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A colonização alemã no Espírito Santo – Segunda parte: O trabalho (VI)

Venda de Karl Bullerjahn, em Santa Maria de Jetibá [In WERNECKE, Hugo. Viagem pelas colônias Alemãs do Espírito Santo. (tradução Erlon José Paschoal) Vitória: Arquivo Público do Espírito Santo, 2013, p.107]

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Capítulo VI — A circulação

1. Generalidades

A vida econômica proporcionada pela exploração de sítios não permite considerável desenvolvimento da circulação.

O movimento, entre eles, de mão de obra e de mercadorias é muito pequeno. Conforme já se comprovou, o colono trabalha sem assalariados. O mutirão é quase o único meio pelo qual recebe mão de obra externa. Mesmo pagando-se bem, é difícil conseguir empregados domésticos: a queixa permanente das senhoras dos pastores.

Na planície, a economia monetária progrediu pouco mais que na região alta.

1) A casa é avaliada em 400 a 600 mil réis;
2) o cafezal é estimado de acordo com o preço do café no mercado;
3) por uma quadra (100 x 100 braças = 220 x 220 metros = 4,84 ha) desbravada, dão-se 250 a 300 mil réis. Pasto velho, terra velha, de milho, tem menos valor;
4) por fim, avalia-se a mata disponível e a criação existente. Pode-se, com aproximação, apreçar um sítio normal de 25 ha, com todas as instalações (casa, monjolo, etc.), em 2.500 mil réis, na planície, e em 8.000 mil réis, na região alta.

A título ilustrativo, apresento, abaixo, alguns casos, que chegaram ao meu conhecimento, de venda de terra na comunidade de Santa Joana, na zona baixa, portanto.

Ano Tamanho do sítio (ha) Colheita anual do café em arrobas Preço (mil réis) Particularidades
1911 50 300 5.000
1912 50 30 5.600 Boa mata, bom pasto, cultura de arroz e cana de açúcar.
1912 100 250 16.000 Com 40 cabeças de gado e 40 porcos.
1912 100 pequena 4.400 Com construções insuficientes, porém mata muito boa.
1913 50 70 3.800

3. Dívidas

A compra da terra é a principal causa das dívidas. A maioria das que foram contraídas pela atual geração vem da última alta do café, que estimulou muito o comércio imobiliário. O vício da embriaguez e inventários têm também sido fatores de endividamento.

Os credores, em regra, são os parentes, os vizinhos, ou outros bons amigos, que fazem o empréstimo por mero favor, sendo raros os casos em que se exige garantia hipotecária. Costuma-se emitir, simplesmente, um título de dívida. Como conseqüência, é freqüente perder o credor o seu dinheiro, sobretudo quando o mutuário morre. Cobram-se juros de 5 a 6% embora sejam habituais, no Brasil, os de 8 a 12. Estipular quaisquer juros considera-se, quase, uma espécie de agiotagem.

Mais comerciais ou, se se quer usar a expressão, mais capitalistas, são as relações com os negociantes, os vendeiros, que naturalmente contam os juros consuetudinários no país. Eles tornam-se credores, em virtude de adiantamentos e, mais freqüentemente, por causa dos fiados, que ano parece terem levado o colono à sujeição, como no Sul.[ 1 ] Os bancos de Vitória não têm nenhum contato com os sitiantes alemães.

Não me é possível dizer com aproximação o total das dívidas dos colonos teutos. Esse montante é, sem dúvida, pequeno. É raro que uma pessoa deva mais de alguns milhares de mil réis; a quantia maior que chegou ao meu conhecimento, foi de 16.000 mil réis.

4. A venda e o vendeiro

A venda domina quase todo o comércio na região das colônias. “Die Vende” (do português a venda), como dizem os colonos, é a casa de negócios, onde eles se provêm de todos os bens que o sítio não lhes pode fornecer, e onde eles entregam seus produtos, ou seja o café. As casas comerciais, do mesmo modo que os sítios, estão esparsas, instaladas em encruzilhadas ou caminhos de maior movimento, freqüentemente na proximidade de uma igreja ou capela.

O intercâmbio entre o vendeiro e o colono assume aspectos de troca em espécie: Em regra, o vendeiro não recebe pagamento à vista pela mercadoria que fornece, mas leva-a à conta do colono, que saldará o débito com o café de sua colheita. Mas, nem sempre a contraprestação do colono é bastante, de modo que ele se endivida, o que sucede quando a colheita é má ou os preços do café caem. Esse sistema de fiados é perigoso não só para o colono (vide a seção anterior), mas também para o vendeiro, que assume o risco de o sitiante não lhe trazer produção nenhuma, o qual pode vendê-la noutra parte, embolsando o dinheiro apurado. Dizem que meeiros italianos e brasileiros têm enganado desse modo a negociantes alemães.

