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Análise da obra

O uso da oitava rima [no Poema mariano] provavelmente influenciou a ‘Derrota de uma viagem feita para o Rio de Janeiro no ano de 1817’,[ 1 ] obra de Marcelino Pinto Ribeiro Duarte[ 2 ] que, além de se assemelhar ao Poema mariano no seu falso arcadismo pré-romântico, apresenta esse metro em suas 55 estrofes. Como explicamos, a oitava rima, empregada por Camões em Os lusíadas, é tradicionalmente destinada à abordagem do grandioso, do altissonante, do pomposo, do grandiloqüente, e não se enquadra no bucolismo, na simplicidade, na ingenuidade e na tranqüilidade do arcadismo. Apesar de se atribuir, imitando seus clichês, o criptônimo de “Marcino” e de espalhar “Análias” e “Francinas” — epítetos pastoris — pelo texto, não estamos diante de um árcade. O pré-romantismo capixaba e o nacional têm em comum o marco inicial de 1808 — em que o príncipe regente d. João tomou as medidas que produziram o surgimento da nação brasileira[ 3 ] — e o hábito de misturar a velha forma arcádica com os novos temas românticos e vice-versa. Afrânio Coutinho explica essa interpenetração de estilos com clareza:

Entre os dois momentos medeia, aliás, uma fase de transição — pré-romântica — em que lutam as tendências novas e o espírito antigo, expressa tal hesitação na mistura e interpenetração de tendências estéticas, de formas novas com temas cediços ou de assuntos novos com gêneros superados, tudo mostrando a indefinição e a incaracterização da época, dominada por um subarcadismo ou pseudoclassicismo. Correntes diferentes cruzam-se e misturam-se, barrocas, arcádicas, iluministas, neoclássicas, rococós, românticas, oriundas a maioria de fontes européias (…)[ 4 ]

Utilizando a palavra derrota no sentido de rota marítima percorrida por uma embarcação, Marcelino Duarte se propõe a narrar, embalado por entidades mitológicas, sua viagem ao Rio de Janeiro, onde pretendia se queixar a d. João VI dos desmandos, das perseguições, da crueldade, das injustiças e do despotismo do governador da capitania, Francisco Rubim. Mas o pré-romantismo do poema não se limita à ânsia de liberdade, à defesa dos oprimidos, à revolta contra a tirania e à luta pela justiça, temas que, na verdade, ocupam apenas cinco estrofes. Bem característico desse estilo é o tom brasileiramente lamentoso, magoado, sentimental, melancólico e adoecido pela saudade com que ele pinta os amores que deixa e a cidade de Vitória — chamada, repetidas vezes, de ‘pátria’ e em que se detém para versar, atormentado pela tristeza e pela dor, sua paisagem e seus recantos que, a contragosto, abandona. À medida que seu barco avança, o sombrio poeta descreve Vila Velha, o convento de Nossa Senhora da Penha — a que dedica quatro elogiosas estrofes —, as cruéis arbitrariedades de Rubim e os pitorescos lugares e ocorrências que emolduraram seu percurso até o Rio de Janeiro.

O cognome pastoril de ‘Marília’ não é suficiente para tornar arcádico — movimento antibarroco — este belo soneto de Marcelino, caracterizado justamente pelos fortes traços barrocos — e pré-românticos — oriundos da presença de metáforas, hipérboles, hipérbatos e adjetivos:

SONETO

    Quando os deuses, Marília, projetaram
Tua imagem formar linda, e mimosa,
A rica pedra, a flor mais preciosa
Da natureza providos buscaram:

    Teu rosto encantador ledos formaram
Do nevado jasmim, purpúrea rosa;
Os lábios, dentes, a boca graciosa
De cristais, e rubins organizaram.

    Nos olhos te puseram dois brilhantes;
Os cristalinos peitos transparentes
São de alabastro globos palpitantes.

