o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos.

Promovemos também a intensificação do canto orfeônico, e dos processos de educação física; ampliamos as instalações do Serviço de Rádio, Cinema e Teatro Educativos; instalamos e inauguramos, a 10 de novembro, o Museu Capixaba e o Museu de Artes Religiosas; auxiliamos, decisivamente, os desportos; enriquecemos as nossas escolas com a aquisição de farto material pedagógico; mandamos imprimir e distribuímos, a todas as escolas, o mapa do Estado especialmente organizado para uso escolar.

Em 1943 manteve o Estado 593 unidades escolares, em 1944 esse número subiu a 831, e no corrente exercício ultrapassaremos a casa do milhar com o decreto, que ainda hoje assinaremos, de criação e provimento de mais 200 escolas.

Este eloquente e singelo confronto, só por si, demonstra o empenho e dedicação consagrada pela atual administração à benemérita política de fomentar e estimular sempre a sagrada Campanha da Educação.

Saúde

Dentre as realizações mais importantes operadas, no ano findo, pelo Departamento de Saúde, destacam-se: a instalação do Posto de Saúde de Afonso Cláudio, recentemente inaugurado; o início da construção da unidade-sede no Alegre, em fase final de acabamento; o início da edificação do Posto de Saúde de São Mateus, em ritmo acelerado; a criação do serviço de assistência aos psicopatas e a instalação do Hospital na Ilha da Pólvora, em pleno funcionamento; a construção e acabamento do Pavilhão de isolamento para doenças infeto-contagiosas em Vitória, hoje inaugurado; a conclusão do Centro de Saúde de Colatina mediante feliz acordo com o SESP; começo da edificação do grande e modelar Centro de Saúde desta Capital de parceria com o Governo Federal; prosseguimento da campanha de Saneamento do Vale do Rio São Mateus; intensificação ao máximo da vacinação contra as doenças infecciosas do grupo tífico-paratífico; prosseguimento dos inquéritos iniciados com a ambulância de Röntgen-fotografia nas cidades de Alegre, Guaçuí e Guarapari; e campanha das vitaminas entre escolares de Vitória.

Correspondendo fielmente à expectativa e espírito de cooperação do operoso e benemérito diretor do Departamento Nacional de Saúde, Dr. João de Barros Barreto, prosseguiremos, sem desfalecimento, o nosso programa com a construção do Centro de Saúde de Cachoeiro de Itapemirim e do Posto de Saúde de Mimoso do Sul, completando também a edificação de todas as unidades sanitárias regionais até conseguirmos dotar com esses elementos todos os municípios do Estado.

Esta será a contribuição do Espírito Santo à sábia e patriótica política daquele grande e devotado higienista patrício.

Serviço de Abastecimento

Assumindo pessoalmente a Presidência da Comissão de Abastecimento do Estado, reunindo-a semanalmente, visitando amiúde mercados e postos de distribuição, criando feiras de tecidos e armazéns “SAPS” e promovendo, enfim, todas as medidas indispensáveis ao controle de preços e melhoria do abastecimento público, é com justificado contentamento que podemos afirmar a perfeita normalização no Estado de todos os serviços de suprimentos dos gêneros de primeira necessidade à população.

Poucas, no entanto, muito poucas pessoas conhecem o esforço, dedicação e cuidados expendidos nesse setor para que se conseguissem tais resultados que fazem de Vitória, no consenso unânime dos forasteiros que aqui aportam, um exemplo singular entre as capitais brasileiras, pela abundância, fartura, modicidade do seu mercado de subsistência.

Certo atravessamos também momentos de dificuldades, mas o suprimento de alimentos à população foi sempre razoável e nunca tivemos que experimentar aqui os efeitos desalentadores dos cartões de racionamento, nem tampouco as crises da falta absoluta de qualquer produto.

Muito ao contrário podemos verificar até a existência de excedentes nos mercados, o incremento extraordinário do consumo de leite, que de 636.000 litros, em 1943, passou a mais de 1 milhão de litros no ano findo, e a distribuição de tecidos populares por preços desconhecidos mesmo nas épocas normais.