Não raro, o vendeiro adianta dinheiro ao freguês, ou serve-lhe de intermediário num pagamento. Assim, torna-se o banqueiro dos colonos. Esporadicamente, colonos têm participado com capital nesse negócio de venda, havendo, nalguns casos, perdido o dinheiro empregado.

Os negociantes mais fortes organizam seu próprio transporte: dispõem de tropas de muares que mantêm, entre as praças, o transporte de mercadorias, sejam elas próprias ou de outros. O dono da venda faz também às vezes de taverneiro; a venda costuma ser o centro social de toda a vizinhança. É também utilizada como estalagem. O vendeiro é a pessoa com quem o colono se aconselha, quando está em dificuldades e apuros. Conforme o caso, tem de desempenhar o papel de intérprete, de conselheiro jurídico e econômico, ou de médico; tem de batizar os filhos dos fregueses e de assumir a tutela, quando morrem os pais. As decisões da comunidade dependem do que se assentou previamente na venda e, muitas vezes, o vendeiro exerce, então, influência decisiva. É freqüente valer sua palavra mais do que a do pastor, que, nas comunidades, corporifica a autoridade mais alta. Às vezes, a paz da comunidade se perturba por haver rivalidade entre os dois.

As vendas, em geral, são empresas minúsculas. O círculo de fregueses de um negociante atingirá, em média, 30 famílias. Já significa muito ter 40 fregueses ou “Fregesen”, como dizem os colonos, germanizando a palavra. Mais porém, já conseguiram um pecúlio de 100.000 mil réis ou mais.

Os negociantes menores não têm empregados; além de darem contra de todo o trabalho da vinda, exercem, ainda, certa atividade agrícola; os maiores têm um a três caixeiros, o pessoal da tropa e alguns mensageiros.

As funções que ao vendeiro cabem explicam que se encontrem entre eles diversos alemães do Reich com boa instrução.

5. O comércio ambulante

Depois dos vendeiros, vêm os negociantes ambulantes, oriundos do estado vizinho, de Minas Gerais, os mineiros. Uns trazem de lá gado de corte, outros, muares e cavalos; muitas vezes, são os próprios fazendeiros que se dedicam a esse negócio. Há os que oferecem fumo, ou selas e arreios, e, nesses casos, é comum ser o próprio produtor que faz o papel de negociante: conduz sua mercadoria em animais de carga, expondo-a e vendendo-a nos lugares de maior movimento.

Esse comércio ambulante, um resquício da antiga vida brasileira, lembra os tempos primitivos do tráfico. Decresce e irá desaparecendo à medida em que forem melhorando as condições de transporte, especialmente com a penetração do trem de ferro.

6. A tropa

Por ora, é o muar o meio de transporte mais importante no território das colônias de alemães.

As caravanas ou comboios de bestas carregam as mercadorias. Os colonos chamam essa espécie de caravana de Truppe ou Troppe (do português “tropa”). Ela consiste de vários lotes (Lotts, na língua dos colonos”, cada um com um guia, o tropeiro, e dez animais. O chefe de todo o comboio, o arrieiro, tem, entre as suas obrigações, a de ferrar as bestas. Em regra, também faz parte do pessoal um rapazola encarregado da cozinha.

Além das cangalhas e do saco de rações etc., o animal suporta 8 arrobas ou sejam 120 quilos, e em determinados casos, quando não se receia maior peso, 180 quilos, isto é, dois sacos de farinha, de 6 arrobas cada um.

A tropa desloca-se durante 4 a 5 horas por dia, no ritmo de um pedestre andando comodamente, dessa maneira percorrendo, no máximo, 15 a 20 quilômetros. As péssimas estradas e a região montanhosa dificultam a marcha. Com efeito, cada colono é obrigado a manter em ordem o trecho do caminho que passa por sua área. As chuvas copiosas, entretanto, impedem que ele sempre dê conta da tarefa. Indescritível é o estado dos caminhos sob os cuidados de brasileiros. Outro obstáculo ao movimento rápido são as cancelas, destinadas a separar os pastos, que têm de ser, sempre que passa a tropa, abertas e fechadas.

Os tropeiros desencilham as bestas quando chegam a um rancho, uma cobertura sustentada por quatro mourões, um telheiro, cercado por várias estacas onde se amarram os animais. Os ranchos são mantidos, naqueles pontos mais movimentados, por vendeiros ou colonos que os alugam juntamente com um pasto.