    Querendo dar os deuses providentes
Clara idéia de si, stando distantes,
Teus dotes divinais temos presentes.[ 5 ]

A própria estrutura de diversos trabalhos seus está mais próxima da liberdade dos românticos do que do apuro dos árcades. Em uma de suas epístolas, por exemplo, em vez de se valer do decassílabo, metro geralmente escolhido pelos neoclássicos para essa elástica forma, Marcelino adotou inusitados tetrassílabos para os 89 quartetos de que é composta. O texto da epístola, que aborda todos os principais temas pré-românticos, sugere que ela teria sido escrita no Sítio da Saudade (quarteto 85: “Voto solene/Sagro à amizade/No da Saudade/Sítio, em que moro.”), para onde fugiu (11: “Ele só fez,/Que eu fugitivo,/Qual vil cativo,/Da Pátria andasse”), perseguido por Diogo Antônio Feijó (3: “Negra maldade/D’um monstro fero,/Feijó, vil Nero,/Q’a pátria oprime;”). O governo do grupo dos moderados (6: “Cativa grei/De moderados,/São seus soldados,/Prontos para tudo.”), a que Feijó pertencia, de fato prendeu muitos dos oposicionistas exaltados (36: “Sou exaltado…”) que, como Marcelino, tinham participado das revoltas populares que culminaram na abdicação de d. Pedro I, em 7.4.1831 (8: “Quem foi de Abril,/Sofre, como eu/Do vil Proteu,/Guerra cruenta.”) Entretanto, mesmo obrigado a se esconder, ele não desistiu de proclamar o seu patriotismo (37: “Amor constante,/Firme amizade,/Terna saudade,/Pátria, e civismo.”), o seu ardor nacionalista e revolucionário (74: “‘Fazei já guerra/’À traição vil;/’Viva o Brasil,/’Aos maus castigo'”) e o seu ódio à tirania (89: “Aos Céus imploro,/Te estenda os anos,/Salvo aos tiranos/Da Corte. Adeus.” Em seus versos, que impressionam pela modernidade cômica das onomatopéias usadas para pintar a paisagem brasileira, Marcelino revela-se de vez pré-romântico quando descreve seu refúgio no campo como desagradável, feio, mórbido, sombrio, angustiante, triste, melancólico e torturante, ao contrário dos árcades, para quem a natureza era um genuíno remédio capaz de restituir ao homem a paz de espírito e a felicidade roubadas pelos males da civilização:

EPÍSTOLA

18

O sol ativo,
Q’alegra as flores,
Meus dissabores
Azeda mais.

20

Se à noite fria
A terra enluta,
Tristeza bruta
M’investe, e mata.

42

Da noite o manto
Desprende apenas…
Q’ tristes cenas!
Q’imagem feia!…

43

Já não gorjeia
Meiga e sonora,
Saudando a aurora,
Terna avezinha.

44

Com voz daninha
No charco em bando
Pan… pan… gritando,
O Sapo enjoa.

45

No vale entoa,
Que o rio banha,
Nojenta intanha
Rom, rom, rom, rom.

46

D’agudo som
O perereca
Toca a rabeca,
Crré… crré… crré… crré.

47

Saudoso bé
Solta o bezerro:
Com outro berro
A mãe responde.

48

Bem perto, aonde,
Mato sombrio
Guarnece o rio
Sibila a cobra.

49

D’aqui desdobra
Com mago estilo
Caseiro grilo
Si… si… si… si…

50

Eis que dali
Com pio frouxo
Noturno mocho
Males augura.

51

Da sombra escura
D’alta figueira,
Geme agoureira
Magra coruja.

52

Ah! fuja… fuja
Destes lugares,
Quem meus azares
De ouvir se esquiva.

53

Se a luz furtiva
Do pirilampo
Matiza o campo
Um céu d’estrelas,

54

Julgai por elas
Minha ventura,
Se vem, não dura
Curto momento.

