Tenho uma linda laranja, ó maninha, — Que cor é ela? — Ela é verde-amarela, Vira Marina, esquerda janela. |
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Talvez seja esta, depois da “Ciranda”, a roda mais conhecida em todo o Espírito Santo. Localizamo-lo em Vitória, Linhares, São Mateus, Viana (Jabaeté), Guarapari, Mimoso do Sul, Vila Velha, Serra, Santa Leopoldina, Argolas, Manguinhos e Tucum.
Embora divulgada em vários Estados do Brasil, conforme testemunho de Ceília Meireles, em “Infância e folclore”, (A Manhã, 10/6/1942), só a vimos mencionada no Guia prático, n. 70.
O arranjo do maestro Villa-Lobos, calcado em música popular recolhida na Paraíba do Norte, difere totalmente da melodia capixaba, que se nos afigura mais sonora, mais espontânea e viva. A letra que no Guia prático se registra parece-nos forçada, sem as elipses, tão freqüentes e naturais na fala infantil:
Trago eu lindas laranjas, oh! Maninha. De que cor são elas, Elas são verde amarelas Vira Maria a esquerda da janela! |
Em uma das versões de Vitória e na que recolhemos em Linhares, encaixa-se, no brinquedo, fragmento (letra e música) da cantiga “A canora virou”. Depois que todas a s crianças virara à “esquerda janela”, isto é, de costas para o centro da roda, voltam, uma a uma, à primeira posição, à medida que se canta:
A canoa virou, Deixai-a virar, Por causa de fulana Que não soube remar. |
Ou
O barco virou, Deixou de virar, Porque fulana Não soube remar. |
É assim, aliás, que se brinca a roda em Leopoldina, Minas, segundo refere Cecília Meireles no citado artigo.
Tal enxerto facilmente se explica: ambos os brinquedos têm a mesma dramatização. Ao cantarem “Vira fulana, esquerda janela”, a criança nomeada se volta, de costa para o centro da roda, e assim sucessivamente todas elas, tal como na canção “A canoa virou”.
O retorno à posição inicial é indicado, em outras variantes, porém na melodia de “Tenho uma linda laranja, aqui fixada, com a expressão final “Vira fulana, direita janela”.
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.