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Depoimento de Pedro J. Nunes ao Neples

Ficha pessoal

Nome: Pedro J. Nunes
Data de nascimento: 8 de janeiro de 1962
Formação acadêmica: Letras-Português, UFES, 1991
Profissão: Funcionário público estadual

Bibliografia

Aninhanha, romance, SPDC-UFES, 1992
Vilarejo e outras histórias, novela e contos, SPDC-UFES, 1992

Com outros autores:

Palavras da cidade, PMV, 1986
Jovens contos eróticos, Brasiliense, 1987
Mulheres – diversa caligrafia, Cultural-ES, 1996

Breve nota biográfica

O J. é de José, avô materno, e Pedro, de Pedro Nunes, avô paterno.

Onde nasce uma pessoa? No meu caso, nasci, acidentalmente, em Ibitirama, município de Alegre, ES. Provavelmente fui fabricado também lá, já que nasci onze meses depois do casamento de José Benedito Nunes e Anna Maria Costa Nunes. Nove meses depois me transferiram para São José do Calçado, onde acredito haver realmente nascido. Não guardo desse período de nove meses senão lembranças das estradas lamacentas que ligavam Ibitirama a São José do Calçado — minhas memórias da infância mais profunda são tão recentes que chegam a ser importunas. A infância em São José do Calçado inaugurou uma cidade de ruas nuas e pequeninas águas fétidas — fiapos de esgoto a céu aberto —, paisagem adjacente à casa de meus avós maternos, por sua vez vizinha do Buraco Quente, rua fria que misturava casebres de retirantes rurais e senhoras de abraços venais.

Primogênito de uma prole de cinco irmãos, minha mãe decidiu que eu aprenderia a ler aos seis anos. À custa de muitos beliscões e dissabores, conseguiu o intento. Quando entrei para o Grupo Escolar Manoel Franco, onde fiz as séries iniciais, já conhecia as palavras e estava totalmente seduzido por elas. Meus índices de palavras incluíam palavras sonoras e algumas obscenidades. Odiava algumas palavras, entre elas remorso, violeta e anilina. É desta época minha simpatia pelo palavrão falado e escrito, uma demonstração de vivacidade da língua, de evolução. Uma corruptela deliciosa — fidaputa — frequentava a boca de meu avô materno, Zé do Deco, e logo começou a frequentar a minha. Isso, é claro, causou uma série de pequenos incidentes domésticos e terminou por transformar-me num ser à parte, uma figura aparentemente frágil que ficava rabiscando nomes de ruas e palavras desconhecidas cuja compreensão ia buscar num velho dicionário guardado no fundo da gaveta — era impresso em papel bíblia razoavelmente corrompido.

Uma hérnia na virilha viria aliar-se ao fascínio que as palavras exerciam sobre mim. A doença transformou-me num ser necessitado de cuidados a quem foram oferecidos mimos em excesso, só pra manter uma funda pressionando uma fissura que teimava em não se fechar. Três anos consumiu a doença. Depois disso desapareceu e deu sumiço à funda. Nesse período, quando meu pai ia a Itaperuna adquirir provisões para casa e para o sítio, pedia-lhe livros, e então começaram a surgir brochuras de clássicos adaptados. O primeiro livro de texto integral que li foi Robinson Crusoé, de Defoe. Devia ter doze anos. Daí seguiu-se uma longa lista de autores: Julio Verne, Maria José Dupré, Homero Homem, Ofélia e Narbal Fontes, José de Alencar, Machado de Assis e Joaquim Manoel de Macedo, entre outros. O primeiro livro que tomei de empréstimo a um tio, Sebastião Nunes, uma leitura de obrigação, pois tinha de devolver o livro lido, foi Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. A impressão da leitura obrigatória, a que se somaram alguns livros de Machado de Assis, José de Alencar e Camilo Castelo Branco — livros adotados nos estudos secundários — só se desfizeram com uma segunda leitura do livro, já na minha fase adulta.

