RESENHA DE FERNANDO PY
Este livro: Razão do Brasil, em uma sociopsicanálise da literatura capixaba, de Oscar Gama Filho, tem um aspecto extremamente original; que é o de traçar um panorama da literatura espírito-santense, unindo o conhecimento das áreas de literatura, história, psicanálise, sociologia e filosofia no sentido de analisar o processo cultural não só do Espírito Santo mas de todo o Brasil. Analisando as manifestações culturais desde os primórdios coloniais, Gama Filho não tem contemplações para com os portugueses que aqui aportavam, interessados apenas em enriquecer e voltar para Portugal, e nem com os jesuítas, que, conscientemente ou não, destruíram toda a cultura indígena aqui encontrada, seja através da apropriação de mitos religiosos e outros dos silvícolas, seja aplaudindo a guerra sem trégua que os brancos lhes moviam.
De qualquer modo, Gama Filho expressa com lucidez a maneira como se formou a nação: primeiro o Estado, um Estado sem povo, pois o povo que habitava o Brasil nesse tempo era de cidadãos portugueses (e não de brasileiros, mesmo nascidos em nossa terra) e de índios, que não tinham nenhuma cidadania. Isto causou problemas psíquicos de falta de identidade, que repercutem ainda hoje, pois o atual brasileiro em geral copia o europeu ou os países culturalmente mais avançados por não ter ainda uma identidade cultural. Estudando cada um dos “estilos de época”, da nossa literatura, mostra como essa falta de identidade influenciou a pouca expressão de movimentos como o barroco e o romantismo em todas as suas fases, e que somente na segunda metade do século passado passamos a ter algo que se possa chamar literatura pessoal. Foi justamente com o final do Romantismo que principiou a afirmar-se no Espírito Santo uma literatura própria da Província. Mas somente com o advento do capitalismo, em meados do século XX, é que houve condições para um surto desenvolvimentista — o que, aliás, ocorreu em todo o Brasil — e desde então o movimento cultural do Espírito Santo se fez sem interrupções nem de qualidade nem de número de manifestações. O livro de Oscar Gama Filho é um verdadeiro marco na historiografia capixaba e nacional. […]
[In: Razão do Brasil. Diário de Petrópolis, Petrópolis, 12/01/97, p. 12.]
CARTA DE MALOU DE MURALT, BRASILIANISTA
Comprei a Razão do Brasil há dois anos atrás, perto da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, de um desses camelôs que vendem livros usados, na rua, espalhados no chão… Foi um dos melhores achados que eu já fiz. Adorei o seu livro. “Comi-o”, como diria o Oswald de Andrade.
[…] A sua análise da identidade brasileira é uma das mais interessantes que já li. Até lá, o meu principal ponto de referência era o Sérgio Buarque de Hollanda. Lendo a Razão do Brasil achei que o seu pensamento vai nessa mesma linha e traz uma visão extremamente lúcida da brasilidade, visão que eu compartilho por tê-la sentido e vivenciado pessoalmente em várias ocasiões. Gostaria muito de poder trocar ideias com você sobre tudo isso, e gostaria muito de saber qual foi a repercussão do seu livro e se você continua trabalhando sobre este tema.
POEMA DE SYLVIO BACK, CINEASTA
Ração do Brasil
um país cármico
um pai banido
um pai gálico
um país perdido
um país paraíso
um pai madrasto
um pai cediço
um país casto
um país óbice
um pai códice
um pai galant
um país soi-disant
um país gabola
um pai palrador
um pai preador
um país carola
um país anárquico
um pai carnaválico
um pai psicótico
um país entrópico
um país uterino
um pai órfico
um pai latíndio
um país ladino
um país azado
um pai acaso
um pai banzo
um país banzai
um país cordial
um pai marcial
um pai sem país
um país sem pai
[In Razão do Brasil em uma sociopsicanálise da literatura capixaba. Rio de Janeiro, José Olympio Editora; Vitória, Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1991.p. XXVII-XXIX.]
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