55

Voraz tormento,
Negra agonia,
Melancolia,
Baça tristeza,

[…][ 6 ]

Como bom pré-romântico, os acontecimentos políticos nacionais freqüentemente lhe serviam de inspiração. Em 1816, por ocasião dos festejos comemorativos da coroação de d. João VI, escreveu um Drama que foi encenado entre os dias 22 e 31 de maio, em um teatro improvisado erguido em frente ao atual palácio Anchieta, em Vitória. Membro do grupo oposicionista formado pelos liberais exaltados, Marcelino participou dos protestos nacionalistas responsáveis pela revolta que levou d. Pedro I a abdicar, em abril de 1831. Em conseqüência de sua presença nos distúrbios que, em julho desse ano,[ 7 ] provocaram uma nova insurreição popular, Diogo Feijó ordenou que ele fosse preso a bordo da fragata Paraguaçu — de onde fugiria mais tarde. Enquanto estava detido, segundo Wilson Martins, subiu ao palco, no Rio de Janeiro, a comédia em três atos A rusga da Praia Grande, ou O quixotismo do general das massas, de autoria de Januário da Cunha Barbosa, aliado de Feijó. A peça aludia à agitada vida amorosa de Marcelino,[ 8 ] que morava na Praia Grande, em Niterói. Informado da estréia, escreveu como resposta, mesmo encarcerado na Paraguaçu, a comédia política O cônego e Inês, em que satiriza Januário Barbosa (o ‘cônego’), Feijó (chamado em cena de ‘Jeifó’) e Evaristo da Veiga (‘Eravisto’). A polícia — sempre a serviço dos poderosos — naturalmente impediu sua representação. O texto, em decassílabos, com rimas emparelhadas, de que se conhece apenas um fragmento,[ 9 ] empreende uma engraçada crítica de costumes em que a história nacional ocupa lugar de destaque. Contudo, os inegáveis bons momentos de seu humor ficam fora do alcance do grande público, que não possui os conhecimentos históricos necessários para compreendê-los.

A lira que apresentamos em seguida é um poema tipicamente pré-romântico. Seu tom sombrio, noturno, irreal, povoado pela visão lúgubre da saudade, espelha o tormento do poeta que, longe da amada, se vê possuído por sonhos ruins, se desespera, se angustia e se entristece. A melancolia e a solidão que o torturam são vazadas em uma linguagem emotiva e adjetivada que expressa com habilidade o sentimentalismo brasileiro:

LIRA

Acaso eu dormia
Já frouxo, e cansado,
De andar todo o dia
Buscando o meu gado.
  Um sonho me pinta
De linda donzela,
A imagem mais bela,
Mais triste a chorar.
Ao vê-la me inspira,
Oh céus, que pesar!
Os olhos não tira
Do chão lagrimosa,
Soluça, e suspira
A deusa formosa.
  Nas vestes inculca
Pesar, e desgosto,
C’um véu cobre o rosto
De arminho na cor.
Minha alma então sinto
Partir-se de dor.
Marília, não minto,
Gemia eu dormindo,
Q’a imagem, que pinto
O mesmo sentindo
  Forcejo, e não posso
Sufocar o pranto,
Q’a dor pode tanto,
Q’ julgo morrer,
Choraras, se visses
O meu padecer.
Se ao filho de Ulisses
Não deixa um Mentor,
Meus dias felizes
Empece-me a dor.
  Quem sois, eu pergunto
À triste deidade,
“Eu sou a saudade”
A deusa me diz,
Eu só te persigo,
Te faço infeliz.
Não basta, lhe digo,
Contra mim, oh! Nume,
P’ra meu mor castigo
Amor, e ciúme?…
  Se vejo a Marília
Amor me persegue,
Se a deixo, me segue
Ciúme infernal.
Ah! tu inda mais
Duplicas meu mal!…
Suspiros, mil ais
Do peito arrancando,
Ah! diz, não te faz
Mais meigo, e mais brando?…
  Tem dó de meu pranto,
Do mal, que suporto,
Se queres-me morto
Demora não tem.
Marília… repito;
Marília… meu bem…
A causa de aflito
Gemeres, chorares,
Sou eu, teu delito
Teu mal, teus pesares
  Vai ver a Marília
Que chora, qual gemes,
Que o mesmo, que temes
Te julga infiel
Assim me responde
O Nume cruel
Acordo, e se esconde,
Suponho em meu peito,
Pois apalpo a onde
Estava, era o leito.
  Em pranto afogado
A Deusa procuro
Um véu negro escuro
Só mostra-me horror.
São estes, Marília,
Prodígios de amor.[ 10 ]
‘Pranto’ é um trabalho que comprova a sua importância na criação de uma sensibilidade brasileira dentro da literatura capixaba. Inspirando-se em uma forma popular, a trova — originalmente formada por uma só quadra de versos heptassílabos em que o segundo e o quarto versos são obrigados a rimar —, Marcelino consegue um ritmo bem adequado à atmosfera de seu poema, cheio de fossa, de pieguice, de desespero, de angústia, de vazio existencial, de saudade, de solidão, de jogos amorosos burlescos (“Tu m’afagando entre os braços,/Eu te estalando os dedinhos”), de fantasia de suicídio ante os olhos traidores da amada — lupicínica vingança da dor-de-cotovelo —, flashes românticos em que a dor é uma equilibrista suspensa e esquartejada entre o grotesco, o patético, o trágico, o mórbido e o cômico:

PRANTO

     Ouvistes meu terno canto,
Parai um pouco p’ra ouvires
O triste som de meu pranto.

    Mil vezes, ah! venturoso,
Olhando a vossa corrente,
Os belos dons de Marília
Cantou Marcino contente,

    Mas hoje, oh! céus! que essa ingrata
Motiva minha amargura,
Ouvireis entre soluços
Minha cruel desventura.

    Essa com quem tantas vezes
Me vistes ledo brincando,
Ela tão meiga entre as outras
Furtivos beijos me dando,

    Que só mostrava prazer,
Quando contente me via,
Que, eu só gemendo, chorava,
Eu só me rindo, se ria,

    Mudou-se enfim; só m’ostenta
Um ar pesado e sisudo,
Já não me chama mimoso,
Seu bem, seu mimo, seu tudo.

    Outro merece os afagos
De seu cruel coração,
Eu só mereço seu ódio,
Seu desprezo, e ingratidão.

    Eu morro… ah! vil!… já não posso
Suportar tanta esquivança!
Marília; oh! céu! me despreza!…
Quem motivou tal mudança?…

    Marília!… o Nume por quem,
Desprezei patrícios lares,
O néctar mais saboroso
Nos meus tiranos pesares!…

    Matai-me, céus, nem viver
Um só momento desejo;
Acabai, Rio, meus males,
Se algum dia o meu desejo.

    Envolvei nas vossas águas,
Levai nas vossas correntes,
O mais triste, e desgraçado,
Mais infeliz dos viventes,

    Ânsia, raiva, amor, ciúme,
Todas as fúrias do Averno,
Exasperam meu tormento,
Duplicam meu mal eterno.

    Ah! Marília, e como ingrata,
Pôde em ti tão vil traição?
Tu, que mil vezes chorando
Mostravas tanta paixão?

    Mudaste em fim [sic]; não me adoras…
Toda és fúria contra mim,
Inda mais fera que um tigre,
Raivosa mais que o Rubim.

    Não me tiveste, cruel,
Sempre submisso a teu mando,
As leis sagradas de amor
Fielmente executando?

    Aquelas tardes passadas
Entre amorosos carinhos,
Tu m’afagando entre os braços,
Eu te estalando os dedinhos.

