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Descrição da estrada para a província de Minas Gerais pelo rio Santa Maria mais medição, direção e observação da nova estrada.

Descrição da Estrada para a Província de Minas Gerais pelo rio Santa Maria.

N.º 49 — Iluminíssimo e Excelentíssimo Senhor — Em conformidade do que me foi determinado pela Carta Régia de 4 de dezembro de 1816, tenho a honra de levar à presença de Sua Excelência a inclusa medição, e observações da nova estrada, que mandei abrir da cachoeira do rio Santa Maria, termo desta vila, em direitura à Vila Rica, da Capitania de Minas Gerais, tem esta estrada setenta e uma léguas e foi feita de machado e foice, cortando matas e montanhas da cachoeira de Santa Maria à Vila Rica e até Souzel se levantaram quartéis, ou ranchos de três em três léguas pela dificuldade que havia de levar mantimentos além deste ponto por falta de animais e pastos, e ser mais fácil podê-los haver dos contornos de Vila Rica, determinei que desta se continuassem os trabalhos para a cachoeira; o que se observa, vem-se melhorando a estrada, arrancando as raízes do mato derribado, fazendo as precisas cavadas, pontes e estivas, e levantando quartéis de 3 em 3 léguas: os trabalhadores se acham para aquém do rio São Luiz, e deles encarregados o sargento-mor graduado, tenente-coronel Inácio Pereira Duarte Carneiro, com 57 soldados do corpo de pedestres. A divisão de Minas, unida a este, segundo as participações daquele oficial, ora consta de 12 praças; motivo de se não achar mais adiantada. Neste corrente ano a despesa feita pela Junta desta Capitania tem sido somente os soldos do oficial e soldados, porque a dos mantimentos tem sido feita pela Junta da Capitania de Minas Gerais, na conformidade da sobredita Carta Régia. A Real Beneficência com que Sua Majestade vem a socorrer os povos destas duas Capitanias em suas necessidades e aflições com estas sábias providências a benefício do comércio central, lavradores e criadores, são já tão visíveis que cada um à porfia deseja ser o primeiro em exprimir seu testemunho de respeito e vassalagem penetrados com o mais avivo afeto, de respeito, de admiração, e de amor. Deus Guarde Vossa Excelência. Vitória, 3 de dezembro de 1819. Iluminíssimo e Excelentíssimo Senhor Tomás Antônio de Vila Nova Portugal. — Francisco Alberto Rubim.


Medição, direção e observações da nova estrada que da cachoeira do rio Santa Maria, termo da vila da Vitória, segue pelo sertão intermédio à Vila Rica, da Capitania de Minas Gerais, aberta sua trilha em 14 de setembro de 1814 pelo sargento-mor graduado tenente-coronel Inácio Pereira Duarte Carneiro, por ordem e instrução do atual governador da Capitania do Espírito Santo, Francisco Alberto Rubim.