Os sacrifícios e renúncias próprios às situações de guerra, e que constituem mesmo um imperativo patriótico, foram, assim, no Espírito Santo, bem moderados, graças ao trabalho eficiente e silencioso da Comissão de Abastecimento, auxiliada, de perto, pelo espírito de cooperação e boa vontade da grande maioria dos comerciantes do Estado.

Serviço Público

Recebido a princípio com desconfiança e reserva por parte do funcionalismo estadual, é hoje, no entanto, o DSP organismo prestigiado por todos, pela maneira louvável com que atua, decisivamente, no aperfeiçoamento constante da máquina administrativa do Estado. Seu trabalho silencioso e vigilante, interessado e alerta, cobre todos os setores da administração; orienta, aconselha, coopera e recrimina, adverte e censura, promovendo, por todos os meios, a melhoria e progresso dos métodos de trabalho, e constituindo-se assim em precioso colaborador do engrandecimento do Estado.

Tenho na mais alta conta os serviços que presta à minha administração, e o operoso e dedicado funcionalismo estadual nele encontrará sempre estímulo salutar para o cumprimento de seus deveres e precioso elemento para a defesa dos seus direitos.

Administrações Municipais

A mesma curva ascensional que se nota nos índices financeiros do Estado, comprova-se também nos orçamentos municipais, como testemunho eloquente da generalização de nosso progresso. A soma das arrecadações orçamentárias dos municípios atingiu, em 1942, Cr$ 7.315.834,80; subiu, em 1943, para 7.469.987,30 e alcançou, no último ano, 8.496.649,40. É um aumento expressivo a comprovar fielmente as perspectivas esperançosas dos vaticínios que aqui mesmo externei, há um ano atrás, e que vêm ainda mais robustecer a nossa confiança nos excelsos destinos do Espírito Santo.

Conclusões

Senhores:

Não desejo prolongar mais esta exposição. Abusaria da vossa paciência se intentasse referir-vos a totalidade das nossas realizações de um ano neste contato de apenas alguns momentos. Cansaria a vossa atenção se ainda enumerasse outros cometimentos de vulto.

Quero apenas ressaltar que tudo o que foi alcançado resulta do esforço coletivo de uma plêiade imensa de homens devotados integralmente ao serviço do Estado. É obra do insigne e brilhante Secretariado que tenho o privilégio enaltecedor de ver servir ao meu lado. É fruto da dedicação e desvelo de todo o funcionalismo do Estado, dirigentes e subalternos, que constituem o substrato real de porfioso trabalho, tanto mais digno e enobrecedor porque silencioso e anônimo. É, sobretudo, resultante lógica da capacidade e energia construtiva do povo espírito-santense.

A minha participação pessoal na obra coletiva talvez seja, dentre todas, a menor e de menos valia. Grande, apenas, verdadeiramente grande, meritória e ufana, destemerosa e altiva, é a fé inquebrantável que deposito no esplendoroso porvir do Espírito Santo, e a firmeza de ânimo com que me consagro, diuturnamente, à tarefa gloriosa de servir, com elevação e dignidade, à grandeza maior da nossa estremecida terra.

[Transcrito do livro Discursos, de Jones dos Santos Neves, Imprensa Nacional, 1945.]

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Jones dos Santos Neves graduou-se em Farmácia no Rio de Janeiro e, de volta a Vitória, casou-se, em 1925, com Alda Hithchings Magalhães, tornando-se sócio da firma G. Roubach & Cia, juntamente com Arnaldo Magalhães, seu sogro, e Gastão Roubach. A convite de interventor João Punaro Bley, em 1938 funda e dirige, juntamente com Mário Aristides Freire, o Banco de Crédito Agrícola (depois Banestes), tendo depois disso seu nome indicado juntamente com o de outros dois, para a sucessão na interventoria. Foi então escolhido por Getúlio Vargas como novo interventor, cargo em que permaneceu de 1943 a 1945. Em 1954 retomou seu trabalho no banco, chegando à presidência, sendo, em 1950, eleito  governador do estado. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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