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Espírito ciclístico

Foto Gilson Soares, 2014.
Foto Gilson Soares, 2014.

Ao chegar ao Riacho Doce na manhã daquela quinta-feira junina e, ainda, outonal, eu alcançava mais uma marca para enriquecer o histórico do meu já confessado extremismo.

Desde aquele dia eu faço parte de um grupo, que, certamente, é pequeno: pedalando solitário, percorri todo o litoral capixaba, desde a Praia das Neves, município de Presidente Kennedy, até a Praia do Riacho Doce, município de Conceição da Barra, tendo sempre Vila Velha como ponto de partida e de chegada.

Por outro lado, já pedalei desde o nível do Oceano Atlântico – de Vila Velha, claro – até o ponto mais alto a que se é permitido chegar de bicicleta no nosso estado: o portal do Parque Nacional do Caparaó. Quer dizer, muito perto do Pico da Bandeira, o ápice capixaba, só permitido a pedestres.

Viagens ciclísticas curtas – coisas de finais de semana e feriados – tenho feito sempre, pra destinos variados.

Assim, no conjunto, ao cabo deste Giro pelo arco norte, terei pedalado por quase todo o território capixaba.

E olha que não sou atleta.

Mas por que digo – e escrevo – isso nesta hora, estará se perguntando você, leitor.

Ora, digo – e escrevo – isso aqui, agora, não por vanglória – ou gabolice – mas porque acabo de adquirir o direito de afirmar de cadeira – de selim, na verdade – que o Espírito Santo é um estado muito apropriado para viagens de bicicleta.

A proximidade das cidades capixabas oferece uma grande segurança para o ciclista, tanto por conta da facilidade de se receber socorro mecânico (caso seja necessário), quanto pela malha de hospedagens à mão.

Talvez nem careça de propagandear as muitas virtudes paisagísticas, climáticas, topográficas e fotográficas do nosso estado.

Por isso, tenho pensado – e estou propondo – que o Espírito Santo deve se apresentar para todo o Brasil e, mesmo para o exterior, como o estado brasileiro que, oficialmente, tem uma política destinada a oferecer belas, seguras e proveitosas viagens ciclísticas para residentes e turistas.

Podemos criar roteiros diversos, com graus de dificuldade e ofertas turísticas diferenciados.

Ciclovias, pontos de locação de bicicleta, postos de orientação e assistência técnica, hospedagens, roteiros gastronômicos, ônibus para transporte de grupos com suas bicicletas, tudo isso, a médio prazo, é possível ser realizado seguindo um planejamento que objetive tornar o Espírito Santo um estado que se lança, na frente, no estabelecimento de uma política cicloturística oficial.

Os primeiros beneficiários dessa proposta seremos nós mesmos, capixabas, que nos sentiremos incentivados a pedalar pelo estado, como tenho feito, contemplando numa mesma mirada, durante quase todo o percurso, de um lado o mar e de outro a nossa singular topografia.

Ambos – cada um a seu modo e cor – ondulados e sedutores.

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Gilson Soares é poeta e nasceu em Ecoporanga, no extremo noroeste do Estado do Espírito Santo, em 10 de fevereiro de 1955. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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