27 anos, é um jovem que faz tudo, desde amolar alicates até consertar velhos guarda-chuvas, passando pela venda de alvejados panos de chão. Um especialista em serviços gerais. Faz o seu ponto entre a Praia do Canto e Santa Lúcia. Nasceu em Colatina, mora em Alecrim, Vila Velha, e há quatro anos circula por Vitória. (17.07.2004)
– Tô há três anos em Vitória. Aprendi tudo com o meu pai; amolo alicate, tesoura, faca, conserto guarda-chuva, relógio, remendo palhinha de cadeira… Me sinto muito bem trabalhando aqui, prefiro aqui do que em Vila Velha. Aliás, lá já tem minha mãe que trabalha nisso; antes era meu amigo que ficava aqui, meu amigo, praticamente irmão. Ele morreu. A gente trabalhava junto. Aqui é bom. O povo é bom, simpático, e a gente faz pra comer. Mas eu gosto de música. Componho algumas músicas. Nas minhas horas de folga, pratico a música, mas não dá pra tirar dinheiro não. Tem forró, às vezes, mas não dá, um aniversário, show de calouros. Meu parceiro ficou pra trás e tô sozinho. Minha dupla chamava Weslei e Vanderli. A gente tenta, mas nunca teve alguém pra ajudar a gente…
– Trabalho em paz aqui, nunca ninguém me perturbou, fiscal, essas coisas. Já até me procurou, mas é nada… Pessoal da Prefeitura… Mas tudo gente boa. Eu chego às 8 da manhã aqui e vou embora às 5 e 20. Tenho muito freguês certo. Tudo gente boa. Uma coisa e outra. Passa muita gente por aqui. Passa muito jovem, mas tem mais gente idosa. Aqui é bom.
– Nunca precisei de hospital por aqui não, mas sei de gente que precisou e não reclamou, foi por aqui por perto.
– Esse ponto é bom, tem táxi, churrasquinho, supermercado, farmácia, barzinho… Eu vejo um bocado de gente largada, mas não é muito não. Tem bêbado, pouca criança, né? Mais mulher, de meia idade, largada, bêbada.
– Também nunca vi assalto, confusão. É um lugar tranquilo, bom. Graças a Deus. Almoço por aqui mesmo, trago minha comida, você sabe, um feijão, arroz, verdura. Ah, peixe, só quando a gente sai pra pescar. Como se diz, quando a gente pode, a gente come bem. Quando não pode, é o feijão, um arroz, uns legumes. Quando tem macarrão precisa mais nada não. Pra mim o macarrão resolve o problema. Já tem uma boa etapa que não compro mais peixe. Da última vez que cheguei lá, seis reais o quilo, cinco, seis, caro, né?
– Aqui, quando tenho que comprar as coisas, compro aqui mesmo. Aqui, lá em Vila Velha, é tudo a mesma coisa. Uma coisa puxa a outra.
– Ah, você sabe, os meus lá de casa fazem a mesma coisa que eu, mas se eles quisessem trocar, aí não pode. A gente ia ter que discutir esse assunto. Eles estão lá, eu cá, né. Aqui é bem melhor que lá.
– Me sinto seguro aqui, tem polícia, o pessoal é camarada, bom de comunicar, me sinto bem aqui. As ruas são limpas, os garis por volta de 10, 10 e meia estão passando. Conheço Belo Horizonte, mas lá é frio. Na verdade não troco Vitória por nada. A cidade é bonita. Eu gosto de tudo daqui. Gosto da roça também. Mas gosto mais daqui. Não vejo defeito nenhum por aqui, mas se melhorar melhora todo mundo. Aqui não falta serviço.
– Eu gostaria muito de morar aqui, mas meu grande sonho, o que eu gostaria mesmo, era de cantar.
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