Voltar às postagens

Capítulo V – Notas sobre Santa Teresa



1. O nome de Santa Teresa — 2. Os polacos no Timbuí — 3. Os passageiros do Rivadavia

As cidades do Espírito Santo fundadas por imigrantes italianos ainda não têm a história escrita que merecem, porque a história vai se completando e corrigindo como um mosaico. Cem anos de colonização deveriam ter sedimentado hábitos, costumes e tradições familiares, o que , de fato, não se verificou. Um capixaba de quarta geração não sabe o nome dos bisavós e esta falta de memória cultural se justifica por diversas causas. O que se publicou e se publica em matéria de imigração italiana não teve base de pesquisa em fonte documental segura, mas preferiu a tradição oral, de modo que os fatos, muitas vezes, são interpretados na sua particularidade pitoresca. À falta de cultura letrada deve-se acrescentar que a segunda guerra mundial e a existência do integralismo como partido político provocaram a destruição de muitos documentos pessoais das famílias, que pudessem identificar a origem dos imigrantes. Houve colonos que trocaram de nome ou o abrasileiraram para evitar perseguição política e outros inconvenientes com o governo de Getúlio Vargas.

Santa Teresa é, atualmente, a mais comentada de nossas ex-colônias italianas. Alguns documentos do Arquivo Público Estadual do Espírito Santo trazem informações que divergem das versões pitorescas. A primeira delas diz respeito ao nome da atual cidade “Santa Teresa”. A segunda é a de que foram os “primeiros” colonos a chegarem ao núcleo Timbuí.

Este trabalho pretende mostrar que: 1. O nome de Santa Teresa é anterior à chegada dos tiroleses àquele local. 2. Os primeiros colonos que ocuparam a região do Timbuí foram polacos e algumas famílias da malograda fazenda “Nova Trento” de Pedro Tabachi. 3. Somente depois os tiroleses do navio Rivadavia ocuparam o lugar central do núcleo e tiveram a sensação de serem os primeiros e reais fundadores do local.

Basta a leitura do documento oficial escrito pelo então Diretor interino da colônia de Santa Leopoldina, Pedro de Sant’Anna Lopes, em 1875, na íntegra, para que se tenha uma noção das três afirmações mencionadas acima:

Colônia de Santa Leopoldina, Porto do Cachoeiro, 11 de julho de 1875.
Ilmo. E Exmo. Sr.
A conveniência da criação quanto antes de uma colônia nas fertilíssimas matas do Timbuí, torna-se cada vez mais urgente.
A colônia de Santa Leopoldina acha-se já em tal estado de desenvolvimento, que já se pode ir cuidando de sua próxima emancipação; quase que todos os colonos já se acham em condições de poderem dispensar a tutela do Estado, e grande número deles já possuem fortuna relativamente sofrível.
A continuar a remessa para ela de emigrantes em número avultado, ocasiona o acréscimo progressivo de sua despesa, e na sombra dos colonos novos os velhos continuam no usufruto dos favores do Estado, sem que seja possível evitar esse abuso.
Além disto acresce que a colônia abrange uma grande extensão de território coberto com uma grande rede de estradas e caminhos e muitas pontes, cuja conservação e prolongamento deles à proporção do seu desenvolvimento para o centro acarreta grande dispêndio. Os últimos emigrantes acham-se estabelecidos a 8 e 9 léguas do Porto do Cachoeiro.
Acresce mais que os terrenos devolutos em rumo de sul já escasseiam e a cada passo se encontram terrenos ocupados por particulares residentes no Galo, Chapéu e Pedra Branca.
Assim, pois, julgo conveniente que esses terrenos fiquem reservados não só para o futuro desenvolvimento da cultura dos colonos atuais, como também para o estabelecimento dos filhos destes, logo que atinjam idade legal.
Deste modo o Governo poderá daqui a quatro anos decretar a emancipação desta colônia, fazendo-a entrar na massa comum da população.
Para poder-se chegar a este fim convém desde já encaminhar a emigração para o Timbuí onde já existem emigrantes polacos estabelecidos há dois anos, e onde acabo de estabelecer os italianos recém chegados.
Este novo núcleo desenvolve-se à margem da antiga estrada de Santa Teresa, acompanhando no princípio o rio do Norte e depois o rio Timbuí; comunicando-se com o Porto do Cachoeiro pela estrada do Timbuí e com a colônia de Santa Leopoldina pelo centro.
Prevendo o futuro desenvolvimento da colônia do Timbuí escolhi quatro prazos em lugar conveniente para o estabelecimento da futura povoação na estrada de Santa Teresa, margem do Timbuí, onde mandei derribar o mato e construir um grande barracão.
Deste ponto ao Porto do Cachoeiro, no estado atual dos caminhos gastam-se seis horas.
Se o Governo quiser criar a nova colônia o poderá fazer desde já, visto já estar satisfeita a condição de medição e demarcação recomendada pelo regulamento de 1867, para a criação de novos núcleos coloniais.
Se for criada a nova colônia posso assegurar o seu próspero futuro, pois há mais de mil e quinhentos italianos austríacos que, a convite de seus parentes e amigos daqui se preparam para emigrar para cá.
Ao Governo compete resolver como julgar mais conveniente.
Deus Guarde a V.Exa.
Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Domingos Monteiro Peixoto: D. Presidente desta Província.
O Diretor interino Pedro de Sant”Anna Lopes.