Trabalhei numa livraria por três meses, em São José do Calçado. Minha primeira profissão. Era o único funcionário, por isso não posso definir-me como gerente ou balconista. Enfim, fazia mal as duas coisas, pois a leitura interrompida pela chegada de algum freguês aborrecia-me bastante e eu o demonstrava. Talvez meu comportamento tenha sido elemento significativo na falência da livraria. Além disso, o proprietário ia mal, tinha umas questões conjugais sérias com a esposa, uma bela moça que devia estar distribuindo olhares, e ele, que não era lá essas coisas, revelava-se bastante ciumento. Um sujeito obeso, babão e sujo não devia agradar a tão melíflua criatura. Seja lá o que tenha acontecido com a vida conjugal dos dois, meus três meses de salário foram pagos com livros. Zeloso de meu crédito, creio haver levado para casa mais exemplares do que suficientes para quitação da dívida, e terminei formando minha primeira biblioteca com uma razoável quantidade de volumes.

Com a livraria fechada, uma possibilidade fascinante surgiu: o reembolso postal. Como eu lia qualquer coisa, inclusive as fotonovelas de minhas tias, descobri o reembolso postal nas páginas das revistas. O primeiro livro que adquiri — guardo-o até hoje — foi Deus existe: eu O encontrei, de André Frossard, secretário do partido comunista francês. Embora o autor não explique razoavelmente como O encontrou, o livro é delicioso. Os convertidos são incômodos, disse Bernanos. A primeira frase do livro me seduz ainda hoje. Mas o autor por que mais me apaixonaria, e que viria até mim também pelo reembolso postal, seria Dostoievski. A voz subterrânea, lida aos quinze anos, abriu um mundo de possibilidades, um mundo furioso, frenético. A essa leitura, prematura, somaram-se as leituras de Crime e castigo, Noites brancas, O duplo, Pobre gente e vários contos da fase inicial de Dostoievski.

Uma conversão que continha vários motivos, inclusive uma enorme inquietação espiritual, levou-me a uma primeira leitura completa da Bíblia, na tradução de João Ferreira de Almeida. Creio haver sido essa primeira leitura da Bíblia, e aí se incluem as que sucederam ao longo dos anos, a mais arrebatada. Li-a inteira por duas vezes, e fiz meia dúzia de leituras do Novo Testamento, isso sem contar o retorno a páginas abertas ao acaso e a uma obsessiva leitura do Livro de Jó.

Em 1981 mudei-me para Vitória, onde estou desde então. Dez anos depois me formaria em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo, tomado de uma certa perplexidade e dono de um diploma com que não sabia o que fazer.

O escritor e seu ofício

Nenhuma matéria senão a fortemente dramática me interessa. A miséria humana, a degradação social, as estranhezas, os caminhos perpendiculares, eis aí minha matéria, trabalhada com um certo prazer risonho: se o que escrevo não possui certa dose de humor negro que talvez só eu entenda, não me serve.

No fim de Séc. XIX, Górki condenou o livro de Dostoievski, Os possessos, afirmando que tal livro era terrivelmente nocivo à Revolução Russa, que germinava. Difícil acreditar em tal possibilidade, tanto mais que Górki devia ser tão lúcido quanto bom escritor — é o mais insuportável dos autores russos. O fato é que por causa dessa e outras questões que ligavam o notável escritor russo a ideias conservadoras, Dostoievski ficou esquecido na Rússia e no resto do mundo até os anos 50.

Sempre me lembro desse fato quando penso em ajeitar à minha produção literária alguma função que a justifique. Por considerar isso matéria coberta de névoa, desisti de arranjar-lhe qualquer função nobre senão o entretenimento de um e outro, principalmente do autor. Uma coisa, no entanto, é inegável: após reler meus textos, todos eles, inclusive os inéditos, foi fácil encontrar ali uma profunda descrença na espécie humana.

Escrevo quando tenho um desfecho dramático. Não sei escrever sem isso. A partir daí, tenho um enorme cuidado com o primeiro capítulo de um romance ou com os parágrafos iniciais de um conto. Depois tudo pode acontecer, já que não há um esboço, notas prévias, nada. As necessidades vão sendo supridas com eventuais pesquisas ou com a busca desesperada de uma ideia que complemente a última. No que escrevo há um incessante processo de memória que busca fatos esquecidos e os acha num canto do tempo de modo a se ajustar perfeitamente ao que vem sendo tramado. Eventualmente ocorre de a ideia de um conto ou novela ir se formando lentamente em minha mente: quando dirijo, quando caminho, quando tomo banho, elas vão se agregando, tomando rumo — às vezes inesperado.