Tem esta estrada 71 léguas e 3/4, de 3.000 braças cada uma. Da cachoeira do rio Santa Maria até o quartel de Bragança tem 3/4 e 200 braças: esta distância é a rumo do sul, acompanhando o rio Curubixá, subindo sempre até chegar ao quartel de Bragança, ficando por consequência a estrada ao sul do rio Santa Maria. De Bragança ao quartel de Pinhel, 3 léguas e 550 braças: a 1ª légua tem um pequeno rio, e distante deste 200 braças, tem um ribeiro que deságua para o mesmo rio no fim da 1ª légua, atravessa a estrada outro pequeno rio, todos são braços do rio Santa Maria, vão a norte esta légua, e as 550 braças é a rumo de oeste; a 2ª légua tem 4 montes, e a mais distância é por ilhargas, e várzeas entre serras na distância de 1 e 1/2 légua; a entrada de Bragança para dentro tem um rio de largura de um tiro de pedra, e dá água acima do joelho em tempo seco, e vem do sul; distante deste 1/4 de légua tem outro rio; porém, não atravessa a estrada, vem de oeste ao lado direito da estrada, e no mesmo ponto desce um córrego que deságua no mesmo rio, e em distância de 20 braças tem outro córrego que também vai ao mesmo rio; a distância das 20 braças é de um córrego a outro; onde faz duas léguas e 1/4 tem um rio chamado Surucucu; os últimos 3/4 de légua tem 3 pequenos montões, e uma serra; todas as águas vão a norte e o rumo da estrada, a oeste. De Pinhel até o quartel de Serpa tem 3 léguas; junto a Pinhel tem um rio que atravessa a estrada, e junto ao quartel, um córrego que corre para o mesmo rio; tem estas 3 léguas 5 montes, e duas serras, uma delas é a serra Grande,[ 1 ] que dista do Pinhel uma légua: a leste da serra tem um pequeno rio, e a oeste um córrego, e todos os mais montes e serras em baixo têm córrego maior ou menor, todos os matos são de taquaras, e não há um só lugar, em todo este sertão, onde não deixe de haver taquara: as matas todas são de uma natureza, excetuando as margens do rio do Norte, que diferem em tudo, tanto em madeiras, como em bondade de terreno para cultura; em distância de 2 léguas e meia tem outro rio pequeno junto ao quartel de Serpa, tem um rio que pode navegar canoa, este mesmo rio atravessa a estrada 3 vezes, tudo em distância de meia légua; de Serpa ao quartel de Ourem, 3 léguas, tem 3 ribeiros, um em distância de uma légua, a qual atravessa mais adiante no córrego de Mármore; outro em distância de 2 léguas; e o último abaixo da serra da Guia; esta serra dista de Serpa duas léguas e 1/4, com pouca diferença; junto ao quartel de Ourem tem um pequeno córrego; todas as águas vão a norte: o rumo que a estrada segue desde Bragança até adiante de Serpa uma légua, é o de oeste, e deste ponto até Ourem é sudoeste 1/4 de oeste; de Ourem ao quartel de Barcelos, 3 léguas; tem 5 pequenos montes; em distância de 2 léguas está a pedra de Cristal, junto ao marco de légua numero 12; da pedra de Cristal, ou para mais clareza, de Ourem a 2 1/2 léguas, segue a estrada a rumo de sudoeste 1/4 de sul, a última 1/2 légua é a sul; nesta 1/2 légua tem um rio que suponho ser o de Mangazari;[ 2 ] de Ourem para Barcelos todas as águas vão a sul.[ 3 ] De Barcelos ao quartel de vila Viçosa são 3 léguas, tem somente um monte e uma serra, esta tem somente descida; junto a Barcelos passa o ribeirão Grande, o qual é braço do rio do Juú, braço do norte; a serra está distante de Barcelos 1 légua e 1/4, chama-se serra do Engano; deste ponto até vila Viçosa tem vários córregos que todos formam o rio do dito quartel, braço do rio Juú; estas 3 léguas é o ramo de sudoeste 1/4 de oeste. Da vila Viçosa ao quartel de Monforte são 3 léguas e tem 3 serras e 2 pequenos montes; segue o rumo até a distância de meia légua a sudoeste 1/4 de oeste, e as 2 léguas e meia a oeste-sudoeste; porém, todos os trabalhos, digo, atalhos que se fizeram foi no lado direito deste rumo, a fim de desviar a serra dos Aflitos, e a pedra Queimada, que tudo ficou ao lado esquerdo defronte de vila Viçosa uma légua, e tantas braças, atravessa-se um rio chamado dos Patos, que suponho ser ou o rio de Piúma,[ 4 ] ou o braço do rio Itapemirim; mais adiante deste 300 braças, tem um ribeiro que deságua para a mesmo, e acompanha a estrada mais de 1/4 de légua por vir entre duas serras de pedra, e pelo mesmo lugar é feita a entrada, e chamado este ponto estreito da estrada de Rubim, lugar que indispensavelmente se há de nele passar, sem ter outro desvio; em distância de 2 léguas tem outro ribeiro, e junto a Monforte tem um pequeno rio, braço de Itapemirim. De Monforte ao quartel de Sousel tem 3 léguas, 3 serras, uma distante de Monforte 1/4 de légua, a qual sobe-se somente; outra, distante do mesmo quartel uma légua, somente descida, e é a serra de São João, a última em distância de légua e meia da parte de leste desta está o córrego Rico, e do lado de oeste o pequeno rio que tem muito cascalho em abundância que mais parece ter sido lavrado do que enxurrada de água; embaixo da serra de São João tem um pequeno rio: desta serra até Sousel todos os córregos e rios deságuam para o rio do norte, onde se acha situado o quartel de Sousel: o rumo de Monforte até Sousel é a oeste-sudoeste; porém os atalhos todos foram tirados da parte esquerda do rumo, a fim de evitar grande curva que fazia quando voltei com a picada, ou a deixei, e segui rio abaixo. Do quartel de Sousel até a travessa do rio Pardo tem 4 léguas, e tem somente uma subida, que é a serra da cachoeira do rio Pardo, e também não tem rumo certo por acompanhar a margem do rio. Do rio Pardo ao rio Guandu, 7 léguas a rumo de oeste, este rio pode-se com certeza dizer que é o mesmo Guandu, toda esta mataria é de taquara. Do rio Guandu ao rio Jequitibá, 3 léguas: este rio com certeza se supõe ser a cabeceira do rio Manhuaçu.[ 5 ] Do rio Jequitibá no rio São Luiz, três léguas, sempre a rumo de oeste; este rio também é braço de Manhuaçu; do rio São Luiz à serra aonde se acha o quartel novo, 2 léguas, teria somente uma pequena levada; deste quartel ao quartel de Manhuaçu, 3 léguas e 3/4, tem somente uma pequena levada à ilharga da serra dos Fojos, da parte do sul, e o mais é tudo várzeas e chapadas, sem ter um tope; tem 3 braças do rio que forma o rio Matipó.[ 6 ] Do quartel de Manhuaçu ao outro braço do rio Matipó, légua e meia; do rio Matipó à cachoeira Torta é toda de subidas e descidas; da cachoeira Torta ao quartel Geral da Casca, 3 léguas, sempre a rumo de oeste, e os matos todos são taquaras; do quartel da Casca à ponte Nova são 6 léguas, tudo já povoado; da ponte Nova à freguesia do Forquim, 7 léguas a rumo de oeste, tudo já povoado; da freguesia do Forquim à freguesia de São Caetano, 2 léguas; da freguesia de São Caetano à freguesia de São Sebastião, 2 léguas; da freguesia de São Sebastião à cidade de Mariana, uma légua; da cidade de Mariana à Vila Rica, 2 léguas, sempre o rumo de oeste.

Secretaria do Governo em 2 de dezembro de 1818 — O encarregado do expediente, Manoel dos Passos Ferreira.

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NOTAS

[ 1 ] Dos Aimorés. Nota da Revista.
[ 2 ] Seria o rio Mangaraí? Nota da Estação Capixaba.
[ 3 ] Setecentas braças ao norte do quartel de Ourem, é cortada pela nova estrada que da povoação de Viana, termo da Vila da Vitória na margem setentrional do rio Santo Agostinho, seguindo para esta. Nota da Revista.
[ 4 ] No original, Piuna. Nota da Estação Capixaba.
[ 5 ] No original, Main-assú. Nota da Estação Capixaba.
[ 6 ] No original, Matipo-o. Nota da Estação Capixaba.

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