    Onde estão, cruel Marília?…
Quem me roubou tal ventura?…
Foi sim, ingrata, meu fado;
Foi minha pouca ventura.

    Um vesúvio o mesmo inferno
Abrasam meu peito aflito.
Não bramem, não choram tanto
As almas no vil cocito.

    Eu morro… Oh Céus! já percebo
Da morte o frio desmaio;
Vem ver ao menos, tirana,
Como d’aqui morro, e caio.

    Vós, Rio, que entre os peixinhos
Tão saudoso murmurais,
Que enternecido comigo
Tão tristemente chorais,

    Cobri, cobri compassivo
Meu corpo com vossas águas,
Nelas acabe Marcino,
Com ele pesar, e mágoas.[ 11 ]

A obra de Marcelino parece ter constituído uma espécie de modelo para os autores pré-românticos que o sucederam. Seus recursos técnicos, seu sentimentalismo, seu nacionalismo, seu patriotismo e seus lugares-comuns de falso árcade ressurgem em José Gonçalves Fraga e em João Luís da Fraga Loureiro de forma diluída e sem o talento que o caracterizava. Até mesmo a bajulação apologética, a que deu início com sua ode a d. João VI, é reproduzida ad nauseam por ambos e piorada — se isso for possível.

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NOTAS

[ 1 ] Esse é o título original, segundo o Jardim poético (op. cit., p. 39). Afonso Cláudio, não contente em distorcer os versos de Marcelino Duarte nas pp. 57-76 de sua História da literatura espírito-santense (op. cit.) realizando alterações desnecessárias que ele, entretanto, afirma serem “indispensáveis” (veja a p. 57), transformou o título em ‘Derrota de uma viagem ao Rio de Janeiro em 1817’ (p. 57). A erudição de José Augusto Carvalho efetuou, em seu Panorama das letras capixabas, a melhor transcrição integral — a partir do texto do Jardim poético — da ‘Derrota de uma viagem feita para o Rio de Janeiro no ano de 1817’ ao alcance do leitor moderno. Veja José Augusto Carvalho, ‘Panorama das letras capixabas’, Revista de Cultura — Ufes, Vitória, Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 7 (21):63-76, 1982.
[ 2 ] Marcelino Pinto Ribeiro Duarte (Serra, 18.6.1788 — Niterói, 7.6.1860), professor de latim, poeta, político, primeiro dramaturgo nascido no Espírito Santo, não deixou que o fato de ser padre — e filho de padre — se tornasse um obstáculo à movimentada vida amorosa registrada pelos seus versos. De temperamento arrebatado, revoltou-se, em 1817, contra o despotismo do governador Francisco Rubim. Viveu no Rio de Janeiro de 1817 a 1830. Pertenceu ao grupo oposicionista de liberais exaltados cujos protestos nacionalistas contra os portugueses foram o estopim das revoltas populares de 1831. Segundo Afonso Cláudio (ibid., p. 89), elegeu-se deputado pelo Espírito Santo em 1838. Seus poemas estão distribuídos pelos dois volumes do Jardim poético. Sob a forma de ensaio, publicou a curiosa Arte de ler e escrever em pouco tempo, em 1842, pela tipografia Niteroiense, em que propunha uma ortografia fonética. E autor das peças Drama, de 1816, e O cônego e Inês, de 1831. Sua personalidade panfletária fica parcialmente exposta em um folheto de 16 páginas impresso na tipografia Nacional, no Rio de Janeiro, em 1822, e intitulado O Brasil indignado contra o projeto anticonstitucional sobre a privação das duas atribuições, por um filopátrico. Os dados fornecidos a seu respeito por Afonso Cláudio devem ser analisados com cautela antes de serem acolhidos.