Aninhanha nasceu de dois fatos policiais distintos, ocorridos no espaço de dez anos um do outro. O conto O relógio também surgiu a partir de um fato policial. A divisória, a partir de um sonho. O porco veio de um fato ocorrido na infância, na propriedade de meu pai em São José do Calçado. Vilarejo também tem um forte teor de crônica familiar, um vínculo cuja compreensão só o meu processo de criação esclarece a mim mesmo. A questão veio do meu hábito de conversar com as pessoas mais humildes de minhas relações (Enfim, nunca rejeito uma conversa, seja ela de qualquer nível. Ocorre que um pedreiro trabalhava em minha casa e após o almoço parava para ficar olhando pro nada. Era curioso aquilo, mascando um capim e olhando pro nada. Um dia juntei-me a ele num cigarrinho da digestão. E nessa oportunidade ele me ofereceu a matéria-prima do conto, um caso ocorrido com ele num passado de mascate.). Finalmente, a matéria mais cara me surgiu da infância. A professora Deny Gomes certa feita me disse, entre um café e outro, que tinha uma forte suspeita de que minha infância era um poço de forte memória, aonde eu sempre ia beber. Não posso negar. Menino é mostra disso. Minhas memórias nesse livro são tão fortes que ferem.

Essa matéria original, quase sempre real, sofre tamanha transformação durante a escrita que é impossível reconhecê-la. Agregam-se a ela pequenas distorções e percepções e vai se formando um mosaico a caminho de um desfecho já conhecido. Não posso dizer que delineio capítulos, trechos, nada. Não há uma estrutura antecipada. Existe uma ideia central, um fio que somente eu conheço, um lume.

O último processo disso tudo é a linguagem. Há que ajustar-se também ao tipo de narrador, que quase sempre prefiro em primeira pessoa — o que me deixa muito mais à vontade para abusar dos recursos da linguagem. Aninhanha é o exemplo mais evidente dessa busca da linguagem adequada. A primeira versão, merecedora de menção honrosa no concurso literário da FCCAA de 1987, foi escrita em trinta dias. Durante os cinco anos seguintes, passei reescrevendo Aninhanha, palavra por palavra, frase por frase. A lápis, em letra minúscula para render na hora da datilografia. Ainda quando recebi a prova final do livro, fiz inúmeras alterações. Quando Aninhanha saiu em 2ª edição, outras alterações foram feitas.

O narrador de Aninhanha, uma mulher miserável e sem nenhuma cultura, requeria uma linguagem peculiar. A primeira providência foi “quebrar” alguns processos sintáticos. A isso agregou-se o valioso auxílio de incipientes rudimentos de semântica e morfologia, passando por aproveitamento de vícios de linguagem e subversão da pontuação, entre outras providências. Acreditava, com isso, caracterizar a rudeza da linguagem de uma narradora que parecia possuir razoáveis recursos linguísticos inexplicavelmente adquiridos. Creio, a julgar pela receptividade que Aninhanha mereceu nos meios acadêmicos, que a experiência deu certo. O mesmo processo, com menor intensidade, seria utilizado para a construção da linguagem do narrador de A questão.

Embora a linguagem do narrador da novela Vilarejo seja infinitamente mais simples do que a de Aninhanha e A questão, algumas providências tiveram também de ser tomadas. Imaginei esse narrador como um senhor de idade avançada, um homem solitário, curioso e lúcido, muito interessado na história da pequena vila onde residia. Um tabelião aposentado talvez componha a melhor imagem que fiz dele, um parnasiano de província, um literato de alcova. Isso fez com que aparecessem no texto alguns arcaísmos e algumas estruturas sintáticas pouco em moda. Interessante é que isso parece ter sido feito de forma tão fiel que quando eu comparecia a eventos literários para falar do livro, principalmente nos cursinhos preparatórios para o vestibular, os professores ou os alunos estranhavam a minha idade. Alguns chegavam mesmo a admirar-se, e manifestavam essa admiração: “Mas a impressão que tive do autor de Vilarejo é de que se tratava de um velho.” Os outros contos do livro Vilarejo e outras histórias (O porco, O relógio — o único do livro narrado em terceira pessoa — e A divisória), por não requererem tais providências, têm linguagem de construção bem menos complexa.