1. O nome de Santa Teresa

Uma questão clara neste documento é o nome de Santa Teresa. “Este novo núcleo (Timbuí) desenvolve-se à margem da antiga estrada de Santa Teresa” diz Pedro de Sant’Anna Lopes. E repete logo a seguir: “escolhi quatro prazos em lugar conveniente para o estabelecimento da futura povoação de Santa Teresa, margem do Timbuí…”. A estrada de Santa Teresa foi iniciada em 4 de setembro de 1848 sob a Presidência de Antônio Pereira Pinto e está presente em quase todos os relatórios dos presidentes da Província, além de aparecer em centena de documentos do Arquivo Público Estadual. Quem fala dos erros desta estrada e do seu traçado é o engenheiro Gabriel Emílio da Costa no seu relatório de 8 de janeiro de 1873, dois anos antes do estabelecimento dos tiroleses no núcleo do Timbuí, época da chegada dos polacos à colônia de Santa Leopoldina. Assim escreve o engenheiro sobre a referida estrada:

Falando rigorosamente o Rio Doce não possui vias de comunicação que se possam chamar regulares. A estrada para Minas não passa de uma picada tortuosa e mal feita por onde os mineiros rompem até a Natividade. Da Natividade em diante existe estrada a de Santa Teresa, até a vila da Serra e Vitória. A estrada de Santa Teresa que na opinião de muitos só tem servido para sobrecarregar os cofres públicos, não tem atraído como era de esperar os gêneros da produção mineira para o comércio da Vitória; passam-se meses sem que ela seja transitada por uma viva alma. A causa disto é fácil de explicar: a estrada de Santa Teresa a cuja construção não presidiram os estudos indispensáveis quanto à direção, terminando na Natividade estabeleceu uma comunicação não com a Província de Minas e sim com um ponto insignificante de Minas. Para que houvesse comunicação entre as duas Províncias era necessário ou que a estrada de Santa Teresa fosse adiante ou então que a Província de Minas entroncasse algumas das suas estradas na de Santa Teresa. Se a estrada de Santa Teresa tivesse para ponto terminal a florescente freguesia de Caratinga, por exemplo, podia-se com razão esperar que os mineiros procurassem o mercado da Vitória pois além de outros pontos haveria estrada para a cidade de Ponte Nova, Freguesia de Abre Campos e Vermelho, Arraial das Antas, Caratinga e em outra direção com a cidade de Itabira Joanésia por que de todos estes pontos existem estradas regulares até a freguesia do Caratinga. Não falo nas comunicações com o Norte da Província de Minas as quais por serem as mais importantes são também as mais dispendiosas. O Serro, o Peçanha e outros povoados ao Norte de Minas não comerciam com o Rio Doce porque não podem chegar até ele. Enquanto a Província de Minas não atender para esta deficiência todo o passo dado para a desejada comunicação de Minas com a Vitória pela estrada de Santa Teresa é baldado. Com efeito, do Timbuí até o Crubixá poucas situações existem ao longo da estrada de Santa Teresa e daqui em diante, até a Lage mais de quinze léguas não se encontra um único habitante. Da Lage até o Guandu existem alguns moradores intrusos, mas estes têm mais facilidade e menos dispêndios em mandar e receber gêneros pelo Rio doce. Se a Província de Minas julgar de interesse oferecer aos seus centros produtores uma comunicação franca para o litoral da Província do Espírito Santo e se esta atender à necessidade de modificar o trânsito pela estrada de Santa Teresa de modo a aproximá-la de um mercado livre com o da vila de Santa Cruz que sem contestação alguma é preferível ao da Serra e mesmo ao de Vitória por faltas de pastagens, não deve causar espanto aos pessimistas que a estrada de Santa Teresa se torne um poderoso contribuinte para o aumento das rendas da Província.