Depois de cuidar dos animais, isto é, de desatar as cobertas de couro, deitá-las abaixo, expô-las ao sol, de tirar as cangalhas e de pensar as feridas, o pessoal faz a refeição que um garoto prepara, no rancho, numa panela pendurada de uma armação, feita de improviso, com alguns paus.

Através de um exemplo concreto, podemos ver qual é o custo do transporte por muares:

Uma tropa gasta 9 a 10 dias no percurso de ida e volta entre Figueira à margem do Santa Joana e Porto Cachoeiro; sendo a distância entre os dois lugares, incluindo as voltas, de 80 quilômetros, a tropa faz por mês 6 x 80 quilômetros. Sua manutenção mensal importa nas seguintes despesas:

Ordenado do arrieiro 80 mil réis
Ordenado dos três tropeiros 200 mil réis
Ordenado do cozinheiro 20 mil réis
Alimentação do pessoal 150 mil réis
Milho para os muares 500 mil réis
Aluguel de pastos 150 mil réis
Ferraduras 100 mil réis
Total 1.200 mil réis

Deve-se considerar, ainda, que:

1. Geralmente, a remuneração mensal do arrieiro oscila entre 60 e 100 mil réis, a do tropeiro entre 60 a 70, e a do cozinheiro entre 20 e 30.
2. Um muar bem tratado recebe, quotidianamente, 6 a 8 litros de milho. Custando 7 a 10 mil réis um saco de 80 litros desse cereal, não é exagero calcular o consumo diário de milho, de 30 animais, em 16 a 17 mil réis.
3. 1 mil réis de despesa para a alimentação diária de um homem é uma avaliação baixa.
4. Em regra, o aluguel do pasto custa mais de 200 réis por dia e por animal. Por isso, 5 mil réis é pouco para as despesas diárias com esse item.

Vemos, assim, que 1.200 mil réis é o mínimo que uma tropa pode gastar mensalmente. Há, ainda, a amortização e os juros do que se despendeu com a aquisição dos 30 muares e dos respectivos arreios. Essa aquisição importa, pelo menos, em 10.000 mil réis, daí resultando um valor a ser computado mensalmente, de mais de 150 mil réis.

A capacidade de carga de um muar, como já vimos, é de 8 arrobas (120 quilos). As 30 bestas agüentam, por conseguinte, 240 arrobas (3.600 quilos). De acordo com os dados acima apresentados, gastar-se-iam, pelo menos, 1.350 mil réis, com a tropa que fizesse 6 vezes o percurso de 80 quilômetros. Portanto, o transporte de 1.000 quilos a uma distância de 480 quilômetros custaria 375 mil réis, e a uma distância de 1 quilômetro, 0,8 mil réis, ou sejam 1 a 1,5 marcos. A título comparativo, lembremos o que Schmoller (Grundriss II, págs. 13-4) diz sobre o custo de transporte terrestre, por tonelada e quilômetro: “Em 1780 a 1750, podemos avaliá-lo, para as estradas de ferro da Europa Central, em 20 a 80 pfennings. Foville calcula o frete médio das vias férreas francesas, em 1831, em 12,8 pfennings; em 1865, 4,8; em 1877, 4,7. Segundo Engel, o frete médio, na Alemanha, seria, em 1844, 15 pfennings, e em 1860, 7,3; e conforme Cohn, 5,9 pfennings, em 1872, e 4,9 em 1877. Presentemente (1898-1900), na Europa Ocidental, o valor médio está entre 3,6 e 2,4, e, para transporte de grandes quantidades, longas distâncias, com tarifas excepcionais, entre 2,2 a 1,2 pfennings.”

Para o transporte de Figueira a Porto do Cachoeiro costuma-se pagar 1 mil réis por arroba (6 2/3 mil réis por quintal métrico).[ 2 ] Com o pleno emprego da tropa conseguir-se-ia uma receita bruta de 240 x 6, isto é, 1.440 mil réis por mês. É difícil atingir esse total, porque, na volta, em geral, é menor a importância que se apura com a carga. Pode-se, portanto afirmar, esposando um princípio assentado na experiência dos vendeiros: a tropa não paga a pena. Só se aufere um ganho maior, em virtude de serem menores as despesas, quando o transporte é uma atividade independente, quando, por conseguinte, o arrieiro é, ao mesmo tempo, o empresário (o que sucede multas vezes, sendo, na maioria, mineiros os que se dedicam a esse negócio).

7. As casas comerciais de Vitória e Porto do Cachoeiro

É raro que se estabeleçam relações diretas entre vendeiros e o mercado internacional, e quando tal sucede, esse contato é de importância limitada. Em regra, adquirem suas mercadorias de uma firma que as recebe do estrangeiro ou de outra casa comercial importadora. Os vendeiros também não colocam diretamente no mercado externo o café exportado.

