Sucintamente, concluímos que o Setor Norte de Vitória passou, e passa ainda, por um grande crescimento urbano, com a ocupação maciça de toda a restinga de Camburi, do platô terciário e de parte apreciável da área de manguezais, em toda extensão que estes mangues têm com os terrenos da restinga.
Somente a parte central do mencionado Setor estudado não recebeu urbanização por tratar-se de terrenos que pertencem à Infraero — Ministério da Aeronáutica — aeroporto Eurico Salles, ou então, constituem-se em áreas reservadas para a Feira dos Municípios e Kartódromo, ou ainda, várias construções de porte médio de propriedade da Infraero, ou então, a área de reserva de mata de restinga, referida linhas atrás.
Também observamos que o crescimento verificado foi bastante acelerado no período estudado, dando ensejo ao surgimento de concentração populacional de classes sócio-econômicas (média alta, média ou baixa), de acordo com o local considerado. Basta a constatação do notável aumento de população do bairro de Jardim da Penha e de Mata da Praia I, II e III, onde há apenas uma década e meia a vegetação arbórea e herbácea predominava e que hoje estão quase que completamente ocupados por casas e prédios residenciais e comerciais.
Esse crescimento, essa ocupação espacial do Setor Norte de nossa capital foi ocorrência natural do processo de ampliação e ocupação que a cidade de Vitória reservou após ter sido preenchido o espaço mais propício dentro da Ilha: áreas de relevo plano ou ondulado e algumas encostas de morros passíveis de serem habitados. É evidente que as encostas montanhosas características da Ilha sempre foram e ainda são procuradas pela população de baixa renda, para fixação de suas moradias. É por demais claro que o município da capital do Estado não tinha melhor local para se desenvolver senão aquele que oferecia a superfície mais livre de ocupação humana, de excelente topografia em sua maior parte, de solo (na ótica da engenharia civil) com boa capacidade para suportar construções de qualquer porte, ao contrário daqueles solos das encostas, dentro da área de Vitória que, além de exigirem altos custos a fim de serem evitados desabamentos, são quase sempre perigosos (rolamento de grandes blocos de rochas). Os solos da restinga levam vantagem sobre aquelas áreas dos solos hidromórficos, pois estes amiúde exigem precauções especiais nas construções de qualquer porte e, portanto, requerem despesas financeiras extras nas obras de engenharia.
O núcleo mais antigo de Goiabeiras foi substancialmente aumentado dando surgimento a verdadeiros sub-bairros como o da República e o de Maria Ortiz. Bairros novos surgiram como os de Mata da Praia I, II e III, além de Morada de Camburi e Conjunto Hélio Ferraz.
Os núcleos iniciais de Jardim da Penha e Jardim Camburi tiveram verdadeiramente um crescimento vertiginoso nesse curtíssimo lapso de tempo. Nestes bairros esse afã de construir ainda continua por existirem, aqui e acolá, áreas desocupadas. As imobiliárias estão atentas na corrida para o atingimento de seus objetivos: quanto mais construir, melhor; não importando as conseqüências, porventura existentes, na queda da qualidade de vida dos habitantes. Os prédios continuam ganhando as alturas. A presença do aeroporto Eurico Salles evitou que prédios altos fossem construídos junto aos terrenos circunvizinhos por questão de viabilidade operacional das manobras com aeronaves na rota de pouso e decolagem. O que ocorrerá quando o aeroporto sair do local onde se acha instalado, conforme pensamento e pretensão de alguns, a fim de atender ao crescente aumento de tráfego aéreo devido à industrialização do município da Serra? Cabe aos planejadores dar uma destinação nobre e correta àquele espaço, observando os aspectos que envolvem a saúde e o bem-estar da população local e, por que não dizer, de toda Vitória, para que sejam evitados os erros de implantação de indústrias em ambientes desaconselhados, como, infelizmente, já multas vezes ocorreu na Grande Vitória.
É fato sobejamente conhecido que a paisagem geográfica decorre das inter-relações dos aspectos físicos, biológicos e humanos; e, também, é certo que, nesse contato e nessas influências recíprocas, com o passar do tempo e com a ação conseqüente ou inconseqüente dos homens, essa mesma paisagem vai se transformando, evoluindo para melhor ou para pior — tendendo, portanto, para a degradação ambiental. O Setor Norte de Vitória, como vimos, teve suas feições geográficas mudadas e continuará a tê-las, graças a essa ação do homem. Levando-se em consideração as necessidades dos habitantes das cidades modernas sufocadas pela poluição, pela falta de espaço para o lazer, pelas dificuldades do tráfego, pela falta do verde e de tantas outras necessidades genuínas do ser humano, nada mais justo e natural à sobrevivência do homem que o espaço à superfície da Terra – e o espaço urbano em particular – seja bem-planejado e organizado, devendo ser administrado para dar à população uma cada vez melhor qualidade de vida. Vitória está se transformando, está crescendo aceleradamente, prestes a tornar-se uma metrópole. Urge, pois, que as autoridades passem incontinenti a debruçar-se nos estudos para o equacionamento de todo esse magno problema da organização do espaço urbano da Grande Vitória. Por isso mesmo nossos dirigentes devem ter visão larga e penetrante para que o nosso meio ambiente natural e social seja sempre pensado antes e durante as fases do planejamento urbano ou de qualquer empreendimento citadino, porque o Homem, afinal, tem que ter prioridade em tudo, pois ele é, em última análise, a medida de todas as coisas.
Observação final – Para a realização deste trabalho tivemos por base os levantamentos aerofotográficos realizados pelas entidades abaixo designadas:
Maplan Aerolevantamentos | esc. 1:8.000 vôo final de 1986 |
Força aérea Brasileira | esc. 1:60.000 vôo ano de 1976 |
A pedido do IBC–GERCA | esc. 1:25.000 vôo ano de 1970 |
Ricardo Brunow Costa é geógrafo formado pela UFRJ, tendo vários livros e artigos publicados. Para outras informações, consulte a listagem de pesquisadores. (Para obter mais informações sobre o autor, clique aqui)