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Dois papéis

“[…] a literatura, como toda e qualquer estrutura cognitiva, é um meio de dominarmos nossas angústias, não através do descarte delas, mas por força de outorgarmos uma forma precisa, cor e dimensão, ao que quer que seja que nós mais temamos.” [Harold Bloom]

Espião-ator,
o seu teatro é fingir
de não fingidor
– o inverso da cena
do bom Terrorista,
cujo ofício maior
é explicitar um boom,
não causa pequena:
bem assim
mesmo quando este não usa
explodir com fúria
em qualquer país
ou paisagem,
ousando outra coisa
(talvez quatro rodas).
Este ainda
busca o aplauso
em forma de medo
de quem ande próximo,
arrancando
ou partindo ao menos
uma perna sua.

Então o outro
(o Ator-espião),
já que oculto,
será invisivelmente
mais numérico no mundo
do que o Terrorista
– existindo como o
não-a-olho-nu
em orientes,
europas e américas.

Em suma, boneca:
se quiser,
o Mordomo até
pode aterrorizar-te,
mas, sendo bom
ou imprevisível
em sua arte dissímula,
espionar nunca.
O homem-sombra
não deve ser ele.
O bomba é que sim,
como tal
fazendo boa figura.

Repetindo:
“O espião janta conosco”.
Jamais, todavia,
servindo o jantar.

***

De Bloom vai-se ao boom
com cuidado,
pois aqui, ali,
Bagdá
ou Barcelona,
há zonas múltiplas
de corpos sangrando
em que tropeçar.

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© 2017 Lino Machado – Todos os direitos reservados ao autor. A reprodução sem prévia consulta e autorização configura violação à lei de direitos autorais, desrespeito à propriedade dos acervos e aos serviços de preparação para publicação.
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Lino Machado é poeta e professor universitário. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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