Vitória e Porto do Cachoeiro são os pórticos, através dos quais o território das colônias de alemães põe-se em contato com o tráfico mundial.

As casas comerciais importantes de Vitória são as seguintes:

Nome Nacionalidade Exportação de café em 1912
(saco de 60 quilos)
Companhia Comercial belgo-alemã 117.726
Hard Rand & Cia. americana 116.925
Arbuckle & Cia. americana 20.500
Cruz Duarte & Cia. luso-brasileira 152.189
A. Prado & Cia. brasileira 28.060
Cooperativas atualmente em quebra 33.459
Total 468.859

Está concentrado em mãos dessas firmas todo o comércio de café da região setentrional do Estado, de modo que elas também dominam toda a exportação do café produzido pelos colonos teutos. Elas se ocupam, simultaneamente, de todos os ramos da importação. Relacionam-se, diretamente, com alguns dos vendeiros mais fortes do interior, mas, na maioria dos casos, utilizam como intermediários os comerciantes de Porto do Cachoeiro. Estes são, por assim dizer, comerciantes de segunda classe, embora haja, entre eles, violações a essa categoria com freqüentes importações diretas do estrangeiro. Alguns deles operam com um capital de várias centenas de contos. Na maior parte, são de origem alemã. Com os seus negócios, estão colocados entre a venda e a casa comercial de primeira classe, exercendo intenso varejo e mantendo tropas para o transporte no interior.

O rio Santa Maria, exclusivamente, leva as mercadorias a Vitória; está fora de cogitações a estrada de ferro que percorre, apenas, metade do caminho. O transporte de um saco de 60 quilos, de Porto do Cachoeiro a Vitória, custa:

Frete 800 réis
Tributo 100 réis
Pequenas despesas 100 réis
Total 1.000 réis

Se o frete de 60 quilos importa em 800 réis, o de uma tonelada é de 13 ½ mil réis. Sendo de, aproximadamente, 30 quilômetros, a distância coberta pelo frete, deduziremos para a tonelada-quilômetro, a tarifa de 444 réis, pouco mais de meio marco, portanto.

8. O comércio de café

O café segue de Vitória, sem passar pelo Rio de Janeiro, diretamente para os grandes empórios internacionais. As 469.000 sacas de café, embarcadas em 1912, em Vitória, vão discriminadas, abaixo, segundo o porto de destino:

Nova Orleans 301.725
Nova York 102.589
Hamburgo 12.176
Trieste 8.500
Antuérpia 5.150
Rio de Janeiro 35.659

O lugar influencia a cotação do café. Assim, em 6 de outubro de 1913, para quinze quilos, verificou-se, em Vitória, o preço de 7s 6d; no Rio de Janeiro, 8s 8d. A diferença vai, portanto, a mais de 1s.

Geralmente, o preço da arroba, em Porto do Cachoeiro, é 300 réis menos do que em Vitória; essa divergência corresponde ao frete, que, como já verificamos, é cerca de 250 réis, por arroba. O preço do café, no sítio, desce, em média, 500 réis mais.

No mercado mundial, o café de Santos alcança, em geral, maiores preços que o de Vitória: aproximadamente, 5% mais, nos Estados Unidos, e 10%, em Hamburgo, o que se explica, facilmente, por ser o café, no Espírito Santo, explorado em pequenas empresas, e beneficiado por processos primitivos, enquanto em São Paulo domina a grande empresa, tecnicamente melhor aparelhada, de modo que lá se obtém um produto mais uniforme.

O café em Vitória é classificado em claro e escuro. O claro usufrui preços um pouco mais altos, em virtude do sabor agradável e suave.

Como já vimos, recai na exportação do café um imposto ad valorem (vide “Introdução”). Semanalmente, determina-se, no Rio de Janeiro, a importância do tributo a pagar, e telegrafa-se para Vitória, informando o valor.


9. Os preços das mercadorias importadas e das produzidas no Estado

Os preços dos artigos importados do estrangeiro e dos estados meridionais do Brasil são muito altos, em virtude das condições desfavoráveis de transporte e da organização primitiva do comércio; também atuam, nesse sentido, os elevados direitos de importação e o sistema monetário. As mercadorias produzidas no Espírito Santo e em Minas Gerais, para o mercado interno, não são tão baratas, quanto se podia esperar numa região de economia predominantemente fechada.