A estrada de Santa Teresa era uma das quatro vias de comunicação, na época, que ligava esta Província com a Província de Minas. Se bem que precária, sua história e seu traçado são inconfundíveis. O famoso e colorido mapa impresso em 1878 que acompanhava a Breve notícia descritiva sobre a província do Espírito Santo, organizado pela Inspetoria Geral de Terras e Colonização, mostrava o traçado de “inclusive a via férrea projetada desde a cidade de Vitória até as proximidades da povoação denominada “Porto do Souza”, a qual está situada a pequena distância da margem direita do Rio Doce”. Esta via férrea passava por Santa Teresa e os engenheiros se utilizaram do primeiro mapa do núcleo Timbuí onde estão marcados os quatro prazos mencionados por Sant’Anna Lopes.

O primeiro mapa do núcleo Timbuí continua inédito. Datado de 1876, apresenta a estrada de Santa Teresa cortando o rio Timbuí no exato local da medição dos quatro prazos demarcados por Sant’Anna Lopes.

A origem do nome de Santa Teresa é, pois, anterior à chegada dos imigrantes tiroleses. Se se perguntar porque esta estrada iniciada em 1848 tinha no nome de Santa Teres não parece difícil a resposta. Basta lembrar que a estrada que ficava mais ao sul e se dirigia para Minas chamava-se São Pedro de Alcântara. Ambas homenageavam o Imperador Dom Pedro II e a imperatriz Teresa Cristina.

Querem alguns, com toda a devoção, que o nome ao lugar foi dado por uma imigrante muito religiosa de nome Teresa Roat, avó do cientista Augusto Ruschi, que possuía uma imagem da tal santa e a colocava no oco de uma grande árvore e onde proferiam suas orações. Com todo o respeito ao famoso cientista e aos demais católicos de Santa Teresa — a religiosidade dos italianos é um traço fundamental da sua identidade — deve-se dizer que não eram os imigrantes que davam nome aos núcleos. O Regulamento para as colônias do Estado, de 19 de janeiro de 1867 dizia logo no Artigo 1o. “As colônias do Estado serão criadas por Decreto do Governo Imperial, com a designação do respectivo nome e distrito colonial previamente escolhido, medido e demarcado por engenheiro do Governo.” Ora tal se dera com o nome da colônia de Santa Leopoldina, nome da esposa de Dom Pedro I. Os núcleos recém criados nesta colônia em 1875 e 1877 receberam os nomes de Timbuí e Santa Cruz, respectivamente. E os demais seguiram a regra, o artigo 1o.: Alfredo Chaves, Antônio Prado, Acioli Vasconcelos etc. e continuaram após a proclamação da República com Moniz Freire, Afonso Cláudio, Colatina, etc. Como se dissesse “Timbuí, na estrada de Santa Teresa…” por força da religiosidade e bem mais tarde, prevaleceu o nome de Santa Teresa, enquanto que a mesma religiosidade não prevaleceu no núcleo Santa Cruz que já está no seu oitavo nome e hoje conhecemos como Ibiraçu.

2. Os polacos no Timbuí

A segunda questão a se considerar no documento de Sant’Anna Lopes diz respeito aos primeiros habitantes do Timbuí. Diz ele: “convém desde já encaminhar a emigração para o Timbuí onde já existem emigrantes polacos estabelecidos há dois anos.” Isto é confirmado por um longo relatório do Diretor da Colônia de Santa Leopoldina, Bernardino B. da Cunha Bastos, datado de 27 de janeiro de 1873 e enviado ao Presidente da Província, João Tomé da Silva.

Tendo chegado nos primeiros dias do mês corrente os imigrantes vindos nos barcos Zorida e Herlig Oscar Frederick fiz o quanto me era possível para hospedá-los convenientemente. Assim, não só por falta de casa própria no porto do Cachoeiro, para receber tão grande número (500 pessoas) como também por não ser conveniente deixá-los aglomerados em estação tão imprópria, tratei de dispersá-los pela colônia, o que não pude conseguir por eles não se quererem separar. Com muito custo consegui dividi-los em quatro porções, ficando uma no barracão do porto do Cachoeiro, outra na casa junto da Igreja Católica, outra nas quatro casas que o Sr. Gonçalo Pinto de Amorim Machado me fez o favor de emprestar para este fim e outra, finalmente seguiu para os trabalhos do Engenheiro Dr. Pedro de Albuquerque Rodrigues que os tem acomodado convenientemente.