[ 3 ] Marcelino é autor de uma ode em que bajula d. João VI, chamando-o de herói e comparando-o a Enéias e a Ulisses — veja J. M. P. Vasconcelos, Jardim poético, Segunda Série, Vitória, tipografia de Pedro Antônio d’Azeredo, 1860, pp. 65-6. Daqui por diante o denominaremos de Jardim poético II para diferenciá-lo do tomo de 1856, que continuará a ser citado sem algarismos romanos. Afonso Cláudio (op. cit., pp. 77-8) justifica sua atitude, afirmando — ou inventando, possivelmente — que os versos foram feitos para agradecer o afastamento, a seu pedido, do governador Francisco Rubim, o que não é registrado pelos bons historiadores. Rubim só deixaria o Espírito Santo dois anos após sua briga com Marcelino, em 1819, por ter sido nomeado governador do Ceará (veja José Teixeira de Oliveira, op. cit., p. 259). Ora, não se concebe que d. João VI desse ouvidos às reclamações de um desconhecido padre mestre do interior contra um de seus homens de confiança, capitão-de-mar-e-guerra da Armada Real, nem um pedido, se aceito, demoraria dois anos para ser executado — considerando que o próprio Marcelino Duarte data de 1817 sua viagem ao Rio de Janeiro com esse objetivo — nem, se atendido, é crível que lhe fosse dado o novo e honroso posto de governador do Ceará.
[ 4 ] Afrânio Coutinho, ‘O movimento romântico’, em: — A literatura no Brasil, 3ª ed., Rio de Janeiro/Niterói, José Olympio/Universidade Federal Fluminense, vol. 3, 1986, p. 16.
[ 5 ] M. P. R. Duarte, apud J. M. P. Vasconcelos, Jardim poético II, op. cit., p. 43. Afonso Cláudio (op. cit., p. 79) também deturpa este soneto e, de presente, confere-lhe um título inexistente no original.
[ 6 ] Ibid., pp. 107-15.
[ 7 ] Caio Prado Júnior relata os acontecimentos de julho de 1831: “O mês de julho assinala o início da série de golpes que encheriam todo o período da Menoridade. Logo nos primeiros dias deste mês, é a capital do Império teatro de arruaças, a que se juntam os soldados, que, desrespeitando os oficiais e abandonando os quartéis, fazem causa comum com o povo amotinado. No dia 14, depois de vários dias de distúrbios, reúnem-se tropa e povo sublevados no Campo da Aclamação e enviam ao governo suas condições: reformas democráticas da Constituição, suspensão dos funcionários nascidos em Portugal, deportação de uns cem cidadãos, entre os quais figuravam senadores, militares, magistrados e outras pessoas de destaque; exoneração do ministro da justiça; proibição da imigração portuguesa por dez anos. Como era de se esperar, a Assembléia nem tomou conhecimento da representação, estranhando mesmo que o ministro lha tivesse apresentado.” Veja Caio Prado Júnior, Evolução política do Brasil e outros estudos, 5ª ed., São Paulo, Brasiliense, 1966, p. 59.
[ 8 ] Wilson Martins, História da inteligência brasileira, 2ª ed., São Paulo, Cultrix, vol. II, 1978, p. 195.
[ 9 ] A História do teatro capixaba: 395 anos (op. cit.) transcreve esse fragmento nas pp. 68-72.
[ 10 ] M. P. R. Duarte, apud J. M. P. Vasconcelos, Jardim poético II, op. cit., pp. 58-60. Em nossas transcrições, limitamo-nos a atualizar a ortografia. Decidimos não eliminar outras falhas evidentes, como as de pontuação, por enxergarmos nelas um certo valor histórico.
[ 11 ] Ibid., pp. 123-7.

[In GAMA FILHO, Oscar, Razão do Brasil em uma sociopsicanálise da literatura capixaba. Rio de Janeiro / Vitória: José Olympio / Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1991, p. 57-70.]

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Oscar Gama Filho é psicólogo, poeta e crítico literário com diversas obras publicadas.(Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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