Uma causa desse fenômeno me parece ser o fato de o dinheiro servir, essencialmente, para comprar bens de importação, de ter, como papel principal, o de funcionar como uma ordem de pagamento a mercadorias de fora; uma vez que os preços dessas são muito altos, que o poder aquisitivo da moeda é bem reduzido relativamente aos produtos importados, explica-se, de um ângulo puramente psicológico, é claro, que o poder de compra da moeda seja também pequeno para as mercadorias produzidas na região.

A tabela, abaixo, apresenta uma relação dos preços mais importantes que se verificaram, em 1913:

Víveres Quantum Porto do Cachoeiro Preços em mil réis
Campinho Jequitibá
Artigos de importação
Carne seca 1 kg 1,2 1,3 1,4
Farinha de trigo 45 kg 13 13,5 14-14,5
Arroz 10 l 4 4,5 5
Açúcar refinado 1 arroba 9 11,050
Sal grosso 1 kg 0,1
Cevadinha 1 kg 2,5
Sagu 1 kg 1,8
Cerveja 1 garrafa 43 47
Vinho (vinho tinto português) 50 l 43 47
Produtos do Estado
Ovos 2 dúzias 1
Manteiga 1 kg 2,5
Banha 1 kg 1,2
Feijão 10 l 3
Batatas 1 arroba 5
Carne de vaca 1 arroba 7
Carne de porco 1 arroba 12
Milho 80 l 7-9 8-10
Outras mercadorias importadas Quantum Porto do Cachoeiro Preços em mil réis
Campinho Jequitibá
Querosene 40 l 18 20 2,1
Fósforos 10 caixas 0,6
Sabão 1 kg 0,7
Morim 20 m 16
Chita 1 m 0,9
1 cafeteira simples 5
1 balde pequeno, branco esmaltado 6
1 candeeiro de cozinha 5
Ferraduras 60 16
6 cadeiras simples 75
Cimento 60 kg 8,5
1 enxada 2-3

10. Os artesãos

A atividade dos artífices representa uma violação à economia fechada, os quais, entretanto, exploram, simultaneamente, um sítio, daí obtendo algo para suas necessidades vitais. São poucos os ofícios exercidos.

Em primeiro lugar vem a selaria, de especial importância numa região onde o mais pobre agricultor tem o seu cavalo e se fazem todas as viagens no lombo dos animais. A profissão de sapateiro se associa, geralmente, à do seleiro; a necessidade de calçados é pequena, porque os garotos andam descalços, e os adultos não se calçam para trabalhar, usando calçados, apenas, nas festas, ou quando muito, ainda, para cavalgar. As outras profissões exercidas são as de ferreiro e funileiro.

Procurar-se-iam, inutilmente, o alfaiate, o padeiro, o carniceiro e o moleiro. A farinha é importada, e as atividades de açougueiro, padeiro e alfaiate pertencem à economia doméstica. O marceneiro é dispensável, pois os móveis são feitos em casa ou importados. Há alguns marceneiros, assalariados, isto é, que trabalham em casa dos fregueses.

Cabe aqui lembrar as indústrias de cervejaria e de aguardente. Naturalmente, trata-se de empresas minúsculas. Na zona baixa, encontram-se mesmo farmácias, o que se explica pela necessidade de remédios, da população nativa, altamente acessível às superstições e curanderias.

11. Observações finais

A circulação das riquezas, no Espírito Santo, está tão pouco desenvolvida que só de leve toca a vida dos colonos.

Uma queda dos preços do café que pode ser funesta para o estado e para a população citadina, tem, como já se assinalou, pouca repercussão sobre o colono. No máximo, obrigá-lo-ia a restringir a satisfação do que para ele representa luxo.

Uma parte, e só uma pequena parte, dos mantimentos que adquire fora pode ser considerada imprescindível. A roupa exige pequenas despesas, embora os preços das fazendas compradas para a sua confecção sejam proporcionalmente altos. É o que nos mostra o orçamento doméstico, que passaremos a examinar.

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NOTAS

[ 1 ] Lacmann, págs. 71 e seguintes.
[ 2 ] O frete de 8 arrobas (a carga de um burro), de Santa Teresa a Porto do Cachoeiro (20 quilômetros), é de 4 a 6 mil réis; o frete de volta é mais barato. Calculam-se, com freqüência, 3 mil réis por dia e por burro, pelo menos em viagens mais curtas.

Ernst Wagemann (autor) nasceu em 18 de Fevereiro de 1884, em Chañarcillo, Chile, faleceu em 20 de Março de 1956, em Bad Godesberg, Alemanha. Foi economista político e estatístico muito atuante na Alemanha a partir dos anos de 1920. Para mais informações sobre o autor clique aqui.

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