Embora essa simplicidade na linguagem se repita no romance Menino, esse livro requereu um cuidado especial. O projeto todo, desde o início, consistia em construir um texto que não permitisse passar a menor sombra de pieguice. O narrador de Menino não é um adulto com saudade da infância, não é nenhum nostálgico. Pelo contrário: adulto, talvez, esse narrador trava uma profunda luta interior com o menino que esperneia dentro de si. E aí aconteceu algo extraordinário, um regalo do acaso: a linguagem do narrador desse livro, embora se caracterize por um razoável conhecimento linguístico, não consegue omitir o fato de que quem está ardendo nas labaredas da trama não é ele, mas o menino que ele foi, com todos os sentimentos típicos de menino.

De qualquer forma, a construção de um livro, para mim, é um longo processo profundamente individualizado. A única experiência acumulada é o manejo das frases e o domínio de um razoável vocabulário ativo. Quanto à estrutura, à linguagem, à escolha do narrador e outras providências, cada livro tem sido uma experiência nova — tanto quanto seja possível sê-lo. Isso não me permitiria afirmar que possuo um “estilo”, essa palavra de significado tão vário. Em Aninhanha chego a cometer alguns “pecados” contra a qualidade do estilo estabelecida por alguns gramáticos. Abuso de colisões e aliterações, algumas frases possuem construção obscura, dou à escrita um ritmo precipitado, espumento, colérico, tudo imposto pelas necessidades da narradora, para quem sua própria história urge. Embora isso não permita estabelecer um estilo, uma certa uniformidade na escrita, a busca em manter uma linguagem típica para cada tipo de narrador é um processo extremamente excitante, torna todo o processo de escrita muito mais atrativo para mim.

Não escrevo sempre, não possuo essa regularidade. Espanta-me que alguém escreva uma ou duas horas por dia, ou escreva a manhã toda. Escrevo quando tenho necessidade, quando uma ideia ricocheteia contra as fronteiras de minha cabeça. Essas idéias, longe de serem inspiração, são fruto de um intrincado processo imaginativo. Os fatos vão se acumulando e se combinando até formarem o corpo de uma história possível de executar. Se ela me atrai, escrevo. Se não, a ideia é abandonada. Qualquer das duas possibilidades requer um processo dolorido e lento. Se me divorcio de uma ideia, todavia, ela pode voltar a qualquer momento.

Tenho, é inegável, profunda atração pela linguagem bíblica. Apropriei-me disso quando escrevi Aninhanha e Vilarejo, em cujos textos isso se manifestou de forma mais evidente, e reconheço que há sempre referências bíblicas em quase tudo que escrevo. Os escritores que mais admiro são Dostoievski, Machado de Assis e Graciliano Ramos. Em Dostoievski o que mais me chama a atenção é a manifestação mais profunda de suas experiências humanas, terrivelmente pessoais, em seus livros, em suas personagens e seus caminhos perpendiculares. O notável escritor russo é ele mesmo em toda a sua obra, em todas as suas personagens. Isso, embora se torne mais evidente nos livros Recordação da casa dos mortos, O jogador e Os irmãos Karamazovi, pode ser constatado em tudo que escreveu. As atitudes de suas personagens não são previsíveis. Um leitor atento de Dostoievski jamais poderá se acomodar a caminhos fáceis. Tudo é possível. Isso é tão excitante que molha as mãos. Dostoievski é um escritor que não rouba apenas o tempo de seus leitores, mas embrenha-lhe na alma. Machado de Assis é, sem dúvida alguma, nosso maior e mais impiedoso analista social. Não há como lê-lo sem rir da espécie humana. Nisso, precisamente, está sua força. Quanto a Graciliano Ramos, cujos livros releio à exaustão, lá está também o provinciano rindo de sua aldeia. Mas o que mais me atrai neste extraordinário escritor é sua prosa contida, seus processos sintáticos, sua precisão psicológica.