A presença dos polacos gerou uma série de problemas para as autoridades e também para os outros imigrantes e, neste mesmo sentido, continua escrevendo o Diretor:

Cumpre-me declarar que os antigos colonos aqui estabelecidos e mesmo os Pomeranos que vieram nos barcos Zorida e H. O Frederick não fazem liga com os demais que são por eles denominados Polacos, pedem para que os estabeleça em separado, e alegam serem os tais Polacos muito revolucionários e ladrões. Estou convicto da conveniência de atender-se a tão justo pedido e tenciono estabelecer os Polacos nos lotes que forem sendo medidos pela Comissão a cargo do Dr. Pedro de Albuquerque Rodrigues que ficam bastante separados, isto se V. Exa. Não determinar o contrário.

O Regulamento de 19 de janeiro de 1867 dizia que os imigrantes tinham o direito a subvenção e comida durante os seis primeiros meses e os Polacos, instigados e instruídos por um tal Sr. Tesch, que pleiteava um cargo de agente consular, não quiseram mudar-se para as colônias no tempo estabelecido. Alegavam três motivos: falta de colônias medidas para todos, falta de assistência médica e, finalmente, salários diminutos. O que realmente pretendiam os polacos era dar o golpe no governo e se retirarem para outra colônia onde, depois de seis meses, procederiam da mesma maneira. Por esta altura dos acontecimentos, 7 de junho de 1873, o Dr. Pedro de Albuquerque Rodrigues era nomeado Diretor da Colônia de Santa Leopoldina e é ele que, vendo os polacos das casas do Sr. Gonçalo se retirarem dizendo querer voltar para a Europa, pede 15 a 20 homens da Guarda Nacional para forçá-los a se mudarem par aos prazos medidos e impedir a seguida dos mesmos para Vitória. No dia 17 de julho o Diretor não pôde comparecer a uma reunião com o Presidente da Província em Vitória, e se desculpa porque teve que “procurar ver se consigo dissuadir um grande número de Polacos que existem nos mesmo trabalhos e segundo sou informado, estão mudando-se daqui para o Porto do Cachoeiro.” Primeiro foi à mata e logo no dia 19 chama o Presidente da Província para combinar a ação dele com o oficial da Guarda Nacional. Passados mais dois dias:

Todos os Polacos, com exceção talvez de 15 a 20 famílias se tanto estão reunidos aqui no Porto e convenientemente armados, perfazendo um número de mais ou menos cem homens. Não obstante a rivalidade que existe entre Alemães e Polacos nem um recurso posso esperar daqueles no caso de um conflito pois dizem eles são também Prussianos, e pelo contrário entre os últimos chegados talvez encontremos alguns inimigos.

Estabelecido o impasse, o Diretor escreveu no ofício no. 36 de 28 de julho de 1873:

…remeto a V. Exa. o mapa incluso em o qual se declara o nome de todos os chefes de família Polacos existentes nesta Colônia, data de sua estada na mesma, quais deles receberam prazos e o seu local, e os que ou recusaram-se definitivamente ou se acham duvidosos. Quanto aos motivos que levaram essas famílias a não aceitarem prazos e resolverem retirar-se nem um há que mereça sérias atenções.

O mapa estatístico tem os seguintes dados: 48 colonos aceitaram prazos sendo que dentre eles 31 na Colônia de Santa Leopoldina e 17 colonos polacos no Timbuí; 27 recém chegados duvidavam; 59 colonos recusaram os prazos; estes 59 se retiraram para Vitória em duas turmas, 30 em 25 de julho e 29 em 29 de julho do mesmo ano; um ficou hospitalizado em Vitória; o total somava 135 famílias e o número médio de membros por família era de 5 pessoas.

