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H.G., policial militar

Bairro onde mora: Resistência
Bairro onde trabalha: Grande Maruípe
Profissão: policial militar
Naturalidade: Espírito Santo
Idade: 36
Tempo de residência em Vitória: 36
Estado civil: separado
Filhos: 4



O que você acha da cidade de Vitória como ambiente para se viver?

– Um lugar bom para se viver, apesar da violência, porque eu acompanho todos os acidentes de Vitória. Um lugar bom, mas a pobreza é muito grande. Tem muita miséria nos morros. A gente que conhece os morros vê gente sem nada pra comer, é muita miséria mesmo, sabe. Aquela situação do pai alcoólatra e o filho com fome, que vai virar bandidinho.

Como você descreveria o aspecto físico da cidade?

– É muito bonito. É um dos lugares mais bonitos que eu já vi. Olhando de cima da Terceira Ponte, é lindo. Eu já fui pro Rio, Petrópolis, Teresópolis, que dizem que é lindo, mas não achei nada demais, não sei talvez porque eu tenha passado os lugares que eu passei, fazendo escolta, não achei grande coisa. Conheço a Bahia também, não conheço o sul. Mas para mim Vitória, o Espírito Santo, é muito bonito. Tem aquela Rota do Sol e das Montanhas, é muito bonito aquela rodovia pro norte.

Você conhece a ilha como um todo? Quais bairros que você gosta mais?

– Conheço quase todos os bairros. Não tenho preferência de bairro. Gosto de frequentar Jardim da Penha, que apesar de ter ocorrências de furtos e roubos, sequestro, não tem muito homicídio como os bairros mais pobres onde predomina o tráfico e ocorrem mais mortes, como o Bairro da Penha, Itararé, São Benedito, Bonfim, Santa Marta… E olha que a gente encontra muito “playboyzinho” dos bairros mais nobres que vão lá pra comprar droga, e aí a gente aborda e eles falam que estão procurando um sanduíche, nem tem lanchonete lá, ou então que estão procurando meninazinha, só rindo mesmo. Porque esses bairros são o centro da droga, por isso que matam muito lá, e por isso que esses meninos vão lá. Mas agora diminuiu um pouco depois que mataram três por lá. Pessoal evita.

Como você se relaciona em Vitória? É fácil fazer amigos? Descreva o perfil do capixaba.

– Eu faço mais inimigos do que amigos na minha profissão. Os amigos que eu tenho são os que eu já tinha. Tem muito tempo que eu não saio pra noitada, e quando eu saio, eu geralmente saio acompanhado. Mas eu acho que anda muito violento. As pessoas, muitas pessoas só saem pra brigar, arrumar confusão. Pessoas que se acham, vão pra boate só pra arrumar confusão. Pra eu sair de casa eu tenho uma cisma, quase medo de sair de casa. Porque eu acompanho muita violência. Eu começo a trabalhar sete da manhã e chega sete da noite eu não acabei de resolver ocorrência ainda.

O que você acha das oportunidades de trabalho aqui em Vitória?

– Acho que não é muito fácil. Tanta gente desempregada aí, mas também tem gente que não quer trabalhar por pouco, por 300, 400 reais, tem gente que prefere ficar desempregado. E tem flanelinha aí que tira mais que a gente que trabalha todo dia, o dia inteiro. Eu trabalho o dia inteiro de sete às sete, e ainda trabalho de segurança, às vezes fico 24 horas no serviço para poder ter alguma coisa além de pagar as contas, pra poder ter um carro. Já fiquei até 48 horas.

Você frequenta os parques e praças de Vitória? O que acha?

– Só os mais próximos. O Horto de Maruípe, apesar de estar ficando meio violento também. Também outras praças, mas a trabalho. A Praça dos Namorados é uma boa opção, é legal. As pessoas mais de família preferem frequentar o shopping porque acham que é mais seguro, têm a ilusão de estarem mais seguras. Apesar desses assaltos que tiveram ali, ali dentro é seguro, mas quando sai, é sequestrado, ou assaltado, às vezes no estacionamento mesmo. Roubam muito carro ali nas redondezas também. Isso tudo é olho grande, esses golpes, tem muito golpe; por exemplo, eu não vou trocar meu cordão de ouro pelo seu relógio porque o meu cordão vale mais, mas aí a pessoa oferece um cordão falsificado, e você acha que está se dando bem. Ou então você vai fazer um empréstimo de R$ 10.000,00 reais e a pessoa que vai te emprestar pede um depósito de R$ 2.000,00. Como é que pode? E as pessoas caem nessa, muito.



Como descreveria o transporte e o trânsito da cidade?

– O trânsito depende do horário, é um caos, é uma tristeza. Se você vai andar de 18 às 20 horas, é melhor parar e bater um papo do que ficar preso naquele engarrafamento que não anda nem sai do lugar.



Como você se diverte?

– Vou num barzinho, de vez em quando, vou num lugarzinho assim, num cinema, quando tenho tempo gosto de viajar. Mas nos últimos meses só trabalhar, trabalhar. Não vou a boates ou clubes. Tem uns clubes da associação que eu vou.



Você participa das tradições que ainda restam? E das tradições mais recentes?

– Só se tiver serviço, nunca fui. O congo é um monte de cachaceiro, com um monte de mulher vadia atrás, é só cachaça.

– Vital eu vou a trabalho. Ali falta estrutura, dentro do abadá é seguro, mas aí eles saem pra fazer xixi na praia porque os banheiros têm muita gente. As meninas pedem até pra gente vigiar elas fazendo xixi porque senão pode ser até estuprada. E eles saem pra namorar também, aí acontecem as coisas, roubam o abadá, roubam tudo. Mas lá dentro é seguro, dá para você ir com seu namorado, agora menina sozinha ou até em turma, eles agarram mesmo, passam a mão. Menor não pode beber, mas lá só tem menor alcoolizado, cheirado.

Carnaval eu fui também a trabalho esse ano, estava tranquilo, não teve nenhum problemão. Eu não gosto de ir nessas coisas porque fico preocupado, fico olhando pros lados. A gente prende muita gente e não lembra, mas essas pessoas te conhecem e podem querer fazer alguma coisa.

Quais são os grandes problemas de Vitória?

– Hoje, o trânsito, a violência que anda crescendo. A saúde, mais porque os hospitais grandes não funcionam, mas o atendimento básico os postos da Prefeitura tá muito bom.



E as grandes vantagens de viver aqui?

– Apesar de não conhecer muitos lugares, a cidade de Vitória ainda é um lugar bom pra morar. É arborizada. Vitória ainda é bem cuidada pela Prefeitura, a limpeza, é uma cidade limpa ainda. A saúde está sendo destacada pela Prefeitura com esses postos de saúde nos bairros, agora pelo estado o negócio tá feio.



Como você vive em Vitória?

– Eu acho que eu poderia estar vivendo melhor. A gente vive muito intranquilo com a violência. Não sei se é por causa do ritmo do meu serviço, mas você não tem aquela tranquilidade. A violência é o grande caos da cidade. O governo investe pouco em segurança, investe muito em conversa.

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