Negar a influência dos textos bíblicos e da escrita desses autores aí citados em tudo que escrevi seria infrutífero. Há no conto A divisória uma profunda influência, uma relação quase de paráfrase, com a novela O duplo, de Dostoievski. Aproveito-me, ainda, em sua escrita, de fortes referências machadianas.

Costumo dizer que escreverei pouco. Na verdade, a leitura me atrai muito mais. Creio que poderia encerrar este trecho com a afirmação de que, no meu caso, meus livros, os que escrevi, estou escrevendo ou escreverei, são subproduto da leitura.



O leitor e a literatura

Preocupo-me razoavelmente com meu leitor. Fosse eu um escritor de solilóquios, melhor me seria nunca haver publicado um só dos meus livros. No entanto, é bom deixar claro, mesmo porque há de se considerar tudo o que disse anteriormente, mantenho fidelidade quase absoluta à estrutura de meus livros.

Qualquer dos meus leitores não se escandalizará se ouvir minha afirmação de que eu sou, em síntese, um contador de histórias. Não escrevi um livro que privilegiasse meros exercícios literários em desfavor de uma boa história. É bom que se diga que contar uma boa história é a parte mais importante de meu processo de produção. Isso, talvez, me permita uma certa liberdade quando estou produzindo, porque atrás de uma linguagem cuja elaboração pode a princípio assustar há fatos atraentes enquanto enredo acontecendo.

Meus livros têm sido bem aceitos. Aninhanha virou objeto de análise nos cursos de Letras, especialização e até mestrado em Literatura. Vilarejo foi lido por jovens de 16 anos, pouco mais, pouco menos, que manifestaram certo prazer em havê-lo lido. A crítica literária, embora incipiente, a crítica literária disponível, melhor que se diga, manifestou-se positivamente quanto a meus livros.

O que se lamenta é vermos que existem sobre a Literatura algumas nuvens negras. O hábito da leitura já não faz parte da vida das pessoas que vivem numa época urgente como a em que vivemos. O futuro dos livros, da poesia, do teatro, da música tradicional, das manifestações artísticas e da cultura mais específica de uma comunidade se confundem no vendaval de mediocridade do nosso tempo. Tudo é muito fátuo. Nosso tempo é um carrossel enfurecido. Algumas manifestações artísticas parecem ser conduzidas pela resistência dos últimos soldados. Felizmente.

Na última década, a literatura produzida em Vitória foi para o interior. Saímos por aí por além eu mais o Reinaldo Santos Neves e o Joca Simonetti “mascateando” (a palavra é do Reinaldo) a revista Você. Por conta disso, Vilarejo, a edição verdinha, encartada na revista, foi totalmente esgotada em menos de um mês. Antes disso, bem antes, talvez, ouvíamos notícia de que a poeta Deny Gomes ia lançar seu livro no interior do Estado. Havia também o projeto Escritor na cidade, que a Biblioteca Pública Estadual promoveu em convênio com a Biblioteca Nacional e que levou vários escritores residentes em Vitória para falar de seus livros pelo interior. O interessante nisso tudo é que a solidariedade entre os autores capixabas se revelou muito maior do que poderia supor nossa vã filosofia. Todos nos falávamos muito bem uns dos outros, desde que merecêssemos, é claro.

Mais não digo. Ou melhor, digo. Creio que há grandes escritores no Espírito Santo produzindo ao lado de escritores incipientes. Há grandes promessas entre os novos, há talentos que germinam, mas há quem deveria ter desistido há algum tempo. Apesar dessa fatura irregular, há, todavia, lugar para todos. Importante é que se produza. Talvez a mais importante função do escritor seja a de registrar as impressões que sua época lhe causou. E nisso estamos todos envolvidos. O processo de seleção, de qualquer forma, é impiedoso: está por conta daquele a quem mais interessa o livro, o leitor.

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