O Diretor não deixou de escrever ao Presidente da Província com pesadas considerações quanto ao comportamento dos colonos:

As concessões que eles obtiveram foram por demais nocivas à regularidade dos serviços da colônia: para calmar o seu gênio turbulento permitiu o meu antecessor que trabalhassem até meninos de 8 a 9 anos de idade (…) e forçoso é confessá-lo que quase tanto merece o menino como o homem pois o trabalho de um deles não vale em consciência mais de 400 réis diários. A ociosidade, o descaramento, a ratonice, o gênio desordeiro são os caracteres distintivos do Polaco. Por conveniência e moralidade do serviço fui forçado a não deixar sequer um Polaco nas turmas em que trabalham os Alemães (Pomeranos) pois o seu contato era por demais sensível ao serviço. Essa gente foi como uma praga lançada sobre esta Colônia: a passagem de um grupo deles é sempre perfeitamente traçada pela destruição e roubo ou furto de algum objeto. Tudo lhes serve; alguém pode ficar tranqüilo diante desses, talvez, antigos fregueses das casas de correção de Possen? Alguém julga-se tranqüilo diante desses verdadeiros bandidos?

Os restantes que permaneceram, demonstrando serem de boa paz, foram colocados nos confins da Colônia de Santa Leopoldina, no Baixo Timbuí, numa medida discriminatória. São os fundadores de Santo Antônio dos Polacos. Foram eles:

Nome
Esposa
Lote
Navio
Membros
familiares
1. Franz Okonski
Mariana
9
Zorida
7
2. Joseph Ziemanoski
Eva
21
5
3. João Hasse
Johane
19
5
4. Johan Hasse
(filho do anterior)
7
5. Valentin Gdanitz
Veronica
8
6
6. Joseph Eiclolz
Maria
25
H.O. Frederick
3
7. Johan Selenski
Rosalie
17
3
8. Johan Latozewski
Mariana
15
6
9. Johan Fiertalski
Francisca
23
4
10. Joseph Grabowski
Maria
A
5
11. Franz Pszecka
Cecilia
13
5
12. Johan Dobrowoski
Veronica
16
5
13. Franz Grabowski
Catharina
A
6
14. Thomaz Grabowski
(filho do anterior)
A
15. Augusto Quanta
Mariana
31
5
16. Joseph Shilitz
Francisca
27
Marie Heydon
5
17. Thomaz Shilitz
Mina
29
3

Foram estes, oficialmente, os primeiros habitantes do Timbuí, antes mesmo da sua criação como núcleo. Estes polacos não devem ser confundidos com os imigrantes poloneses que mais tarde vieram ao Espírito Santo, já que a experiência com os polacos ficou encerrada com o acontecimento de sua retirada. O lugar, mais tarde, chamou-se Santo Antônio dos Polacos.

Com a ampliação da área das medições de colônias em Santa Leopoldina, uma nova frente se estabeleceu na direção do rio Timbuí passando pelo rio do Norte. Para esta região se dirigiram numerosos remanescentes da extinta colônia Nova Trento de Pedro Tabachi, em Santa Cruz. Estes italianos enviaram um requerimento ao Presidente da Província pedindo um professor na pessoa de Paoli Giuseppe. Sant’Anna Lopes escreve aos 9 de junho de 1874:

No incluso requerimento os Colonos Italianos ultimamente chegados a esta colônia, vindos da Colônia de Pedro Tabachi, pedem um professor para lecionar seus filhos; e dentre eles Paoli Giuseppe, pretendendo este encargo, apresenta os documentos juntos como prova de sua habilitação para o magistério…

No dia 24 de setembro do mesmo ano, Pedro de Albuquerque Rodrigues escrevendo sobre a área a adicionar-se à colônia de Santa Leopoldina, informou:

Para NE estendem-se até o Rio Doce, creio que uma distância provável de 4 a 5 léguas, contadas da parte já colonizada da estrada de Santa Teresa e onde atualmente estão agrupando-se os italianos: é evidente que prolongar a colônia nessa direção a ganhar o Rio Doce seria de vantagens reais. E pondera: Para que misturar Saxônios e Italianos que preferem o Timbuí com Pomeranos e Renanos que preferem o Oeste (Califórnia)?

Nesta ocasião já existiam 4 barracões na região do Timbuí. Eram construídos de madeira roliça e cobertos de palha. No dia 5 de janeiro de 1875 registra-se o recebimento de 130 imigrantes tiroleses em Santa Leopoldina. São os de Nova Trento que foram transferidos. Toda uma vasta movimentação de pessoal imigrante se registra nesta ocasião e tal fato chega a assustar os administradores. Em maio de 1875 Sant’Anna Lopes diz:

Neste momento acabo de receber o ofício de V. Exa. datado de 24 do corrente sob no. 89, comunicando-me a próxima chegada de 350 imigrantes Tiroleses com destino a esta Colônia. Ficam dadas as providências precisas para o alojamento dos mesmos. Cumpre-me porém, ponderar a V. Exa. que me parece inconveniente a vinda de imigrantes em número tão crescido na quadra atual, em que esta Colônia está lutando com a epidemia de varíola e febres intermitentes, moléstia esta que não tem excetuado nem aos naturais desta localidade; mesmo eu acho-me há 3 dias de cama sofrendo febres.

Entre estes 350 estão os fundadores da cidade de Santa Teresa.

3. Os passageiros do Rivadavia

A referência anterior a 350 imigrantes tiroleses diz respeito aos que chegaram no navio Rivadavia, ao Rio de janeiro. Depois da quarentena, que nunca era de 40 dias, vieram para Vitória em dois grupos, nos navios nacionais Ceres e Bahia. A primeira lista do primeiro grupo foi feita pelo curador dos imigrantes Frederico Meyer, na Agência Oficial de Colonização, em 28 de maio de 1875 e se intitula: Relação dos imigrantes que no dia 29 do corrente seguem para Vitória com destino à colônia de Santa Leopoldina no vapor CERES. Estão enumerados 154 imigrantes. A segunda lista do segundo grupo foi feita por Kurt K.F. Vincent, na Agência Oficial de Colonização com data de 31 de maio de 1875, com o título: Relação dos imigrantes que no dia 1 de junho de 1875 seguem para Vitória com destino à colônia de Santa Leopoldina no vapor BAHIA. Estão enumerados 163 imigrantes.

Esta listas apresentam sinais de chave marcando o grupo de cada família, nomes que foram cortados e que se supõe não viajaram, número do lote sorteado quando da sua distribuição no já então núcleo Timbuí, etc.

Em cumprimento às ordens de V. Exa. de 10 do corrente sob no. 100 [escreve Sant’Anna Lopes ao Presidente da Província] tenho a honra de passar às mãos de V. Exa. cópia das listas dos imigrantes que vieram nos vapores BAHIA e CERES, procedentes do Rio de Janeiro.

Um mês antes, o mesmo diretor da Colônia de Santa Leopoldina achava inconveniente a vinda de um número tão grande de imigrantes no período em que a colônia era assolada pela varíola e por febres. Recebeu, pois, ordem terminante para fazer pernoitar os imigrantes na fazenda Nova Coimbra no penúltimo dia de viagem. Tal medida visava a impedir o contato dos recém-chegados com os colonos do Porto do Cachoeiro e não deixar ninguém atravessar o rio. Para isso ficou calculado que os tiroleses deviam chegar a Nova Coimbra pela noitinha, às 5 horas da tarde quando já começa a escurecer. Estas medidas “isolacionistas” deram aos fundadores de Santa Teresa a sensação de pioneiros, pois não viram ninguém no seu trajeto. Saindo de Nova Coimbra foram direto para os barracões e depois para os lotes no meio da mata. Sabe-se disto porque o Diretor da colônia escreveu no dia 5 de julho de 1875: “Por ocasião da entrega dos lotes de terras aos imigrantes recém-chegados seis de entre eles se internaram tanto nas matas do Timbuí que extraviaram-se; 24 horas depois apareceram 4, faltando 2”. Um mateiro de nome Benedito de Oliveira Lemos encontrou os dois bastante extenuados de fome e de fadiga e os conduziu ao barracão.

Estes e outros dados sobre os primeiros colonizadores de Santa Teresa podem ser estudados no volume G 71 do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.

[BUSATTO, Luiz. Estudos sobre imigração italiana no Espírito Santo. Vitória, 2002. Reunião de artigos relacionados com imigração italiana, publicados em diversos periódicos. Reprodução autorizada pelo autor.]

———
© 2002 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
———

Luiz Busatto nasceu em Ibiraçu-ES, em 1937. Graduado em Letras, com cursos de especialização em Portugal (Teoria da Literatura e História da Literatura Portuguesa), na Itália (Filosofia), mestrado em Letras pela PUC/RJ e doutorado na mesma área pela UFRJ. Professor da Ufes e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Colatina (1969-1983). É membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e da Academia Espírito-santense de Letras. Foi presidente do Conselho Estadual de Cultura (1993/4) e vice-presidente (1986/7). Tem várias obras publicadas, sendo um estudioso da imigração italiana. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Deixe um Comentário